segunda-feira, 30 de abril de 2012

TRABALHOS PARA CASA - 3


                             
         
                         O papel dos professores  

Porque é que os professores propõem trabalhos para casa aos alunos? Talvez se pudessem enumerar um certo número de razões justificativas para os TPC. Assim, num primeiro relance, os professores vêem neles uma oportunidade de reforçar os conteúdos que foram ensinados na sala de aula. Outras vantagens poderiam ser enunciadas tais como o de promoverem um sentido de responsabilidade e de ajudarem os alunos a melhor gerir a gestão do tempo do estudo em casa.
Aspecto importante é a natureza e a dimensão dos trabalhos que são propostos. Não é pela quantidade de TPC efectuados que os alunos melhor ficam a aprender determinada matéria. Bastaria, a maior parte das vezes, uma ou duas questões que, fazendo uso das noções dadas na aula, fossem susceptíveis de as mesmas serem aplicadas em determinadas situações ou na resolução de dado problema. Exceptuando, talvez, o 1º ou o 2º ano de escolaridade, o propor actividades de natureza meramente repetitiva ou de cópia, sem qualquer objectivo pedagógico que não seja o de, apenas, ocupar o tempo, é concorrer para a desmotivação no estudo.
Por outro lado, não basta propor TPC aos alunos e, depois, na aula seguinte, simplesmente, ignorá-los. Esta prática tem efeitos nocivos quer sob o ponto de vista pedagógico, tornando irrelevante o trabalho que foi feito em casa, não dando respostas a eventuais dúvidas suscitadas durante a execução dos mesmos e que deveriam ser satisfeitas na aula, quer sob o ponto de vista ético, pois incentiva o aluno ao não cumprimento das suas obrigações, sem que daí lhe advenham consequências, ao mesmo tempo que retira autoridade ao professor.
A criança e o adolescente têm que ter os seus tempos livres após as aulas, se estas foram, na verdade, espaços de autêntica aprendizagem e de mobilização da atenção. Por isso, tudo o que contribuir para a retirada desse tempo tem que ter significado, ser momento para aproveitar e não, apenas, para ocupar e, daí, merecer a atenção do professor.

                                           Mário Freire

sábado, 28 de abril de 2012

A COOPERAÇÃO ENTRE AS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS E EMPRESARIAIS


Numa sociedade do conhecimento onde a educação superior se torna uma necessidade para cerca de metade da população, as universidades deixaram de poder actuar como entidade académica independente. Devem, pelo contrário, adequar a sua actividade às necessidades dos estudantes e da sociedade em geral.
Para isso, terão que actuar em parceria com as organizações públicas e privadas, que tornarão possível a inserção dos recém licenciados no mercado de trabalho.
As Universidades e as empresas parecem ainda não reconhecer o grande potencial da cooperação. As primeiras permanecem ainda fortemente orientadas como instituições académicas enquanto que as segundas procuram soluções rápidas que as Universidades são incapazes de fornecer.
Na Europa, a sinergia entre o mundo empresarial e o mundo educativo tornou-se pois um objectivo de extrema importância. Está presente em todos os acordos europeus, Tratado de Lisboa incluído. Pretende-se, desta forma, tornar a Europa a sociedade baseada no conhecimento mais competitiva do mundo. Esta necessidade de alinhar a educação com as necessidades da economia verifica-se na maioria dos países do mundo global que têm relações de qualquer tipo com a Europa.
É verdade que a cooperação entre os mundos da educação e do trabalho está ainda pouco desenvolvida. Todavia, a implementação crescente da cooperação universidade-empresa tem promovido o entendimento das duas partes e a aceleração dos processos de acreditação nos diversos países. Ela pode proporcionar novas fontes de financiamento e melhores e mais especializados recursos humanos para as empresas. Pode contribuir, até, para a sobrevivência das instituições, no mundo cada vez mais competitivo em que nos encontramos.
Como conclusão poderemos então dizer:
- Os governos com preocupações de crescimento têm obrigação de criar legislação adequada, associada a incentivos financeiros quando possível.
- As Universidades devem tomar a iniciativa no desenvolvimento de parcerias com o mundo do trabalho, atendendo a que são elas as principais responsáveis pela empregabilidade dos seus alunos.
- As Empresas devem ter em atenção os importantes benefícios mútuos de tal cooperação e devem ser encorajadas a fazer parcerias com as instituições onde são  formados os seus futuros colaboradores.

                                                      FNeves

quinta-feira, 26 de abril de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 5



                             Qualidades a cultivar (Continuação)

Perseverança – Fundamenta-se esta qualidade na força e persistência da vontade, sendo de ter em conta as implicações e o percurso do acto volitivo, percurso designado este por Assagioli o “Tipperary da vontade”, alusão à famosa marcha do Long Way to Tepperary , figurando, no processo psicossintétiço, o longo caminho a percorrer para atingir uma forma de sentir e agir em que as qualidades da vontade sejam a “expressão directa do Eu transpessoal.”
Reconhecimento – Mais do que a expectativa de ver reconhecido, por parte dos educandos, o seu esforço no sentido de ministrar a educação, o educador coloca o acento na mútua aprendizagem. Atento ao que aprende ensinando e ao que recebe dando, vive, exprime e compartilha a sua gratidão face ao processo de uma valorização comum.
Simpatia – Ao mesmo tempo que inspira os seus educandos, o bom educador neles se inspira. De acordo com a sentença de Lao-Tzu, “o mestre age sem nada fazer e ensina sem nada dizer.” Provém isto da simpatia que jorra e irradia espontaneamente de uma personalidade harmoniosa e harmonizadora, em que a mestria não provém de um conhecedor e administrador de receitas, mas sim da mensagem luminosa do saber-ser aliado ao saber-agir. Na simpatia se processa um elo de uma energia comum caracterizado pelo despertar e pelo bem-estar. 
            Sinceridade – Piero Ferrucci escreve: “Nós somos programados para sermos sinceros. A mentira possui mil rostos; a verdade um só.”  A virtude da sinceridade é expressão directa da verdade. Etimologicamente provém da designação latina sine cera - sem cera – ou seja desprovida de camuflagem. Ela nos liberta do medo e de mecanismos de defesa.  Trata-se de uma qualidade fundamental atinente ao relacionamento humano. 

Findo aqui este elenco de qualificações, serão tidos em conta, seguidamente, determinados obstáculos a identificar, transformar e integrar.

                                                     João d’Alcor

terça-feira, 24 de abril de 2012

A ESCOLHA DE UM CURSO E A REALIZAÇÃO PROFISSIONAL - 3


                                         O mundo dos cursos e das profissões

            Para se tomarem boas decisões em relação ao futuro é necessário conhecer a realidade escolar e profissional.
Uma vez concluído o 9ºano, terá o aluno que fazer uma escolha que, não sendo decisiva, em muito irá condicionar o seu futuro escolar e profissional. Na verdade, qualquer curso do ensino secundário permite concorrer a qualquer curso do ensino superior e o ingresso nele incluirá sempre a prestação das provas fixadas para o(s) curso(s) pretendido(s).  O bom senso aconselhará a matrícula nessas disciplinas como em outras consideradas importantes nesse(s) curso(s).
De entre as várias modalidades que o ensino secundário apresenta, destacarei duas, aquelas que mais frequentemente suscitam o interesse dos jovens e que maior oferta proporcionam por parte das escolas:
- O aluno segue para um curso profissional. Visa-se, com estes cursos, o desenvolvimento de competências que habilitem o jovem para o exercício de uma profissão. Com a conclusão de um destes cursos obtém-se o ensino secundário e a certificação profissional. Possibilita-se, como já foi referido, o prosseguimento de estudos para o ensino superior, mediante a realização dos respectivos exames de acesso. 
- O aluno escolhe uma das quatro áreas dos cursos científico-humanísticos, visando preferencialmente o prosseguimento de estudos, seja ele em universidades ou em institutos politécnicos. Nesta via incluem-se os cursos de Ciências e Tecnologias, de Artes Visuais, de Ciências Socioeconómicas, de Ciências Sociais e Humanas e de Línguas e Literaturas.
Sejam quais forem as modalidades por que se acede ao ensino superior, e tendo em consideração o que cada um conhece acerca de si mesmo, deveria ter lugar sempre uma informação suficientemente esclarecedora sobre aquilo que é escolhido quer para o percurso a fazer no secundário, quer para o(s) curso(s) que se visa(m) no ensino superior. Neste último caso, há que saber as disciplinas que o(s)  constitui(em) , o que fazem os profissionais dele(s) oriundos, as perspectivas actuais e, se possível, de médio e longo prazos do mercado de trabalho.  
Vivemos numa sociedade do conhecimento. Ora, esse conhecimento torna-se crucial quando se tomam decisões sobre o futuro, ainda que com muitas incertezas, de cada um. Aos alunos mas, também, à escola, através de serviços de orientação, e à comunidade em geral (serviços de emprego, universidades, organizações de natureza profissional…) cabe essa informação.

                                                               Mário Freire

domingo, 22 de abril de 2012

BEM- FAZER



Gosto dá fazer o bem,
pondo nisso o coração.
Feito sem olhar a quem,
longe está de ser em vão.

Menos, de facto, em si se pensa,
mais aumenta o seu sentido.
Bem-fazer p’ra ter avença
não carece de ruído.

Tão bem fica a discrição.
Junta ela ao seu valor
juros sempre a repartir.

Por si vale a boa acção.
Se dispensa de penhor
o ideal de bem servir.

João d’Alcor

sexta-feira, 20 de abril de 2012

PODE A EDUCAÇÃO MODIFICAR O NOSSO COMPORTAMENTO AMBIENTAL ? - 2





No processo de ensino-aprendizagem, os sistemas educativos de incentivo à poupança de energia fornecem aos jovens informação especializada, de modo a encorajá-los a formar uma opinião própria sobre o assunto e a tomar decisões. É esta relação entre a aquisição de conhecimentos e a consequente acção que poderá levar à mudança de comportamento ambiental.
Parece, também, que os referidos sistemas educativos devam ser apoiados por metodologias que levem os jovens a actuar num contexto social. Em particular, a metodologia conhecida como aprendizagem baseada em projecto, onde os jovens analisam uma determinada situação, procuram as respostas e, finalmente, apresentam soluções, é reconhecida como válida.
O projecto Force for Energy by Children juntou nove agências nacionais, incluindo a Agencia Portuguesa de Energia. Foi organizado para promover a poupança energética através do uso racional da energia em cerca de 100 escolas dentro da faixa etária dos nove aos catorze anos. O projecto possibilitou que as escolas considerassem a energia como um tópico específico, integrado no respectivo currículo.
O material utilizado incluía documentação variada, no âmbito da energia, e ainda um website, possibilitando a troca de informação entre escolas de diferentes países. O trabalho escolar seguia as linhas gerais do projecto e envolvia uma formação inicial de base a que se seguiam visitas de estudo. Possibilitava-se, assim, que os alunos formassem opiniões que conduzissem ao respeito pelos valores ambientais.
O projecto foi bem sucedido, as crianças tomaram a seu cargo a poupança de energia, arrastando consigo a família e os amigos.  Alguns países continuaram com sucesso a iniciativa, mesmo depois de aquele ter terminado.

                                                              FNeves

quarta-feira, 18 de abril de 2012

TRABALHOS PARA CASA - 2



                                            O papel dos pais

            Viu-se, em crónica anterior, que os trabalhos para casa (TPC) se implicam com vários actores sociais e que eles podem constituir-se num elo de ligação entre a escola e a família.
            Se eles possibilitam aos pais uma informação sobre o andamento das matérias nas aulas, essa função, contudo, deve estar muito longe de ser a função principal dos TPC.
Estes podem proporcionar uma oportunidade aos pais para manifestarem aos filhos que se interessam pelo que fazem, dando-lhes a responsabilidade de orientarem o seu próprio trabalho sem que sobre eles seja exercido um controlo que lhes retire a liberdade de gerir o tempo e de executarem as tarefas do modo que melhor entendam. Tal não implica, porém, um alheamento do que está a ser feito, muito especialmente se é solicitada uma ajuda. 
Nem todos os pais, é certo, estão em condições de responder às perguntas que lhes são feitas. Há, então, que ajudar os filhos a anotarem as dúvidas para que na aula o professor lhes possa dar resposta.
Mais importante que dar-lhes ou ajudá-los a dar as respostas que os filhos solicitam é proporcionar-lhes um ambiente calmo, sem distracções de televisão, computador, de pessoas a passar ou a falar…, de modo que eles possuam aquelas condições que lhes permitam fazer as suas pesquisas e gerir o seu tempo.
Um tema interessante para reuniões de pais poderia ser, precisamente, um debate sobre os comportamentos dos encarregados de educação susceptíveis de serem os mais adequados relativamente aos trabalhos para casa. Infelizmente, nos dias de hoje, nem sempre os pais sentem a necessidade ou têm a possibilidade de acompanharem a vida escolar dos filhos. Estudos efectuados nesta área permitem afirmar, porém, que este acompanhamento e, muito especialmente, o trabalho conjunto em casa se traduz numa melhoria do rendimento escolar.
Enfim, o papel dos pais, quaisquer que sejam as situações de relação com os filhos, é sempre susceptível de os ajudarem no seu desenvolvimento.

                                                              Mário Freire

segunda-feira, 16 de abril de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 4



                                Qualidades a cultivar (Continuação)

Humildade – São características do verdadeiro educador a integridade, antes de tudo aliada ao desejo de servir e valorizar alguém. Há nisso primariamente a dignificação de outrem, sem servilismo nem menosprezo próprio. A humildade tem seu fundamento na verdade. Nesta estão incluídas as próprias falhas. Face a estas, Assagioli tem como normativo “a humildade suficiente para reconhecer nossas próprias deficiências e a boa vontade par as eliminar.”
Humorismo -  É este fruto do bom humor que jocosa e inocentemente sabe tirar partido dos factos e circunstâncias envolventes. Assagioli fala do “dom divino do humorismo.” Vê ele neste uma qualidade indispensável, ao ponto de afirmar que “o bom humor é um dever essencial dos educadores.”
Liberdade – O nascimento é um primeiro passo inconscientemente dado para a autonomia, emancipação e liberdade. Conscientemente, há, nesse direito e sentido, uma caminhada que se impõe e que sistema educativo deve respeitar e apoiar. A liberdade não é algo a conceder, mas sim a reconhecer e respeitar como direito fundamental. Para além dos limites exteriores impostos à liberdade é fundamental a tomada de consciência, a nível transpessoal, de que se trata de uma qualidade inalienável e essencialmente garantida, não obstante malentendidos e represálias. “Bem fazer e deixar falar” é uma divisa adoptada por Assagioli.  
Motivação – Inculcada ou não, é fundamental entender que esta qualidade deve ter  fulcro em nós próprios, sob pena de estagnação e atrofia do processo evolutivo, quer como educandos quer como educadores. A motivação é fruto requerido de uma vontade esclarecida aliada às diversas funções psicológicas, desde a sensação à intuição, passando pelas emoções, pelo pensamento e pela imaginação. 
Optimismo – O verdadeiro optimista vê nos factos, incluindo o pessimismo, uma oportunidade a ter em conta. Sem ser passivo nem ingénuo, faz do sucesso um alvo e vê em cada provação um plinto em vez de uma pedra de tropeço. A nível da personalidade é comum tropeçar e cair num enredo qualquer. O optimista não faz disso uma abstracção mas sim uma ocasião de recurso a um poder de carácter transpessoal a reconhecer em si mesmo e não só.  Assagioli aponta para um apelo e confiança numa resposta adequada, sendo que “esta pode chegar do interior ou do exterior, ou subir das profundezas.”  Agradável ou não, há o benefício de uma lição a colher.

NB – Terá prosseguimento o elenco dos qualificativos a ter em conta.


                                                         João d’Alcor

sábado, 14 de abril de 2012

USO DE TÉCNICAS PSICOTERAPÊUTICAS NA ESCOLA



O aumento de jovens com conduta de violência escolar tem vindo a preocupar os agentes educativos (escola, família) e profissionais de saúde.
           As famílias desestruturadas continuam a aumentar e, deste modo, também o insucesso escolar em jovens adolescentes oriundos dessas famílias. Estes apresentam cada vez mais perturbações psicológicas de difícil controlo.
Nesta sequência introduzimos no processo educativo técnicas psicoterapêuticas de grupo que facilitam o desenvolvimento individual e relacional do aluno. O nosso objetivo é implementar valores de cidadania que favoreçam a inteligência emocional e previnam o aparecimento de condutas agressivas. Estão a ser aplicadas técnicas de visualização dirigida, numa perspetiva otimista e incentivadora de estratégias de atuação.  Estamos deste modo a alargar a aplicação das técnicas psicoterapêuticas do campo clínico para o campo educativo.
Pais e os professores têm um papel importante no processo educativo. Por isso, eles foram por nós escolhidos para definir os valores que consideram importantes no contexto de vida dos seus educandos/alunos e que estão a ser inspiração dos temas selecionados.   Esta intervenção, já implementada em algumas escolas, está a ser realizada através da aplicação de técnicas psicoterapêuticas de imaginação guiada.
Divulgamos e sugerimos a sua implementação em todas as escolas.
                                                            
                                                                   Paula Molarinho

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A ESCOLHA DE UM CURSO E A REALIZAÇÃO PROFISSIONAL - 2



                                                O conhecimento de si mesmo

                Para se escolher, fundamentadamente, um curso ou uma profissão, há que saber quem se é. Ora, esse conhecimento não é fácil. Por isso, Sócrates, o filósofo da antiguidade grega, teve como lema, orientando a sua vida, o conhecimento de si mesmo e levando os outros, através do diálogo, igualmente, ao conhecimento deles próprios. Só assim, segundo o filósofo, seria possível atingir a verdade; só assim poderia modificar a sua relação com ele mesmo, com os outros e com o mundo.
Essa preocupação em se conhecer deve começar pelo próprio aluno mas outras pessoas há, como os pais, professores e psicólogos, que o podem ajudar numa sua avaliação mais correcta.
                Algumas questões poderiam ser colocadas pelo aluno e de cujas respostas talvez pudessem sair pistas para uma escolha mais acertada. Assim, algumas delas, postas na primeira pessoa, poderiam ser:
                - O que é importante para mim?
                - Até que ponto estou disposto a lutar pelo que acho importante?
                - Quais são as minhas potencialidades e limitações?
                - Em que me considero bom?
                - Do que é que mais gosto de fazer? E de estudar?
                - Prefiro lidar com ideias, pessoas, animais, plantas ou objectos?
                - Gosto de trabalhar em equipa ou prefiro o trabalho solitário?
                …………………………………………………………………………………………….
                Ora, muitas destas questões, e de muitas outras que poderiam ser feitas a respeito do conhecimento de si mesmo, só serão cabalmente respondidas depois de o aluno efectuar experiências variadas, em vários campos de actividade, onde ele, gradualmente, vai tomando maior consciência do que é, do que quer e do que pode fazer bem.
                A escolha de um curso ou de uma profissão é, pois, um processo, isto é, um conjunto de acções que tem em vista um determinado objectivo. Não é algo (não devia ser!) que aparece de repente e que diz qual é a escolha certa. Todos nós possuímos potencialidades e interesses que nos tornam aptos a desempenhar bem múltiplas tarefas. O jovem tem, pois, por si e, se possível, com a ajuda de alguém com idoneidade, de encontrar os caminhos que façam dele um sujeito da sua própria escolha. Mas, para isso, deverá, previamente, tentar responder à questão: que sei eu de mim?

                                                                                  Mário Freire

terça-feira, 10 de abril de 2012

BAMBU



O bambu nos dá lição:
Suaviza sempre o embate.
Contra o vento não se bate,
haja brisa ou furacão.

Sebe ele bem que a rigidez
aliada anda ao perigo.
O lutar não faz sentido.
À  feição, é mais cortês.

Vive com vários companheiros,
uns dos outros conselheiros,
e é comum a decisão:

Mor o bóreas vai soprar,
mais a sul se vão curvar.
- Vem do jeito a salvação.

João d’Alcor

domingo, 8 de abril de 2012

TRABALHOS PARA CASA - 1


                                         Relações com a família

            Uma das práticas mais antigas e que ainda se mantém no ensino, com toda a sua pujança, é a dos trabalhos para casa (TPC), principalmente no ensino básico. No entanto, a controvérsia que ela tem suscitado é, na verdade, tão antiga como a prática que ela visa.  
            Ora, os TPC implicam-se com várias entidades, sejam elas os professores, os alunos, a família, os explicadores e os ATL (actividades de tempos livres). Eles têm, por isso, uma grande visibilidade social.  
            Que argumentos, então, são expendidos para que eles existam e, por outro lado, que eles deixem de existir?  
            Pais ou encarregados de educação que foram ensinados a levar TPC, que estejam mais atentos ao que se passa nas aulas e verifiquem que um professor nunca prescreve tais trabalhos, que imagem têm eles desse professor?
Esta tradição parece, pois, difícil de romper uma vez que ela implica um aproveitamento do tempo nos estudos, em casa, por parte dos filhos e, por isso, ela continua a ser vista, de uma maneira geral, por parte da família, de utilidade.
Além disso, os TPC constituem, ainda que indirectamente, um elo de ligação entre a escola e a família, pois há mensagens, embora de natureza específica, que vão circulando entre a escola e a família e entre esta e aquela que possibilitam aos pais uma informação sobre o andamento das matérias nas aulas.
Outro aspecto a considerar é o modo como os pais vêem a relação que os filhos têm com os TPC. Será que para a criança ou adolescente eles constituem um meio de valorização escolar ou, apenas, uma obrigação que têm de cumprir e dela se desenvencilharem o mais depressa possível? E, neste último caso, qual o seu o papel? Por outro lado, em que medida os TPC surgem como um meio para estabelecer ligação entre gerações?
            Parece não haver dúvidas, contudo, de que os TPC implicam, directa ou indirectamente, com a estrutura familiar. Mesmo que os pais (ou encarregados de educação) não tenham possibilidades de interferir directamente na feitura desses trabalhos, estes acarretam um certo número de circunstâncias, que mais não sejam na organização do espaço onde eles são efectuados, que têm que ser propícias à realização dos mesmos. Ora, envolver os pais na acção educativa dos filhos é sempre um aspecto positivo.

                                                                     Mário Freire
           

sexta-feira, 6 de abril de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 3


                          Qualidades a cultivar (continuação)

Compaixão – Manifesta-se esta qualidade na capacidade do relacionamento em que há uma sintonia com os sentimentos de outrem, longe da indiferença e alheia a julgamentos. Diferente de comiseração piegas, “a verdadeira compaixão – explica Assagioli – não é uma simples emoção passageira, mas traduz sim um desejo, uma necessidade e um propósito de ajudar eficazmente.” Mediante a compaixão, longe de simples observação tem lugar a participação, Mais do que presença existe uma comunhão.
Compreensão – Mais do que entendimento, a compreensão é imbuída de amor. Assagioli escreve sobre esta virtude sob o título  “compreensão amorosa” em termos de “apreciação, encorajamento e são optimismo,” vendo nela “a chave mágica que abre os corações, o meio irresistível para dissipar malentendidos, antipatia, hostilidade, de forma a estabelecer relacionamentos humanos justos, nos domínios da vida associativa, desde a família até à humanidade no seu conjunto.”
Dedicação – Tolstoi entende que “é necessário escolher entre uma escola onde é fácil aos mestres ensinar, e uma outra escola onde para os estudantes é fácil aprender.” A dedicação coloca a educação em função do aluno, evitando a passividade, criando o incentivo e inculcando a participação.
Disponibilidade – É característico desta virtude o papel da vontade benevolente ao mesmo tempo acolhedora e prestável. Reflectindo sobre a disponibilidade, Assagioli, médico educólogo, se expressa nestes termos, ministrando uma das suas lições sobre a psicossíntese. “Eu diria que cada um de nós, mas sobretudo cada médico, cada educador, se pode considerar um ‘laboratório vivo’ no qual vive vinte e quatro horas por dia (incluindo os sonhos).” Em nota pessoal exara, sublinhando o seguinte propósito: “lembrar-me do dever estrito de responder e, o melhor possível, aos pedidos de ajuda espiritual que me são dirigidos.”
Empatia – Profusamente focada na obra de Carl Rogers, esta qualidade é concebida como a “fantasia do coração”. Esta constitui uma sintonia cordialmente vivida e compartilhada. Tal se expressa na capacidade de ao mesmo tempo ser capaz de se colocar no lugar de outro compreendendo as suas ideias e compartilhando os seus sentimentos e reacções. A empatia traduz o respeito, no sentido etimológico do termo res+pecto (prestar atenção), contemplando algo ou alguém. Há nela o afecto e a fusão equivalente ao que Assagioli denomina a “compreensão amorosa” entendida como “um dom entre os mais altos que podemos receber e dar.”
Generosidade – Há nesta qualidade a soma de uma partilha em que tudo o que se dá provém da abundância do ser. Kahlil Gibran a exprime em termos de um princípio: “ É quando vos dais a vós mesmos qu vós dais realmente.” Ela é prioritariamente um dom de si mesmo.
Gratidão – A qualificação desta virtude provém da consciência dos benefício recebidos aliada a um sentimento que enobrece simultaneamente quem oferece e quem recebe. Provém daí que, na etiqueta japonesa, quem dá pede desculpa, face ao perigo de poder humilhar quem recebe. Assagioli anota que “a gratidão é uma forma de memória espiritual.” Traduz esta um sentimento penhoradamente gravado no coração.

Nota bene – Qualidades : Este elenco terá seguimento


                                                           João d’Alcor

quarta-feira, 4 de abril de 2012

UMA PESSOA PLURAL

         
                
            Encontra-se patente ao público, até ao próximo dia 30 de Abril, uma exposição sobre Fernando Pessoa, intitulada plural como o Universo, na Fundação Gulbenkian.
Esta exposição permite-nos mergulhar no mundo complexo do poeta, mas também ensaísta e filósofo e perceber um pouco do que é a sua obra.
Ele deixou um espólio valiosíssimo numa arca, com milhares de textos inéditos, dactilografados e manuscritos, alguns dos quais em bocados de papel rasgados, sobrescritos, etc.
Ao longo da sua vida fez sair em jornais e revistas poemas seus. No entanto, só um ano antes da sua morte, que ocorreu em 1935, é que foi publicado o seu único livro de poesia, a Mensagem.
A pluralidade de Pessoa, seja na sua propensão heteronímica, seja nos diferentes papéis que assumiu ao longo da vida, fazem do poeta um ser com uma personalidade indefinível. As dezenas de heterónimos que criou, até em língua inglesa e francesa, são os afloramentos de uma multiplicidade de caminhos, de estilos, de perspectivas de vida em que às várias personagens se associam projectos e maneiras diferentes. Essas diversas personalidades eram traduzidas por algo que as identificavam - a assinatura. Na exposição apresentam-se várias assinaturas, correspondentes a diferentes heterónimos, cada um dos quais com uma caligrafia específica.  
A materialização que ele conferia aos seus heterónimos era tal, que escrevia deles a outras pessoas como se de seres humanos reais se tratassem.
Também ele, Fernando Pessoa, foi plural na sua vida real: editor, tradutor, espírita, astrólogo, negociante…
A “despersonalização instintiva” a que ele se refere não seria já uma manifestação premonitória da complexidade e das contradições do homem dos dias de hoje?
Afinal, qual teria sido a verdadeira personalidade de Fernando Pessoa?

                                                            Mário Freire

segunda-feira, 2 de abril de 2012

BAMBINO


Se na vida eu pretender
ser adulto por inteiro,
darei provas de esquecer
quem deixei no meu roteiro.

O esquecido é posto fora;
resto eu, em parte, ausente:
Semi-mim que por mim chora
e outro meio indiferente.

Em mim vendo a criança,
se duplica a confiança,
em retorno ao vero ser.

O bambino que me habita
hoje se diverte e tem a dita
de com outros conviver.

                                                     João d’Alcor