Mary Anning
(1799-1847). Pintura de autor
desconhecido.
Figura
grande da paleontologia, a inglesa Mary Anning (1799-1847), coleccionadora e
comerciante de fósseis, ficou bem conhecida entre a comunidade de geólogos e
paleontólogos, pelas suas importantes descobertas no Jurássico inferior marinho
no litoral de Lyme Regis, no condado de Dorset. O seu trabalho como amadora foi
reconhecido como de grande importância no desenvolvimento da paleontologia dos
vertebrados marinhos. Em finais do século XVIII e começos do XIX, a recolha
fósseis, como curiosidades da natureza, estava em voga como um passatempo,
entre uma burguesia erudita, atitude que acabou por caminhar no sentido da
investigação científica nos domínios da paleontologia, da geologia e da
biologia. Autodidacta de muito saber, contactando professores universitários e
outros especialistas e consultando os seus trabalhos escritos, Mary tornou-se
uma referência, como paleontóloga, a par dos melhores do seu tempo.
Entre
os seus achados de maior relevo, hoje expostos no Museu de História Natural de
Londres, contam-se o primeiro esqueleto fóssil conhecido de um ictiossáurio, o
primeiro de pterossáurio (localizado fora da Alemanha) e os dois primeiros de
plesiossáurio.
Plesiossáurio (réptil marinho)
desenhado e descrito pela mão de Mary Anning, em 1824.
Esqueleto de Plesiossáurio
(Rhomaleosaurus cramptoni) no Museu de História Natural de Londres, junto do
retrato da sua descobridora.
Mary
Anning foi sensível à ocorrência de gastrólitos e de outros achados (então
conhecidos por “pedras de bezoar”) que continham, no seu interior ossos de
peixes e escamas. Estudados por Buckland, este concluiu que tais achados eram
excrementos fossilizados, a que deu o nome de coprólitos. No seu tempo, em
Inglaterra, era interdito às mulheres votar, ocupar cargos públicos ou
frequentar a universidade e, neste contexto social, os membros da Sociedade
Geológica de Londres, todos eles homens e cidadãos influentes, não permitiam a
entrada de mulheres no seu seio nem, sequer, para assistir às suas reuniões.
Assim, a sua condição feminina e o facto de não possuir habilitações académicas
não lhe permitiram participar plenamente na comunidade científica britânica,
toda ela masculina e anglicana. Embora internacionalmente bem conhecida e
respeitada, não foi aceite como membro da referida Sociedade, o mesmo sucedendo
às suas contribuições científicas que, assim, não puderam ser publicadasfora.
Não obstante esta segregação, foram muitos os que com ela contactaram, com
propósitos científicos, com destaque para uma panóplia de grandes nomes da
paleontologia e da geologia, como De la Beche, William Buckland, William
Conybeare, Richard Owen, Louis Agassiz, Roderick Murchison, Charles Lyell, Adam
Sedgwick, Charles Darwin e Gideon Mantell.
Galopim de Carvalho