segunda-feira, 23 de maio de 2016

HÁ UM PRINCÍPIO, E HÁ UM FIM E ALGO DIFERENTE A ENCETAR




O início do Blog EDUCOLOGIA teve lugar em 30 de Abril de 2011 e o fim, pelo menos em termos de abastecimento, irá ter lugar no mês em curso. Foram cinco anos em que, através de poesia e de prosa, tentámos exprimir, como fundadores e em regime de equipa,  alguns dos sentimentos , no ideal que acalentamos, algumas das nossas ideias na educação, alguns dos valores que nos norteiam, no alargado domínio da educação, de algo relativo à Natureza e modo de a conhecer e proteger. O Blog EDUCOLOGIA exprimiu a vida e anseios atinentes, sendo que esta em nós, como na natureza, é efémera. Somos transitórios assim como a maior parte das nossas obras o são. Obras há, é certo, ficarão para a posteridade. Os textos no Blog exarados talvez não tenham relevância que mereça tal distinção. Eles no entanto, ficarão em ARQUIVO, neste endereço, até que a Google as apague. Proveio do empenho na educação a nossa iniciativa. Outras ocupações, algo paralelas na temática, passaram a ter prioridade.



À preciosa equipa colaboradora e a quantos, por esse mundo fora, milhares em cada mês, nos foram acompanhando, agradecemos a atenção e o incentivo que nos dispensaram.



Até sempre!



Os fundadores,



Mário Freire

João d’Alcor

sexta-feira, 20 de maio de 2016

A ESCOLA, A FAMÍLIA E ALGUMAS INTERROGAÇÕES

                         



Assiste-se hoje a uma tendência para transferir para a instituição escolar o cerne da educação. É aí que as crianças e os jovens passam a maior parte do seu dia social. Já houve uma instituição escolar que se propôs prolongar os seus horários até à meia-noite para que os pais pudessem ir ao cinema!
Ora, os problemas educacionais não se situam apenas na escola mas no tipo de vida que hoje se leva. Não será um certo modo de viver que originará o prolongamento da permanência dos alunos na escola? Não se terá que questionar o local de trabalho dos pais e as distâncias que eles têm de percorrer até aos empregos, o trânsito, o papel das empresas, o comodismo, a ignorância, para se estar a assistir à transferência para a escola da responsabilidade da educação dos filhos? Não estará a família a pactuar com este tipo de modelo?
A educação é o motor do desenvolvimento da pessoa e de um país. E múltiplas são as variáveis que concorrem na educação para que esta possa, efectivamente, ser exercida quer pela família, quer pela comunidade. Às famílias têm que ser proporcionadas condições de vária ordem para que elas exerçam essa grande tarefa. O Estado terá nisso um papel importante. Mas não haverá outras entidades que tenham, também, responsabilidades no proporcionar dessas condições? Muitas empresas, com as tecnologias de que dispõem, não poderiam propiciar, através do teletrabalho, meios para que os pais pudessem estar, em determinadas circunstâncias, mais tempo com os filhos? As instituições da sociedade civil de natureza cultural e de serviço social, muitas das quais pertencentes à Igreja, não poderiam discutir com as famílias, de uma maneira mais próxima, o papel que lhes cabe na educação?
E a escola, como exerce ela o seu múnus? Estão os professores impedidos de interrogarem os acontecimentos e suscitarem essa interrogação junto dos seus alunos? E de criarem espaços de silêncio para reflectirem? Que constrangimentos dificultam o fomentar de comportamentos disciplinados e de exigência? Que modificação é preciso introduzir no funcionamento da escola para que ela possa congregar os pais, se possível, indo até junto deles para os apoiar nas suas relações com os filhos e os esclarecer sobre o papel destes dentro e fora da instituição escolar? 

                                     Mário Freire

                                                            

terça-feira, 17 de maio de 2016

PRIMAVERA




- Surges linda, Primavera. Terás chegado mais cedo?!...
Ou será a luz do sol que dá mais cor ao arvoredo?!...

Que linda vens!... Tantos verdes misturados no teu fato
Como o reflexo da água cristalina do regato.

Quem te fadou de donzela perfumada e colorida
Foi a fada natureza, incenso da tua vida ?!...

 Por Vera te batizaram. Quem tiveste por madrinha?
- Foi o sol, mais a lua e, também, uma andorinha!...

 - O melhor era seres rainha deste reino, o ano inteiro.
Não sair das tuas mãos o cetro do teu castelo!...

 Sinto um cheiro intenso, a rosas, ao abrir minha janela.
- Sou eu que espalho esse odor.
 Escrevo com flores o amor, porque sou a Primavera!...

Aldina Cortes Gaspar

In”ALENTEJO ADENTRO”


sábado, 14 de maio de 2016

GESTA



Nunca há regra sem excepção?
Regra sendo também esta,
haverá contradição?
Sim ou não?  É grande a gesta.

Gesta esta que a razão,
lesta que é no ajuizar,
ao colar o sim ao não,
quer a todos agradar.
                                                                              
Há quem julgue o ser humano,
com tal vício, à nascença,
incapaz de o emendar.

Dogma que recusa engano
e excepção, face a tal crença,

mal se podem conjugar. 

João d'Alcor

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A DIMENSÃO RELIGIOSA NA EDUCAÇÃO

                     



A educação é um dos campos onde a Igreja Católica põe o seu empenho. E isso deve-se ao facto de se considerar que a educação não é apenas uma forma de socializar a pessoa mas, principalmente, de a personalizar e de a formar para a cidadania. Mas, afinal, o que é educar? É proporcionar conhecimentos mas, também, organizar intelectual e emocionalmente as pessoas, hierarquizando saberes e integrando-os numa cultura, promovendo valores, em que os espirituais não fiquem arredados.
Ora, aquelas componentes que constituem o objectivo da educação terão, em primeira linha, que ser iniciadas na família mas, depois, dadas as limitações desta em relação a alguns domínios, nomeadamente os de natureza intelectual, terá que delegar na escola parte da sua função. Mas isto não significa que a escola se deva preocupar apenas com esse domínio.
A educação escolar deveria ser uma experiência de desenvolvimento integral do aluno, em que cada um fosse respeitado e reconhecido e lhe fosse proporcionado o espaço e o tempo para a sua participação e crescimento individual, na sua interacção com os outros. Significa isto que educar não é apenas despejar meia dúzia de conceitos para dentro da cabeça dos alunos. Educar é nortear a actividade junto dos educandos por valores. E que espécie de valores? A educação para a liberdade, para o trabalho, para a responsabilidade solidária, para a verdade, para a exigência em relação a si próprio poderiam ser alguns deles. Mas, também, a dimensão religiosa do ser humano deveria ser uma componente dessa educação. Há que ensinar o aluno a interrogar-se sobre o sentido dos fenómenos que estuda e da vida e não, apenas, o como desses fenómenos.
As escolas católicas têm incluído na sua acção esse objectivo. Mas, também, as escolas públicas poderiam encontrar espaços onde os alunos aprendessem o exercício dos valores atrás referidos, onde reflectissem o porquê dos fenómenos, ao mesmo tempo que os fizessem participar em acções de natureza comunitária, de ajuda aos que precisam, em que o Bem Comum fosse aspecto fulcral. Talvez isso pudesse contribuir para se ter uma sociedade mais ética e nos desse mais competência para enfrentar as dificuldades do País! 


                                              Mário Freire

domingo, 8 de maio de 2016

POUCO




Pouco é o vento que passa
Pouca é a água do poço.
Certezas?!... Um quase nada.
Falsas, as vozes que oiço.

Pouco é o pão minguado.
Até as nuvens merinas
Parecem cão enxotado.
Amas secas, concubinas.

Pouca palavra bem dita
Muito chão de maldizer.
Poucas, as sopas no caldo
Muitas bocas p´ràs comer.

Escasso sol, pouca estrela
Negra a noite, o dia pardo.
- Ata o sonho à caravela   
Leva o trevo, deixa o cardo!...

Muito “cerol” gafado
Muita aiveca, pouca relha.
Muita intrujice de enfado
Palestra “podre de velha”.

Pouca “prata”, vã riqueza
Negridões a cirandar.
Pouca abundância na mesa
Má fortuna a agourar.

Cada carreiro um barranco
Em cada esquina um ganir.
Noites passadas “em branco”
Sem medrar e sem dormir.

Tudo é “conversa fiada”!...
MUITO é NADA quando há fome.
- Até a hóstia é salgada!...
Morre o longe, em “calquer home”.

Não vá o caldo entornar
Ou a água ficar turva
Mais vale ouvir e calar:
- Muita parra, pouca uva!...

E sem conceitos galantes
Com dizeres de baixo custo
Mais Verdade havia dantes
Mais Honra, o Afeto mais justo.

Este mundo está do avesso
Até mesmo, no olhar.
Só se olha de arremesso
Com óculos escuros a tapar.

Neste mundo aos trambolhões
 Justiça tem “fraca perna”.
Usam binóculo, os vilões
Quem é puro vê de lanterna!...

Aldina Cortes Gaspar 

In”PEDAÇOS”


quinta-feira, 5 de maio de 2016

SUPERFÍCIES DE APLANAÇÃO, UMA INEVITABILIDADE DO CAMPO GRAVÍTICO TERRESTRE




Planície alentejana com a Serra do Caldeirão no horizonte. 
Desenho de João Alveirinhp Dias


Do mesmo modo que tudo cai de cima para baixo por força da gravidade e uma vez que, no nosso planeta, existem agentes promotores de erosão, as montanhas tendem a ser arrasadas e os materiais resultantes dessa erosão acumulados nas depressões. Se não houvesse forças internas que, de tempos a tempos, geram montanhas, sejam elas de que tipo forem, a superfície dos continentes seria tão plana quanto a das águas em repouso.
É curioso lembrar que, no século X, os membros de uma fraternidade de filósofos ismaelitas, conhecida por “Irmãos da Pureza”, (Ikhwan al-Safa, em árabe), que se admite ter estado sediada em Bassorá, no Iraque, escreveram numa enciclopédia que nos legaram “os continentes, uma vez arrasados pela erosão, ficam ao nível do mar”.
Desde sempre, filósofos, geógrafos, naturalistas e geólogos se depararam com esta realidade do relevo em todas as latitudes da Terra, que é o confronto entre as planícies e as montanhas. Portugal não foge a esta dualidade. À planície alentejana opõe-se a orografia bem mais acidentada do centro e norte do território.
Na origem, o termo planície, que nos chegou vindo do latim “planitie”, significa superfície plana. Como vocábulo do léxico geográfico, esta mesma palavra passou a referir uma extensão maior ou menor de terreno aplanado, de notada horizontalidade e, na maioria dos casos, a muito baixa altitude, onde a sedimentação supera largamente a erosão. Os geógrafos distinguem planícies fluviais e planícies costeiras ou litorais.
As planícies fluviais formam-se, as mais das vezes, na zona vestibular dos rios, ou seja, nos troços mais próximos da foz, propícios ao desenvolvimento de meandros divagantes. São limitadas por aclives (vertentes a subir), ou seja, estão rebaixadas relativamente aos terrenos envolventes. São exemplos de planícies fluviais a lezíria (do árabe al jazīrâ) e os mouchões do Tejo, os campos do Mondego, do Sado, do Caia e do Sorraia e os sapais de Corroios e de Castro Marim. Favoráveis à sedimentação fluvial, comportam muitas vezes corpos de águas paradas, como pântanos (ou pauis) e braços mortos de meandros abandonados.
As planícies litorais ou costeiras têm por limites de um lado, o mar e, do outro, um aclive, muitas das vezes, uma antiga falésia ou arriba (arriba fóssil). São exemplos de superfícies litorais a que se estende para sul de Ovar até a Serra da Boa Viagem, muitas vezes referida por gândara, a que se prolonga entre esta Serra e a Nazaré, a alentejana, entre a foz do Sado e Sines, e a campina entre Faro e Olhão. Propícias à sedimentação marinha e/ou dunar arenosa, com elas se relacionam restingas, ilhas-barreiras, lagunas (rias) como as de Aveiro e de Faro-Olhão e lagoas como as de Fermentelos (Pateira), Óbidos, Melides e Santo André.
Ao contrário das planícies, os planaltos, como o nome indica, são superfícies aplanadas em altitude (convencionalmente, acima dos 300 m) limitados por vertentes que descem para terrenos a cotas inferiores. Ao contrário das planícies, os planaltos são, sobretudo, sede de erosão. Entre nós, é frequente falar-se dos planaltos transmontanos, do planalto da Guarda e, até, do planalto da Torre, no cimo da Serra da Estrela.
O estudo das superfícies de aplanação é um dos temas mais explorados na dialética entre geógrafos e, com a evolução da geografia física para a geomorfologia, entre geomorfólogos.
Nesta troca de ideias há que registar os modelos concebidos por William Morris Davis (1850-1934), Walther Penk (1888-1923), Julius Büdel (1903-1983) e Lester Charles King (1907-1989). Em 2005, na monumental obra em três volumes, GEOGRAFIA DE PORTUGAL, editada pelo Círculo de Leitores e dirigida pelo Prof. Carlos Alberto Medeiros, o nosso saudoso colega (e meu ex-aluno), António Brum Ferreira foi o autor do primeiro volume “ O Ambiente Físico”, onde, em palavras simples mas rigorosas sintetiza as ideias destes quatro autores.
No artigo “The Geographical Cycle” que ficou célebre na geografia de finais do século XIX, W. M. Davis, professor da Universidade de Harvard, divulgou o conceito de “peneplaine” (peneplanície na versão portuguesa) como um tipo de aplanação inacabada, a relativamente baixa altitude, fruto de um longuíssimo desgaste por parte da erosão fluvial. O elemento de origem latina “pene” que escolheu para antepor à palavra “planície”, significa “quase”, pelo que foi e continua a ser, sobretudo, no sentido de “quase planície” que este vocábulo entrou no léxico geográfico e geomorfológico. Largamente divulgado por prestigiados geógrafos franceses, como Emmanuel de Martonne (1873-1955), Henri Baulig (1877-1962) e Pierre Birot (1908-1984), o conceito de peneplanície estendeu-se aos geógrafos portugueses, então ainda francófonos na sua maioria.
Conhecido como o “pai da geografia americana”, Davis partiu da convicção de que, a períodos relativamente curtos de elevação do relevo, se seguiam outros imensamente longos, de grande estabilidade, favoráveis à erosão. Por outro lado, tendo centrado o essencial do seu trabalho de campo nas regiões sob clima temperado-húmido, o modelo de aplanação que concebeu e divulgou assenta, fundamentalmente, na erosão realizada pelos cursos de água. Neste processo, que designou por “erosão normal”, Davis escolheu o adjectivo “normal” no propósito de poder usar este tipo de erosão como norma ou padrão de comparação com os de outros ambientes climáticos.
Na concepção de Davis, a peneplanície, que interpretou como resultante da erosão de uma montanha nos parâmetros em que a definiu, pode ser elevada por subida do continente (epirogénese) ou por descida do nível do mar, dando início a novo e idêntico processo erosivo, numa repetição a que deu o nome de ciclo de erosão.
Um argumento contra a prolongada imobilidade tectónica pressuposta no modelo davisiano foi apresentado, vinte e cinco anos depois, pelo jovem geomorfólogo austríaco, Walther Penck (1888-1923), no livro que nos deixou, “Die Morphologische Analyse”, editado postumamente em 1924. Porém, o modelo de Davis só sofreu contestação, em 1953, quando este livro foi traduzido para inglês, sob o título “Morphological Analysis of Landforms”. Influenciado pelas observações geomorfológicas a que procedera na região da Floresta Negra, onde um conjunto de superfícies aplanadas se escalona em degraus (Piedmonttreppen) nos flancos da montanha, Penck argumenta, neste seu livro, que o processo de erosão do relevo ocorre simultaneamente de forma gradual e contínua com o de elevação do mesmo relevo.
Pouco mais de três décadas depois, na Alemanha, Julius Büdel (1903-1983) revelava um outro processo conducente à origem de uma superfície de aplanação. Experimentado na geomorfologia de regiões tropicais do tipo savana quente, com uma estação húmida acentuada, propícia à formação do rególito, ou seja, de uma capa de meteorização das rochas do substrato, este geomorfólogo defendia, na sua obra "Zeitschrift für Geomorphologie", publicada em 1957, a ideia da existência de duas superfícies com realidade no terreno: a superfície topográfica, em contacto directo com a atmosfera, ou seja, a que suporta a paisagem, sujeira a erosão pelas águas de escorrência e fluviais; e a superfície basal, entre o rególito e a rocha sã, tanto mais profunda, quanto maior fosse a espessura do rególito.
Büdel defendia que, quando a humidade prevalecesse relativamente à secura, a meteorização é mais veloz do que a erosão. Se o clima regional evoluir no sentido da aridez, a erosão torna-se mais intensa do que a meteorização das rochas, podendo, no limite, pôr a descoberto a dita superfície basal que, assim, se transforma numa superfície de aplanação.
Um outro modelo contraposto à peneplanície e, talvez, o que mais movimentou a comunidade de geógrafos e geomorfólogos foi concebido e divulgado pelo geomorfólogo sul-africano Lester Charles King (1907-1989), na obra "The Morphology of the Earth", publicada em 1962. Inglês de nascimento, este professor da Universidade do Natal, procurou explicar aplanações recentes e antigas por uma outra via radicalmente diferente da de Davis, tendo baseado o seu modelo na evolução do relevo que lhe foi dado observar na regiões subáridas. Ao percorrer estas regiões, este que foi um dos mais influentes geomorfólogos do século XX, notou que as planuras destas regiões terminam, abruptamente, contra escarpados íngremes. Verificou que a superfície do terreno na base deste escarpados, a que deu o nome de “pediment”, (pedimento, na versão portuguesa) se apresentava minimamente inclinada, talhada pela escorrência de águas selvagens) carregadas de detritos. Para o autor, é o desenvolvimento destas superfícies que conduz à pediplanície, “pediplain”, na versão inglesa.
Na concepção de King, a pediaplanação, ou seja, o desenvolvimento da pediplanície vai alastrando em detrimento do relevo que, consequentemente, vai recuando, deixando, por vezes, testemunhos isolados, controlados pela estrutura geológica do terreno (dobras, falhas e outras). Aos ditos testemunhos, isolados como se fossem ilhas, salientes da pediplanície, o geógrafo germânico Wilhelm Bornhardt (1864-1946) deu o nome de “Inselberg” (do alemão “Insel”, que significa ilha, e “Berg”, que quer dizer monte) termo que, à letra, significa monte-ilha.

Embora algumas das suas ideias e interpretações, como, aliás, todas as outras, sejam questionáveis, King estimulou a comunidade dos geógrafos e geomorfólogos a repensar e rever criticamente os agentes e os mecanismos que conduziram e conduzem à aplanação do relevo.

                             Galopim de Carvalho

segunda-feira, 2 de maio de 2016

GERÊNCIA




Muito evoca o termo gerir:
Pede o verbo o substantivo.
No presente, visa o porvir,
tendo o foco num motivo.

Vem a ser este o motor,
uma vez bem definido.
Mediante ele, qualquer gestor
vê e aponta o bom sentido.

Conta muito, de facto, o  tempo;
um factor a ponderar,
em matéria de gestão.

Mas, no auge, ‘stá o talento
de saber estimular,

gerindo a motivação.

João d'Alcor

sexta-feira, 29 de abril de 2016

A ESCOLA UMA CONTRA-SOCIEDADE?


                                       


Régis Debray (Paris, 1940) é um filósofo, jornalista, escritor e professor francês que foi amigo de Fidel Castro e Che Guevara, pertenceu ao Partido Socialista Francês, do qual se distanciou por diferenças ideológicas com o ex-presidente François Mitterrand. Actualmente, Debray lecciona na Universidade de Lyon.
Acontece que, em Junho do ano passado, ele deu uma longa entrevista ao semanário Marianne na qual, numa curta passagem, se refere à educação como “tendo que ir ao fundo, para além das questões dos programas, dos horários, da interdisciplinaridade… E o fundo é que a escola não pode ficar fiel ao seu próprio fim, afirmando-se como uma contra-sociedade.” Debray diz, ainda, que ela “decalca a sociedade do mercado, da urgência, do utilitarismo, da rentabilidade da imagem”, colocando, por fim, a questão de “como é que uma sociedade pode produzir no seu seio uma contra-sociedade?”
 O texto atrás transcrito suscita múltiplas questões e dúvidas sobre a finalidade da escola. Assim, “ir ao fundo” das questões escolares significa desprezar os programas? Não serão estes as directivas, melhores ou piores, que encaminham o conhecimento aos alunos? Quanto aos horários, é certo que eles poderiam ser sempre elaborados de maneiras diferentes, mais ou menos flexíveis. Mas eles constituem as balizas dentro das quais a aprendizagem escolar se faz. Relativamente à interdisciplinaridade ela é hoje considerada, mesmo ao nível do ensino superior, um instrumento que permite ao aluno ter uma visão mais global, segundo várias perspectivas, do conhecimento.

Quanto à escola decalcar “a sociedade do mercado, da urgência, do utilitarismo, da rentabilidade da imagem”, significa isso que ela deve alhear-se do que à sua volta se passa, preparando os jovens para um mundo irreal? Claro que a escola não deve limitar-se a copiar as características do mundo de hoje. Mas é através de uma disciplina participada, no oferecimento de condições para que o aluno seja um sujeito interventivo e não um mero agente receptivo, no ensinamento e prática de valores como a verdade, a liberdade, a responsabilidade, a tolerância, a solidariedade, a gratidão…que se consegue uma escola contra a sociedade dos nossos dias. 

                                            Mário Freire

terça-feira, 26 de abril de 2016

O SONHO E O RIO






Segue o Sonho rio acima
Corre a vida de mau jeito.
Se na corrente se inclina
Dá-se um naufrágio perfeito.

Desfila um manso cardume.
Deixa a água cor de prata.
Como a cinza vem do lume
Ódio é chama que mata.

Após o pranto, a bonança.
Na espuma rebenta a dança
Que enche a praia de má sorte.

E quando o cais dorme calado
Junto ao veleiro ancorado
Cai um silêncio de morte.

Aldina Cortes Gaspar

In “ PÂNTANO


sábado, 23 de abril de 2016

GENUINIDADE





Cauda fora, como o gato,
deixa quem é mentiroso.
Da verdade ser ele cioso
tal não prova. É um facto.

O aletófilo é credível:
Tem, na genuinidade,
cunho de veracidade,
não obstante ser falível.

Qual virtude a cultivar,
sente que um tal dever
vem de dentro; não de fora.

Onde o exemplo encontrar?
É tão simples: Basta ver
a criança que em nós mora.


João d'Alcor

quarta-feira, 20 de abril de 2016

QUE DISCIPLINA DE ECOLOGIA PARA AS NOSSAS ESCOLAS?


                              



O Papa Francisco publicou uma encíclica (Louvado sejas, Editora Paulinas, 2015) em que se debruça sobre o que está a ocorrer no planeta Terra, devido à imoderação com que o homem trata o ambiente e propõe, à luz do Evangelho e da doutrina da Igreja, soluções para uma sociedade com menos desigualdades sociais, menos agressiva ao homem e ao ambiente e mais promotora do Bem Comum.
Mas, o que é que a Ecologia tem a ver com as desigualdades sociais e ser promotora do bem para todos? Na verdade, se observarmos os programas de disciplinas de Ecologia e de Ciências da Natureza nos ensinos básicos, secundário e superior, eles afloram, de uma maneira geral, os temas ecológicos segundo uma perspectiva muito redutora, considerando essencialmente aspectos técnico-científicos, não dando o salto para os problemas sociais advenientes de um desequilíbrio, provocado pelo homem, no ambiente.
A poluição e as mudanças climáticas, a questão da água, a perda da biodiversidade, a deterioração da qualidade de vida humana e a degradação social, a desigualdade planetária são alguns dos problemas que o Papa Francisco levanta logo no primeiro capítulo da sua encíclica.
Afinal, a que estamos hoje a assistir? Combatem-se as consequências de uma indústria poluidora com produtos antipoluentes de uma outra indústria que polui; para um estilo de vida frenético que põe em primeiro lugar o dinheiro, receitam-se tranquilizantes que intoxicam; as enfermidades que afectam as culturas vegetais atacam-se com pesticidas que provocam doenças no homem. Enfim, combate-se um mal, muitas vezes fonte de lucros só para alguns, com outro mal que continua a dar lucro agora, para outros e, às vezes, até para os mesmos. E tudo isto em nome do progresso, sem se atenderem às verdadeiras causas dos desequilíbrios existentes.
Há, pois, que desmontar toda uma engrenagem exploradora que nos amordaça. Há que tornar o sistema de ensino, do básico ao superior, um agente de transformação de um novo estilo de vida. E, para isso, muito pode contribuir uma perspectiva ecológica transdisciplinar que não descure o homem e a sociedade.


                                                Mário Freire 

domingo, 17 de abril de 2016

RESPEITO PELO AMBIENTE OU OPERAÇÃO DE MARKETING ?




            As espécies animais e vegetais estão em declínio; em consequência, não só a biodiversidade do planeta mas também as reservas de alimentos e de água potável de que dependem milhões de pessoas, estão em risco. Nos países ricos, a maior parte dos habitantes depende sobretudo das espécies domésticas para a sua alimentação; tal não acontece nos restantes países em que ainda existem milhões de pessoas que dependem da caça e da pesca. Daí resulta que os ecossistemas estão sujeitos a fortes pressões, como resultado do crescimento demográfico e da exploração crescente dos recursos naturais. São, muitas vezes, utilizados métodos que destroem os habitats e conduzem rapidamente à extinção das espécies. Essa redução atinge um valor elevado nalgumas com interesse comercial. As espécies estarão cada vez mais ameaçadas e a nossa sobrevivência posta em risco se não forem respeitados os limites impostos pela natureza. Só assim será possível ter uma economia, desejavelmente, verde.
             As espécies invasoras representam uma séria ameaça à diversidade biológica. É necessário tomar medidas de prevenção e de sensibilização que previnam e promovam a erradicação destas espécies, quer à escala nacional quer à escala mundial de modo a limitar os prejuízos que elas causam. Em contrapartida, existem espécies que contribuem especialmente para a melhoria do ambiente. Por exemplo, uma árvore pode produzir num ano o oxigénio que dez pessoas respiram nesse mesmo período. Também os moluscos bivalves e algumas plantas aquáticas têm uma contribuição importante para a purificação da água das zonas húmidas. 
“O bater de asas de uma borboleta em Nova Iorque desencadeia uma tempestade em Pequim”. Esta frase tão popular refere-se ao “efeito borboleta” da Teoria do Caos. E qual é a relação desta frase com a extinção das espécies? Na ecologia ela é muitas vezes lembrada, pois que, por exemplo, a cadeia alimentar, é gravemente perturbada pela perda das espécies, e consequente desaparecimento dos predadores.

         O mercado e as empresas, também conhecem a importância que a biodiversidade tem para todos nós; daí a preocupação e o interesse que demonstram na preservação das espécies e a forma como fazem a sua divulgação, cativando desse modo clientes ambientalmente responsáveis. Por outro lado, as empresas na sua ânsia de aumentar os lucros, estão atentas às vantagens que poderão resultar da adesão à ideia de economia verde. Daí que uma grande cadeia de distribuição em Portugal, tenha anunciado recentemente com grande pompa e circunstância, que não será possível encontrar à venda nas suas lojas, espécies píscícolas que tenham sido declaradas em perigo de extinção.


                                    FNeves

quinta-feira, 14 de abril de 2016

PARTICIPAÇÃO E AUTONOMIA EM EDUCAÇÃO





                       
Têm tido lugar na Escola Superior de Educação de Lisboa reuniões de um grupo de pessoas ligadas à educação que não se conforma com a actual situação educacional do País. Esse grupo enunciou um conjunto de Princípios Orientadores e de Acção e elaborou algumas Propostas para a Melhoria da Educação. Esses Princípios e essas Propostas podem ser lidas no Jornal de Letras de 24 de Junho a 7 de Julho de 2015.
Nesse grupo falou-se “numa escola exaurida, donde desapareceu, para muitos alunos e professores, o gosto por aprender e ensinar, transformada em campo de treino para exames, sendo indispensável mudar este estado de coisas. Mas mudar como, quando todos estão fartos e cansados de tanta mudança absurda?” De entre os vários temas abordados, destacaria dois: a participação e a autonomia.
Quanto à participação, nenhuma escola está impedida, junto dos cidadãos, de lhes solicitar a definição dos objectivos da educação e as diferentes formas de os concretizar. A comunidade em geral não deve alhear-se do que se passa na escola porque dela sairão, bem ou mal, os cidadãos que tomarão o futuro nas suas mãos. Por outro lado, há que incentivar a participação dos pais, solicitando-lhes sugestões e propondo-lhes tarefas que possam contribuir para uma maior valorização da escola e dos alunos. Além disso, essa participação deveria estender-se aos alunos, propondo-lhes, por exemplo, que sugerissem itens que pudessem figurar no Regulamento da Escola. Uma maior participação nesse Regulamento implicaria uma maior responsabilidade no seu cumprimento.
Quanto à autonomia, a escola já não é, apenas, um espaço onde só se ensina e aprende. Ela desempenha funções no domínio da alimentação dos alunos, no seu apoio psicológico, na acção social, na detecção de maus-tratos… Por outro lado, ela tenta encontrar estratégias que procurem dar respostas a múltiplas situações de alunos provenientes de famílias disfuncionais ou com graves carências de vária ordem. Por isso, “a escola deve dispor de autonomia financeira, pedagógica e administrativa que possa fazer face às situações que se lhe apresentam”. O grupo propõe, ainda, que “a direcção dos agrupamentos deveria ser revista de modo a respeitar a especificidade dos vários graus de ensino e a idade dos que os frequentam.

Foram, apenas, dois tópicos que foram abordados. Muitos outros dos estabelecidos mereceriam, pelo menos, serem reflectidos e, se possível, concretizá-los. 

                Mário Freire

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O QUE NÃO FAÇO






Impossível
Escrever para ti
Quando os meus versos se partem
À medida que passas.

Impossível
Talhar-te em espaços
Quando os meus esquemas
São estudos menores
Comparados à tua radiosa clarividência.

Impossível
Não ceder ao ceticismo
Não esfarrapar as palavras
Perante a arrogância das noites paradas
E das caminhadas sem resposta.

Impossível, ainda
Ir beber do teu vinho.
Entregar-me num gesto
E refugiar-me na primeira porta
Só por ter medo de pernoitar ao relento!...


In”PEDAÇOS”

Aldina Cortes Gaspar



sexta-feira, 8 de abril de 2016

GENTILEZA




Gentileza, qual conceito,
é um termo que cai bem.
Se encarada é a preceito,
não é coisa, mas alguém.

Ser gentil é, com certeza,
mais que simples convenção.
Tem seu teste a gentileza

no pulsar do coração.

Qual virtude, é fascinante.
Onde o estro que bem cante
variantes de tal tema?

Possa todo o meu apreço
ser, ao menos, um começo
de quem nela vê seu lema.

João d'Alcor



terça-feira, 5 de abril de 2016

VÍCIOS ALIMENTARES E SAÚDE PÚBLICA






A partir deste ano Portugal tem nova legislação que vem alterar o Código da Publicidade no que diz respeito à publicidade de alimentos nocivos para as crianças, à semelhança do que acontece noutros países europeus. São visados sobretudo os alimentos e as bebidas com alto conteúdo de açúcar, gordura e sal considerados como um problema de saúde pública. Estes alimentos e bebidas não poderão ser publicitados a menos de 500 metros das escolas nem nos 30 minutos anteriores ou posteriores a programas de televisão e de rádio infantis ou juvenis cujas audiências tenham um mínimo de 20% de público com idade inferior a 12 anos. Os termos da lei acrescentam que fica igualmente vedada a publicidade a alimentos ou bebidas de elevado teor de açúcar, gordura ou sódio na internet em sítios ou páginas com conteúdos destinados a um público infantil ou juvenil.
De facto, o consumo de açúcar, de sal e de gordura tem vindo a aumentar em praticamente todo o mundo desenvolvido de uma forma preocupante, sobretudo se tivermos em consideração os inúmeros estudos científicos que apontam para estas substâncias como sendo uma das principais causas do número crescente de crianças e de adultos com obesidade, diabetes, cáries e doenças cardiovasculares, agravando inclusive o estado geral de saúde durante o período de envelhecimento. O excesso da ingestão de carnes vermelhas processadas (hambúrgueres industriais, salchichas, enchidos, enlatados), açúcar, gordura e sal, bem como o consumo escasso de alimentos frescos, fruta e vegetais aumenta também o risco do cancro no colón.
Por toda a parte os produtos processados com elevado teor de açúcar, seja nos alimentos seja nas bebidas, tornaram-se o principal inimigo público dos sistemas nacionais de saúde. Neste contexto, a Direcção-Geral de Saúde apresentou uma proposta para reduzir o consumo de açúcar em Portugal: as saquetas individuais de açúcar utilizadas nos cafés e restaurantes vão passar a ter metade da quantidade, passando de oito para quatro gramas por embalagem.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo dos açúcares simples se situe abaixo de 10% das calorias ingeridas diariamente, advertindo que a redução dessa percentagem para 5% proporciona efeitos benéficos adicionais para a saúde. Segundo os dados disponíveis, estima-se que, em média, o consumo do açúcar pelas crianças em Portugal ronde os 25% das calorias consumidas diariamente, ou seja, cinco vezes mais do que o recomendado.       Para termos uma noção das quantidades em questão basta dizer que, em média, 5% das calorias diárias equivalem a 25 gramas de açúcar, que correspondem sensivelmente a seis colheres de chá. Ora, existem no mercado refrigerantes que podem conter em cada garrafa ou lata individual uma porção de açúcar equivalente a 10 colheres de chá. Quer dizer, uma só bebida destas faz-nos ingerir inadvertidamente mais açúcar do que a quantidade diária aconselhada pela Organização Mundial de Saúde.
Por outro lado, a OMS chama ainda a atenção para o facto de grande parte do açúcar consumido diariamente estar incluído em alimentos que não são considerados doces ou bolos, como as comidas processadas, os molhos industriais, as massas, as pizas e o pão. Por exemplo, são comercializados flocos ditos de cereais para crianças cuja percentagem de açúcares (patente nos rótulos de declaração nutricional) chega a ultrapassar os 40% da composição do produto embalado, quando o aconselhável para qualquer alimento processado seria não exceder as 10 gramas de açúcares por cada 100 gramas de produto.
Muitos açúcares encontram-se dissimulados nos alimentos processados com nomes distintos na declaração nutricional: sacarose, frutose, glicose, lactose, dextrose e muitos outros. Estas substâncias apresentam nomes diferentes porque têm uma composição química diversa, mas são todas igualmente nocivas porque originam o aumento do nível de açúcar no sangue interferindo com os ciclos naturais de insulina e neptina. O mesmo acontece com os adoçantes artificiais.
Estima-se que as doenças provocadas pelo elevado consumo de açúcares custem, em média, 5% a 10% do orçamento de saúde dos países industrializados. No Reino Unido, por exemplo, o número de doentes com obesidade e diabetes tipo 2 aumentou em 65% na última década, o que custa cerca de um milhão de libras por hora ao serviço nacional de saúde, sem contar com as consequências sociais das baixas médicas e o sofrimento individual de cada paciente. O Reino Unido tem hoje, oficialmente, mais de quatro milhões de diabéticos e uma média de 700 novos casos diagnosticados por dia. Cerca de 90% destes doentes tem diabetes tipo 2, relacionado com o excesso do consumo de açúcar e a falta de atividade física. Segundo dados publicados pelo respectivo serviço nacional de saúde, dois terços da população adulta britânica é obesa ou tem excesso de peso.
Os alimentos industriais processados com elevado conteúdo de açúcar, sal e gordura tornaram-se omnipresentes na vida contemporânea. Não precisam de ser cozinhados, são quase sempre saborosos, e por vezes são até mais baratos do que os alimentos naturais. Mas o preço a pagar pela ausência de uma dieta natural variada e pelo consumo sistemático e excessivo de grande parte destes produtos é enorme.
A obesidade infantil e juvenil tornou-se um dos problemas crescentes de saúde pública  das sociedades ocidentais. Limitar a publicidade massiva desses produtos é um primeiro passo importante, mas é certamente insuficiente. É necessário, em simultâneo, promover o consumo de alimentos naturais e educar as crianças na escola e no seio da família por forma a adquirirem hábitos alimentares saudáveis.
É hoje praticamente consensual na comunidade científica que o ser humano não tem gostos inatos. O gosto por determinados alimentos em detrimento de outros é adquirido desde a infância de acordo com certos hábitos familiares e culturais. Usar as guloseimas como recompensa para o bom comportamento infantil é uma lição que não se esquece ao longo da vida. É fácil aprender a gostar de alimentos doces a ponto de não podermos passar sem eles.
O açúcar é altamente viciante. Estudos recentes vieram demonstrar que a ingestão de açúcar liberta no cérebro humano substâncias químicas orgânicas que dão a sensação de prazer. As áreas do cérebro que são ativadas pela ingestão de açúcares são as mesmas que são ativadas pelo consumo de drogas como a cocaína ou a heroína. O consumo repetido e exagerado de açúcar na comida e nas bebidas pode assim tornar-se um vício equivalente a uma dependência química. Quanto mais refrigerantes ou doces se comem mais apetece comer.
Um vício alimentar traduz-se no desejo compulsivo de consumir determinados alimentos de forma excessiva e descontrolada. Quase sempre o indivíduo tem consciência de que a sua maneira de comer, ou de beber, é prejudicial à sua saúde e à sua forma física, mas não consegue conter-se. Tornou-se fisiológica e psicologicamente dependente.
Nestas circunstâncias, o aconselhamento psicológico pode ser tão importante quanto a orientação nutricional. Não é fácil, mas se os gostos alimentares são aprendidos e adquiridos também podem ser corrigidos e reaprendidos. Porém, a dependência fisiológica e psicológica de alimentos viciantes e nocivos como o açúcar, o sal e a gordura só pode ser combatida com eficácia quando a pessoa afetada reconhece que precisa de ajuda e está disposta a convocar a sua motivação intrínseca e a sua força de vontade no sentido da mudança de hábitos alimentares. A questão é particularmente delicada no que diz respeito às crianças e aos adolescentes uma vez que a sua falta de maturidade e a exposição permanente à publicidade nos meios de comunicação social, nos espetáculos e na internet contribuem para enfraquecer os mecanismos de defesa e de autocontrolo.


                  Rossana Appolloni