quinta-feira, 29 de maio de 2014

SISTEMAS MORFOCLIMÁTICOS DE EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO


        Zonalidade climática da Terra (imagem retirada de «climatologiageografica.org»)


O meu professor no 3ème Cycle de Sédimentologie, em Paris, nos anos de 1962-1964, André Cailleux, introdutor, entre nós, do conceito de “Sistema Morfoclimático de Erosão e Sedimentação”, abriu-me o mundo a uma visão global das paisagens físicas deste nosso Planeta Azul que a ganância de uns tantos está sistematicamente a agredir.
Eis, numa síntese, o que aprendi com ele e o que, com o passar dos anos, fui acrescentando.
No âmbito de uma zonalidade climática  grosso modo condicionada pela latitude, mas também pela interioridade e pelo relevo, a meteorização, a erosão, o transporte e a sedimentação agem, no âmbito da geodinâmica externa, como processos responsáveis pela gliptogénese (do grego glyptós, gravado), ou seja, a escultura do relevo e, ao mesmo tempo, pela sedimentogénese, iniciada pela deposição de sedimentos que, via de regra, com o passar de milhões de anos, se transformam em rochas sedimentares . Nesse sentido, existe uma dialéctica constante entre estes quatro processos e o relevo, condicionando, assim, a paisagem física. Nas diversas latitudes e sob as mais variadas condições climáticas, a erosão (precedida ou não de meteorização) desgasta as montanhas, muitas das quais, tal como as vemos, não são mais do que ruínas evocadoras das grandes cadeias orogénicas que já foram.


              Na Austrália, a conhecida Ayers Rock é oque resta de uma cadeia orogénica de há 550-530 Ma.

Por outro lado, o relevo, em estreita associação com o clima (grandemente dependente da latitude), condiciona todos os processos intervenientes na geração de sedimentos, a começar na meteorização das rochas e na formação dos solos (pedogénese ), passando pela erosão e pelo transporte, e terminando na sedimentação. Por exemplo, as acções erosiva, transportadora e deposicional dos rios só se fazem sentir nas regiões climáticas propícias à existência de águas correntes.
Por seu turno, os glaciares só funcionam em ambientes de precipitação niveal abundante e suficientemente frios e declivosos, como acontece em latitudes polares e nas montanhas acima de determinadas altitudes.


                             Glaciar na Groenlândia.

A erosão, transporte e sedimentação eólicos necessitam de vento e de terrenos despidos de vegetação, o que acontece, sobretudo, nas zonas marcadas pela aridez .
Relativamente a estes mesmos processos, uma plataforma carbonatada, como, por exemplo, as dos mares recifais, não pode deixar de ser associada à sua condição tropical, de águas mornas (30 o C, em média) e límpidas, do mesmo modo que algumas turfeiras  evocam a sua génese nos plainos, em latitudes ou em troços de altitude, temporariamente geladas.
Como síntese e resumidamente, pode dizer-se que o relevo, o clima (em especial a precipitação de chuva ou de neve e a temperatura), a natureza das rochas e a vegetação (já de si uma consequência dos outros factores apontados) interagem de modo a determinarem o tipo e a intensidade da gliptogénese e da sedimentogénese. Tal interacção permite conceber uma relação muito estreita entre eles e a paisagem física que, por seu turno, condiciona a paisagem mais ou menos humanizada que hoje se nos oferece.
Sem qualquer compromisso com as várias sistematizações propostas pelos diversos autores é, pois, possível estabelecer uma certa correspondência entre uma região com dadas características geomorfológicas e climáticas, por um lado, e os agentes e processos nela actuantes, por outro. Esta visão morfoclimática esteve subjacente ao conceito de erosão normal, definido em 1899, pelo geomorfólogo americano William Morris Davis (1850-1934), para as regiões temperadas húmidas das latitudes médias (do continente norte-americano e da Europa ocidental) apresentadas como regra, norma ou padrão, relativamente a outros tipos de erosão próprios de outros ambientes encarados como desvios a esse padrão, como são, por exemplo, o árido ou o glaciário. Em 1944, o geomorfólogo alemão Julius Büdel (1903 1983) definiu as Formkreisen ou regiões morfogenéticas, nas quais punha em destaque a já referida estreita ligação entre, por um lado, o clima, os agentes e as acções que lhe são próprios e, por outro, a configuração do relevo e demais aspectos das respectivas paisagens, nomeadamente a ocupação vegetal.
Este conceito fez escola e, a partir dele, tornou-se consensual o estabelecimento de nove tipos de regiões morfogenéticas em associação com outros tantos tipos de clima: glaciário, periglaciário, boreal, marítimo, temperado, savana, semiárido, árido e quente-húmido (selva).
Distinguem-se, neste domínio da investigação, muitos geógrafos e geomorfólogos, com destaque para os franceses Henri Baulig (1950), Pierre Birot (1950) e André Cailleux (1959), o sul-africano Lester C. King (1948) e os americanos Thomas C. Chamberlin (1910), Chester K. Wenthorth (1928), Alan N. Strahler (1960) e Robert W. Christopherson (1994). Este último introduziu nesta temática o termo geossistema a partir do conceito termodinâmico da palavra. Com base no trabalho desenvolvido, foram definidos sistemas morfoclimáticos de erosão e sedimentação, tantos quantas as regiões climáticas que se entenda individualizar. Uma tão marcada correspondência não impede porém que, dentro de um mesmo sistema, ocorram morfologias, de algum modo discordantes, relacionadas com aspectos geológicos localizados (litologia e/ou estrutura) ou com a persistência de formas herdadas, residuais de situações morfoclimáticas anteriores.



O vale glaciário (perfil transversal em U) do Zêzere, hoje situado num sistema temperado, é uma herança do último período frio (Würm) do Quaternário.

Neste ponto, o princípio das causas actuais ensina que, por comparação com o presente, os agentes e processos do passado podem ser investigados através do estudo das rochas sedimentares correlativas. Por outras palavras, em qualquer momento da história da Terra, os agentes, os processos e os mecanismos modeladores do relevo, próprios de uma dada zona climática, determinam nela um conjunto de características geomorfológicas que a distinguem de outras marcadas por outros climas. Tais acções, processos e mecanismos deixam as suas marcas nas rochas sedimentares que deles resultaram e, por isso, adjectivadas de correlativas. Assim, o estudo dessas marcas permite conhecer as respectivas características geográficas do passado, ou seja, as reconstituições paleogeográficas o que constitui um dos principais objectivos da sedimentologia.

                                          Galopim de Carvalho

terça-feira, 27 de maio de 2014

EMPENHO


Se com Deus e a seu cuidado
porque há rezas a pedir?
É pensar no que há-de vir,
quando já nos fora dado.

Quanto basta recebemos
já do Céu, por graça infinda.
Implorarmos mais ainda
é ofensa ao bem que temos.

Mor empenho há na virtude,
mais se sente a plenitude
das mercês do Criador.

Nada peço. Tudo tenho.
Agradeço e é tamanho
quanto é posto ao meu dispor.


João d’Alcor

sábado, 24 de maio de 2014

"VISÕES"

       
    Descolamento da retina (imagem retirada do livro-guia da exposição "Visões")

Este é o título de uma exposição que se encontra patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, até ao dia 29 de Junho próximo. Não se trata de imagens vistas em sonhos, de aparições fantásticas ou de algo que não tem a ver com a realidade. Não. O que ali se vê é bem concreto; é a realidade que reflecte a complexidade do nosso aparelho visual mas que se encontra traduzida em imagens que parecem irreais.
Esta exposição é, simultaneamente, uma obra de arte, uma lição sobre a anatomia e a fisiologia da visão, uma mostra de como a tecnologia de última geração pode ser aplicada à cirurgia ocular e, finalmente, uma lição de respeito pela vida humana e de humildade. 
É uma obra de arte descrita através de fotografias que, parecendo irreais, quais quadros de Dali, Matisse, Miró ou Vieira da Silva, todas elas contam histórias reais.
É uma lição de anatomia e de fisiologia porque, através de uma estrutura de cerca de 7 metros que reproduz o interior do olho humano, se mostram imagens de alguns dos seus constituintes e a sua ligação ao todo poderoso cérebro, através de impulsos gerados naquele pela luz.
É uma mostra de tecnologia de ponta aplicada à cirurgia ocular porque se evidencia a junção da fotografia digitalizada com a informática e a luz, emitida ou não por lasers, em que é possível, a 3D, observar o campo em que o cirurgião se movimenta. 
Finalmente, desta exposição pode retirar-se uma lição quer de grande respeito para com a vida humana, perante a complexidade dos mecanismos da visão, quer de humildade, frente ao desconhecido que estão para lá desses mesmos mecanismos.


Refira-se que o autor desta exposição, que reflecte um pouco do seu trabalho de cirurgião e de investigador mas também de artista, é o Dr. António Travassos.


                                                    Mário Freire

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O ALIMENTO DAS RELAÇÕES


Uma nova relação é sempre excitante, intensa e divertida. No entanto, com o passar do tempo, as emoções vão esmorecendo até chegar um momento em que olhamos para a outra pessoa e é-nos difícil acreditar que já fomos tão felizes com ela. Nessa altura, já nos parece impossível recuperar o que tínhamos, apesar do afeto e do carinho. Como fazer então para evitarmos chegar a esse ponto e fazer com que a relação dure?
Como qualquer ser vivente que precisa de alimento, caso contrário morre, o mesmo se passa com as relações. Precisamos de descobrir qual o seu alimento e nutri-las diariamente. Dedicar uma parte do nosso dia a nutrir a nossa relação com prazer é uma das formas mais eficazes de manter a qualidade de vida com o parceiro e, curiosamente, connosco próprios.
Uma das melhores formas de nutrição da relação é focarmo-nos nas qualidades do outro. Todos temos defeitos e todos temos dificuldade em lidar com alguns dos defeitos do outro, mas se em vez de criticarmos o que não gostamos passarmos a apreciar o que gostamos, as emoções positivas pela presença do outro aumentam consideravelmente e facilitam tudo o resto.
É preciso não esquecer que o outro é um companheiro de viagem, pelo que demonstrar admiração, gratidão, compaixão e cumplicidade reforça os laços afetivos. Podemos encontrar o bom em pormenores e são esses que muitas vezes significam tanto. Surpreendermos o parceiro com pequenos gestos proporciona-nos alegria e torna as dificuldades menos pesadas. Obviamente que, além destes fatores, não pode faltar o romantismo, pois este é um dos elementos que distingue uma relação amorosa de outras relações.
Conseguir parar o tempo e apreciar o companheiro, trocar um olhar intenso, sentir um toque delicado e apaixonado, beijar o outro não por hábito mas por desejo fazem a diferença. É preciso ouvir e sentir o parceiro, nunca perder o contacto com as suas necessidades e desejos, bem como estar constantemente atento aos nossos para os conseguirmos transmitir e criar assim uma sinergia que nos faz querer conscientemente continuar o percurso da vida ao lado daquela pessoa.


                                     Rossana Appolloni

terça-feira, 20 de maio de 2014

LOESS, O PÓ DE PEDRA QUE UM VENTO FRIO LEVOU PARA LONGE



      Paisagem no Planalto do Loess, província de Shanxi, China.


          Em começos dos anos 20 do século XIX, o alemão Karl Cäsar von Leonhard (1779-1862), professor de Mineralogia na Universidade de Heidelberga, foi o primeiro a descrever na proximidade desta cidade, no vale do Reno, um depósito sedimentar muito fino, friável, homogéneo, não estratificado, aproveitado como solo agrícola, a que deu o nome de Löss, termo radicado no germânico lösch (que significa solto, móvel) usado pelos camponeses locais.
Particularmente abundante na China, no que é hoje conhecido por Planalto do Loess, é um material facilmente erodível, de coloração habitualmente amarelo acastanhada (devido à presença de hidróxidos de ferro), que tinge dessa cor as águas de escorrência e fluviais, como são as do Rio Amarelo e as do mar, entre a costa leste da China e a costa oeste das duas Coreias e, por isso, conhecido por Mar Amarelo.


Loess transportado pelo vento, em Milles County (Iowa EUA)


Pode ocasionalmente apresentar cor avermelhada (devido à presença de óxido de ferro) e acinzentada (devido à presença de matéria carbonosa).
Interpretado de início como de origem fluvial, sabemos hoje corresponder a um depósito continental acumulado por via eólica, em regime periglaciário, comum no hemisfério norte (América e Eurásia) durante os últimos períodos interglaciários do Quaternário. 
Com a aparência de pó de pedra, o loess (na versão internacionalizada) é definido como um sedimento da classe dos lutitos (do latim lutu, lama, lodo, vasa) de granulometria inferior a 0,062 mm, com predominância de silte (ou limo) sobre a argila  e uma muito pequena percentagem de carbonato de cálcio. Esta componente tende a desaparecer, por descalcificação, ao nível do solo. Neste caso, corresponde ao aleurito (do grego aleurós, farinha) proposto em 1957 pelo sedimentólogo russo Nikolai Strakhov(1900-1978). Corresponde, ainda, ao limon (do latim limus, lama, lodo, vasa), definido pelos autores franceses como um material silto-argiloso, destituído de calcário, não coeso, de origem fluvial ou eólica.
Migrando em profundidade, o carbonato vai gerar concreções muito características deste depósito, conhecidas por löss Kindchen (bonecas do loess).



                                        Boneca de loess

Bastante poroso, o loess, naturalmente afectado por fendas verticais, permite a formação de escarpados talhados a pique.
Maioritariamente composto por grãos angulosos de quartzo, feldspato e mica , muito angulosos, o loess denuncia a sua origem no seio dos tilitos (moreias), onde o esmagamento ou trituração do substrato rochoso dos glaciares conduziu à formação da conhecida por “farinha glaciária”, “farinha dos tilitos” ou “argila dos tilitos”.
Exposto ao gélido e seco vento do norte, forte e prolongado por milénios, este “pó de pedra” voou para latitudes temperadas, nomeadamente, na Alemanha, Áustria, Bulgária, Roménia e Hungria, nos Estados Unidos da América (Iowa e Nebraska) e na China, onde deu nome ao “Planalto do Loess” e cobre cerca de 640 000 quilómetros quadrados com dezenas de metros de espessura.
O carácter pouco coeso do depósito e a sua estrutura vertical permitiram escavar habitações, como acontece na China, nas províncias de Shanxi, Shaanxi e Gansu.
No seu «Principles of Geology», Charles Lyell (1797-1875) divulgou este termo, tendo assemelhado a formação descrita por von Leonhard, no vale do Reno, com a que observou, anos mais tarde, ao longo das margens do Mississippi, durante o périplo que realizou no continente norte-americano. Por esta altura, o loess era visto com um sedimento pelítico de fácies fluvial, interpretação negada, pouco depois, em 1857, pelo engenheiro de minas francês, Virlet D'Aoust (1800-1894), que defendeu a sua origem eólica. Duas décadas mais tarde, o geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen (1833-1905) confirmou e divulgou esta interpretação, na obra «China: Ergebnisse eigner Reisen und darauf gegründeter Studien», em cinco volumes editados entre 1877 e 1912.
Para que se tenham acumulado a grande extensão e a espessura dos depósitos de loess foram necessários uma fonte de poeira siliciclástica, a energia eólica adequada para a transportar, uma área suficientemente plana de acumulação e uma quantidade tempo na ordem de muitos milhares de anos.
As vastas planuras aluviais de canais entrançados (anastomosados) que, na Primavera e no Verão transportavam grandes volumes de água do degelo dos glaciares, carregada de sedimentos, ficavam a seco no Outono e no Inverno, expondo os referidos sedimentos, dos quais o vento levantava a dita poeira (silte e argila), transportando-a para Sul.
Reduzindo o conceito de loess ao critério granulométrico, há autores que definem como tal os depósitos de materiais muito finos oriundos de desertos (Nebraska, Kansas e Colorado, nos EUA, África e Austrália) e outros de cinzas vulcânicas (Equador, Argentina).

                                   Galopim de Carvalho

domingo, 18 de maio de 2014

EMPATIA


Empatia é expressão
d’amor incondicional.
É na marca da atenção,
que ela encontra o seu aval.

Reverente, em sintonia,
antes de mais, sabe escutar.
Acrescida é a magia,
quer da fala, quer do olhar.

Ambiente de um clarão
é o halo que assim cria,
envolvente, sem forçar.

É, de facto, o coração
a premissa da empatia.
Algo dando, mais tem p’ra dar.


João d’Alcor

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO PRIMÁRIO E A COMUNIDADE EM TEMPOS DE ABRIL


           Como já foi referido em posts anteriores, o poder que saiu do 25 de Abril trazia um desejo muito profundo de fazer do professor do ensino primário um agente de transformação social, muito especialmente junto das populações que se encontravam mais isoladas.
            Para testemunhar esta intenção, refiro o plano de uma intervenção junto de uma comunidade e em que foram protagonistas os alunos finalistas do Magistério Primário, numa aldeia do concelho de Portalegre (Mosteiros), na 2ª semana de Junho de 1975. Para isso, eles permaneceram na aldeia, em coabitação com as famílias. Durante o dia, tinha lugar o trabalho lectivo junto dos alunos. À noite, 21 horas, realizavam-se as sessões com a população. O interesse suscitado entre esta foi tal que, na 2ª sessão, compareceram cerca de 150 pessoas. Transcrevo alguns tópicos do plano de cada uma das sessões:
    2ª feiraEducação: Relação pais-escola; colaboração que os pais podem dar à Escola; educação da criança na família: alimentação, castigos corporais, trabalho da criança; educação permanente: instrução do trabalhador para defender os seus interesses (alfabetização, cursos de adultos…)…
3ª feira – Desporto: Desporto e saúde; desporto e convívio; criação de um núcleo desportivo (futebol, andebol…)…
         4ª feira – Agricultura e cooperativismo: Culturas da região; mecanização; cooperativa agrícola…    
5ª feira – Saúde e assistência social: Quisto hidático; tifo e cólera; águas estagnadas e inquinadas; cárie dentária; higiene pessoal; higiene na habitação; assistência social à criança, ao doente e à velhice…

6ª feira – Convívio com os habitantes da terra.

            A liberdade de expressão e a melhoria da qualidade de vida das populações foram, sem dúvida, as grandes dádivas do 25 de Abril. A igualdade de oportunidades para todos, a aplicação da lei, sem excepções, e a colocação das pessoas em primeiro lugar ainda têm caminho para fazer nesta nossa democracia. A esperança, contudo, não irá faltar! 


                                               Mário Freire

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A CONQUISTA DO TEMPO


“A única razão para a existência do tempo é as coisas não acontecerem todas em simultâneo” (Albert Einstein)
No estilo de vida das sociedades contemporâneas, é frequente dizer-se que não temos tempo suficiente para fazer tudo o que queremos. Corremos de um lado para o outro para cumprir obrigações profissionais, tratar ou visitar familiares, ou, simplesmente, estarmos com as pessoas de quem gostamos.
Esta sensação de pressa constante acompanha o desenvolvimento tecnológico do mundo moderno em que máquinas cada vez mais complexas e sofisticadas trabalham com maior potência e rapidez para nos fazer poupar tempo, para nos transportar, para nos informar, para nos dispensar de tarefas monótonas e pesadas, ou para nos tratar da saúde e prolongar a nossa vida.
O tempo, sempre o tempo, que temos de aproveitar e sem o qual a nossa existência parece não ser vivida na sua plenitude. A conquista do tempo para nós próprios é um fator essencial do nosso bem-estar. O que nos dá prazer e faz sentido não pode ser feito à pressa. Se queremos ouvir uma música, não podemos pôr o cd a rodar a uma velocidade superior à adequada para pouparmos tempo! Ouvir-se-iam apenas ruídos sem nexo.
 Se atentarmos bem na frase de Einstein verificamos que não se trata apenas de uma questão de velocidade, mas de uma determinada quantidade de coisas que não é possível nem desejável fazer ao mesmo tempo. Ao ouvir música, ver o telejornal, falar com quem estou e ler os emails no telemóvel, algo fica pelo caminho. Fazer demais transforma-se em fazer de menos. Fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo é fazer tudo mal em simultâneo.
Há, pois, um ponto limite em que o excesso de carga e o excesso de velocidade neutralizam o tempo ótimo da experiência humana. A vida plena de coisas pode tornar-se uma vida vazia de sentido. Nada impede de sermos ativos e despachados, sobretudo quando aquilo que fazemos, em vez de ser feito à pressa e em simultâneo, representa um desafio pessoal que é feito com paixão. Então, o tempo passa sem darmos por isso e encontramo-nos connosco próprios.

                              Rossana Appolloni


segunda-feira, 12 de maio de 2014

O GRANDE RIO DO SUL


No final daquele ano lectivo de 1958-59, em que o Reitor Marcelo Caetano recusou pagar os vencimentos dos assistentes recém contratados (eu era um deles), o director do Centro de Geologia, Prof. Carlos Teixeira,  mandou-me acompanhar o seu colega francês e amigo, Daniel Laurentiaux, da Universidade de Reims, a realizar trabalho de campo na região de Mértola. Tive, assim, oportunidade de percorrer o Guadiana em alguns dos seus mais belos troços e isso encorajou-me a conhecê-lo de outros ângulos que não os da geologia.


O Grande Rio do Sul

"Dizem que havia um pastor entre Tejo e Odiana, que era perdido de amor per uma moça Joana”. (Bernardim Ribeiro, na Écloga de Jano e Franco, no século XVI).

Grande rio do sudoeste ibérico, de importância capital na estruturação do território peninsular, o Guadiana foi usado pelos Romanos como divisória entre duas das grandes províncias administrativas do império, a Bética, a oriente, e a Lusitânia, a poente, confrontadas ao longo do troço que hoje corre a jusante do Caia. Designado até ao século VIII por Rio Ana, os Árabes respeitaram-lhe o nome, antepondo-lhe uadi, que significa rio, o mesmo elemento composicional que nos ficou nas designações de alguns rios no sul do país, como Odeleite, Odemira e outros mais, termo que está igualmente em uso nos uedes do noroeste africano, os vales secos correspondentes aos rios temporários característicos das terras semiáridas do Magrebe.
            Uadiana ou Odiana foi o nome deste importante curso de água, eixo do al Garb al Andalus, expressão que, em árabe, quer dizer o ocidente da Hispânia, ou seja, grosso modo, a Andaluzia, hoje na Espanha, o Alentejo e o Algarve. Odiana sobreviveu à reconquista, no século XIII, e assim se manteve, por mais três centenas de anos, na linguagem dos portugueses. Antre Tejo e Odiana era o nome da grande comarca e da circunscrição administrativa meridionais, ao tempo em que este rio foi fronteira entre os reinos de Portugal e de Leão. Por seu lado os castelhanos transformaram o uadi, radicado na região ao longo de cinco séculos de ocupação islâmica, em guadi, elemento que ainda hoje compõe o nome de muitos rios do sul de Espanha, como Guadalimar, Guadalupe, Guadojoz e, o mais conhecido de todos, o grande Guadalquivir. Guadiana é, assim, um nome importado que se impôs em virtude da sua posição raiana e que substituiu o antigo Odiana, perpetuado na Écloga de Bernardim Ribeiro, influência que não se verificou com os nomes Odeleite, Odiáxere e outros com a mesma raiz, correspondentes a rios mais afastados da influência castelhana.
            Desde sempre, como qualquer grande rio, o Guadiana foi pólo de atracção das populações. Os mais antigos testemunhos datam do Paleolítico, representado por abundantes utensílios em pedra lascada jacentes nos seus terraços. Tal atracção percorreu toda a Pré-história e os tempos históricos até aos nossos dias, sendo de assinalar, entre outros, os vestígios da ocupação romana, deixados nas minas de pirite de S. Domingos, a presença islâmica, hoje bem conhecida em Mértola, os vários castelos e praças fortes edificados nas suas margens e cercanias, o porto mineraleiro do Pomarão e as muitas dezenas de açudes construídos no seu leito a fim de lhe represarem as águas e, com isso, mover as respectivas azenhas.
            Na continuidade da relação do Homem com a terra, temos hoje a barragem de Alqueva, obra que representa, para muitos, o mais recente e talvez o mais grandioso e esperançoso abraço entre o Alentejo e o grande rio do Sul. Assim os inconfessáveis interesses de alguns não estraguem as esperanças desses muitos outros.

                                          Galopim de Carvalho


domingo, 11 de maio de 2014

AS RELAÇÕES PRECISAM DE TEMPO


Num mundo onde todos têm constantemente pressa, é difícil dar o bem mais precioso para uma relação, seja ela de que natureza for: o nosso tempo. Uma relação precisa de tempo: tempo para crescer, tempo para amadurecer e tempo para fazer durar. Tempo que não pode ser contado, mas que, para ser de qualidade, exige entrega, descontração e dedicação.
Numa relação amorosa, esta necessidade é ainda mais premente. Podemos não ter tempo para muita coisa, mas temos de ter tempo para o romance, caso queiramos que a relação se mantenha feliz.
 Independentemente de há quanto tempo a relação dura, é fundamental viver momentos de romantismo com frequência. O romantismo e a partilha de uma cumplicidade íntima é o que distingue uma relação amorosa, pelo que desvalorizar estes momentos é abrir portas para que a relação se transforme noutra coisa.
Exprimir o que se sente por palavras também é importante, por muito que se conheça os sentimentos do outro. Não se devem desvalorizar as várias formas que o ser humano tem para exprimir o que sente: pode ser através do toque, do olhar, das palavras… todas elas são relevantes! Exprimir o que se sente em relação ao outro e exprimir o que se sente sobre o outro: comunicar a admiração que se tem e elogiar são igualmente alimentos para que uma relação se mantenha viva.
Partir do pressuposto que o outro já sabe tudo e que portanto não vale a pena dizer sempre a mesma coisa é como deixar murchar uma flor, tendo água mesmo ao lado. Há que conseguir preservar e respeitar o espaço e a liberdade do outro, mas também há que partilhar interesses e atividades em comum.
 O amor não é apenas admirar o outro, ultrapassar os conflitos e ser romântico; também se trata de divertir-se em conjunto, sentir prazer e rir nas atividades que se faz na companhia um do outro. Para isso, é necessário ser criativo, ousar ter ideias diferentes, aceitar novas aventuras e sentir que a vida é muito melhor porque se tem a outra pessoa ao nosso lado. Para sentirmos isso precisamos de tempo, tempo de qualidade.

                               Rossana Appolloni


sábado, 10 de maio de 2014

EMOTIVIDADE


                       Desde o gáudio ao temor,      
emoções, quem as não tem?
Variando em seu teor,
se uma vai, logo outra vem.

Sendo a emotividade
expressão da própria vida,
não obstante é, de verdade,
tantas vezes, mal querida.

Ao deixar de ser amada,
passa a ser é recalcada,
toda envolta em ‘scuridão.

Em contraste, se abraçada,
toda ela é sublimada,
no crisol do coração.


João d’Alcor

quinta-feira, 8 de maio de 2014

25 DE ABRIL: A IMPORTÂNCIA DOS INTERESSES DA CRIANÇA NO ENSINO


Com data de 4 de Novembro de 1974 surge uma circular, oriunda da Direcção-Geral do Ensino Básico, que anuncia uma Campanha de sensibilização aos novos Programas do Ensino Primário, os quais tinham entrado em vigor no início do ano lectivo. Extraio um excerto da referida circular que, parece-me, resume a ideologia pedagógica subjacente à Campanha:
- “O ensino deverá ser sempre uma resposta aos interesses do aluno, devendo, por isso, ser motivado para que nele nasça o desejo de uma realização”.
            Verifica-se que os interesses da criança eram os elementos primordiais que iriam determinar a actuação do professor e a função da escola. Esta centralidade nos interesses constitui uma referência nos ideários da Escola Nova, de que a I República foi paladina. Assim sucedeu, também, nos anos de 1974 e 1975.
            Distanciadas essas duas épocas de cerca de 50 anos, elas limitam um período da História da Educação em Portugal que se caracterizou por um dogmatismo pedagógico acentuado, conduzido pelo professor, tendo o aluno um papel de diminuta participação. Caiu-se, depois, no lado oposto em que ao aluno tudo se consentia, abdicando o professor da sua autoridade ou sendo dela obrigado a abdicar.
            Ora, o professor, como mediador de conhecimentos, tem que fazer uso do seu saber e do seu bom senso para não cair num facilitismo que dificulte o desenvolvimento da criança. Além disso, ter como principal preocupação a satisfação dos interesses do aluno, é privá-lo das aprendizagens que as frustrações, quando não são traumatizantes, lhe podem ensinar. Elas são uma constante na nossa vida. Saber aceitar aquilo de que não gostamos ou não conseguimos atingir é prevenir a agressividade e contribuir para que uma pessoa, quando adulta, seja mais feliz. E isso aprende-se na família mas, também, na escola.


                                                 Mário Freire

terça-feira, 6 de maio de 2014

O HÁBITO DE SER FELIZ (II)


Vimos no texto anterior que a plasticidade do cérebro permite-nos reaprender comportamentos da nossa vida que nos fazem sentir mais felizes. A felicidade é, portanto, muito mais uma questão de opção e de influência pessoal do que propriamente de sorte. A associação inglesa Happy City elencou alguns hábitos que podemos facilmente enraizar e que aumentam exponencialmente os nossos níveis de bem-estar:
1. Saborear a alegria de uma experiência positiva com calma, sem pressas. Viver aquele momento e dedicar-lhe a sua atenção exclusiva, sem pensar em mais nada.
2. Exprimir gratidão: as emoções positivas sabem bem e fazem-nos bem. Exprimir gratidão por aqueles que partilham connosco certas experiências ou que no-las proporcionam tem um retorno igualmente gratificante.
3. Fazer uso dos seus pontos fortes: identificar as suas características positivas e talentos naturais e pô-los em prática, individualmente ou em grupo.
4. Viver com um propósito na vida, descobrir o sentido que as coisas fazem para si.
5. Desenvolver relações interpessoais positivas: as pessoas mais felizes têm uma vida social mais ativa.
6. Aprender e treinar a ser otimista afasta-nos drasticamente de cair em depressão.
7. Reforçar a resiliência, ou seja, a capacidade de lidar com as dificuldades da vida e de aprender com as experiências negativas.
8. Ter objetivos ajuda a viver com mais motivação. Identificar metas alcançáveis a curto e a longo prazo proporciona uma sensação de satisfação e de realização pessoal.
Além destas 8 dicas positivas podem sempre praticar-se muitas outras cujo retorno será sempre satisfatório e muitas vezes surpreendente. É uma questão de experimentar!

                                              Rossana Appolloni


domingo, 4 de maio de 2014

OS SEDIMENTOS E A PAISAGEM FÍSICA



Na enciclopédia escrita no século X pelos Irmãos da Pureza pode ler-se: a erosão destrói perpetuamente as montanhas e o escorrer das águas pluviais arrasta rochedos, pedras e areia para o leito das torrentes e rios que, por seu turno, ao escoarem-se, acarretam tais materiais para os pântanos, lagos e mares, onde os acumulam sob a forma de camadas sobrepostas.
We could read the Earth’s history in geological record of its stratified sedimentary rocks. (James Hutton, 1726-1797)
O “Livro dos Sedimentos”, reconstruído pelo esforço de diversas gerações de geólogos, equivale a um extensíssimo documento histórico, ao lado do qual todos os alentados volumes da História da Humanidade não passam de insignificantes opúsculos. (George Gamov, 1941).
Em geologia, o conceito de sedimento  abarca os fragmentos ou clastos de origem terrígena ou orgânica transportados por agentes naturais e que acabam por se depositar e acumular, via de regra, sob a forma de estratos ou camadas. Num leque dimensional que vai dos grandes blocos de rocha (como os das moreias glaciárias) às finíssimas partículas da dimensão das argilas, passando por seixos, areias e bioclastos (como conchas de moluscos e seus fragmentos), estes sedimentos, passiveis de serem transportados pelas águas pluviais, de escorrência e fluviais, por correntes marinhas, pelo gelo, pelo vento ou por simples acção da gravidade, constituem o material que, ao longo do tempo geológico, se transforma na chamadas rochas sedimentares .
Mas o termo sedimento tanto designa a partícula individual sujeita à dinâmica sedimentar, como a população de partículas envolvidas nesse processo, mesmo que ainda em trânsito, como também o corpo sedimentar depositado e imobilizado, isto é, o próprio depósito, no seu conjunto. Por outras palavras, sedimento tanto é o conjunto de partículas transportado como o depósito material das mesmas. Dado o seu carácter não coeso, um sedimento, neste outro sentido, é um corpo geológico instável, temporário, passível de ser retomado. É, pois, um depósito dinâmico e, nesta perspectiva, alguns autores têm-lhe dado o nome de rocha móvel. Todavia, destituídos de coesão entre os seus constituintes, este tipo de materiais escapa ao conceito vulgar de rocha, tal como ele é normalmente usado (o de pedra coesa e rígida), quer na linguagem corrente, quer na dos profissionais da construção civil que usam, habitualmente a expressão rocha firme (o bedrock, dos ingleses),.
Fala-se, com efeito, de sedimentos em suspensão, sedimentos remobilizados, sedimentos transportados eolicamente, sedimentos consolidados, sedimentos litificados, etc. O uso do termo foi proposto pelo alemão Arnold Lasaulx (1875), na sua classificação geral das rochas, ao estabelecer a classe “sedimentos puros”, na qual incluiu os calhaus ou seixos fluviais e de praia, as areias de rio, de praia e de duna, e ainda, os Löss, termo vulgar germânico que adoptou para indicar os sedimentos mais finos, isto é, os siltes e as argilas. Actualmente, o termo refere um depósito silto-argilo-calcário, de origem eólica, não coeso, depositado em regime periglaciário, com capacidade agrícola reconhecida. Com a grafia internacionalizada loess, o termo radica no alemão lose, que significa friável, não coeso.
Na sistemática petrográfica, as rochas sedimentares abarcam não só os materiais coesos, como calcários, conglomerados, arenitos, sílex, entre muitos outros, como também os sedimentos recentes, via de regra incoesos ou móveis, nos termos em que assim os referimos . O estudo comparativo destes com as rochas sedimentares, entendidas como sedimentos antigos, constitui o pilar da interpretação destas rochas sob os mais variados aspectos. Com efeito, partindo do princípio que, tanto hoje como no passado, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos , é viável reconhecer tipos de ambientes geográficos e geológicos, mais ou menos remotos, comparando as características das respectivas rochas com as dos materiais actualmente em formação nos diversos ambientes do presente que temos a possibilidade de ver “funcionar”. É, pois, com base neste pressuposto que pudemos tomar conhecimento da existência de glaciações no Precâmbrico e no Carbónico, de desertos no Devónico da Grã Bretanha e da América do Norte, de florestas húmidas e quentes no Carbónico da Europa e da América do Norte, de lagunas evaporíticas no Triásico europeu, etc..
Os sedimentos revelam quase sempre, de maneira mais ou menos evidente, a natureza das rochas de onde provêm, isto é, a respectiva filiação. Para uma dada região, podem reflectir as características do relevo e do clima existentes à altura da sua formação, os agentes de erosão e transporte que os actuaram, bem como o ambiente onde, finalmente, se depositaram. Podem ainda, em determinados casos, indicar a respectiva idade. Nestes termos, é muitas vezes possível correlacionar os sedimentos e as rochas sedimentares com a geologia, a  geomorfologia e o clima seus contemporâneos e procurar decifrar, na sucessão dos estratos ou camadas, a correspondente sequência dos acontecimentos geológicos e, portanto, a evolução geomorfológica correlativa.
Ao introduzir o conceito de “formação correlativa”, Walter Penk (1888-1923), geógrafo austríaco, filho de um outro geógrafo, Albrecht Penk (1858-1945), que foi o pioneiro no estudo dos sedimentos como via de investigação no âmbito da geografia física. Entendida como o conjunto dos depósitos sedimentares resultantes da erosão de um dado relevo, a dita formação correlativa testemunha, pelas suas características sedimentológicas, a história da evolução desse relevo, além de que permite investigar o tipo de erosão que o afectou e o clima sob o qual se processou essa erosão. Este conceito deu um novo rumo a esta disciplina, que passou a associar o estudo dos sedimentos à tradicional observação dos elementos da paisagem, que caracterizou a obra dos clássicos geógrafos, abrindo portas à moderna geomorfologia. Foi assim que a sedimentologia e os seus diversos procedimentos analíticos entraram nas preocupações dos geógrafos e geólogos do século XX. O livro “Morphological Analysis of Landforms”, da autoria deste autor, falecido prematuramente aos 35 anos de idade, foi publicado, a título póstumo, pelo seu pai, em 1924, sendo considerado um marco na geomorfologia à escala internacional.
Entre outros geógrafos e geólogos, o francês Pierre Birot e o português Orlando Ribeiro encorajaram o uso desta via. O primeiro criou um laboratório de sedimentologia no Institut de Géographie de Paris, que frequentei nos anos de 1962 a 1964, e o segundo dotou o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, de um outro, no mesmo domínio que, a seu  convite, montei e no qual trabalhei de 1965 a 1981.

                     Galopim de Carvalho



sexta-feira, 2 de maio de 2014

UM MECENAS DO AMBIENTE EM PORTUGAL


“As cátedras são unidades orgânicas que visam o aprofundamento científico em determinadas áreas do conhecimento”, como explica Miguel Bastos Araújo em entrevista ao jornal da Universidade de Évora (UE). “Distinguem-se de outras unidades orgânicas na medida em que são centradas na figura de um professor, ou investigador, de elevado mérito, que possui total liberdade de cátedra, ou seja, liberdade de estudar, investigar, difundir e publicar sobre os temas que considerar serem mais oportunos”.
A Cátedra Rui Nabeiro, é um espaço de investigação criado a partir de uma parceria entre a UE e a empresa Delta Cafés (DC); é a primeira cátedra entre uma empresa e uma universidade que se cria em Portugal; destina-se à promoção da investigação, da formação avançada em ecologia e da divulgação científica não só junto dos estudantes mas também do grande público, do impacte das alterações ambientais na biodiversidade à escala local, regional e global.
A empresa, contribuiu com cerca de meio milhão de euros para o trabalho da equipa liderada por um dos nomes portugueses mais prestigiados na área da ecologia e ambiente. O prof. Miguel Bastos Araújo, foi eleito titular da primeira cátedra financiada por privados no nosso País. A visão estratégica da UE e do Comendador Rui Nabeiro permitiram projectar a investigação sobre as alterações ambientais e climáticas, e o seu impacte na biodiversidade para um patamar de visibilidade sem precedentes, pelo prestígio que confere à UE e à região Alentejo.
Os resultados da investigação, foram apresentados numa conferência aberta que teve lugar no Auditório do Colégio do Espírito Santo da UE.
 “A UE e a DC partilham a visão de que a actual geração é usufrutuária de um património natural e tem a responsabilidade de o legar às gerações futuras, em condições que garantam a sustentabilidade da vida humana”, considera a UE. O comendador Rui Nabeiro e a empresa DC têm vindo a protagonizar um papel meritório, seja com esta cátedra, seja no apoio a actividades educativas, de defesa do ambiente e de promoção do desenvolvimento sustentável no Alentejo e no País.

                                              FNeves