terça-feira, 28 de janeiro de 2014

PISA: SIM, MAS...


      Para quem ande um pouco afastado das lides da educação, talvez interesse esclarecer que PISA (Programme for International Student Assessment) é um Programa internacional que visa avaliar as aquisições dos alunos. Essas aquisições dizem respeito aos conhecimentos e competências consideradas essenciais nas sociedades modernas para que alguém nelas possa ter uma participação com significado. Ora, identificaram-se três campos de avaliação: a compreensão da Leitura, a Matemática e a Ciências.
Mais do que verificarem o domínio que os jovens de 15 anos têm sobre essas matérias, o PISA procura ver em que medida eles usam os conhecimentos que adquiriram, tendo em vista enfrentar os desafios que hoje se lhes colocam.
A primeira recolha de informação teve lugar em 2000. Seguiram-se mais quatro avaliações, sendo a última em 2012, com a participação de 65 países e o envolvimento de 510 000 alunos, cujos resultados foram há pouco divulgados.
Os inúmeros dados agora publicados reflectem um exaustivo estudo de múltiplas variáveis que vão desde a comparação dos desempenhos dos alunos dos 65 países, nos diferentes campos, considerando aspectos socioeconómicos, equidade, motivação dos alunos, imagem que estes têm de si próprios, expectativas dos pais em relação ao futuro dos filhos, etc., etc..
Ora, Portugal, nesta avaliação, encontra-se, em pontuação, um tudo-nada abaixo da média, numa diferença sem significado estatístico (Matemática – 487 pontos, média 494; Leitura – 488 pontos, média 496; Ciências – 489, média 501).
Entre 2003 e 2012, Portugal foi conseguindo melhorar os seus desempenhos, ao mesmo tempo que reduziu a parcela de baixo desempenho em Matemática. Destaca-se, ainda, que o nosso País foi daqueles que, de entre os países da OCDE, mais melhorou no âmbito da compreensão da Leitura.
Sem entrar em pormenores de análise, diria que Portugal, no que se refere aos resultados do Pisa, já faz parte de um grupo em que entram outros países da U.E. Já não ficamos envergonhados! Mas é com os primeiros da classificação que temos que nos comparar e com esses… ainda há algum caminho a percorrer!

                                         Mário Freire

             

domingo, 26 de janeiro de 2014

SUBSTITUIR EMOÇÕES POR SENSAÇÕES RESOLVE?


No texto anterior vimos que a cada emoção corresponde um comportamento. É a emoção que nos leva a agir e são os eventos externos que, ao provocarem um determinado impacto em nós, nos conduzem a ter determinada atitude. Muitas vezes esses comportamentos são involuntários, fruto da chamada perda de controlo. No entanto, também podemos optar por um percurso de autoconhecimento que nos vai permitindo afinar os nossos comportamentos, não por imposição e/ou manipulação dos mesmos, mas simplesmente por compreensão dos eventos externos e do impacto que estes criam em nós.
Um curto-circuito no percurso entre o evento externo, a emoção sentida e o comportamento pode provocar descontrolo ou uma manifestação incoerente entre o que sentimos e o que queremos comunicar.
Quando uma emoção não encontra forma de se expressar, facilmente entramos num mecanismo de substituição no qual tentamos substituir - ou melhor, abafar – uma emoção através de uma sensação. Assim, quando a intensidade emocional é forte e nos bloqueia, recorremos a algo que nos proporcione uma sensação física forte de forma a deixar de sentir tal emoção: por exemplo, recorremos a comida, álcool, drogas, sexo, etc. para sentirmos fisicamente algo aparentemente positivo na ilusão de aliviar aquela tensão emocional que, quando não expressa de forma adequada, nos cria desconforto.
Sentir prazer através da ingestão de álcool, ou comida, por exemplo, alivia momentaneamente a tensão, mas a emoção que está na origem do desconforto voltará enquanto não for expressa. Assim, aprender a comunicar as emoções que sentimos é a única forma de parar com que sejam elas a controlar a nossa vida.
Fazer a leitura dos eventos, isto é, compreender o que eles provocam em nós, ouvir o que sentimos dentro de nós e conseguirmos exprimi-lo é uma aprendizagem possível. E aí somos nós que estamos ao leme do nosso barco e decidimos para onde ir, e não o barco a levar-nos para paradeiros incertos.

                                      Rossana Appolloni

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ECOLOGIA


Fora dado o nome Mundo
ao conjunto do que existe.
Que sentido tão profundo:
Puro é. Em tal consiste.

Mundo limpo vem a ser;
aliás, por natureza.
Quem imundo o pode ver,
sem horror por tal surpresa?

Vendo a Terra, em sofrimento,
ninguém perca um só momento,
no empenho de a sanar.

Ela aguarda, olhar atento.
Vamos nós dar-lhe o alento
e seu rosto irá brilhar.

João d’Alcor



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

DEFORMAÇÃO DAS ROCHAS NA CROSTA TERRESTRE


Dobras no Carbónico alentejano (Foto de Luís Quintas)
Quem tenha o hábito de olhar para as rochas, no campo, reparou certamente que, muitas vezes, os estratos das sequências sedimentares ou metamórficas se apresentam dobrados e enrugados, exibindo aspectos por vezes muito diferentes do que foi o seu modo de jazida original, isto é, sobrepostos horizontalmente. Para quem não está preparado, estas ocorrências não deixam de ser intrigantes, sobretudo, habituados que estamos a considerar as rochas como materiais rígidos, quebradiços, e que, como tal, teríamos tendência a considerar indeformáveis, em termos de plasticidade e maleabilidade.
Observou, ainda, que certas rochas, como são, entre outras, os xistos argilosos e as ardósias, se apresentam finamente laminadas, assumindo fissilidade ou xistosidade, um tipo particular de deformação independente da inclinação das camadas, mas que reflecte a direcção do esforço compressivo a que estiveram sujeitas, direcção essa que é perpendicular ao plano da referida fissilidade. Nos flancos das dobras, a xistosidade tende a ser paralela à estratificação, ao passo que na charneira das mesmas tende a ser perpendicular.


                      Xisto argiloso. (Imagem retirada de www.cienciahoje.pt



Por força da gravidade terrestre, a estratificação das rochas sedimentares é, em princípio, inicialmente plana e horizontal. Relativamente a estas rochas, as estruturas observáveis no terreno, ou seja, a forma, a disposição e as relações entre os estratos resultam dos próprios processos que lhes deram origem e, ou são contemporâneas da deposição (ou sedimentação) de cada unidade, ou são consequência de transformações e deformações posteriores.


  Estratificação não deformada no Grand Canyon do Colorado, no Arizona, EUA


Além desta condição, as rochas sedimentares possuem, geralmente, fósseis e outros elementos, cuja forma original é conhecida, permitindo medir o valor de eventuais deformações sofridas.



          Trilobite (Neseuretus) do Ordovícico de Valongo, deformada. (Imagem obtida em www.fossilmall.com)
 
A deformação das rochas durante a formação de uma cadeia de montanhas, ou orogénese, resulta, sobretudo, das pressões (a litostática e as orientadas) que as afectam no interior da crosta, controladas pelas temperaturas aí reinantes, e depende da natureza dessas rochas.
O aumento da pressão litostática e da temperatura com a profundidade, além de promoverem o metamorfismo, transformam os materiais rígidos em outros cada vez mais plásticos (dúcteis), a ponto de se comportarem como um líquido muito viscoso, situação que antecede a sua transformação num magma. Nestas condições, as pressões orientadas responsáveis pela orogénese podem dobrar, enrugar ou fazer fluir materiais que, à superfície, se comportam como rígidos. O tempo é ainda um factor determinante nestes processos extremamente lentos, que necessitam de dezenas e até de centenas de milhões de anos para se consumarem.

Nas rochas que, pela sua natureza e pelas pressões e temperaturas a que estiveram sujeitas, apresentam comportamento quebradiço, a deformação manifesta-se apenas pela existência de numerosos planos de ruptura, ou falhas. Pode, neste caso, falar-se de deformação descontínua, sendo o cisalhamento o principal mecanismo.



  As rochas fracturam-se mas não dobram. (Imagem retirada de cien ciasreticencias.webnode.pt)


A partir de uma certa profundidade, as rochas começam a adquirir plasticidade (ductilidade), ou seja, passam a ter capacidade de se deformar sem sofrer fracturação, levando ao aparecimento de dobras. Nestas condições, os estratos adquirem curvaturas mais ou menos acentuadas, sem que haja variação sensível da sua espessura ao longo dos diferentes sectores da dobra. São as dobras isopacas ou concêntricas.



    Dobras isopacas ou concêntricas Foto de José Carlos Kullberg)


Num estádio mais evoluído da deformação, em condições termodinâmicas correspondentes a maiores profundidades, onde a ductilidade é já suficientemente grande, as rochas, de um modo geral, sofrem um achatamento generalizado, segundo uma direcção perpendicular à do esforço máximo a que são sujeitas. Deste modo, as rochas argilosas adquirem xistosidade e as dobras ficam com espessuras diferentes, mais delgadas nos flancos do que nas charneiras. São as dobras anisopacas ou achatadas.




Dobra anisopaca ou achatada (Imagem retirada de www.cprm.cov.br)


Em condições extremas de pressão e temperatura, correspondentes a grandes profundidades, as rochas comportam-se como fluidos viscosos, originando um tipo de dobras bastante diferente das anteriores, designadas por dobras de fluência.



    Dobras de fluência em migmatito (Imagem obtida em science.nationalgeographic.com)

A deformação não é a mesma em todos os pontos de uma cadeia montanhosa, o que se comprova pelo facto de exibirem zonas intensamente deformadas passando, gradualmente, a outras, onde esse efeito não se faz sentir. As correspondentes estruturas são tão variadas quanto as pressões e temperaturas que as criaram e quantos os tipos de rocha ali representados. Assim, nas cadeias orogénicas é possível distinguir vários domínios ou níveis estruturais, escalonados consoante as profundidades a que se deram as respectivas deformações.

No nível estrutural superior a deformação faz-se, essencialmente, por fracturação, que tem lugar nas zonas mais superficiais da crosta sob pressões litostáticas muito fracas ou, mesmo, nulas. Apenas as rochas muito plásticas (argilitos e evaporitos) chegam a dobrar. É o domínio das falhas ou das fracturas. No nível estrutural médio predomina a flexão; os materiais apresentam comportamento dúctil. É o domínio ou zona das dobras isopacas ou concêntricas, frequentemente acompanhadas de fracturação e de fendas de expansão no bordo convexo das dobras. No nível estrutural inferior, muito vasto e podendo atingir espessuras de 20 a 30 km, predomina o achatamento, evidenciado pela xistosidade, nas zonas mais elevadas. Abaixo destas faz-se sentir a fluência e, finalmente, a anatexia, isto é, a fusão dos materiais e consequente magmatismo que conduz à formação dos migmatitos e dos granitos.


Granito (Imagem obtida em www.granitosmarujo.com)



Galopim de Carvalho

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

HISTÓRIA, ECONOMIA E AMBIENTE


A história da humanidade foi feita de maneira tal que sempre se procurou na natureza tudo o que necessitámos para a nossa sobrevivência imediata, para usar no futuro e para obter o que o meio ambiente não nos oferece directamente, através das trocas comerciais.
Os nossos antepassados, em geral, agiam de forma a esgotar uma determinada fonte de recursos naturais, abandonando-a em seguida. Partiam depois em busca de novos locais onde pudessem encontrar os recursos desejados.
            Com a descoberta de novos continentes e de novas formas de comunicação, houve um grande incremento das relações comerciais entre os povos. A invenção das máquinas e a descoberta de novas fontes de energia, permitiu a industrialização o que levou à produção em massa. Desse modo, a situação transformou-se radicalmente. A população mundial cresceu de uma forma quase incontrolável. As cidades tornaram-se enormes aglomerados de pessoas.
 A questão é que os sistemas económicos dos países mais ricos e poderosos foram sendo impostos ao resto do mundo e, com isso, o modo de vida desses países foi sendo reproduzido em outros mais pobres, menos desenvolvidos e com menor grau de justiça social. Assim, para dar conta de tantas mudanças, produzindo cada vez mais produtos e em quantidades sempre maiores, foi necessário explorar as riquezas do nosso planeta a uma velocidade muito grande, não permitindo a sua lenta recomposição natural.
É cada vez mais difícil para os seres humanos sair do lugar onde vivem, quando a natureza já não responde às suas necessidades de sobrevivência, e fixar-se noutra região. Agora temos de enfrentar os resultados da exploração inconsequente dos recursos naturais, convivendo com um ambiente muito degradado. Precisamos pois de encontrar soluções viáveis e imediatas para interromper a destruição e recompor o ambiente vital do nosso planeta.

                                      FNeves

sábado, 18 de janeiro de 2014

CORAGEM: AGIR COM O CORAÇÃO!


Na base das nossas ações estão as emoções. A cada emoção corresponde um comportamento específico, que será diferente para cada um de nós. Se, por um lado, esse comportamento pode revelar-se útil para ultrapassar os desafios da vida, por outro lado, pode bloquear a pessoa e criar mal-estar.
Sentir medo num determinado momento pode ser positivo na medida em que nos leva a fugir e a salvar-nos da situação. No entanto, noutras circunstâncias, há pessoas que podem ficar bloqueadas pela incapacidade de dar expressão àquilo que sentem. Não se trata, portanto, de controlar as emoções, como se fizessem parte de um mecanismo possível de controlar a nosso gosto. Trata-se de aprender a dar espaço às emoções para que se manifestem de forma adequada.
A raiz da palavra emoção em latim é moveo (movimento) com o prefixo «e-» (origem), o que indica que em cada emoção está implícita uma tendência para agir. Há emoções que não se aprendem, já nascem connosco: é o caso da raiva, da tristeza, do medo, da alegria, do amor, da surpresa, da repulsa e da vergonha.
As emoções são provocadas pelos eventos externos e a leitura que fazemos deles provoca um determinado impacto dentro de nós, o qual, por sua vez, dá origem a uma ação. Por essa razão é que a mesma situação pode provocar emoções diferentes nas pessoas: depende da leitura que cada um faz e o impacto que esse evento tem, que é diferente de sujeito para sujeito. É importante termos um autoconhecimento que nos permita identificar o que sentimos e em que circunstâncias o sentimos para que haja uma comunicação dentro de nós que nos facilite um comportamento coerente com a nossa vontade e intenção.
Quando não conseguimos gerir de forma consciente e voluntária esta passagem do impulso externo à ação, cria-se uma espécie de curto-circuito no canal e a emoção acaba por se manifestar de forma distorcida. Conhecermo-nos é então um ato de coragem. A palavra coragem vem do latim agir com o coração (cor coração + atĭcum ação). Ter coragem é simplesmente agir de acordo com o que verdadeiramente sentimos.


                                            Rossana Appolloni

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

DUETO



Há pensar p’ra bem agir;
mal agir por não pensar.
Muito monta conseguir
ambos termos destrinçar.

No pensar se teoriza;
nele entra a ‘speculação.
No agir se concretiza,
fruto havendo de uma acção.

Pensamento faz sentido
onde o agir é direcção,
rumo ao alvo pretendido.

Ter em consideração
cada um, ao outro atido,
leva o dueto à perfeição.

João d’Alcor

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A TRANSIÇÃO DO SECUNDÁRIO PARA O SUPERIOR



         Melissa Roderick é uma professora da Universidade de Chicago que participa num projecto entre aquela universidade e as escolas públicas da cidade, tendo em vista preparar a transição dos alunos do secundário para o superior (Rede para o sucesso na faculdade).
            Ela, em vários estudos que tem realizado sobre esta temática, identifica, como ponto crítico do percurso escolar dos alunos que desejam continuar a sua formação académica, esta transição. Para fazer face a tal passagem, as escolas secundárias, ao mesmo tempo que tentam envolver os pais, levam a cabo, com tempo, um conjunto de actividades de apoio aos alunos.
            Esta Rede procura que os alunos possuam os conhecimentos essenciais, tendo em vista a área a que se destinam e que melhorem as suas estratégias de fazer face aos exames. Há, para isso, que desenvolver capacidades cognitivas e não-cognitivas; de entre estas, destaca-se a aquisição de hábitos de estudo e de trabalho.
A gestão do tempo é também capacidade a ter em conta, identificando as actividades importantes e não-importantes e as urgentes e não-urgentes, fazendo a distinção delas através do tempo que lhes é destinado e do momento em que têm lugar.
A incentivação de comportamentos de procura de ajuda, assim como o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas, sejam eles de que natureza for, são aspectos de grande relevância, tendo em vista procurar caminhos válidos e persistir perante as dificuldades.
Claro que na primeira linha desta Rede estão os gabinetes de aconselhamento onde os alunos são informados das diferentes vias que podem seguir, ajudando-os a escolher as faculdades, a procurar os apoios financeiros e outros…
Entrar no ensino superior é importante mas não chega. Há que ir devidamente informado para onde se vai, do que se exige e a que conduz; mas, também, estar capacitado para vencer as dificuldades que vierem a acontecer. 
  

                                                     Mário Freire

domingo, 12 de janeiro de 2014

SERMOS FELIZES PARA SERMOS BONS PAIS



Ser pai hoje em dia é um compromisso com desafios que podem ser difíceis, sobretudo pelo pouco tempo disponível para se dedicar à família e, em especial, aos filhos. Para quem trabalha, a sociedade exige cada vez mais uma maior dedicação ao campo profissional, em detrimento de outras áreas da vida. Perante este cenário, quando os pais estão muito ocupados e se encontram numa situação de poderem escolher entre passar tempo com os filhos e fazer algo de que gostam mas que eventualmente não inclua estes últimos, normalmente a escolha recai sobre a primeira opção. No entanto, há que distinguir entre a quantidade e a qualidade de tempo destinado aos filhos. Pode até ser contraproducente exigir-se dedicar determinado tempo à família se esse tempo não tem qualidade. Já o ditado popular diz que “é sempre melhor pouco, mas bom”.
Dar prioridade a fazer o que se gosta é uma forma de recarregar energias e sentir-se bem. Ora, ser feliz é uma das qualidades mais importantes que os pais podem ter. A felicidade e todas as emoções em geral são contagiosas, pelo que se os pais sentirem ansiedade e stress, os filhos vão absorver esse tipo de energia.
Se, pelo contrário, os pais estiverem alegres e contentes, as crianças vão sentir igualmente essas emoções. Por outro lado, sentir-se bem contribui enormemente para se ser melhor como pais, pois tornamo-nos inevitavelmente mais afetuosos, mais tolerantes, mais abertos a ouvir e a comunicar.
Dar primazia a uma atividade que provoca bem-estar pessoal e individual também é importante para o papel dos pais na medida em que ao fazerem isso, os seus filhos aprendem a fazer o mesmo. Passar tempo com amigos, dedicar-se a uma atividade criativa ou a um deporto, seja o que for que proporcione felicidade, vai suscitar o desejo nos filhos de seguirem o mesmo caminho. E esse é um caminho feliz!

                                                     Rossana Appolloni

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

DORMIÇÃO



Porque dorme a Natureza?
Que mistério há no dormir?
Fui levado a descobrir
quanto o sono tem beleza,

quer no rosto da criança
resguardada, a dormitar,
quer na planta, a descansar,
nua e cheia de esperança.

Uma, em paz, vejo a sorrir,
tão refeita, ao acordar.
Outra se ergue já a florir.

Quando a morte é dormição
aliada ao despertar,
a penhora é salvação.


João d’Alcor

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

SUSTENTABILIDADE OU CRESCIMENTO ECONÓMICO?



A Europa depende fortemente dos recursos naturais para alimentar o seu crescimento económico. Os padrões de produção e de consumo do passado e do presente suportam um crescimento substancial da riqueza. Ao mesmo tempo, crescem as preocupações quanto à sustentabilidade desses padrões, em especial no que respeita às consequências do uso excessivo dos recursos disponíveis.
O relatório da Agência Europeia do Ambiente revela que a procura mundial de recursos naturais para alimentar, vestir, alojar e transportar a população está a crescer. Esta procura galopante, que incide sobre o capital natural, exerce uma pressão acrescida sobre os ecossistemas e as economias, afectando a coesão social na Europa e noutras partes do mundo. No entanto, o relatório confirma que políticas ambientais, inteligentemente concebidas, poderão contribuir para preservar o ambiente sem comprometer o crescimento.
A eficiência da utilização de recursos melhorou, ao longo das últimas duas décadas, com a utilização de tecnologias mais eco eficientes. Registam-se, no entanto, na Europa diferenças substanciais ao nível da eficiência da utilização desses recursos. “Consumimos mais recursos naturais do que é ecologicamente estável. Isto é válido tanto para a Europa como para o planeta na sua globalidade. Até ao momento, as alterações climáticas são os sinais mais visíveis de instabilidade, mas uma série de tendências a nível mundial pressagiam a emergência de maiores riscos para os ecossistemas, no futuro. A natureza da actual crise financeira deveria fornecer-nos um primeiro elemento de reflexão”, afirmou Jacqueline McGlade, directora executiva da Agência Europeia do Ambiente.
Os desafios que se colocam atualmente são no sentido de melhorar a conservação dos recursos escassos, de aumentar a eficiência de uso de factores de produção, de diminuir os consumos energéticos e de melhorar ainda mais as tecnologias associadas à produção. Para que seja possível uma mudança radical no sentido de uma economia verde, eficiente em termos de recursos, é necessário que todos os recursos ambientais (a biodiversidade, os solos, o carbono, os rios, os mares e o ar que respiramos) sejam tidos em consideração nas decisões relativas à produção, ao consumo e ao comércio global. Não existem soluções rápidas, mas as empresas e os cidadãos devem trabalhar em conjunto para encontrar formas inovadoras de utilizar os recursos de maneira mais eficiente. As sementes para a acção futura estão lançadas; temos pela frente a tarefa de fazer com que elas ganhem raízes e floresçam.

                                                  FNeves



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

EUSÉBIO, SOARES E AMÁLIA , LÁ LONGE, NO ARIZONA




 Não sou do Benfica nem de nenhum outro clube de futebol. Pertenço àquela classe de cidadãos que acha que há futebol a mais na nossa comunicação social. Mas Portugal é o que é e o “rei” deu grandes momentos de felicidade a milhões de portugueses. E estou-lhe grato por isso. Sempre tive grande simpatia pelo Eusébio, assim como tive pelo grande e malogrado Joaquim Agostinho, dois homens caracterizados por aquela humildade sadia que só os grandes sabem ter.

No dia do seu passamento, ocorre-me recordar um episódio que testemunha o quanto ele foi importante à escala mundial.
Numa das últimas vezes em que participei na grande Feira Internacional de Minerais e Gemas de Tucson; não quis deixar de fazer a quase religiosa peregrinação ao monumental Grand Canyon do Colorado, que tem ali, no Arizona, a sua mais grandiosa expressão e onde, pela primeira vez, me deparei, no concreto, com a enormidade do tempo geológico. Estão ali à vista, nos mil e seiscentos metros de  profundidade deste vale, cerca de dois mil milhões de anos, pouco menos de metade da história do nosso Planeta.
Nessa deslocação pelos espaços subdesérticos do Far West americano, percorremos as planuras eriçadas de picos rochosos do Monument Valley, emblemática paisagem que John Ford divulgou por esse mundo através dos seus inesquecíveis westerns, e emocionei-me no bordo da Meteor Crater, um buracão com mais de um quilómetro de diâmetro e quase 200 metros de profundidade, aberto há cerca de 50 000 anos, num planalto desértico, pela queda de um gigantesco meteorito.





                                       Monument Valley




                                          Meteor Crater


Visitámos, ainda, em pleno deserto, uma pequena jazida com pegadas de dinossáurios, vistosamente anunciada à beira da estrada. Chegados ao local, marcado por uma espécie de barraca de madeira, com artesanato à venda, de onde sobressaía a bijouterie, à base de turquesa, surgiu-nos um navajo, com uma vassoura de cabo comprido nas mãos, e um crachá que o identificava como guia.
.A vassoura era para ir varrendo a areia que o vento ia transportando para dentro daquelas depressões tridáctilas deixadas pelos carnívoros que por ali andaram há mais de 200 milhões de anos. À medida que varria, o índio ia-nos dando, no seu inglês, aquelas explicações que dava a toda a gente na sua condição de guia. No fim da visita, este homem, que só não era um dos perseguidos pelos cow boys de John Ford, porque usava chapéu como o dos “camones”, calçava botas de tacão alto, blue jeans e camisa country, virando-se para nós, surpreendeu-nos ao dizer «are you portugueese?!». Face à surpresa que todos manifestámos, começou por dizer que, em criança, tinha frequentado a escola numa missão católica espanhola, e aprendera aí a falar o castelhano. Explicou, depois, que percebia perfeitamente a nossa conversa e que, por isso, devíamos estar a falar português. Sabia que Portugal ficava ao lado da Espanha, que a capital era Lisboa, banhada pelo rio Tejo. Este descendente, em linha directa, dos asiáticos que há milhares de anos atravessaram o estreito de Bering, coberto pela calote polar gelada, relegado nos confins da reserva que os colonizadores europeus lhe deixaram, no seu próprio torrão natal, sabia mais do que se passava fora do ermo onde vivia do que a média dos “caras pálidas”, seus concidadãos ditos civilizados. Sabia que o nosso presidente se chamava Mário Soares e, entusiasmado pela nossa admiração, falou-nos da Amália Rodrigues e do fado, que gostava de ouvir, e do Eusébio, que achava o maior jogador do mundo.

                                                   Galopim de Carvalho

sábado, 4 de janeiro de 2014

O BOM DE CONFESSAR SEGREDOS



Na infância todos nós aprendemos a guardar certos pensamentos ou a partilhá-los apenas com determinadas pessoas. Podem até ser só acontecimentos de pouca importância mas emocionantes, tal como um primeiro beijo, uma surpresa ou uma receita de cozinha.
Diferentes são aqueles segredos que se tornam um peso e um tormento, como pode ser o caso de uma violência sofrida, traições, dependências ou doenças. Para quem os guarda é de suma importância que ninguém os conheça, pelo medo das consequências que pode ter.
O efeito que um segredo tem sobre cada pessoa depende da quantidade de energia que emprega para o manter como tal. Quanto maior for a energia, quanto maior o esforço mental e o sofrimento, mais grave ele se torna. E quanto mais se tenta reprimir o pensamento, mais a sua presença de torna forte.
Por sua vez, quem guarda o segredo investe cada vez mais tempo com o que o tormenta. Guardar um segredo pode chegar a ter repercussões físicas, nomeadamente suores e outros tipos de desconforto. Portanto, manter silêncio coloca o corpo numa condição stressante e estar em stress provoca mal-estar. Durante a adolescência esta condição facilita problemas psicossociais, tais como a depressão e a baixa autoestima. As consequências podem mesmo ser inimagináveis.
Assim, pior do que as consequências de desvendar um segredo, é persistir em mantê-lo. Muitas vezes os segredos servem simplesmente para evitar o sofrimento de outra pessoa, mas o mal que a própria faz a si mesma não compensa!
Para sentir bem-estar é essencial que a pessoa goze de autonomia e liberdade de ser quem é, bem como de sentir que é aceite pelos outros. Ao guardar um segredo, a pessoa está a afastar-se das condições básicas para o seu bem-estar. Por isso, comece por partilhar os seus segredos com quem acha que o compreenderá e não emitirá juízos de valor. Ter um confidente é muito importante e reconfortante. Se não o tem, procure-o! Há sempre alguém disposto a ouvir e a ajudar, basta estar atento a quem o rodeia.


                                          Rossana Appolloni

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

DONATIVO



Todo o dom, porque é gratuito,
faz apelo à devoção.
Frequente ou mais fortuito,
dado é sem condição.

Entre o dar e o receber,
há chamada de atenção:
O caminho a percorrer
passa pelo coração.

Nele, sim, o verbo dar
sempre acaba por honrar
contemplado e doador.

Ser discreto eis a lição.
Donativo e gratidão
se conjugam no amor.

João d’Alcor