quarta-feira, 29 de junho de 2011

TSUNAMI


Tsunami devastador
traz à mente uma questão:
Porque assim, oh Deus do amor,
há tamanha provação?

Faço eu minha a alheia dor
e onde a tua compaixão?
Se há mistério, por favor,
porque ofusca ele a razão?

Que ouves o brado não duvido.
Fé me deste que leva a crer
seres de facto compassivo.

Te pergunto, comovido:
Cristo é Deus e humano ser.
Far-te-á isto a Ti cativo?

                                                                                João d'Alcor

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A DISCIPLINA NA ESCOLA - 5

                       

                                    Professores que motivem

            “O professor não ensina: ajuda o aluno a aprender”.
            A frase foi citada no texto Educação: um optimismo confiante, logo no começo deste blog, e que hoje, mais do que nunca, tem plena actualidade.
            Ora, ensinar não tem o mesmo significado que aprender. O primeiro termo centra-se na acção do professor. Mas o fim último dessa acção é que o aluno aprenda. Por melhores recursos pedagógicos que o professor tenha à disposição; por mais modernos que sejam os equipamentos disponíveis; por mais confortáveis que possam ser as instalações; por mais actualizadas que sejam as formações científica e pedagógica dos docentes; por mais atraentes que sejam as suas condições de trabalho e de remuneração, se não houver aprendizagem dos alunos, ao serviço de quê estarão esses recursos, equipamentos, instalações, formação e condições de trabalho?
            Há que criar nos alunos, antes de mais, valores que se traduzam em objectivos que norteiem as suas actividades de aprendizagem. Ensinar sem objectivos não ajuda o aluno a aprender. Mas esses objectivos, para serem mobilizadores, terão que ir ao encontro das suas necessidades. Nem sempre essas necessidades serão devidamente percepcionadas por ele. Cabe, então, ao professor torná-las conscientes e, depois, dar-lhes as condições para serem satisfeitas.
            Para que serve isto que estou a estudar? Eis uma interrogação que, frequentemente, o aluno coloca e que não pode ficar sem resposta. Ora, o professor tentará encontrar sempre uma razão que o aluno entenda e que justifique a aprendizagem que vai fazer, qualquer que seja a disciplina ou matéria a tratar. E razões não faltam, desde aquelas que se prendem com a resolução de problemas da vida quotidiana, passando pelas que se ligam ao seu futuro como cidadão ou cidadã, até às outras que tentam dar resposta a interrogações sobre o funcionamento da Vida, da Natureza, do Universo, da Sociedade. É no suscitar deste “apetite” para o aprender do aluno que poderia começar o ensino do professor. Talvez esta seja uma das condições necessárias para haver disciplina na sala de aula.
           
                                                                                            Mário Silva Freire

sábado, 25 de junho de 2011

A FÁBULA DO PORCO-ESPINHO



            Anda a circular na internet uma fábula que, talvez, na escola, na família, na comunidade, possa suscitar alguma reflexão. Ei-la:

            “Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupos; assim, agasalhavam-se e protegiam-se mutuamente mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor.
            Decidiram, então, afastar-se uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados.
            Precisaram, pois, de fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.
            Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos.

            Aprenderam, assim, a conviver com as pequenas feridas que a relação com um muito próximo podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram.

            Moral da história: O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro e a admirar as suas qualidades.”


quinta-feira, 23 de junho de 2011

CONDIMENTO: BOM HUMOR



O temor inibe, absolutiza, dramatiza e descontrola, enquanto que o bom humor descontrai, relativiza, desdramatiza e suaviza, dissipando jocosamente o peso e o embaraço de situações complicadas, e porventura penosas. Pode outrossim servir de alívio ao peso da seriedade e de estímulo no divertimento. O educólogo Roberto Assagioli presta uma atenção particular ao bom humor em termos de desidentificação, relativamente ao que fazemos e quanto ao papel que desempenhamos. Tendo em conta a preocupação de “se tomar excessivamente a sério a vida, as situações e as pessoas, com a tendência de tudo transformar em tragédia,” ele faz apelo à “compreensão, à simpatia e à compaixão descontraída.”
Por vezes o humorismo descamba em caricatura grotesca e de mau gosto, colocando em evidência as fraquezas alheias, sejam elas reais ou supostas. O papel do bobo com suas farsas e trejeitos recorre a uma máscara que nem sempre traduz alegria e amor. Assagioli o conceptualizador da psicossíntese faz ver que “o verdadeiro humorista se ri antes de tudo de si mesmo.” Nota ele que “as características principais do humorismo são precisamente um grande equilíbrio moral, um sentido profundo de desprendimento e da relativização universal de todas as coisas, negação total do exclusivismo e do absolutismo moral, e um sentimento profundo do humano.” Conjugado com a sabedoria e bom senso, o bom humor conhece intuitivamente as dosagens de seriedade e de divertimento a ter em conta em cada caso e intervenção.
O bom humor sabe tirar partido dos factos e circunstâncias envolventes, conjugando os acontecimentos e as ideias com os termos e a musicalidade que a própria linguagem proporciona. Cada idioma tem a sua tonalidade e cadência próprias como características da alma do povo que o fala, sendo o humor então uma forma de animação. A partir do seu contacto com o Brasil, o célebre místico e escritor americano Thomas Merton testemunha: “O Português é uma língua maravilhosa para a poesia, uma língua de estupefacção, de inocência e de alegria, cheia de calor humano e consequentemente de humor, humor este que é inseparável do amor.” Obviamente que todos os idiomas têm a sua particularidade no sabor e encanto do bom humor. Apreciar a especificidade do alheio, como no caso apresentado, é prova de requinte.
Tal como no alimento, o saber-fazer requer tempero e faz apelo ao bom gosto. E que mais gostoso pode haver do que o amor? Dir-se-á que o humor é a cereja posta no topo desse bolo sem igual. O humor é efectivamente uma arte em que a doçura está no ser e em que o enfeite realça o saber-fazer. Tal humor revela mestria e nobreza, habilidade e benevolência. Uma vez elevado ao nível transpessoal ou espiritual, opera uma síntese entre o ser e o fazer proveniente da co-identificação em que a empatia é ao mesmo tempo abrangente, unificadora e libertadora. Viktor Frankl célebre psiquiatra e escritor, prisioneiro do campo de concentração de Auschwitz, testemunha sobre o potencial do humor como lenitivo possível e efectivo no contexto de semelhante provação e sofrimento. Um outro psiquiatra, acima mencionado, Assagioli o fundador da psicossíntese, também ele mantido episodicamente em prisão, menciona a dimensão transpessoal deste recurso e fala do “dom divino do humorismo.” Reconfortante é, por certo, sabermos e verificarmos quanto o bom humor, esse condimento de cariz divino - jamais sujeito a racionamento ou taxas - é eficaz, quer como sedativo em contextos de crise, quer como estimulante, dando lugar ao incremento vital

                            ( Excerto de manuscrito em elaboração)
                                                                        João d’Alcor


terça-feira, 21 de junho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 5

                                     
                                   (A propósito de uma exposição)

           Pedagogos da República - António Aurélio da Costa Ferreira

             Escrevia este pedagogo no jornal O Tempo, em 25 de Março de 1911: “Não é só útil aquele ensino que visa fornecer conhecimentos de imediata aplicação”. Ele devia visar também “criar um espírito científico, cultivar faculdades e aptidões, ensinar a observar, a experimentar, a raciocinar, a fomentar o espírito crítico, criar olhos para verem, mãos para trabalharem, cérebros para pensarem, mas por forma que os cérebros, olhos e mãos caminhem juntos e livremente”.
            António Aurélio da Costa Ferreira nasceu em 1879, no concelho do Funchal. A adolescência passou-a nesta cidade. Foi, depois, para Coimbra, tendo-se licenciado em Filosofia. Inscreveu-se, a seguir, em Medicina, tendo concluído este curso em 1905. Em Coimbra aderiu ao republicanismo, tendo sido dele um militante activo e convicto, em ligação com o ideal maçónico, de que era um seguidor.
            Foi como educador e antropólogo que se notabilizou. Desempenhou, como educador, a partir de 1911, o cargo de Director da Casa Pia de Lisboa e aí teve um papel importante, tendo norteado a sua actuação dentro dos princípios da “Escola Nova”. Assim, concedeu às crianças e adolescentes a liberdade para que eles pudessem escolher, de acordo com as suas capacidades, as artes e os ofícios. Incentivou, igualmente, as aulas de trabalhos manuais, música e desporto.
A partir de 1915 começou a leccionar as disciplinas de Pedologia, Higiene Geral e Higiene Escolar na Escola Normal de Lisboa. Ele considerava a psicopedagogia como fundamental na formação de professores de crianças com e sem necessidades educativas especiais. Entendia, ainda, que o professor deveria visar o desenvolvimento de todas as capacidades do educando, sendo a escola o espaço que melhor contribuiria para apetrechar o aluno para o trabalho, para a vida, para a cidadania. Para isso, ao professor não bastava ensinar a ler, escrever e contar. Ele teria que possuir conhecimentos sobre Pedologia, Higiene, Trabalhos Manuais e Ginástica que, depois, se traduzissem numa nova acção educativa junto dos alunos. Costa Ferreira foi o pedagogo que, no início do século XX, preconizou que nenhuma criança, por maiores dificuldades que apresentasse, poderia deixar de ter acesso à educação. Uma das suas obras mais importantes no domínio da educação é Algumas lições de Psicologia e Pedologia, editada em 1921.
Na actividade política, foi deputado e ministro. Saiu, no entanto, desiludido da política activa. Atribui-se-lhe a seguinte frase: “Fui ministro. Foi esta a maior honra que alcancei, o maior sacrifício que fiz e o maior desgosto que até hoje experimentei. Hoje, em face do que para aí vai, não me contento já com não voltar a ser ministro; não quero ser político”.
Efectuou estudos de Antropologia em Moçambique e publicou várias obras nos domínios da educação e da antropologia. Suicidou-se em 1922 com, apenas, 43 anos.
                                                                     Mário Silva Freire

domingo, 19 de junho de 2011

CRISE



Não me posso conhecer
sem sondar, no mais profundo,
zona opaca do meu ser,
face oculta do meu mundo.

Aos abismos desce a via
que às alturas me conduz.
Antecede a noite ao dia
e com este surge a luz.

Noite escura; mas, com ela,
passo a estar mais consciente,
mesmo em sonho, adormecido.

Quando a Crise se revela,
já é luz então presente,
num apelo ao bom sentido.
                     
                                                                    João d’Alcor

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A DISCIPLINA NA ESCOLA - 4


                 
                             

                                   Alunos líderes e disciplina

            Um líder é alguém que, pelas suas características e capacidades, é capaz de influenciar um grupo. O líder, seja ele de uma empresa, de um clube de futebol, de uma escola, de um país…, consegue desafiar os liderados a contribuírem voluntaria e empenhadamente para alcançarem os objectivos a que se propôs. Se a influência que exercer for de tal modo positiva, ele consegue transformar as dificuldades em oportunidades de desenvolvimento da organização que lidera.
            Numa turma há, de um modo geral, um ou dois alunos que, mercê de diferentes circunstâncias, têm características e capacidades que os levam a serem ouvidos pelos outros e conseguem exercer algum poder de influência dentro e fora da sala de aula. Acontece que a figura do delegado de turma recai, frequentemente, neste tipo de alunos, embora, haja, por vezes, situações de excepção.
            Ora, interessa ao director de turma e aos professores saber quais são os alunos que maior influência exerce na turma. Uma observação cuidada dentro e fora da sala de aula pode dar indicações para essa identificação. Existem, contudo, processos, com base na sociometria, que permitem ao psicólogo escolar ajudar o director de turma a distingui-los com mais rigor.
            O trabalho com estes alunos, em que se lhes manifestaria confiança, chamando-os a colaborar em algumas tarefas, conferindo-lhes pequenos poderes dentro da sala de aula no âmbito da organização dos espaços, no desenvolvimento de actividades da turma dentro e fora da sala e da escola, poderia constituir um recurso eficaz na mudança de comportamento de uma turma indisciplinada e contribuir para a consecução dos objectivos da escola.
            Alguns desses alunos líderes estão, por vezes, na origem de comportamentos indisciplinados. Mas sejam ou não o foco de indisciplina, eles poderiam sempre constituir-se, se convenientemente esclarecidos sobre o papel que lhes cabe no processo da liderança, como um factor de estabilização do clima na turma e serem elementos activos na procura de soluções para a escola.
                                                                                Mário Silva Freire

quarta-feira, 15 de junho de 2011

DEZ LIÇÕES JAPONESAS

         
    
    
                           
                                                  

Circularam na Internet, a propósitos das calamidades que se abateram sobre o Japão, 10 atributos dos japoneses. Ei-los:


1. A CALMA

Nem um único sinal de pânico. A tristeza foi crescendo mas a atitude 
positiva manteve-se.


2. A DIGNIDADE

Foram feitas longas filas para a água e mantimentos. Nem uma palavra 
áspera ou um gesto bruto.


3. A CAPACIDADE

Arquitectura incrível e engenharia irrepreensível. Os edifícios 
oscilaram, mas nenhum caiu.


4. O CIVISMO

As pessoas compravam somente o que precisavam para o presente, para 
que todos pudessem ter acesso aos bens.


5. A ORDEM

Não houve saques nas lojas. Não houve buzinões nem ultrapassagens 
nas estradas. Apenas a compreensão pelo momento pelo que todos 
passavam.


6. O SACRIFÍCIO

Cinquenta trabalhadores não foram evacuados das instalações da 
central Nuclear para assegurarem que a água do mar fosse bombeada 
para os reactores. Nunca serão reembolsados!

 

7. A TERNURA

Os restaurantes reduziram os preços. Uma ATM foi deixada sem 
segurança. Os fortes cuidaram dos fracos e a entreajuda estava na rua 
em todos os locais.


8. O TREINO

Os idosos e as crianças sabiam exactamente o que fazer. E fizeram 
exactamente o que era pressuposto fazer.


9. A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Os jornalistas mostraram dignidade e contenção no modo como 
reportaram as notícias. O sensacionalismo foi rejeitado. Somente 
reportagens serenas.


10. A CONSCIÊNCIA

Quando, numa loja, energia eléctrica falhou as pessoas colocaram as 
coisas que tinham na mão nas prateleiras e saíram tranquilamente.



Considerando

Há um velho ditado latino que diz: “As palavras voam; os escritos 
permanecem; os exemplos arrastam.” Confiemos que este bom exemplo 
venha a alastrar e chegar para ficar.

                                                                       João d’Alcor             

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 4

                              
                                     (A propósito de uma exposição)

                         Pedagogos da República – Faria de Vasconcelos

            Foi um dos paladinos do Movimento Escola Nova. Com 22 anos, após ter terminado o curso de Direito na Universidade de Coimbra, parte para a Bélgica, matriculando-se na Universidade, em Bruxelas. Dedica-se ao estudo das ciências sociais, doutorando-se neste campo. Tenta, através da actividade educativa que exerce, dar corpo à chamada consciência social. Ora esta não é mais do que o modo como o ser humano lida com as regras que regem a sua vida. É pela consciência social que ele organiza e dá sentido ao viver em comunidade. A Psicologia e a Pedagogia serão, então, instrumentos que, entrosando-se no mesmo sujeito - o aluno - servem a Faria de Vasconcelos para dar conteúdo às suas ideias sobre educação.
            Entre 1902 e 1914 lecciona aquelas disciplinas na Universidade, em Bruxelas. Em 1912 funda a célebre Escola de Bièrges, a primeira escola belga integrada no movimento Escola Nova, para crianças onde aplica as suas ideias sobre educação.
            Talvez valha a pena enunciar alguns dos 30 princípios que nortearam aquele movimento e de que a Escola de Bièrges se orgulhava de seguir. Assim, a escola situa-se no campo, em plena natureza, mas próxima da cidade; há coeducação de sexos, em regime de internato, próximo da estrutura familiar, com uma figura masculina e outra feminina de educadores; o modelo escolar valoriza os trabalhos manuais, a cultura física, a formação prática e experimental e, como é óbvio, a formação científica e intelectual; os interesses dos alunos são aspectos centrais nos processos de aprendizagem; o trabalho individual e o trabalho de grupos estão sempre presentes; as visitas de estudo, as viagens e os acampamentos são meios ao serviço das aprendizagens; há uma preocupação pela educação moral, pessoal e social não imposta de fora, mas construída de dentro pela experiência reflectida; a educação valoriza o progresso individual, em que cada um compara os seus trabalhos presentes com os seus próprios trabalhos do passado e não tanto com os trabalhos dos companheiros… (Carlos Coelho e Abel Martins, in Para Uma Análise da Escola Nova de Faria de Vasconcelos - Universidade de Aveiro).
Com a invasão alemã, Faria de Vasconcelos decide ir para a Suíça, trabalhando no Instituto Jean Jacques Rousseau e, depois, para Cuba e Bolívia. Nestes países da América deu um contributo de tal modo relevante na criação e desenvolvimento das Escolas do Magistério Primário que, ainda hoje, é aí figura relembrada e estudada.
Durante os 18 anos que esteve fora, não esqueceu o País. São de destacar uma série de conferências que, em 1907, fez na Sociedade de Geografia de Lisboa sobre educação, tendo sido editadas, posteriormente, com o título Lições de Pedologia e Pedagogia.
Regressa a Portugal em 1920, tendo sido professor de Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa e o fundador do Instituto de Orientação Profissional de Lisboa. Faleceu em 1939.
                                                               Mário Silva Freire


sábado, 11 de junho de 2011

CATEDRAL


          
Catedral

Dirigida a um pedreiro
a questão ‘Que estás fazendo?’,
responde ele, de ar altaneiro:
´ Talho a pedra. Não ‘stás vendo?...’

Logo um outro, entrevistado,
geme e diz: ‘Faço um pilar.
Chego à noite, estou cansado.
É a vida. Há que aceitar...’

Um terceiro, jovial,
diz: ’Estou a construir
uma grande catedral !...’

Seja qual a profissão,
é diverso o reagir.
- Sirva a história de lição.

João d’Alcor

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A DISCIPLINA NA ESCOLA - 3




                                  A DISCIPLINA NA ESCOLA - 3

                                            Regras para valer

            Cada escola tem um regulamento interno. Ele constitui um conjunto de princípios, competências, regras, direitos e deveres que, sem dúvida, podem contribuir para que o sistema escolar funcione. Mas a sua existência, só por si, não basta para que ele seja cumprido.
            Tão importante como a presença de um regulamento é o modo como ele é aplicado e a maneira como foi elaborado, principalmente quando refere temas que têm incidência imediata na sala de aula. Assim, de nada vale impor um certo número de regras, se elas não nascerem das necessidades e compromissos assumidos pelos próprios alunos. E as necessidades e os compromissos manifestam-se quando eles são solicitados a participar na formulação dessas regras. Com esta participação, os alunos, sendo sujeitos intervenientes, têm responsabilidades por aquilo que assumiram.
            De igual modo, os encarregados de educação poderiam constituir peça importante na formulação do regulamento interno. Na medida em que eles sugerem acréscimos, modificações ou supressões, estão a comprometer-se com as normas que regulam o modo de agir e de estar dos seus educandos. E isso não seria factor de somenos importância para a percepção que eles têm da escola e da imagem que podem transmitir dela junto dos filhos.
É da relação entre os direitos e os deveres de todos os que intervêm no acto educativo que pode nascer a disciplina na sala de aula e, consequentemente, uma educação para a responsabilidade. Perante uma quebra daquela, o sistema escolar não pode ficar imobilizado, fomentando a cultura do desrespeito e da desresponsabilidade.
            Porque razão, então, não fazer participar todos aqueles que são intervenientes no processo educacional (pais, alunos, professores, auxiliares de educação) numa escola na elaboração do seu regulamento, com regras muito claras, de modo que ele tenha possibilidades de ser cumprido?
                                                                                           Mário Silva Freire


           

terça-feira, 7 de junho de 2011

SABER-FAZER

                                                      


                                              Saber-fazer

É mais que oportuno o traço de união ligando ambos termos enunciados. Não é apenas a perícia que está em causa, mas também e sobremaneira o gosto que há em saber fazer o bem. O vocábulo saber radica no termo latino sapere que significa saborear. A alegria no trabalho provém do apreço em que é tido, a partir mais do seu significado do que do esforço e tempo dispendidos. Esta alegria é um reflexo patente no olhar e na alma de quem sabe dar sentido e gosta do que faz.  
A mestria evoca a conscientização, uma praxis em que são mutuamente conjugadas reflexão e acção. A reflexão que se limita à teoria e se dispensa da acção torna-se estéril e vazia. A acção desprovida de reflexão gera superficialidade e anarquia. Uma e outra traduzem envolvimento e pedem desprendimento em termos de desidentificação traduzida num sentimento de valorização e desprendimento simultâneos. Vem nesse sentido o parecer de Roberto Assagioli o fundador da psicossíntese: “É necessário que sejamos, até certo ponto, os espectadores das nossas próprias acções.” Esta atitude coloca o ser antes do fazer e não à mercê deste.
A tomada de consciência é aliada à meditação em que há uma experiência de nós mesmos não tanto como instrumentos ao sabor dos acontecimentos, mas sobremodo como autores e senhores da situação em que se saboreia o fruto obtido e repartido. Mu-Men antigo mestre oriental legou a seguinte observação: “A maior parte das pessoas são utilizadas vinte e quatro horas por dia. Quem medita utiliza as vinte e quatro horas de cada dia.” A meditação é mediação enquanto traço de união entre o ser e o agir.
A boa acção conjuga-se com a boa maneira de a fazer. O trabalho não nos dispensa da maneira adequada de o conceber. É grande o risco e lamentável a perca de sacrificar a qualidade à quantidade. Na conscientização fecunda o processo de criatividade, faz apelo à perícia e alia o trabalho ao lazer e também o esforço ao prazer, na alegria do vale a pena.
                                                                                           João d’Alcor




domingo, 5 de junho de 2011

SOLIDIFICANDO VALORES EDUCATIVOS

                                                               
                                                    Iluminando o ser                               


Numa nova perspectiva do agir do educador, salientamos a vertente não menos importante da aprendizagem que é educar o jovem a partir de um entendimento de si mesmo e das potencialidades do seu mundo interior. É uma dimensão essencialmente baseada nos valores, hoje em dia tão esquecidos. Como educadores temos a obrigação de incentivar a criatividade, a independência, o saber fazer escolhas, o tomar decisões, o assumir responsabilidades e o ter consciência das nossas motivações: é a autonomia.
O ressentimento, a insegurança, a arrogância e a necessidade de vitimização são máscaras que utilizamos diariamente quando não conseguimos ser assertivos e decidir. Temos que aprender a sentir e a respeitar as nossas próprias escolhas, num consistente acto de vontade. Haver motivação, ponderação, decisão, afirmação, planeamento e finalmente execução, são os passos para atingir este objectivo.
A pessoa insegura e assustada com baixa auto-estima procura sempre alguém para lhe dar o que não consegue obter sozinha e tem comportamentos de revolta. A auto-estima baixa vem do facto de alguém nos fazer sentir mal, sermos julgados, ignorados ou rejeitados. É essencial que o aluno se sinta confiante e responsável pelas suas atitudes e crenças. Temos o dever de nos reconhecermos e de estar conscientes de nós próprios de forma sincera e positiva, de acreditarmos em nós, mesmo que não sejamos entendidos ou aceites pelos outros.
A tomada de consciência é essencial, permite-nos compreender o porquê de nos sentirmos mal, reconhecendo nos outros o nosso próprio espelho, transformando essa compreensão numa atitude positiva, adoptando novos procedimentos. Reconhecermos a nossa própria presença e o porquê dos nossos medos, é o primeiro passo para o auto-conhecimento e o início de uma transformação das nossas atitudes. Teremos que perceber que o nosso modo de agir deve estar em consonância com o modo como gostaríamos que agissem para connosco. O efeito de ressonância não tem tempo nem espaço; o que damos é o que recebemos das nossas próprias mãos, mais tarde ou mais cedo.
Assim se educa para o optimismo e para o positivo. Mas, também, ensinando a escutar e a sentir as oportunidades, em vez de ouvirmos o barulho e o ruído que tanto nos perturba. A nossa sabedoria permite-nos identificar e agarrar essas oportunidades. Trocar o apego, o conformismo e a dependência pela abertura, confiança e partilha dá um novo sentido à nossa vida. É, enfim, a substituição do ter pelo ser.
                                   
                                                           Paula Faria

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 3


                                  O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 3
                                  (A propósito de uma exposição)

                 António Sérgio - um sábio para os tempos de hoje

            Julgava-se no início da República que a escola e, especialmente a escola primária, poderia ser o grande agente de transformação da sociedade. E o movimento pedagógico que irmanava a maioria dos pedagogos que impulsionaram a mudança da Monarquia para a República era a Escola Nova. Esta procurou introduzir novos elementos na aprendizagem, novos espaços para as actividades educativas, além da sala de aula. Assim, visitas de estudo, aproveitamento de tempos livres para actividades de escolha dos alunos geridos por si próprios, novos espaços de participação social, de que clubes, jornais escolares e correspondência interescolar seriam exemplos, foram intervenções no domínio escolar que tentaram dar corpo ao movimento da Escola Nova.
Vários pedagogos se salientaram nestas novas maneiras de aprender e de ensinar, assim como fazer da escola o elemento formador de cidadãos autónomos, com espírito crítico, em que o saber se aliasse à experiência e, acima de tudo, com uma grande consciência cívica. Desta plêiade de pedagogos destacarei, em primeiro lugar, António Sérgio,
Para António Sérgio, socorrendo-me de Rui Grácio (in Educação e Educadores), “…a acção política é apenas um instrumento pedagógico...". E o problema económico um problema moral, e este só resolúvel em relação àquele: «o económico nunca é para mim o verdadeiro fim»; para si «a produção existe para o homem e não o homem para a produção»”. E, linhas abaixo, continua António Sérgio, citado por Grácio: «…radicar nos jovens, pela acção diária, o costume de servir o próximo», até por eles, pois há «fontes de contentamento interior no trabalho entusiasta pelo bem comum».
Ele, como que escrevendo para os dias de hoje, dizia “que a reforma da mentalidade dos governantes lhe parece condição prévia de todas as demais; que o preocupa o nível de cultura da nossa elite: «elite de saber e de urbanidade, composta de gente de superior cultura, que saiba resolver-nos os problemas técnicos, que saiba enquadrar e governar a grei.» Para isso, seria necessária «a urgência de uma pedagogia concreta de salvação nacional, deduzidas da História portuguesa, das necessidades portuguesas». Ele acreditava «nas admiráveis possibilidades da nação portuguesa, enoitecidas nos meandros da sua História, completamente desaproveitadas por incapacidade da sua elite; creio que é possível levá-la ainda para caminhos iluminados e triunfais».
A escola, segundo António Sérgio, era o lugar onde tinha lugar a inserção do aluno, futuro cidadão, na comunidade. No seu livro Educação Cívica (1915), diz-se que «A boa vida municipal, o bom cidadão, o bom munícipe (…), não valerá a consegui-lo nenhum processo de instrução, menos ainda o dos discursos, mas o de habituar as crianças à acção municipal, à própria vida da cidade, ao exercício dos futuros direitos de soberania e de self government; criar-se-ia este regime concedendo forais às nossas escolas, de modo que a turbamulta estudantil, em vez de um rebanho estúrdio mal pastoreado pelo mestre, reitor, director ou vigilante, formasse um verdadeiro município, sob a assistência, o conselho e a cooperação discreta dos professores.»
António Sérgio nasceu em Damão, Índia, em 1883. O cooperativismo foi a organização social que estava mais de acordo com a sua concepção de homem. E esta concepção tentou traduzi-la não só no movimento Renascença Portuguesa como nas suas obras Educação Cívica e nos oito volumes de Ensaios (1920-1958). Morreu em Janeiro de 1969.

                                                    Mário Silva Freire

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DIFERENÇA

                                                           







        Diferença

Há que honrar o diferente,
sem jamais ver nisso um mal.
Seja coisa ou seja gente,
se distinta, é bom sinal.

Diferença consciente
mais nos torna semelhantes.
- Paradoxo: Haja em mente
mor acordo do que o dantes.

Concordar na diferença
não dá jus, em eleições,
para outrem rebaixar.

Digno é, sim, da nossa avença
haver clarificações,
em virtudes a conjugar.

                    João d'Alcor