segunda-feira, 31 de março de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (7)

                    
                  Duria Antiquior, de Henry De la Beche, 1830

Um outro vulto da paleontologia inglesa, Henry Thomas De la Beche (1796-1855), conviveu de muito perto com Mary Anning, tendo-se tornado o seu grande defensor. Foi um incansável coleccionador e notável ilustrador de fósseis, tendo colaborado com William Conybeare e Mary Anning, num trabalho inovador sobre os achados de ictiossáurios, plesiossáurios, pterossáurios e outros fósseis do Jurássico inferior de Dorset. Pioneiro na ilustração geológica e paleontológica, De la Beche publicou, em 1830, “Sections and views, illustrative of geological phaenomena”, uma série de desenhos e pinturas representativas da vida e das paisagens do passado geológico. “Duria Antiquior” é uma reconstituição da vida desse tempo (baseada, como se disse atrás, nos trabalhos de Mary Anning), numa aguarela sua que ficou na história por ser a primeira entre as várias que concebeu.



Cartoon desenhado por William Conybeare, em 1882, representando Buckland a entrar na gruta de Kirkdale

Um seu conterrâneo, o reverendo William Buckland (1784-1856), decano de Westminster e, ao mesmo tempo geólogo e paleontólogo de grande prestígio, estudou os ossos fósseis de vertebrados retirados da gruta de Kirkdale, no Yorkshire, tendo concluído que esta tinha sido habitada por hienas em “tempos antediluvianos”, e que conservava ainda os restos fossilizados das suas presas. 
Não obstante a sua condição de obediência à Fé, a conclusão a que chegou ia contra a crença religiosa, segundo a qual esses animais teriam sido trazidos das regiões tropicais pelas águas do Dilúvio. Esta sua conclusão era reforçada pela presença de excrementos fossilizados (coprólitos) próprios de um animal que ingeria ossos. Com este trabalho ele foi pioneiro na utilização deste tipo de icnofósseis.  
Apesar da severa crítica de alguns dos seus pares, este estudo de Buckland foi reconhecido como um modelo de grande rigor científico, passível de reconstituir um episódio da pré-história da Terra, o que lhe valeu a Medalha Copley, da Royal Society, em 1822. Casado com Mary Morland, coleccionadora e ilustradora de fósseis, Buckland viajou pela Europa, onde visitou importantes sítios geológicos e conheceu geólogos famosos, entre os quais, o francês Georges Cuvier. Com a colaboração deste conceituado naturalista, Buckland escreveu, em 1824, o primeiro relato completo de um fóssil de dinossáurio carnívoro, que encontrou em formações do Jurássico, na pedreira de Stonesfield, a que deu o nome de Megalosaurus


 Ilustração da mandíbula inferior direita de Megalosaurus, apresentada por Buckland em 1824



  Megalosurus, tal como era imaginado em 1859


As suas palestras sobre geologia e paleontologia tornaram-se populares. Entretanto, como colaborador do Museu Ashmolean, organizou importantes colecções com materiais que colhera nos muitos lugares por onde andou.


                                   Galopim de Carvalho