quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CRISÁLIDA


Larva fui, sou mariposa
diz a ninfa ao despertar.
Com assombro, radiosa,
abre as asas, quer voar.

Afastado o arremedo
de letargo aterrador,
a crisálida é segredo
de processo inovador.

Nela há morte sem morrer.
Nele há crise, mas por bem,
ao depor o velho ter.

Borboleta. Que prazer...
O casulo em si contém,
garantido o verbo ser.

                                           João d’Alcor

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

RANKING DAS ESCOLAS - INTERIORIDADE E INSULARIDADE


             Observando as estatísticas referentes à distribuição dos resultados escolares nas diferentes escolas do País, no que se refere aos exames dos 6º, 9º e 11º/12ª anos do ano lectivo de 2012, verifica-se que essa distribuição está longe de ser uniforme pelo território nacional.
            Atribuir esta discrepância a um melhor ou pior funcionamento das escolas ou à melhor ou pior qualidade dos alunos seria fazer uma análise distorcida e incompleta porque iria omitir realidades socioeconómicas e culturais que lhes subjazem.
Num primeiro olhar sobre estas estatísticas, elas dizem-nos que, de um modo geral, as regiões Norte e Centro, não interior profundo, por um lado, e o Sul e Arquipélagos dos Açores e Madeira, por outro, com algumas excepções, se encontram bem demarcadas, em que estes últimos saem em desvantagem. A interioridade e a insularidade são, pois, companheiras nos resultados menos satisfatórios dos nossos alunos.
É claro que nos dias de hoje, estar-se no interior ou nas Regiões Autónomas não é impeditivo de se falar com um nosso interlocutor e vê-lo, em tempo real. Aparentemente, na aldeia global em que vivemos, tudo e todos estão próximos.
Insularidade e interioridade, em si mesmas, não deveriam ser, pois, factores que, medindo-se, apenas, pela distância que as separa da centralidade ou pelo tempo que se leva a percorrer essa distância, suscitassem atrasos na educação ou em outros sectores da actividade humana.
Ora, acontece que o distanciamento da centralidade, dos locais onde se concentram os poderes, acarreta, ainda, de modo significativo, assimetrias de natureza educacional, social, económica e cultural. 
Há que combater, pois, essas assimetrias proporcionando aos poderes dessas regiões, autónomas e do interior, condições para que possam atrair investimentos de várias naturezas. Para isso, há que facilitar a mobilidade, simplificar procedimentos administrativos, combater o desemprego com incentivos, desenvolver políticas de fixação com a criação de novos empregos, atacando, assim, a desertificação demográfica e o êxodo juvenil.  
Ter maus desempenhos escolares não é, apenas, um mero problema de escola mas, também, a consequência de múltiplas variáveis de que os poderes políticos talvez sejam os principais responsáveis.

                                                   Mário Freire

sábado, 27 de outubro de 2012

A LITERACIA NO MUNDO MODERNO


Tradicionalmente, a expressão Literacia designa a destreza com uma determinada língua, sobretudo no que diz respeito à leitura, escrita e oralidade, as quais desempenham um papel preponderante na comunicação e na compreensão de ideias.
Comparativamente, a expressão Literacia Digital pretende designar o uso eficaz da tecnologia digital, tal como os computadores, as redes informáticas, os telemóveis, entre outros. O conhecimento, tanto do funcionamento destes equipamentos, como dos programas informáticos que lhe estão associados, pode ser preponderante para essa eficácia. Conhecer como funciona um determinado equipamento aumenta significativamente a probabilidade de o utilizar mais eficazmente.
Uma boa literacia é essencial para melhorar a vida das pessoas e promover um crescimento forte e sustentável. A literacia ajuda o indivíduo a desenvolver capacidades de reflexão, crítica e empatia e é essencial para o bem-estar pessoal.
Só um aumento de literacia poderá conduzir a um aumento da produtividade da população trabalhadora. Essa política foi já desenvolvida em diversos países com resultados prometedores. Todavia muito mais deverá ser feito; mesmo na Europa há necessidade de a implementar. De facto, há ainda um número considerável de Europeus com deficiente grau de literacia. A nível global, estima-se que 1 em cada 5 adultos e 1 em cada 5 jovens com 15 anos não possui competências de leitura suficientes para uma integração plena na sociedade.
A literacia é uma qualificação fundamental para os cidadãos de todas as idades no mundo moderno e a permanente mudança no trabalho, na economia e na própria sociedade tornam-na ainda mais importante. Várias razões podem ser invocadas, nomeadamente:
- O mercado de trabalho é cada vez mais exigente no que diz respeito ao nível de literacia.
- As participações cívicas e sociais no mundo digital de hoje são cada vez mais dependentes da literacia.
- A comunicação (social, cívica e económica) tem como suporte a escrita.
- A população está a envelhecer, necessitando, por isso, de constante actualização dos seus conhecimentos de literacia, em especial dos que dizem respeito à literacia digital.
- A pobreza e a fraca literacia formam um círculo fechado, potenciando-se mutuamente.
- O aumento da mobilidade e as migrações estão a tornar a literacia mais exigente em termos de conhecimentos linguísticos.
Estamos pois a viver um paradoxo: sendo a leitura e a escrita cada vez mais importantes no contexto do mundo digital, verifica-se que a sociedade não satisfaz essa exigência. Torna-se, pois, urgente modificar essa situação que, há muito, se tornou preocupante.

                                     FNeves

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A SABEDORIA DO EPICURISMO - 2




A primeira lição do Epicurismo diz-nos que devemos disciplinar desejos irrealistas supérfluos e tentar encontrar um equilíbrio entre o que temos e o que nos é possível alcançar.
A segunda grande lição consiste em fazer-nos compreender que a ascese implícita na recusa da futilidade, do supérfluo, do desperdício e da vanglória, e que a opção por uma vida simples e coerente, pautada pela temperança, pela prudência e pelo sentido da justiça, não pode ser feita em solidão.
Os amigos são um bem maior da existência e da vida em sociedade. É com os amigos que trocamos confidências, é com os amigos que recordamos os bons momentos do passado, é com os amigos que partilhamos alegrias e tristezas, projetos e desilusões. É com os amigos que aprendemos muito do que é a experiência humana. É com a palavra amiga que nos sentimos confortados.
O que Epicuro deixa subentendido nesta valiosa lição é o papel terapêutico da palavra que representa um gesto de compreensão, de aceitação e de apoio afectivo. A função espiritual da palavra amiga só se realiza numa relação de intimidade e de confiança entre duas pessoas que se respeitam.
O sentimento de culpa e as dúvidas de uma consciência moral atormentada podem aliviar-se ou dissipar-se na confissão feita a um amigo em quem confiamos e perante o qual nos sentimos livres.
Exprimirmo-nos com liberdade é saber que não vamos ser censurados nem castigados, digamos o que dissermos. Foi esta atitude de vida que Epicuro desenvolveu com os seus alunos e foi ela que o tornou um mestre venerado na Grécia Antiga.
(continua…)
                                                Rossana Appolloni

terça-feira, 23 de outubro de 2012

CRIATIVIDADE


Próprio é da criatura,
muito mais do que sonhar,
envolver-se na aventura
de por sua vez criar.

Facilmente se amofina
quem na vida, sem visão,
não saindo da rotina,
deixa aos outros tal condão.

O inédito é comigo,
é com todos, é contigo,
seja qual a nossa idade.

Ceda ao Novo o mundo antigo.
Eu viver não mais consigo
sem a Criatividade.

João d’Alcor

domingo, 21 de outubro de 2012

AS RELAÇÕES DENTRO DA FAMÍLIA


              No seu sentido mais tradicional, a família é o agregado doméstico composto de pessoas unidas pelos vínculos de casamento, parentesco e afinidade. Hoje, o conceito de família estende-se a outras formas de agregado doméstico que não implicam, necessariamente, quer o casamento, quer a existência simultânea de um pai, uma mãe e filhos. Cada vez mais se vai ouvindo falar em uniões de facto, assim como de famílias monoparentais.
Seja qual for o modelo adoptado, a família constitui um espaço essencialmente afectivo. E se essa afectividade for vivida intensamente, de maneira positiva, todos aqueles que dela fazem parte poderão transmitir para fora dela essas vivências que nela experimentaram. Quer isto dizer que se na família houver relações de amizade e de paz, esses mesmos sentimentos serão transmitidos nas relações que os seus membros estabelecerem com os outros. A recíproca também é verdadeira: numa família em que a agressividade seja uma constante, onde os filhos vêem os pais a ofenderem-se, onde eles próprios ofendem e são ofendidos, é provável que estes elementos, nos diferentes ambientes em que se inserem, sejam eles o escolar, o profissional, o social, não encontrem maneiras ajustadas e pacíficas de resolver os conflitos ou, simplesmente, as frustrações que o dia a dia lhes traz. 
Claro que há sempre razões e, por vezes, ponderosas, para que as famílias nem sempre funcionem adequadamente. E, em muitas circunstâncias, essas razões pouco têm a ver com elas próprias. Será que o Estado inventariou causas que, em primeira instância, lhe são atribuídas por esse mau funcionamento das famílias?

                                                              Mário Freire

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A SABEDORIA DO EPICURISMO - 1


O Epicurismo é a doutrina do filósofo Epicuro (341 - 270 a.C., Grécia Antiga), a qual propõe lições para a vida que ainda hoje se revelam de grande pertinência para quem se interroga sobre o que é a felicidade.
O ponto de partida do epicurismo consiste em reconhecer que um corpo humano em sofrimento não consegue experimentar nem o prazer nem a felicidade. A tarefa prática da filosofia consiste assim, antes de mais, em ensinar os homens a viver sem dor.
Para Epicuro, os fatores mais importantes do sofrimento no ser humano são a fome, a sede, o frio e o medo da morte. É da satisfação das necessidades orgânicas básicas que depende, em primeiro lugar, a experiência do prazer e a hipótese de felicidade. A afirmação do prazer como ausência de sofrimento e como satisfação das necessidades vitais é, assim, um bem prioritário absoluto. No entanto, uma vez satisfeitas as necessidades humanas elementares, as pessoas têm tendência para desenvolver desejos que nem sempre têm condições objetivas para satisfazer.
Ambicionar ter uma vida melhor não é, em si mesmo, um mal. Porém, quando os nossos desejos são alimentados por fantasias irrealistas e irrealizáveis de poder, de riqueza ou de luxúria, criamos condições subjetivas de frustração que alimentam sentimentos prováveis de insatisfação, inveja e infelicidade.
É contra os desejos fúteis ou impossíveis de alcançar que se bate uma atitude de vida baseada na sabedoria. A lição primordial de ética epicuriana consiste em disciplinar os desejos irrealistas supérfluos e em tentar alcançar um estado de equilíbrio entre a satisfação das necessidades naturais e o travão ao impulso de desejos vazios, de comportamentos excessivos ou de compromissos que não podemos satisfazer. Devemos, pois, valorizar aquilo que temos e contentar-nos com aquilo que nos é possível alcançar em cada momento da vida.

                                                                           Rossana Appolloni

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CRIAÇÃO


Bem difere o ser humano
de uma amiba, com efeito.
Mas daí aos ares de ufano,
todo o nexo é suspeito.

Tem a amiba a luz da vida.
Quanto dela é desdizer
torna a alma desprovida
dessa luz no próprio ser.

Tudo quanto Deus criou
vale por si e sem compita.
Tem no ser o seu valor.

Quem p’ra a vida despertou
vê a luz e expressa a dita
face ao ser, seja ele qual for.

João d’Alcor

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O INVESTIMENTO NA LITERACIA


A implementação da literacia é uma condição essencial para o crescimento económico e para o bem-estar. Os investimentos para desenvolver a literacia dos cidadãos produzem ganhos tangíveis quer para os indivíduos quer para a sociedade.
Além dos ganhos materiais é importante lembrar que a literacia faz parte da natureza humana; embora a autoconfiança seja um valor não quantificável poderá estimular o sucesso económico e social.
A melhoria da literacia poderá transformar vidas não só do próprio mas também das suas famílias e da sociedade em geral. Só na Europa, aproximadamente 75 milhões de adultos manifestam deficiências de literacia e, ao contrário do que é geralmente aceite, muitos deles são naturais do país e não migrantes. Infelizmente as estatísticas não são fiáveis, desconhecendo-se o número exacto de pessoas com problemas desse tipo.
A União Europeia reconhece que as competências de leitura e escrita são essenciais para o desenvolvimento pessoal e para a independência económica. É indispensável um fácil acesso a cursos para adultos (na escola, no local de trabalho ou mesmo em casa) de qualidade e a preços razoáveis. Todavia a adesão por parte dos interessados é ainda reduzida.BV
Várias entidades poderão contribuir para a melhoria da aprendizagem: os amigos e a família poderão ajudar a ultrapassar as atitudes negativas face à aprendizagem; os empregadores e as associações sindicais podem desenvolver as competências básicas, promovendo cursos especializados que permitam o aumento da produtividade e a utilização intensiva das novas tecnologias.
Em Portugal, o programa Novas Oportunidades procura reconhecer competências no âmbito da literacia, competência digital e comunicação oral. Já envolveu perto de 1,6 milhões de pessoas.

                                                     FNeves O

sábado, 13 de outubro de 2012

UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO TUTORIAL


             Foi referido no jornal Diário Insular, há meses, uma experiência sobre ensino tutorial em escolas da Terceira e de S. Miguel. Na notícia falava-se dos objectivos que se pretendiam atingir e dos resultados já alcançados.
Relativamente aos objectivos, enunciavam-se os de “promover o sucesso escolar e contribuir para a diminuição do absentismo de alunos do 2º e do 3º ciclos do ensino básico, com percursos educativos irregulares e marcados pelo insucesso”. 
Quanto aos resultados, dizia-se na notícia que os alunos abrangidos na experiência, em número de 277, revelaram “melhores resultados escolares e com menor número de faltas” do que aqueles que não tinham sido abrangidos. E, concretizando melhor, a metodologia utilizada (denominada de “tutal”) tinha proporcionado uma “forte diminuição” do número médio de faltas injustificadas, ao mesmo tempo que “registavam melhorias no que diz respeito ao seu bem-estar psicológico, integração na escola, sentido de competência na aprendizagem e esperança/otimismo, entre o início e o fim do programa”.
Afinal, em que consiste genericamente esta metodologia?
Ao contrário de outras metodologias tutoriais, frequentemente utilizadas no ensino superior, esta destina-se a faixas etárias mais baixas. Ela visa prevenir o abandono escolar, promover a comunicação entre a escola, a família e a comunidade. Pretende-se, ainda, que os professores da turma a que pertencem os alunos e as famílias possam dar contributos, tendo em vista os objectivos que são visados.
Esta metodologia reveste a forma tutorial porque existe uma relação preferencial de apoio e orientação entre um adulto – o professor – e o aluno. Nesta relação o tutor (o professor) faz o acompanhamento escolar do aluno, ao mesmo tempo que o ajuda a desenvolver-se cognitiva e afectivamente, numa intervenção de co-responsabilidade e de diálogo. A tutoria pode revestir a forma individual (tutor-aluno) ou grupal (tutor-grupo de alunos).
Numa altura em que o País parece ter excesso de professores, não poderia esta metodologia ser generalizada a todas as escolas e aproveitar muitos deles que foram lançados para o desemprego ou para horário zero? Com uma formação adequada neste domínio, esses professores não poderiam fazer render as suas capacidades e conhecimentos e, simultaneamente, prestar um serviço inestimável à comunidade? 

                                                                                        Mário Freire 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

OS AFETOS REDOBRAM AS ALEGRIAS E REDUZEM AS TRISTEZAS



Quem tem uma rede de relações humanas tem uma maior probabilidade de se sentir bem. Ter pessoas que se preocupam por nós e com as quais partilhamos a nossa vida, intensifica a nossa sensação de bem-estar e alivia o nosso sofrimento.
Sentir que somos amados cria um espaço psicológico de segurança que nos ajuda a enfrentar as dificuldades e, simultaneamente, cria um espaço paralelo de felicidade que nos ajuda a seguir as nossas paixões.
Cultivar a intimidade passa por uma troca recíproca de nos deixarmos conhecer. Os desejos, os medos, as fantasias e os sonhos são gradualmente revelados numa perspectiva positiva de nos sentirmos cada vez mais próximos e cúmplices uns dos outros.
O amor incondicional é a base de uma relação feliz, seja ela entre parceiros ou entre amigos. Amar incondicionalmente uma pessoa significa nutrir sentimentos positivos por aquilo que ela é, independentemente de fatores externos como a riqueza, a fama, o poder, etc. Quem ama pensa no bem-estar da pessoa amada, encorajando-a a fazer escolhas importantes para ela, mesmo que não esteja incluído nelas.
Hoje em dia, o amor nas relações ainda é associado à crença de que este implica sacrifício. Estarmos ao lado dos nossos amigos ou parceiro/a em momentos de crise não deve ser um sacrifício, antes pelo contrário! Ajudar o próximo é importante porque reforça os laços entre as pessoas. Para além disso, quando há amor, a nossa felicidade depende da do outro, pelo que ajudá-lo implica também ajudarmo-nos a nós próprios. Todo este processo acaba por trazer significado à nossa vida pois, no final, por muito que possamos ter em termos materiais, são os afetos e as emoções que vivemos através das pessoas amadas que nos fazem felizes.
                                                             Rossana Appolloni




terça-feira, 9 de outubro de 2012

CRESCIMENTO


Faz apelo o crescimento
ao alor que em mim existe.
Pede um teste que consiste
em provar que o alimento.

Ser adulto fora um sonho
de criança, em tenra idade.
Expandir-me em liberdade
hoje ainda me proponho.

Serei planta a atrofiar,
se com solo e à medida
novo vaso lhe negar.

O crescer requer mudar.
A mudança é lei da vida
seriamente a ponderar.

João d’Alcor

domingo, 7 de outubro de 2012

QUALIDADE E EFICIÊNCIA DOS SISTEMAS DE ENSINO


Os sistemas de ensino e de formação vêm sendo fortemente criticados tanto pelos jovens como pelos educadores. Em particular, os jovens sublinham o facto de existirem numerosos obstáculos económicos e sociais que dificultam o acesso a um ensino de qualidade.
            Vários países procederam a reformas fundamentais do seu sistema escolar melhorando, por exemplo, o acesso da população em geral à Internet e aos recursos multimédia. Desse modo, os jovens poderão adquirir as competências que lhes permitem aceder à informação, ser cidadãos activos e responsáveis e integrar-se na sociedade e no mundo do trabalho. Será necessário utilizar a ferramenta multimédia, os métodos clássicos de ensino teórico e de trabalho em casa, combinando tudo isso com a prática profissional. A educação deverá ser plural e oferecer um amplo leque de métodos e modos de aquisição das competências e instrumentos necessários à formação ao longo da vida.
As escolas devem estar abertas às exigências económicas e sociais do mundo em que vivemos, assim como às questões europeias; deverão promover a participação dos alunos na sua própria educação e permitir e incentivar a participação e a democracia (por exemplo, proporcionando a possibilidade de avaliar os professores).
Hoje em dia, considera-se que as insuficiências da escola não podem ser imputadas apenas aos docentes ou aos estabelecimentos de ensino em si mesmos mas, também, ao sistema educativo no seu conjunto. Este depende da cooperação de três agentes: família, sociedade e escola.
Os professores são apenas um dos elementos do sistema escolar e as suas funções só podem ser avaliadas num contexto social, político e institucional mais lato. No entanto, seria desejável que beneficiassem de formação de melhor qualidade e de condições de trabalho mais favoráveis, situações essas que, em Portugal, se têm vindo a degradar.

                                                                   FNeves


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A CULTURA E A IGREJA - 3


            O átrio dos gentios era um espaço dentro do templo israelita que ficava fora da área confessional. Ali podiam aceder todos os povos, mesmo aqueles que não pertenciam ao judaísmo. Era o lugar onde qualquer pessoa, professando outra religião, poderia invocar os seus deuses ou, até, nem ter religião mas querer debater com os outros as suas próprias convicções.           
Também os cristãos tentam criar espaços que possam atrair os não crentes e os indiferentes para um debate sobre a fé e a cultura.
Esta acção de revitalização do diálogo entre pessoas que não perfilham dos mesmos princípios de fé, está a tentar levar-se a cabo pela Igreja Católica, a partir de um discurso de Bento XVI, em 2010.
O que se pretende, afinal, com o “Átrio dos gentios”, esse movimento que agora está a tomar corpo?
O seu objectivo é, fundamentalmente, este: que a mensagem cristã seja culturalmente relevante não só para os crentes mas, também, para aqueles que se situam de fora, nas margens ou na indiferença dessa mesma mensagem. Trata-se, afinal, de abrir o cristianismo e a Igreja a outros que não perfilham esses valores e de pôr todos a reflectir sobre temas que têm constituído interrogações que acompanham o homem desde sempre.
Se Barcelona foi já palco, neste ano de 2012, de um fórum de discussão sobre “Arte, beleza e transcendência”, em Estocolmo discutir-se-á a Ciência e a Fé. Portugal também não se excluirá deste “Átrio” e, assim, em Guimarães e Braga, nos dias 16 e 17 de Novembro deste ano, serão discutidos temas que, decerto, contribuirão para melhor nos conhecermos naquilo que de mais profundo nos une ou nos separa. 
Afinal, cristãos e não cristãos, não estaremos todos, em função dos princípios que dizemos professar, situados, um pouco, nesse “átrio”?

                                                Mário Freire

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

UM SALTO PARA O DESCONHECIDO


Muitas pessoas acham que se não trabalhassem seriam mais felizes. Ora, mesmo que não precisássemos de trabalhar, para termos uma vida interiormente rica não poderíamos deixar de ter objetivos. A nossa vida preenche-se com a gratificação que sentimos ao ultrapassar os obstáculos que se deparam no nosso caminho. O trabalho, sendo um terreno onde os obstáculos por vezes são diários, se não nos der satisfação significa que estamos a ir na direcção oposta àquela desejada.
Trabalhamos melhor e temos resultados melhores se nos dedicarmos a uma atividade que nos proporciona prazer, pelo que a nossa escolha nunca deveria recair unicamente sobre questões económicas. Sem um investimento emotivo intrínseco, acabamos por perder o interesse e por entrar numa espiral de mal-estar. Mais do que encontrar um trabalho, devemos seguir a nossa vocação, que não é mais do que o ponto de encontro entre o que gostamos de fazer com o que sabemos fazer, unidos  ainda ao que faz sentido para nós: prazer, significado e competências são os três elementos que, juntos, fazem a combinação certa. O segredo passa por descobrirmos a atividade que se coaduna com eles, transformando assim o trabalho numa aventura que vale a pena.
Se as circunstâncias da vida o levaram a exercer uma atividade na qual não consegue extrair muitas emoções positivas, não se renda! Tente analisar quais as alternativas à sua volta, pois raramente nos encontramos numa situação sem saída. Há sempre outros caminhos. Somos nós que muitas vezes não os vemos por medo de entrar num terreno desconhecido, logo incerto. Preferimos ser infelizes no que conhecemos do que arriscarmos a dar um salto para o desconhecido. Receamos ficar ainda pior… mas e se, pelo contrário, nesse desconhecido estiver um mundo repleto de boas surpresas? Já pensou em tudo o que poderá estar a perder pelo medo que tem de deixar o que já conhece?

                                                              Rossana Appolloni

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CREDO ATEU


- Deus é mito; nada vale.
Fé não tenho e nunca tive.
Reza a Deus quem faz o mal.
Prega amor quem o não vive’…
.
- Meu irmão, pergunto eu
que presumo ser um crente:
Qual de nós o mais ateu?
Tal questão me tolda a mente.

Idolar, que é tão comum,
torna ‘Deus’ um pesadelo.
Dos maus crentes eu fui um;
não me tomes por modelo.

Face ao ‘Deus’ que foi o meu,
projecção da criatura,
é honesto ser ateu:
Deus não é caricatura.

Penso em ti, e muita vez…
Não será, irmão ateu,
que o não-Deus em quem tu crês
é mais Deus do que é o meu?

Se Amor há negado em ‘crentes’,
que se expressa nos ‘ateus’,
esse Amor que creio sentes,
me despoja do meu ‘Deus’,

Há um dogma em ser ateu;
vejo fé em teu não-crer.
Teu não-Deus ou Deus que é meu…
Qual dos credos escolher?…

Mais que tu serei ateu
no abismo grande, imenso,
entre o Deus que chamo meu
e o DEUS a quem pertenço.


Nesse abismo há sempre espaço
para o sim e para o não,
para o bem e mal que faço,
para a nossa convicção.

Só em ti a fé que tens?
Era o mesmo quanto à minha.
Te agradeço, pois que vens
pôr em causa a fé que eu tinha

No vazio que persiste,
há sinais de Quem vai vir.
Na certeza, quando existe,
algo há que vai ruir.

Mais que certo; nem duvido:
Só por mim a DEUS não vou.
Que caminhe em meu sentido
o Poder que me criou.

Grande ajuda, podes crer,
é teu não para o meu sim.
Haver DEUS ou não haver…
Guarda a prova para o fim.

Entretanto, meu irmão,
esperar em nada afecta.
Se Deus há, vai sua Mão
guiar-nos ambos para a meta.

Venha o Céu a ser Surpresa
para ti e para mim,
confundindo a certeza
do teu não e do meu sim.


                                                               João d’Alcor