quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O MÉTODO DE ENSINO MÚTUO V



Além da gratidão do aluno a quem o leccionou carinhosamente, há a salientar a eficiência do professor e dos métodos utilizados, supostamente em resultado da preparação na Escola Normal de Belém, em funcionamento desde 1816.
É certo que o autor (José Silvestre Ribeiro) não fornece dados cronológicos sobre a sua frequência escolar, mas nascido em 1807, o episódio poderá ter tido lugar quando ele tinha cerca de 10/12 anos, isto é, por volta de 1817-1819, datas que encaixam perfeitamente.
A notícia publicada no Tomo III, a que me venho reportando, com o título de “Escolas de ler, escrever e contar nos corpos de linha”, pp.224-235, contém muitas informações sobre o tema, que enunciarei em seguida e remata com a informação de um litígio com a Sociedade de Educação de Paris que teve o seu feliz epílogo no reconhecimento desta Sociedade acerca da utilização do método mútuo em Portugal, como se pode verificar pela trannscrição seguinte:
....”Desde  o mês de Outubro de 1815, uma determinação da Regência creou em Portugal escolas de ensino mútuo. Em 1817, achavam-se em plena actividade; hoje estão florescentes. A ignorancia em que se estava da existencia das escolas portuguezas, na época da ultima assembleia geral, nos obrigou a deixal-as em silêncio; hoje corrigimos esta omissão, com o mais vivo prazer. Em Outubro de 1818, eram frequentadas 55 escolas portuguesas por 3:843 discipulos, tanto paizanos como militares; a prosperidade destas escolas é de feliz presagio para a propagação do método em todo o continente portuguez”.

Passemos então a enumerar as Instruções para os Professores das Escolas de Primeiras Letras dos Corpos de Linha do Exército, compiladas em Regulamento distribuido aos professores, documento que tem a data de 29 de Outubro de 1816, assinado pelo Secretário de Estado, Gregorio Gomes da Silva.

É um documento de 10 páginas de formato A-4, muito minucioso em toda a regulamentação, como se pode verificar pela leitura da “ TABOA DAS MATERIAS, QUE FAZEM O OBJECTO DESTAS INSTRUÇÕES”:


“ Formação da Escola......§ 1º    até....…….. ....................  §  5º
Tempo d’Aula....................................  .....................    §  6º
Horas da Entrada, e sahida d’ Aulas. ....§ 7º       até... ... §  8º
Distribuição do tempo d’Aula............ .  § 9º        até.......§ 10º
Compêndios das lições d’Aula..............§ 11º .....até... ....§ 14º
Relação dos Professores com  os Comandantes dos Corpos.§ 15º até §  16º
Escalas do Progresso dos Discipulos.........§ 17º.    até....§  19º
Economia da Escola.............  §20º  ............ até.......§  23º
ExercíciosReligiosos.............§24º...............até       §  29º
Autoridade dos Mestres sobre os Discipulos .§ 30º.......   até.. §  31º
Premios dos Discipulos.......§ 32º   ..................até......§  35º
Castigos dos Discipulos........  § 36º  ................ até... ..§  39º
Deveres dos Mestres para  seus discipulos.. § 40º  ..... até...§  41º
Deveres dos Diccipulos para seus Mestres.. § 42º  .....até   §  44º

Como se pode verificar pela simples leitura do sumário das matérias versadas no Regulamento, o programa era rigoroso, devendo destacar-se o cuidado posto no diagnóstico de cada aluno relativamente à sua situação no capítulo de instrução em Leitura, Escritura, Aritmética, Etimologia, Sintaxe, Ortografia e Pontuação da Língua Portuguesa - § 1º.
A partir dos resultados obtidos, os alunos eram escalonados pelos diferentes graus, constituídos por seis classes: Alfabeto, Silabário, Vocabulário, Leitura de frases e períodos, Etimologia e Sintaxe e finalmente Ortografia e Pontuação - § 3º.
Era também atribuída grande importância à disciplina de escritura, a par da evolução no conhecimento da Língua Portuguesa, prevendo inclusivamente a progressão no material de escrita a utilizar. areia, pedra ardósia e finalmente papel. - § 4º.
O testemunho legado por José Silvestre Ribeiro é, além de uma fonte histórica de grande interesse no estudo da formação inicial de docentes,  a prova da dificuldade de se iniciar o discente  na sua construção cultural, pela aquisição dos instrumentos e ferramentas indispensáveis ao mundo cognitivo.
José Silvestre Ribeiro é um guia precioso para a nossa informação através da obra monumental que nos legou:
- RIBEIRO, José Silvestre - HISTORIA DOS ESTABELECIMENTOS SCIENTIFICOS LITTERARIS E ARTISTICOS de PORTUGAL nos sucessivos Reinados da Monarquia - obra monumentoal de 18 volumes - TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, LISBOA -  1871-1891.
transcrição retirada do Tomo III, 1873, pp.225-226.

                                                        Francisco Goulão


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

DEPOIMENTO



Que o dormir leve a sonhar
acontece e é normal.
Mas, do sonho não voltar,
algo, nisso, há de letal.

Belos sonhos, quanto ao ter,
provam ‘stado assaz dormente.
Acordarmos para o ser
é possível, felizmente.

Despertar p’ro quem eu sou,
à essência estar atento
é, de facto, sedutor.

‘Stá de vela quem sonhou.
Tese tenho em depoimento:
Sai o sono onde entra Amor.

João d’Alcor

sábado, 23 de fevereiro de 2013

RESPEITAR A LIBERDADE DO OUTRO



Tudo o que fazemos na vida implica risco, não há como evitá-lo. Algumas pessoas vivem obcecadas com o medo do que lhes possa acontecer a si e aos seus entes queridos, como por exemplo, aos seus filhos. As notícias nos mass-media não ajudam, pois são os principais transmissores de informação negativa e emissores dos mais variados tipos de alerta.
As pessoas vivem momentos de incertezas e inseguranças, pelo que o medo generalizou-se a todas as áreas das nossas vidas: utilizar os transportes para ir à escola, dar-se com certas pessoas, ter um determinado ritmo de vida, fazer uma determinada viagem, enveredar por uma nova aventura, aceitar determinado trabalho, ficar sem ele, etc. O perigo, com esta atitude de medo constante do que quer que seja, é que o medo se torne ainda pior do que aquilo de que tem medo.
Ninguém deseja mal a quem ama, mas temos de deixar as pessoas conduzir as próprias vidas. Passar o tempo todo preocupados e a tentar impedi-las de fazer o que querem constitui um verdadeiro risco e mantem-nos num estado permanente de preocupação. Não sair de casa, não deixar os filhos praticarem um desporto, insistir que sigam uma carreira mais segura ou evitar o que quer que seja por motivos de medo não é solução. É, sim, um novo perigo. Além de aumentar a probabilidade dessa pessoa insistir nessa atividade sem refletir, cria um fosso cada vez maior entre ambas as partes.
O medo traz ansiedade e a ansiedade traz infelicidade. Ser mais protetor não proporciona maior tranquilidade ou satisfação, antes pelo contrário. Temos de tomar decisões sensatas e considerar as desvantagens ao evitarmos as situações que dão sabor à vida. Ajude os outros a realizarem o que verdadeiramente querem, e ajude-se a si próprio a fazer o mesmo!

                                                     Rossana Appolloni

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O CAPUCHINHO VERMELHO E O LOBO MAU



            O Lobo Mau é uma personagem que foi criada há cerca de três séculos e que, ainda hoje, continua bem actual no mundo da literatura infantil, conforme foi comprovado na Exposição do Livro e da Imprensa Juvenil, em Dezembro passado, em Paris. Nesta, foram apresentados os resultados de um inquérito e verificou-se que, numa selecção de 2 400 livros para crianças em que entram animais, o lobo ocupa o 1º lugar de entre 20, com 367 aparições, relegando para 2º lugar o cão.
Uma das histórias mais comuns em que o lobo é figura importante é a do Capuchinho Vermelho, cabendo-lhe, como quase sempre acontece com as restantes histórias, o papel estereotipado de um predador cruel.
Muitas são as versões do Capuchinho Vermelho: nalgumas, o lobo come o Capuchinho e a avozinha; noutras, ele consegue apropriar-se da avozinha e noutras, ainda, fica-se, apenas, pela representação do papel de mau, não tendo sido capaz de se alimentar de nenhuma delas. Em todas as variantes da história do Capuchinho Vermelho ele infunde medo.
Ora, o medo foi um elemento fundamental na educação. Quais das pessoas mais velhas não recordam o sentimento despertado pela famigerada régua, o instrumento auxiliar para alguns professores ensinarem as primeiras letras?! Significa isto que o medo deverá ser retirado da educação?
Ele é uma emoção natural do ser humano e está ligado à sobrevivência não só da pessoa como da própria espécie. O medo é um sinal de alarme perante um perigo, real ou imaginado, que a pessoa sente e, em relação ao qual, toma as medidas de prevenção que julga adequadas. Nem todos os medos serão razoáveis. Eles, no entanto, continuam, ainda, a desempenhar um papel de relevo na educação.
Voltando à história do Capuchinho Vermelho, que lição se poderia retirar para uma criança dos nossos tempos? Talvez que ela aprendesse a ganhar o hábito de desconfiar perante o desconhecido.
E para um adolescente que passa muito do seu tempo livre à frente do ecrã de um computador? Talvez que ele fosse mais prudente em relação àqueles que não conhece e que numa qualquer rede social se apresentam como a avozinha da história do Capuchinho Vermelho, sendo, afinal, um dos tais lobos maus que pela net proliferam!

                                                            Mário Freire

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O ENSINO MÚTUO - IV



                O testemunho de J. Silvestre Ribeiro

O período convulsivo das lutas consequentes das invasões estrangeiras pôs em evidência as dificuldades resultantes do analfabetismo existente. Ninguém melhor que a organização militar poderia então responder a este desafio, apesar de ser vulgar o conceito então divulgado de que os conhecimentos literários só eram necessários ao 1º sargento que respondia pela companhia, podendo os oficiais ser analfabetos.
O testemunho de José Silvestre Ribeiro (1807-1891) confirma o funcionamento e a eficiência das Escolas pelo Método do Ensino Mútuo, relatando um episódio da sua vida escolar ao ver-se forçado a desistir da escola régia existente na cidade de Castelo Branco, por troca com a Escola Regimental local.
Vejamos os termos exactos em que o eminente político, ensaísta e historiador nos exprime a sua leitura do facto:
“ Quando na cidade de Castelo Branco se abriu a escola regimental de cavalaria num. 11, em virtude da providência governativa que registámos, alguns dos filhos dos paizanos passaram immediatamente da aula regia civil para a militar, como felizmente era permittido. D’esse numero foi o que ôra traça estas linhas; e com toda a razão se effeituou essa passagem.
Era summamente severo e aspero o professor regio de primeiras letras da mencionada cidade, se bem que intelligente e habil . Por minha parte direi, que a tal ponto me sentia repassado de susto, ao vel-o, e mormente quando a mim se dirigia no tomar ou explicar a lição, que cheguei a crear uma repugnancia invencivel ao estudo, e a fazer perder a meus paes a esperança de que eu podesse jamais saber ler, escrever e contar.
Quiz, porém, a minha boa sorte que se abrisse a aula do regimento de cavallaria num. 11, estacionado por aquelle tempo e ainda longos annos depois na indicada cidade. Para a nova escola fui eu logo mandado pela minha familia, que avisadamente aproveitou a previdente permissão de serem admittidos os filhos dos paizanos.
Uma revolução cabal se operou na minha pequenina individualidade. Desde logo tive a satisfação de crear amor ao estudo, e de frequentar sem esforço, antes com suave gosto a escola, que me parecia já um ceo aberto.
A quem devia eu tamanha ventura ? Às maneiras affaveis, paternaes, e devo dizel-o, verdadeiramente caritativas do professor militar, a quem confiada a regencia da cadeira, o sargento de cavallaria num. 11, Antonio José Rodrigues.

                     Vede da natureza o desconcerto

O professor civil tinha a aspereza de um homem de guerra; o militar imitava a mansidão preconizada nas memoráveis palavras: Sinite parvulos venire ad me
Antonio José Rodrigues era dotado de uma bondade, de uma paciência, de uma dedicação admiravel, que o tornavam muito proprio para encaminhar a infancia na aprendizagem dos primeiros rudimentos das lettras. Principalmente o caracterisava uma disposição muito decidida para ensinar os filhos de familias humildes e pobres. Dir-se-ia que os seus desvelos cresciam na proporção do desvalimento dos discipulos”(…)
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  - Pode conjecturar-se que, não obstante a inteligência, faltasse ao mestre a preparação técnica, e didáctico-pedagógica, uma vez que foi do número dos recrutados por exame ad hoc e não existirem à data escolas de formação....
  - “Deixai vir até mim as crianças”
  - RIBEIRO, José Silvestre - HISTORIA DOS ESTABELECIMENTOS SCIENTIFICOS LITTERARIS E ARTISTICOS de PORTUGAL nos sucessivos Reinados da Monarquia - obra monumentoal de 18 volumes - TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, LISBOA -  1871-1891.
transcrição retirada do Tomo III, 1873, pp.225-226.

                                              Francisco Goulão

domingo, 17 de fevereiro de 2013

UMA EUROPA EFICIENTE NA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS



O crescimento populacional e a subida do nível de vida estão a contribuir para o aumento da procura, levando ao aumento do preço dos produtos e à escassez dos recursos naturais, em particular dos minerais e dos géneros alimentícios de que todos dependemos. No final da próxima década, estima-se que alguns milhões de pessoas passem a fazer parte das classes altamente consumistas, nos países em desenvolvimento.
A procura e a oferta estão a caminhar cada vez mais em direcções opostas. Embora a procura de alimentos para consumo humano e animal possa aumentar 70% até 2050, verifica-se que 60% dos ecossistemas mundiais que mais contribuem para a satisfação dessas necessidades já foram degradados ou são utilizados de uma forma não sustentável.
Se os recursos continuarem a ser utilizados ao ritmo actual, em 2050 teremos necessidade do equivalente a mais de dois planetas para nos mantermos e as aspirações dos que desejam uma melhor qualidade de vida não serão satisfeitas.
São três as áreas apontadas como prioritárias: alimentação, construção e transportes, as quais representam, aproximadamente, três quartos de todos os impactes negativos no meio ambiente.
Os resíduos são um exemplo perfeito dos desafios e oportunidades que se avizinham. Actualmente, na Europa, são despejadas por ano milhões de toneladas de resíduos - e o número tende a aumentar. Mesmo assim, a indústria de reciclagem europeia está bastante avançada e permite reciclar cerca de 40% dos referidos resíduos.
Com incentivos adequados, poderia ser reciclada e posteriormente reutilizada uma percentagem ainda maior. Políticas que encorajem práticas não sustentáveis, deverão ser substituídas.
Em contrapartida, o desenvolvimento e a utilização de práticas sustentáveis e inovadoras devem ser encorajadas, por exemplo através da introdução de incentivos financeiros que recompensem investimentos na eficiência e favoreçam a implementação dessas práticas a longo prazo.

                                                    FNeves

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

DEMONSTRAÇÃO



Ilusão e veleidade
é tentar eu comprovar
‘star em posse da verdade
porque dela sei falar.

Da vivência interior
provém ela ; isso é um facto.
O aparato exterior
não demonstra; é sem impacto.

Evidência há no viver.
Tudo o resto vem a ser
nada mais que especular.

A verdade é sempre alguém.
Por si fala e é desdém
que eu a queira demonstrar.

                                           João ‘Alcor 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A PARTILHA



Todos nós temos problemas: problemas de estabilidade profissional e/ou económica, de família, de saúde… enfim, há sempre qualquer coisa que nos preocupa e nos cria ansiedade. E o que mais contribui para este estado é sentir que muitas vezes os problemas parecem insolúveis.
Um elemento essencial para apaziguar este sofrimento e conseguir ver outras perspetivas da situação passa pela partilha. Nós somos seres sociais, existimos e crescemos na relação com os outros, pelo que a necessidade de desabafar e discutir sobre os nossos problemas com as pessoas que nos rodeiam faz parte da nossa natureza.
Quando nos isolamos e insistimos em manter os outros longe da nossa intimidade, os problemas intensificam-se; quando, pelo contrário, partilhamos a nossa dor com alguém que goste de nós ou simplesmente com alguém que esteja a passar por uma situação semelhante, conseguimos alargar a nossa visão e encontrar soluções.
Vários estudos têm demonstrado que, independentemente do tipo de problema, o que faz as pessoas sentirem-se melhor e terem um maior nível de satisfação com a vida é o apoio social recebido, sobretudo por parte da família e dos amigos. O nosso núcleo de amizades é um dos fatores mais importantes na nossa vida, portanto é fundamental cultivá-los. Em momentos de crise, são a nossa grande mais-valia! Se não está satisfeito com os que tem, procure outros.
É crucial sentir que temos pessoas que nos apoiam e que nos aceitam tal como somos. Assim, alimente as amizades, invista nas relações afetivas e partilhe o que sente, vai ver que tudo o resto se resolve.

                                        Rossana Appolloni

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

APRENDER A ESTAR REFORMADO



Fica-se reformado quando se atinge o fim da vida profissional e se entra num outro estádio em que o trabalho, para além do significado que cada um entendeu dar-lhe, teve também a componente de obrigação.
Nos tempos que correm, com pessoas a atingirem este fim profissional com uma esperança de vida crescentemente alargada e com proventos constantemente a diminuir, algumas delas, mesmo após a aposentação, continuarão a exercer as actividades que vinham desenvolvendo. Outras, tentarão encontrar outros meios que complementem a retribuição das suas pensões. Em ambos os casos, a diferença entre estar no activo e na reforma poderá ser mais de natureza formal do que de conteúdo.
Porém, para uma faixa significativa de pessoas, a reforma marca uma mudança radical na vida. Para além do aspecto simbólico de representar o início da velhice, esta transição envolve inúmeras mudanças. Para que ela tenha sucesso, é necessário que as várias mudanças se traduzam num melhor bem-estar físico e psicológico.
Ora, esta nova fase da vida, com um novo ritmo e um novo tempo, poderá proporcionar um sentimento de libertação e, simultaneamente, ser uma oportunidade de trilhar novas vias. Através do estabelecimento de outras metas, envolvendo prioridades e actividades diferentes, elas são susceptíveis de traduzir um maior investimento quer pessoal, quer na família, quer na comunidade.
Mas a reforma também pode acarretar o inverso: constituir-se numa perda, seja de amigos, de prestígio, de capacidades, de utilidade, em suma, ser um tempo de sofrimento.
Há, pois, que dar significado à reforma. O trabalho voluntário junto de instituições de solidariedade social ou culturais é, talvez, aquele que proporciona maior satisfação interior. E ele não é incompatível com outras actividades sejam de lazer, de aprendizagem, de apoio familiar…
Enfim, não havendo factores limitantes, ser-se apenas reformado é muito pouco quando há um mundo à nossa volta que nos pode valorizar mas que, ele próprio, necessita da nossa contribuição para o tornarmos melhor.

                                             Mário Freire

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O ENSINO MÚTUO III



Voltemos ainda a abordar a temática do ensino mútuo, ainda que seja apenas no sentido informativo, na expectativa de apenas lembrar as dificuldades sentidas pelos nossos antepassados quando necessitavam adquirir instrumentos e ferramentas culturais..
Estas escolas, a que Cândido Xavier se refere, foram criadas por provisão da Junta de Governadores do Reino de Portugal, na forçada ausência da Família Real no Brasil, publicada em 10 de Outubro de 1815. Todos os anos se apresentavam com a solenidade requerida os relatórios da actividade desenvolvida nestas escolas. Faremos referência especial aos dos anos de 1821 e 1822.
O de 1822 salienta as vantagens da utilização do ensino mútuo nas escolas militares, cujos benefícios eram extensíveis também à população civil, designada “paisana” em linguagem castrense: “...Igual aceitação que os habitantes das terras, quarteis habituais dos corpos do Exército, mostram de dia a dia a este benefício, que Vossa Majestade lhes outorgou por efeito da Sua Real Munificência (..) bem se deixa ver pela espontânea entrega de seus próprios filhos às Escolas Militares: em todas elas se vêm (sic) homens e crianças; e não raras vezes os mesmos pais aprendendo de seus filhos a instrução elementar!”
Aquela célebre antipatia, que outrora se observava entre os militares e paisanos, vai desaparecendo com rapidez. As Escolas civis nas terras onde se acham as militares estão quase desertas, e não poucas têm ficado sem discípulos. Os esforços de alguns mestres para desacreditarem as Escolas militares frustraram-se de todo; porque os povos obram mais por imitação que por discurso. A feliz ideia de se colocarem as cartas de leitura em cartões expostos à vista de muitos discípulos imortalizará sem dúvida os nomes de Bell e Lancaster; contudo, foi preciso dizer aos estrangeiros que o método de ensino mútuo, de que tanto se falava em todos os periódicos, não era desconhecido entre nós, e que talvez o devamos a essa ilustre Sociedade em cujo grémio brotaram tantas e tão admiráveis obras em todo o género do saber (…)
Primeiro que se estabelecessem Escolas militares pelo Ensino Mútuo em França, na Áustria e Rússia, já Vossa Majestade havia fundado em Lisboa uma Escola Normal para habilitação dos Professores das Escolas dos Corpos do seu Valoroso Exército. Foi pela primeira vez que entre nós, e pode ser em toda a Europa, se viu formar professores, não só para ensinarem com seus preceitos, mas ainda e mui principalmente edificarem com seus exemplos: Potens in opera et sermone.  (S. Lucas).

                             Francisco Goulão

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

UMA ECONOMIA ECOLÓGICA



Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, vêm-se registando alguns progressos no combate à pobreza e à prevenção da degradação ambiental. Mais pessoas têm acesso à água, à educação e aos cuidados de saúde e, desde então, vários milhões de pessoas conseguiram transpor o limiar de “um dólar por dia”.
Não obstante, subsistem ainda grandes desafios. Cerca de 1,6 mil milhões de pessoas, a maioria no sul da Ásia e na África subsariana, continuam a viver em situações de pobreza extrema, um sexto da população mundial sofre de subnutrição grave, os recursos naturais escasseiam (60% estão a ser utilizados de forma não sustentável) e as emissões de gases com efeito de estufa estão a aumentar. Além disso, a perspectiva de uma população mundial de nove mil milhões de habitantes em 2050, a urbanização crescente, a crise económica, bem como os padrões de consumo e produção actuais, constituem pressões adicionais sobre o ambiente e sobre os recursos naturais (finitos).
A União Europeia tem salientado, com insistência, a importância de uma gestão sustentável dos recursos e do capital natural, em particular nos países em desenvolvimento, já que estes são instrumentos cruciais no combate à pobreza. Estes países são os primeiros a ser afectados pelas alterações climáticas e pela degradação ambiental, uma vez que as cheias, as secas e outros desastres naturais minam os esforços realizados com vista ao seu desenvolvimento económico e social.
A União Europeia propõe-se promover uma experiência cooperativa global em sectores chave, tais como a água, a agricultura, a pesca, a silvicultura, a energia, etc., e desse modo contribuir para restaurar os recursos naturais e os ecossistemas.

                                  FNeves

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

DEMOCRACIA



Predomínio de uma classe,
no contexto social,
é garante de um impasse
quanto às outras em geral.

Dar o voto e ser logrado;
só promessas. Quem se fia?
Não ser tido nem achado,
nunca foi democracia.

Quando esta já se exporta,
é sinal de letra morta;
não tem eco o seu apelo.

Haverá democracia,
quando feito e teoria
dignos sejam de modelo.

João d’Alcor

domingo, 3 de fevereiro de 2013

ADAPTAR-SE AO IMPREVISTO




O mundo está em constante mudança. Hoje em dia, talvez mais do que nunca, tudo é instável: o emprego, os bens adquiridos, as relações… já nada pode ser considerado seguro para o resto da vida, pois nunca se sabe o que nos espera. A incerteza hoje é constante, o que nos obriga a lutar, permanentemente, por conservar o que nos é caro.
Mesmo assim, há factores externos que estamos longe de conseguir controlar… Independentemente da área a que nos referimos, se tudo está em permanente mudança, significa que amanhã a situação já não será como hoje, quer lhe agrade quer não.
Se o mundo nunca deixar de estar em constante transformação, a melhor ferramenta que temos para lidar com as situações inesperadas que nos ocorrem na vida é a aprendizagem e a capacidade de adaptação. Se nos limitarmos ao que sabemos e a pensar em como nos sentíamos confortáveis numa determinada fase da nossa vida passada, à medida que o tempo passa vamos ficando cada vez mais frustrados com o que nos rodeia.
Numa investigação feita nos EUA com idosos, verificou-se que o fator que permitia prever o grau de satisfação com a vida, mais do que as finanças ou a situação atual das suas relações, era a disponibilidade para se adaptarem. A abertura para alterarem alguns dos seus hábitos e expectativas permitia manter um certo nível de felicidade, mesmo quando as circunstâncias ambientais se alteravam. Os mais resistentes à mudança, por outro lado, tinham uma menor probabilidade de se sentirem felizes.
 Podemos e devemos treinar a nossa flexibilidade. Comece com pequenas coisas: deixe de ir sempre ao mesmo café, experimente situações novas! Esteja aberto a propostas diferentes, fora do seu âmbito habitual, pois vão ajudá-lo a estar mais aberto e a ser mais flexível perante o imprevisto da vida.

                                    Rossana Appolloni

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES




            A formação contínua de professores foi consignada, por diploma legal, como um direito e um dever de todos os profissionais da educação. Ela é, ainda, considerada como condição necessária à progressão da carreira. A formação contínua de professores desempenha, pois, um papel primordial quer na valorização da profissão docente, quer na melhoria da aprendizagem dos alunos.
            Por outro lado, cada vez mais os políticos vão atribuindo aos professores e às escolas maiores responsabilidades. Além disso, numa altura em que as vicissitudes dos tempos conduzem a que haja cada vez menos candidatos aos cursos de formação inicial de professores, as instituições formadoras desses profissionais poderiam ser aproveitadas, rentabilizando recursos, para proporcionarem a tal formação contínua.
            Múltiplas são as modalidades que essa formação pode revestir. Temos, na nossa história recente da formação de professores, vários modelos. Esses ou outros que fossem nela adoptados, convinha que em todas as áreas as TIC tivessem um papel relevante, de que o Quadro Interactivo, já abordado nestas Crónicas, é um bom exemplo.
            É de aplaudir, pois, que se queira dar uma maior autonomia à escola e responsabilizar cada vez mais o professor pelo seu trabalho e, para isso, nem será preciso mais dinheiro. O que se torna necessário é que sejam proporcionados os conhecimentos de novos métodos de gestão, quer da escola, quer da sala de aula, não desligados da contemporaneidade.

                                                Mário Freire