quinta-feira, 31 de outubro de 2013

OS CUIDADOS DOS PAIS E O FUTURO DOS FILHOS


            As experiências positivas ou negativas que se tiveram na infância podem dizer-nos muito sobre aquilo que irá ser um adolescente ou um adulto. O tema já aqui foi abordado mas juntam-se-lhe, agora, novos dados.
Assim, num estudo feito na Universidade de Minnesota, Estados Unidos, a partir de 267 mulheres grávidas e que durou quase 40 anos, cujos resultados foram publicados em 2005, os investigadores, seguindo as mesmas crianças desde o nascimento até à idade adulta, puderam concluir que os pais que reagiam mais pronta e adequadamente ao choro dos seus bebés, nos primeiros meses de vida, estes mesmos bebés, ao fim do 1º ano, eram mais independentes e seguros do que aqueles cujos pais tinham ignorado os seus choros.
Verificaram, depois, no jardim-de-infância, que os bebés que continuavam com pais mais cuidadosos e afectuosos para com as necessidades dos seus filhos, mostravam-se mais autoconfiantes do que aqueles cujos pais se tinham mostrado desprendidos com essas necessidades, revelando-se os seus filhos mais conflituosos ou, até, hostis.
Na escola básica, este padrão manteve-se em que a pais interessados e emocionalmente presentes correspondiam filhos que tinham sucesso na aprendizagem, se mostravam autoconfiantes e capazes de lidarem bem com as dificuldades. Situações de insucesso aconteciam com as outras crianças, oriundas de pais desinteressados e ausentes.
Continuando a seguir os jovens, enquanto alguns já tinham ficado pelo caminho, não tendo conseguido entrar na escola secundária, outros prosseguiam os seus estudos.
Os investigadores puderam, então, concluir que poderiam ter previsto, com um grau de precisão de 77%, logo na 1ª infância, sem considerar aspectos de natureza intelectual e outras capacidades, quais as crianças que iriam obter um diploma de ensino superior e quais aquelas em que tal não iria suceder.
Este estudo faz-nos reflectir sobre como os primeiros anos de vida de uma criança são influenciadores do desenvolvimento das suas capacidades intelectuais, emocionais e da sua personalidade em geral.


                                           Mário Freire

terça-feira, 29 de outubro de 2013

DIVAGAÇÃO


Quando penso no eterno,
que se passa em minha mente?
Que ele é Céu; jamais inferno,
em que o demo ‘inda apoquente.

Muito embora curioso
do que é ser além do tempo,
- Este é dom e precioso -
penso nisso, a meu contento:

Sonho sim que vou durar,
sem passado nem futuro,
onde tudo seja agora.

Bom, no entanto, é ponderar:
Já ser fruto assaz maduro
ao chegar a minha Hora.


João d´Alcor

domingo, 27 de outubro de 2013

EFEITO PLACEBO


O placebo é uma qualquer substância que não tem efeitos terapêuticos específicos. É administrado a uma pessoa, a qual está convencida de estar a tomar um medicamento com determinados princípios ativos, pelo que os seus efeitos se manifestam da mesma forma.
 O efeito placebo é uma consequência do facto de o paciente acreditar que a terapia funcione, sobretudo se já estiver condicionado pelos benefícios de um tratamento anterior. O mecanismo que está na base do efeito placebo é psicossomático na medida em que o sistema nervoso, como resposta às crenças do sujeito, induz uma série de reações neuroquímicas, as quais influenciam atividades fisiológicas importantes, tais como a perceção da dor, o controlo da atividade respiratória, a repostas imunitária, etc.
No entanto, também já se identificou o efeito placebo em patologias orgânicas, como a artrite reumatóide, osteoartrite ou úlcera e até em doentes submetidos a intervenções cirúrgicas. Em algumas operações cardiovasculares, a “operação falsa” produziu os mesmos benefícios daquela verdadeira, em resposta ao significado atribuído pelo sujeito ao ato terapêutico.
No entanto, para que o efeito placebo tenha resultado, é necessário que se reúna uma condição essencial: o paciente tem de estar plenamente convencido de que está a receber um tratamento, ignorando por completo a natureza do placebo.
A consciência do efeito placebo por parte do paciente determina o anulamento do efeito, pelo que não é possível utilizar o placebo como método de cura. Estudos mais recentes indicam que é o nosso inconsciente a desencadear este efeito. Ainda que esta questão continue sob investigação, é incrível verificar o poder de cura que temos sobre o nosso próprio corpo e, simultaneamente, a dificuldade de, conscientemente, a determinar. 


                                                    Rossana Appolloni

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

USAR O PENSAMENTO E AS EMOÇÕES COM O XADREZ


Kasparov, um dos grandes mestres de xadrez de todos os tempos, em Maio de 1997, no centro de Manhattan, Nova Iorque, após 19 jogadas contra o Deep Blue, desistiu. Urge informar que o Deep Blue era um programa de computador de xadrez projectado por engenheiros da IBM. Esta derrota suscitou, então, um grande debate sobre o significado de um génio do xadrez ser derrotado por uma máquina. Significaria esta derrota uma ameaça à inteligência humana?
Associa-se uma alta correlação entre a inteligência e a capacidade de jogar xadrez, isto é, quanto mais inteligente uma pessoa for, melhor joga xadrez e vice-versa. Jogar xadrez pode, pois, ser um meio de ajudar as pessoas a pensarem melhor.
Muitos autores, porém, não se ficam, apenas, com esta relação para se ter êxito no xadrez; eles dizem que, para além dos aspectos cognitivos, há-os de ordem emocional que condicionam, igualmente, o sucesso no jogo. Não se estranha, por isso, que em muitos países, o ensino do xadrez faça parte do currículo das escolas básicas e secundárias.
De acordo com um livro recentemente saído de Paul Tough (Educar para o futuro), em que se abordam alguns tópicos sobre este tema, destacaria duas das funções mais postas em evidência durante o jogo. Uma delas é a flexibilidade cognitiva. Ela consistiria em “ver soluções alternativas para os problemas, de pensar para além dos limites, de gerir situações pouco familiares”.
A outra função que se destacaria no xadrez seria o autocontrolo cognitivo, isto é, “a capacidade de inibir uma resposta instintiva ou habitual e de a substituir por uma mais eficaz e menos óbvia”.
Pergunto-me a mim próprio, perante estas oportunidades de aprendizagem que o xadrez nos traz, se não seria útil a muitos dos nossos líderes, políticos e empresariais, terem um curso intensivo de xadrez antes de assumirem os seus cargos!?  


                                              Mário Freire

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DITA


Seja qual a provação,
há remédio em confiar.
Provém da superstição
o refúgio no azar.

Ser ditoso não é questão
de que a sorte venha a calhar.
Provém sim da decisão
de com ela qu’rer morar.

Jaz a dita em conviver.
Solipsismo é trair.
Haja fé para acolher.

Sorte grande é existir.
Halo disso vem a ser
tal ventura compartir.


João d’Alcor

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O SABOR DA SOLIDÃO


Um dos medos mais comuns entre os homens é o medo da solidão. Aqueles que a escolhem voluntariamente vêem-na como uma escolha saudável que ajuda a acalmar e a esclarecer a mente; aqueles que a vivem por falta de alternativa sentem-na como um suplício.
A solidão, quando imposta, é sinónimo de sofrimento; quando escolhida, é sinónimo de autonomia. No entanto, também há que distinguir a solidão afetiva da solidão social, pois a pessoa pode estar quotidianamente rodeada por muita gente e sentir-se interiormente sozinha e incompreendida. A questão é, portanto, intrínseca ao sujeito e a sensação de solidão é tanto mais sentida quanto maior for a sua necessidade de afeto.
Todos nós somos seres sociais e todos nós precisamos de afeto, mas quando essa necessidade é demasiado forte ao ponto de condicionarmos todas as nossas escolhas em função da atenção do outro, perdemos por completo a nossa liberdade enquanto ser individual e autónomo. Ora, o princípio da autonomia é precisamente o que nos permite conquistar a confiança em nós próprios e perder o medo da solidão.
Quando perdemos o medo da solidão, as nossas relações passam a ser regidas pelo princípio da liberdade e não pelo princípio do apego e da dependência. A sensação de independência faz com que a pessoa aposte em si mesma e faça escolhas baseadas numa verdadeira vontade interior livre e não em função do que vai receber em troca (atenção, afeto, reconhecimento, etc.). Desta forma, os encontros passam a ser mais genuínos, mais naturais, contribuindo assim para o enriquecimento e o desenvolvimento de cada um de nós.
Trata-se de viver uma interdependência, na qual nos definimos antes de tudo por sermos seres independentes na nossa relação com os outros. Para isso, temos de conseguir sentir o sabor da solidão.

                                                 Rossana Appolloni


sábado, 19 de outubro de 2013

LAPIS PHYLOSOPHORUM


                                             Grafite

No seguimento da sua fixação numa nomenclatura binomial e em latim, o grande naturalista sueco Carlos Lineu (1707-1778), a meados do século XVIII, deu o nome de Lapis phylosophorum à grafite, com base no facto de, então, este mineral ser a “pedra” (lapis, em latim) com a qual se podia escrever num suporte macio e porque escrever era prática de estudiosos, ou seja, de filósofos.
Um outro nome da grafite foi “mica dos pintores”, em alusão ao seu aspecto lamelar e por deixar traço negro e fácil sobre o papel. Repare-se que o nome desta espécie no léxico mineralógico actual reflecte a última destas características, contida no elemento grego graph, que traduz o acto de escrever.
Numa época em que se não distinguiam as rochas dos minerais, tudo era pedra. É por isso que ainda hoje se fala de pedra-mármore, uma rocha de todos conhecida, e de pedra-hume, um mineral (sulfato duplo de alumínio e potássio) de uso corrente pelo seu carácter adstringente e cicatrizante. Foi neste contexto que surgiram os nomes lápis, para designar o objecto com que escrevemos e desenhamos, e mina, para o estilete de grafite no seu interior. Lápis e mina duas palavras que radicam no referido contexto. Com efeito, no passado, a palavra mina era usada como sinónimo de minério e a grafite era já então explorada com tal.
No que se refere à palavra lápis, disse-se atrás que, na origem latina, significava pedra e que qualquer mineral era referido como tal. Porque a macieza ao tacto, a cor negra e o brilho metálico da grafite a confundiam com a molibdenite, então referida por molybdaena, e porque nesse tempo não se distinguia o molibdénio do chumbo (plumbo, em latim) também se lhe chamou “plumbagina” e “chumbo negro”.
Com a mesma composição química do diamante e como ele, um polimorfo de carbono nativo, a grafite é um bom condutor do calor e da electricidade e uma das substâncias de mais baixa dureza, à semelhança do talco (silicato de magnésio hidratado) e da molibdenite (sulfureto de molibdénio). A grande diferença que a separa do diamante, a mais dura conhecida, reside no modo de arrumo dos átomos de carbono.
Se dermos o nome de grafeno a uma estrutura planar na qual os átomos de carbono estão fortemente unidos (ligação covalente), constituindo folhas em que cada átomo (através de três dos seus quatro electrões) se liga a três outros, formando hexágonos, a estrutura grafite define-se como sendo um empilhamento de folhas de grafeno unidas por uma ligação muito fraca (ligação de van der Waals) a uma distância de 3,35 Angströms.
Com largas aplicações na metalurgia do ferro, nas indústrias dos lápis (misturada com argila), dos lubrificantes (o pó da grafite é usado a seco), dos refractários, das tintas, das borrachas e na electrónica, parte da grafite que se explora de entre as rochas, no subsolo, já foi hulha ou antracite e, centenas de milhões de anos antes, madeira de árvores das florestas de então.
A primeira mina de grafite foi descoberta na Baviera, no início do século XV. Cem anos depois, idêntica descoberta teve lugar em Cumberland, na Inglaterra, mas só no final do século XVIII se soube a sua verdadeira natureza química, em resultado do trabalho do químico sueco Karl Wilhelm Scheele (1742-1786).Em 1761, o alemão Kaspar Faber deu início à produção de lápis, em Stein, próximo de Nuremberga. Um seu bisneto, Lothar von Faber, modernizou a produção a partir de 1839. Passou, então a ser possível fabricar lápis com graus de dureza, através da mistura de argila com grafite.

 

Oriunda da região de Irkutsk, na Sibéria, a grafite usada pela fábrica Faber era localmente referida por “ouro negro” e transportada no dorso de renas até ao porto de onde saía, em navios, para os seus destinos.
      A indústria dispõe hoje de grafite produzida industrialmente, a temperatura e pressão elevadas, a partir de coque, de petróleo ou de antracite.


                                          Galopim de Carvalho

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

DISTINÇÃO


Estranho é e tem seus quês
ser atreito à neofobia.
Quando igual a ti te vês,
livre estás de tal miopia.

Por ser’s mesmo original,
tu constatas, de antemão,
quanto o novo e desigual
dá lugar à distinção.

Provém esta do valor
e carácter singular
que assinalam cada ser.

É de facto o Criador
incapaz de duplicar.
- Tal nos cabe agradecer.


João d’Alcor

terça-feira, 15 de outubro de 2013

AUTOCONCEITO: O QUE PENSAMOS ACERCA DE NÓS PRÓPRIOS


O que pensamos acerca de nós tem uma influência por vezes inimaginável sobre a forma como nos comportamos e lidamos com as situações. A cultura ensinou-nos a sentirmo-nos culpados por tudo o que fazemos mal e a atribuir à sorte os sucessos que vamos tendo. A crítica externa é algo a que nos habituamos desde pequenos, embora nos magoe sempre. Rapidamente deixamos de precisar da crítica externa para passarmos para a autocrítica. Naturalmente que ter um sentido crítico sobre nós próprios é positivo na medida em que nos pomos em causa e nos abrimos a outras perspectivas. No entanto, se essa autocrítica surge apenas no sentido autodestrutivo pode ter efeitos nefastos sobre a nossa vida.
As pessoas que têm a sua atenção muito focada no sucesso são geralmente muito competitivas, bastante rígidas na própria visão e se não atingem os objetivos sentem-se fracassadas e frustradas. Perante estes sentimentos, surge uma raiva cujo resultado é, frequentemente, estabelecer metas ainda mais rígidas e duras, pelo que este padrão vai fazer com que o sujeito entre num ciclo em que, ao querer cada vez mais, vai ter cada vez menos. Às tantas, sentimo-nos incapazes e avaliamo-nos negativamente. Daí à autocrítica e à autopunição é um passo, o que só provoca stress, ansiedade, insegurança e baixo rendimento. O fosso entre o eu ideal (o que gostaríamos de ser) e o eu real (o que somos) aumenta cada vez mais.
Ultrapassar esta visão negativa acerca de nós próprios é essencial para conseguirmos ter sucesso. Para isso, há que estabelecer objetivos reais, pois ao atingi-los sentimo-nos bem. Conhecermos os nossos limites e aceitá-los permite-nos irmo-nos adaptando às circunstâncias da vida de forma a tirarmos proveito da viagem, pois a felicidade não está no alcance da meta em si mas no percurso que fazemos para lá chegar. O autoconceito só será positivo se em vez de nos focarmos em objetivos irreais, nos focarmos nos pequenos passos do dia-a-dia.

                                                   Rossana Appolloni


domingo, 13 de outubro de 2013

EXISTE UMA GERAÇÃO Y?



                Aparentemente, os jovens que constituem esta geração têm muitas diferenças entre si: enquanto que uns vivem numa grande precariedade, outros encontram-se bem instalados na vida; uns ainda estudam; outros já estão a trabalhar ou partiram para o estrangeiro à procura de trabalho. Eles repartem-se por ambos os sexos, diferentes países, classes sociais e idades.    

            Afinal, se existem tantas diferenças, que sentido tem dar-se-lhe uma designação englobante? Simplesmente porque esta geração radica num aspecto comum que é transversal a todo o planeta: o uso da internet. Por outro lado, pelo menos nas culturas ocidentais ou ocidentalizadas, a sua esperança de vida já ultrapassou os 80 anos; os seus compromissos sentimentais estão em linha com a efemeridade que atravessa os nossos tempos em que o emprego é bem o reflexo desta realidade. Muitos dos seus pais também já se separaram e fizeram novas uniões.

            É nesta sociedade em que cada um, estando sozinho, está ligado a milhares de outros, numa rede sem fronteiras, sejam elas geográficas, culturais ou de afectos. Esta geração adquiriu outras experiências que seus pais nem vislumbraram. As fronteiras dos conhecimentos a que tem acesso estão para além de cada limite que se possa estabelecer e o idioma  já não é barreira para comunicar. Ela vê-se e fala com alguém em qualquer parte do mundo.

            Está a assistir-se a uma mudança de modelo de viver, qual renascença contemporânea. Os que não tentam acompanhar ou, pelo menos, compreender estas mudanças, vão-se considerando excluídos desta sociedade. Mas, ela própria, geração Y, vai sentindo que a busca que empreende para dar sentido às suas vidas fica cada vez mais difícil e angustiante; o tempo de que dispõe para reflectir, apesar de, muitas vezes estar isolada, entre quatro paredes, não lhe chega para colocar a si própria as grandes questões da existência humana. E se este caminho conduz à felicidade!

                                               Mário Freire


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

DISPOSIÇÃO



Toda a má disposição,

seja que de mim provém

ou do agir de mais alguém,

faz apelo à reflexão.

 

Se me torno dependente

seja de algo ingerido

ou mau trato recebido,

lógico é ficar doente.

 

Sendo sã minha atitude,

vem à tona o bom humor;

cuida ele da sensação.

 

Bem agir requer virtude.

Bem disposto é sempre o amor,

não obstante a provação.

 

João d’Alcor


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

RECUPERAR E EXPLORAR O QUE HÁ EM NÓS



Uma das coisas que mais interfere no processo de crescimento e desenvolvimento do ser humano é o medo do desconhecido. Uma pessoa agarrada aos seus rituais e apegada às situações e/ou a outras pessoas fica extremamente incomodada com situações que implicam o risco de perder o que tem.

Enfrentar situações novas assusta, preferindo optar quase sempre pela sensação de segurança, onde tudo é previsível e estável. Desta forma não há surpresas desagradáveis. Ora, esta opção é antinatural. É verdade que o ser humano é um animal de hábitos, mas também é um animal de exploração e essa qualidade é-lhe muitas vezes reprimida pela educação, pela cultura e pela sociedade. Procuramos um emprego estável, uma relação duradoura, mesmo que essas situações não nos façam felizes com gostaríamos. Mas antes tê-las do que não ter nada... é comum pensarmos que antes pouco mas certo do que arriscar. A questão é que se não arriscarmos, se não ousarmos ir além do que já conhecemos, perdemos inúmeras oportunidades para sentirmos emoções que nos trazem alegria e bem-estar.

Os seres humanos têm a tendência inata para indagar e explorar o meio que os circunda. Somos descobridores inatos e quando partimos à descoberta do mundo todos os nossos sentidos se ativam. É então que descobrimos que o prazer não se centra apenas num ponto, não se limita apenas a uma pessoa ou a uma atividade: o prazer encontra-se disperso!

            Explorar o mundo com responsabilidade e consciência fortalece-nos e enriquece o nosso ser, contribui para o nosso crescimento emocional, proporciona-nos mais defesas contra o sofrimento, torna-nos mais flexíveis às mudanças e o medo do desconhecido vai-se transformando numa ansiedade positiva pela surpresa. Quando vivemos verdadeiramente é isso que sentimos!

 
                                           Rossana Appolloni

 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

UM MAR DE INCERTEZAS



             Passou a época dos exames. Cada vez mais eles estão a assumir um papel determinante na vida de um aluno.

            Uma discussão que, julgo, pode ter interesse, é o de ver se os exames conseguem seriar com fiabilidade os alunos que sabem dos que não sabem.

            Esta questão já não é de agora mas todos anos, na altura própria, adquire relevo. Trata-se, afinal, de saber se um aluno com uma dada classificação, se fosse classificado por um outro examinador não iria obter uma outra classificação que lhe fosse mais favorável. E a questão não é despicienda quando se trata da obtenção de classificações que podem ditar a inclusão ou exclusão quer do curso do ensino superior pretendido, quer da localidade onde ele é ministrado.

            O sistema já prevê essas possíveis discrepâncias de examinador para examinador e, por isso, há a figura da revisão de provas que pode atenuar o problema. Este, no entanto, continua a subsistir.

            Existe uma palavra – docimologia – que se refere, precisamente, ao estudo e análise da avaliação e onde se inclui essa variabilidade de critérios de avaliação de uma prova. Ainda há pouco tempo, a propósito da época de exames em França, a jornalista de educação Sophie de Tarlé enviou uma cópia de uma prova de filosofia a vários professores e verificou que, numa pontuação máxima de 20, as classificações atribuídas oscilaram entre 6 e 14.

            A subjectividade do acto de classificar é intrínseca a ele próprio; ela é tanto mais saliente quanto menos concreta é a matéria sobre que se exerce tal acto. Existem algumas disposições quer a utilizar, quer a evitar que podem reduzir essa subjectividade. E essas disposições aplicam-se tanto a quem faz as provas como a quem as corrige.

            Que os alunos possam ter a retribuição justa do que estudaram (ou não estudaram) eis o que se deseja, no meio deste mar de incertezas em que vivemos o qual se estende à classificação de uma simples prova de exame!   

                                                   Mário Freire


sábado, 5 de outubro de 2013

A EUROPA E AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS



As alterações climáticas estão a afectar toda a Europa, causando múltiplos impactes na sociedade e no ambiente; os seus danos poderão ter custos elevados.

O relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas refere que se têm observado temperaturas médias mais elevadas a nível europeu, bem como uma diminuição da precipitação nas regiões meridionais do continente, em paralelo com o seu aumento no norte da Europa.

Nos últimos anos, fenómenos climáticos extremos, como as vagas de calor, as inundações e as secas, têm causado crescentes prejuízos materiais em toda a Europa. Embora sejam necessários mais dados para determinar o papel desempenhado pelas alterações climáticas nesta tendência, sabe-se que o aumento da actividade humana em zonas de risco é um factor fundamental.

É previsível que as alterações climáticas agravem esta vulnerabilidade no futuro, à medida que os referidos fenómenos aumentam em intensidade e frequência. Se a sociedade europeia não se adaptar, será inevitável que os prejuízos continuem a aumentar.

O relatório assinala que algumas regiões terão menos capacidade de adaptação do que outras, em parte devido às disparidades económicas existentes na Europa, e que os efeitos das alterações climáticas poderão aprofundar ainda mais essas desigualdades. As vagas de calor, tornaram-se mais frequentes e prolongadas, tendo causado milhares de mortes.  Embora a precipitação esteja a diminuir nas regiões do sul, com secas mais graves e frequentes, ela tende a aumentar no norte da Europa.

Ainda segundo o relatório, para além dos impactes relacionados com o calor, as alterações climáticas têm outros efeitos sobre a saúde humana igualmente importantes, uma vez que contribuem para a transmissão de certas doenças. Por exemplo, permitem que a carraça se propague para norte e um maior aquecimento futuro tornará algumas regiões da Europa mais propícias a mosquitos transmissores de doenças. A época de polinização é mais longa e começa mais cedo, facto que também afecta a saúde humana.

Muitos estudos constataram grandes alterações nas características de plantas e animais. Por exemplo, as plantas florescem numa fase mais precoce do ano. Os animais começam a migrar para norte à medida que os seus habitats aquecem mas, como o ritmo de migração de muitas espécies é insuficiente para acompanhar a velocidade das alterações climáticas, tais espécies poderão ser levadas à extinção.

Embora no sul da Europa possa haver menos água disponível para a agricultura, é possível que as condições de cultivo melhorem noutras zonas. Contudo, prevê-se uma redução de algumas produções, devido a vagas de calor e a secas, no centro e no sul da Europa.

Com a subida das temperaturas, a procura de aquecimento também caiu, o que permite poupar energia. No entanto, essa queda é contrabalançada pela maior necessidade de energia para arrefecimento nos verões mais quentes. Ora Portugal é um país da Europa do Sul! Haverá pois que tomar precauções redobradas.

 

                                          FNeves


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

NO RIGOR E NA BELEZA DAS PALAVRAS




             Ilustre professor de Geografia, Orlando Ribeiro foi senhor de muitos saberes que expunha numa linguagem falada e escrita de invulgar correcção, não raras vezes poética.

Geógrafo tradicional, de elevada craveira nos domínios das geografias física e humana, com uma notável preparação geológica, Orlando Ribeiro (1911-1997) foi um humanista igualmente reconhecido a nível nacional e internacional. Renovador da Geografia em Portugal, o Prof. Orlando (era assim que o tratávamos), foi senhor de muitos saberes em diversas áreas, como as da História, da Antropologia, da Etnografia e outras, saberes que expunha numa linguagem falada e escrita de invulgar correcção, não raras vezes poética.

De parceria com o seu colega e amigo Pierre Birot, de l’Institut de Geographie de Paris, foi pioneiro numa metodologia de investigação geomorfológica, substancialmente assente no cabal conhecimento dos sedimentos resultantes da erosão do relevo. E foi nesta linha frutuosa, inovada pelo geógrafo alemão Walter Penk (1888-1923) que me concedeu o privilégio de aceitar ser meu orientador nas dissertações de doutoramento que apresentei e defendi nas Universidades de Paris e de Lisboa, factos decisivos na escolha da via de investigação que caracterizou o essencial da minha actividade com geólogo e como docente. Nesta linha, solicitou-me que montasse no seu Centro de Estudos Geográficos, um laboratório de sedimentologia de apoio à geomorfologia que dirigi entre 1965 e 1981

Como era hábito deste ilustre Mestre, para além das pedagógicas discussões que travava com os seus orientandos, nas visitas que com eles fazia ao terreno, lia com eles o manuscrito em fase final das respectivas dissertações e aí, uma vez mais, voltava a discutir, dava sugestões, fazia correcções de forma e de conteúdo, e ensinava a escrever em bom português. E foi isso que ele fez comigo, o único geólogo entre os muitos geógrafos que orientou.

Este meu relacionamento com o Prof. Orlando aconteceu porque eu era colega do seu filho António (hoje, o igualmente ilustre Prof. António Ribeiro), na licenciatura em Ciências Geológicas, e ambos fizéramos, com ele, proveitosas saídas de campo, onde a geomorfologia, a geologia, geografia humana e a história de Portugal se harmonizavam no rigor e na beleza das palavras. Aconteceu, ainda, porque éramos vizinhos. Das traseiras da sua casa falava-se para as traseiras da minha. Assim, para além da relação mestre/discípulo, fomos amigos chegados ao longo de 40 anos.

 
                                                      Galopim de Carvalho
 
 

                                                       

terça-feira, 1 de outubro de 2013

DISCRIÇÃO


Grandes feitos se amesquinham,
no alardeio de os expor.
Nesse intento, se adivinham
as carências do autor.

Longe da fama, se cultiva
quanto é simples, sem enredo.
Surgem fontes de água viva,
onde há bem, feito em segredo.

No recato dos limites,
conta, então, todo esse bem,
por si mesmo, sem palpites.

O mais simples contributo
pode assim, no amor que tem,
rondar já o absoluto.


João d’Alcor