quinta-feira, 13 de março de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (5)



             Mary Anning (1799-1847). Pintura de autor 
                                desconhecido.


                      A primeira metade do século XIX

Figura grande da paleontologia, a inglesa Mary Anning (1799-1847), coleccionadora e comerciante de fósseis, ficou bem conhecida entre a comunidade de geólogos e paleontólogos, pelas suas importantes descobertas no Jurássico inferior marinho no litoral de Lyme Regis, no condado de Dorset. O seu trabalho como amadora foi reconhecido como de grande importância no desenvolvimento da paleontologia dos vertebrados marinhos. Em finais do século XVIII e começos do XIX, a recolha fósseis, como curiosidades da natureza, estava em voga como um passatempo, entre uma burguesia erudita, atitude que acabou por caminhar no sentido da investigação científica nos domínios da paleontologia, da geologia e da biologia. Autodidacta de muito saber, contactando professores universitários e outros especialistas e consultando os seus trabalhos escritos, Mary tornou-se uma referência, como paleontóloga, a par dos melhores do seu tempo.
Entre os seus achados de maior relevo, hoje expostos no Museu de História Natural de Londres, contam-se o primeiro esqueleto fóssil conhecido de um ictiossáurio, o primeiro de pterossáurio (localizado fora da Alemanha) e os dois primeiros de plesiossáurio.




 Plesiossáurio (réptil marinho) desenhado e descrito pela mão de Mary Anning, em 1824.




     Esqueleto de Plesiossáurio (Rhomaleosaurus cramptoni) no Museu de História          Natural de Londres, junto do retrato da sua descobridora.




Mary Anning foi sensível à ocorrência de gastrólitos e de outros achados (então conhecidos por “pedras de bezoar”) que continham, no seu interior ossos de peixes e escamas. Estudados por Buckland, este concluiu que tais achados eram excrementos fossilizados, a que deu o nome de coprólitos. No seu tempo, em Inglaterra, era interdito às mulheres votar, ocupar cargos públicos ou frequentar a universidade e, neste contexto social, os membros da Sociedade Geológica de Londres, todos eles homens e cidadãos influentes, não permitiam a entrada de mulheres no seu seio nem, sequer, para assistir às suas reuniões. Assim, a sua condição feminina e o facto de não possuir habilitações académicas não lhe permitiram participar plenamente na comunidade científica britânica, toda ela masculina e anglicana. Embora internacionalmente bem conhecida e respeitada, não foi aceite como membro da referida Sociedade, o mesmo sucedendo às suas contribuições científicas que, assim, não puderam ser publicadasfora. Não obstante esta segregação, foram muitos os que com ela contactaram, com propósitos científicos, com destaque para uma panóplia de grandes nomes da paleontologia e da geologia, como De la Beche, William Buckland, William Conybeare, Richard Owen, Louis Agassiz, Roderick Murchison, Charles Lyell, Adam Sedgwick, Charles Darwin e Gideon Mantell.

                                   Galopim de Carvalho