quarta-feira, 30 de maio de 2012

EDUCAR PARA O COMBATE AOS ESTEREÓTIPOS - 1


                                O carácter redutor dos estereótipos                             

As crenças e as expectativas formuladas em relação a alguém (tema já tratado em crónica anterior) são aspectos que influenciam a modificação do seu comportamento. Ora, não desligado deste tema estão os estereótipos. Estereótipos são comportamentos ou atitudes que se filiam em crenças que não são sustentadas nem pela razão, nem pela experiência.
            De entre os diferentes estereótipos, salientam-se os sexuais. É o chamado sexismo. Estes estereótipos referem que homens e mulheres, por serem diferentes nalgumas das suas características, têm que desempenhar papéis diferentes na sociedade.
            Mas não existem, apenas, estereótipos sexuais. Há-os, também, de natureza racista. É o chamado racismo que diz que há raças superiores a outras. O nazismo e a versão actual dos skinheads ilustram bem este tipo de estereótipos.
            A xenofobia, outro estereótipo, traduz-se em considerar os estrangeiros ou tudo aquilo que vem de fora, de categoria inferior ao que somos ou ao que temos.
            Os estereótipos têm um carácter redutor. Eles são redutores sob o ponto de vista cultural porque estreitam a visão do mundo. As pessoas com estereótipos só vêem aquilo que desejam ver; passa-lhes ao lado a riqueza da realidade envolvente, na sua diversidade.
            Eles são redutores sob o ponto de vista ético porque atribuem qualidades e defeitos àquilo ou aqueles que, simplesmente, são diferentes.
            Eles são redutores sob o ponto de vista profissional porque limitam ou dificultam o ingresso em profissões ou no desempenho de cargos àqueles ou àquelas que, desejando ou tendo capacidades para as exercer, não se coadunam com os papéis que tradicionalmente são atribuídos a homens e a mulheres.
Combater os estereótipos é tarefa que incumbe à escola mas, também à família e a todas as instituições que pugnam pela melhoria da sociedade.

                                                     Mário Freire


segunda-feira, 28 de maio de 2012

O MULTILINGUISMO NA EUROPA


Todos os poliglotas o confirmam: o importante é dar o primeiro passo. Uma vez dominada uma primeira língua estrangeira, a aprendizagem da segunda é mais fácil, a da terceira é mais fácil que a da segunda e assim sucessivamente.
Mas por que razão? Porque a aprendizagem de uma primeira língua põe em marcha técnicas de aquisição muito diferentes das empregadas em matérias tais como a história, a matemática e a biologia.
Ao estudar a segunda língua, adquiridas as já referidas técnicas, a aprendizagem torna-se mais fácil.
Outro factor a favor do multilinguismo na Europa é o fenómeno da compreensão multilingue. A maioria das línguas que se falam na Europa procede de troncos linguísticos comuns. Deste modo, ao aprender uma língua estrangeira, chega-se com maior facilidade à compreensão de outras línguas que pertencem à mesma família. Por exemplo, um francófono que aprende espanhol compreenderá mais facilmente o italiano ou o português. A compreensão multilinguística constitui um dos suportes do programa de aprendizagem de línguas, por parte dos cidadãos europeus.
Mas quem está em melhor situação para se converter num poliglota?
É certo que os jovens se encontram numa posição privilegiada pois que a Escola, em sentido lato, continua a ser o principal momento da aprendizagem. O principal, mas não o único, visto que a aprendizagem de novas línguas é possível ao longo da vida, assim exista motivação para tal.
Cada vez mais empresas, para falar apenas no mundo profissional, oferecem aos seus colaboradores a possibilidade de frequentar cursos de línguas.
À multiplicidade de momentos e lugares destinados à aprendizagem, somam-se os métodos e recursos disponíveis. A relação aluno-professor continua a ser a principal referência: o aluno pode ser jovem ou adulto e o curso pode desenrolar-se numa escola ou dentro da própria empresa.
A aprendizagem de idiomas, mais do que qualquer outra matéria, exige a participação activa dos alunos. O papel do professor consiste hoje em dia, mais do que em motivar, animar, aconselhar, orientar, avaliar e corrigir, em garantir a transmissão de conhecimentos entre um emissor ( o professor) e um receptor (o aluno). Nesse sentido, quer os alunos quer os professores podem beneficiar do aumento dos recursos multimédia e da Internet.
Também a auto-aprendizagem, permite a quem não tenha tempo ou meios de voltar à escola de se formar sozinho, com a ajuda de ferramentas pedagógicas e didácticas adequadas.
Por último, não pode esquecer-se a imersão total. Uma estadia no estrangeiro pode contribuir decisivamente para a aquisição de bases e para o aperfeiçoamento de conhecimentos linguísticos. A diversidade de meios reforça as possibilidades de êxito.

                                               FNeves


sábado, 26 de maio de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 8


                                          Princípios a honrar

Longe de uma enumeração exaustiva, são de destacar, no processo educativo, os seguintes princípios relacionados com a psicossíntese educativa, ora mencionados em sequência alfabética.
Abertura – Esta é questão de atenção e consideração dispensada. A abertura aos outros é proporcional aquela que temos relativamente a nós próprios.  Não se trata de extroversão versus introversão. Uma e outra são tidas em conta.
Actualização – Há, no processo educativo, o apelo ao desenvolvimento e expressão do potencial a identificar e a cultivar em cada educando. Trata-se de uma conscientização em que a tomada de consciência conduz não apenas ao bom funcionamento, mas também ao progresso permanente. 
Coerência – Consiste esta numa coesão entre o método de quem ministra o ensino, o conteúdo da mensagem e a motivação do educando. O ensinante é bem mais do que uma fonte de informação. O tema em causa deve ser adequado às circunstâncias existentes. A forma de ensinar e de motivar é tão fundamental como  conteúdo a transmitir.  Assagioli explica: “ A educação é uma arte, onde não há um método fixo e rígido. Os diferentes métodos e atitudes são oportunamente variados e proporcionados ao carácter de quem é educado, aos momentos e condições em que este s encontra.”
Colaboração -  Esta postula e prova o sentido da complementaridade, ao mesm tempo que intensifica a confiança mútua. No dizer de Piero Ferrucci, “depositar em alguém a nossa confiança corresponde a dar-lhe uma prenda.” Longe de forçar ou reprimir a vontade, a colaboração a sublima mediante a amizade e dedicação a uma causa comum. 
Confluência – O termo “educação confluente” é usado para designar quer a totalidade e interdependência das componentes física, emocional e mental relativas à personalidade, quer a identidade humana composta da trindade composta de corpo, alma e espírito. Assagioli apela para uma educação psicossintética integral, sem a omissão de nenhuma destas componentes, designadamente o espírito,  evitando o que ele classifica de “lobotomia spiritual.”


NB - Irá prosseguir a listagem de outros princípios que norteiam a educologia.

                                              João d’Alcor



quinta-feira, 24 de maio de 2012

ORGANIZAÇÃO DAS TURMAS: ACTO ADMINISTRATIVO OU IDEOLÓGICO?



                  
             Aquilo que parece ser um mero acto administrativo, o da distribuição dos alunos por turmas é, afinal, uma das intervenções que mais intimamente está ligada a uma ideologia pedagógica.
            Em termos simplificados, podem adoptar-se dois modelos: um, de homogeneidade, em que os alunos se agrupam de acordo com os seus níveis de aprendizagem e interesses. Se as turmas são constituídas por alunos com maior elevada capacidade de aprendizagem, será possível fazer com eles um trabalho mais aprofundado, em menos tempo e utilizando turmas maiores.
            Por outro lado, as turmas com alunos com menores capacidades de aprendizagem não deveriam sentir-se discriminados. A estimulação a efectuar junto deles, assim como a utilização de práticas pedagógicas adequadas levadas a cabo por professores experimentados, poderia conduzi-los a um maior êxito nas tarefas escolares e proporcionar-lhes um aumento da sua auto-estima e confiança em si próprios.
            Mas na sociedade as pessoas não aparecem agrupadas segundo as suas características e interesses. É a heterogeneidade, traduzida nas diversas capacidades, costumes, maneiras de pensar e de agir, que forma a comunidade em que vivemos. Ora a escola tem, também, que reflectir essa diversidade. A sala de aula não pode ser uma redoma onde só alguns contactam com alguns que lhes são parecidos. A diversidade é uma riqueza e não uma limitação. Veja-se a Natureza com a sua multiplicidade de seres vivos e de cores! Claro que a heterogeneidade na sala de aula acarreta maiores desafios para o professor e para a instituição.
            Mas a realidade também não se apresenta apenas a preto e branco.
            É possível introduzir alterações nestes dois modelos de modo que a organização de uma turma possa integrar algumas variáveis, seja no tipo de alunos que a constituem, seja nos métodos de personalização utilizados, seja na organização do espaço sala, seja no grau de entreajuda que os melhores capacitados são solicitados a prestar...
             Homogeneidade e heterogeneidade, mais do que conflituarem, podem complementar-se numa síntese criativa e proveitosa. A Finlândia parece ter adoptado um modelo deste tipo.
            Enfim, as metas e objectivos que se pretendem atingir, tendo em conta as realidades da escola e da comunidade, os modelos conceptuais disponíveis, o respeito pela dignidade do aluno, hão-de ditar a melhor forma de organizar uma turma.

                                                           Mário Freire

terça-feira, 22 de maio de 2012

CACHORRINHO


Cachorrinho que hoje não tenho
veio-me, em sonhos, avivar
episódios do antanho
em que tanto se soube dar.

O Bobi que foi rafeiro,
em meu sonho é cão pastor...
mas à mesma, por inteiro
devotado em seu amor.

O que fez então crescer
quem morreu há tantos anos?
-                       Seu amor. Não haja enganos.

Sonha ele hoje, eu quero crer,
quanto a nós, que todos vamos
ser de facto mais humanos.

João d’Alcor


domingo, 20 de maio de 2012

TRABALHOS PARA CASA - 5


                  
                          Homogeneização ou diversificação?

            Viu-se, em crónicas anteriores sobre esta temática, que estes trabalhos podem constituir-se num factor de desenvolvimento escolar e pessoal do aluno. Eles, no entanto, também são susceptíveis de induzirem situações menos convenientes, com repercussão negativa na aprendizagem. Há, pois, que reflectir sobre eles e, se possível, tentar retirar-lhes os aspectos menos bons e potenciar os melhores.
            Uma turma comporta, em regra, uma multiplicidade de situações de natureza social e escolar. Por outro lado, parece haver um certo consenso sobre a utilidade deste tipo de trabalhos entre os principais intervenientes do processo educativo. Como conciliar, então, as reacções diversas que estes tipos de trabalhos podem suscitar entre os alunos, de modo que eles se constituam num meio que contribua para a melhoria da aprendizagem? 
            Nem todos os alunos terão em casa as condições adequadas para a realização do estudo. Além disso, se há alunos para quem determinados TPC são a repetição insípida daquilo que já sabem, para outros, esses mesmos TPC são dificuldades que mal conseguem transpor.
A homogeneização no ensino é sempre um factor gerador de desigualdades. Apresentar tarefas iguais a pessoas com características escolares e sociais diferentes não conduz à valorização do aluno. Há, pois, que propor vários tipos de trabalhos para casa, de acordo com as características dos públicos visados, de modo que nenhum deles se sinta frustrado pelo que está a fazer.
Os professores terão, pois, que saber lidar, cada vez mais, com as diferenças na sala de aula e procurar encontrar os meios de lhes fazer face. Para isso, há que trabalhar em rede em que cada profissional, socorrendo-se das capacidades, conhecimentos e experiências dos colegas, possa encontrar os meios adequados aos desafios que se lhe apresentam.
A autonomia das escolas, de que hoje tanto se fala, poderá ser um aspecto relevante nesta procura de soluções, perante as realidades sociológicas com que o professor tem que lidar.
Enfim, falar dos TPC é, afinal, abordar um aspecto pedagógico complexo em que a sociologia, a psicologia e, até, a economia e a política não ficam de fora.

                                                            Mário Freire

sexta-feira, 18 de maio de 2012

OS EUROPEUS DEVERÃO SER POLIGLOTAS?


                                   Os limites duma língua franca

A necessidade de comunicar nasce, frequentemente, durante umas férias no estrangeiro. A essa necessidade junta-se, por vezes, a vontade de descobrir novas culturas e a de aprender uma língua estrangeira.
A este enriquecimento intelectual vem, por vezes, juntar-se uma motivação de índole mais pragmática: melhorar a situação profissional.
A construção de uma nova Europa começou há mais de meio século, tendo acelerado consideravelmente as trocas comerciais entre os Estados que integram a União Europeia. Naquele contexto, as empresas precisam de pessoas capazes de comunicar na língua utilizada pelos clientes. O multilinguismo constitui, pois, um mérito inegável, senão indispensável no mercado de emprego.
Mas porquê aprender vários idiomas? Não bastaria que todos aprendessem uma língua de grande difusão, uma língua franca como o Inglês? É neste ponto que há que ter em conta a relação entre língua e cultura. Uma verdadeira compreensão mútua e a apreciação doutra cultura em toda a sua dimensão exigem que se possa dialogar na língua local.
Se a língua estrangeira que se aprende é uma língua franca (neste caso o inglês), faltará o vínculo entre língua e cultura. A língua franca não permite enfrentar todas as situações. Por exemplo, na Alemanha poderia contratar-se um italiano para um posto de trabalho em que apenas fosse necessário o domínio do inglês. Todavia, ele terá que saber alemão se quiser integrar-se na empresa onde os colegas comunicam em alemão e também se pretender integrar-se na sociedade alemã.
Além do mais, o inglês não tem que ser necessariamente a língua franca prioritária para todos. Em muitos casos, a língua do país vizinho é mais importante.
Em conclusão, poderemos dizer que a diversidade linguística na Europa é tal que não existe uma solução única, permanecendo pois a questão em aberto e sujeita a uma discussão mais alargada. 

                                                                     FNeves


quarta-feira, 16 de maio de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 7


                           Obstáculos a transformar (Continuação)

Não raro, no processo educativo, se tropeça em obstáculos que importa eliminar ou, melhor dito, transformar, de molde a pôr, como fulcro da instrução, o potencial existente. Para tal importa, antes de mais, fazer o seu reconhecimento, sendo de destacar os seguintes, para além dos já referidos:
Exploração – Na prevalência do ter sobre o ser, o negócio tende a fazer das necessidades de outrem e do trabalho alheio uma oportunidade de usura. Variadas são as formas de exploração infligidas contra a dignidade humana e lesivas da justiça. Na defesa destes valores, há que descobrir a essência do ser não só no explorado, mas também no explorador prisioneiro do erro e carecido de transformação. 
Falsidade – Fácil é conceber objectivamente a oposição entre o absolutamente verdadeiro e o totalmente falso. No domínio subjectivo, contam o papel da vontade conjugada ou não com o amor relativamente à verdade. De permeio, pode haver lugar quer para o equívoco, para a ambiguidade e para o erro, enquanto elementos acidentais, quer para o logro intencional expresso na mentira, na duplicidade e na fraude. Em psicossíntese, é usual fazer a distinção usando os termos “falso eu”, a nível da personalidade, e “Eu verdadeiro”, a nível transpessoal espiritual. É de notar que, neste caso, não é questão de opostos, mas sim de níveis de tomada de consciência e de contraste nas opções. Sem que se baseie em verdades dogmáticas, a abordagem psicossintética promove a convicção e comportamento fundamentados na concepção ontológica e vivência do bom, belo e verdadeiro.
Julgamento – A propensão para o julgamento é um obstáculo comum. Assagioli oferece a este propósito a seguinte consideração: “’Perdemos tanto tempo e energia a julgar os outros que muitas vezes não damos um passo em frente no sentido de nos examinarmos a nós próprios relativamente ao objectivo de uma boa conduta.” A tendência para condenar outrem cria a ilusão da nossa própria inocência. Carl Jung vê na busca de um bode expiatório a tentativa de “alivio para a própria consciência.” Fácil é escorregar da acusação para a condenação. No preceito cristão de não julgar stá implícita a boa vontade, aliada esta ao discernimento espiritual, a nível do Eu transpessoal que fomenta a solidariedade baseada no amor incondicional.
Perfeccionismo  - Assagioli identifica este obstáculo “não como um sintoma nevrótico, mas sim como um nobre exagero.” Resulta esta observação da fuga a um optimismo utópico, tendo em conta o facto de que  individualmente “todos nós temos defeitos e ninguém é perfeito.”  Sendo de constatar igualmente que vivemos “num universo imperfeito, sobre um planeta imperfeito, numa humanidade imperfeita.”  Não obstante, há que ter em conta o facto de considerar, no perfeccionismo, o defeito provindo do excesso de uma qualidade. Este exagero acaba, paradoxalmente, por minar a auto-estima e incapacitar-nos de tirar partido dos limites e das provações.
Pessimismo – Este obstáculo representa uma poluição psíquica correspondente à visão proveniente do uso de um par de óculos escuros. A partir do uso que deles faz, o pessimista aposta sinceramente no realismo da sua visão. Lógico na sua conclusão, não se apercebe de que partiu de premissas erradas. Como já referido, a psicossíntese fomenta o optimismo radicado num núcleo espiritual a ter em conta tanto na educação como na reeducação. Neste se conjugam a força da vontade com a benevolência do amor.

Como anteriormente ficou explícito, há que descobrir as qualidades dos nossos defeitos, vendo nestes um potencial carecido de boa utilização mediante a integração adequada do seu potencial energético. Neste sentido, virão a ser considerados diversos princípios em que assenta a sua expressão.

                                              João d’Alcor


segunda-feira, 14 de maio de 2012

O ABANDONO ESCOLAR - 1



                                      Causas e consequências

            O abandono escolar é um dos problemas sociais com que o nosso País se confronta. Até há cerca de dois anos, Portugal situava-se em penúltimo lugar, na U.E. a 27, a par da Espanha, no que se refere à taxa de abandono escolar.
            As consequências do abandono escolar repercutem-se quer a nível individual, quer a nível comunitário. Sob o ponto de vista pessoal, muitos dos jovens, marcados por um baixo auto-conceito, desenvolvem atitudes de insucesso face à escola e ao ensino as quais são susceptíveis de serem extrapoladas para outros campos da suas vidas.
Por outro lado, esse abandono, contribuindo para a continuidade do baixo nível de escolaridade, determina uma deficiente qualificação profissional. Nos dias de hoje, em que o saber constitui a mais-valia do desenvolvimento de um país, é a qualificação profissional o factor que maiores possibilidades proporciona para a aquisição de um emprego.
Ora, o abandono escolar é o resultado de um processo que não é apenas individual. Ele implica-se não só com o aluno, mas também com a família e com a escola. Ele tem a ver com as dificuldades de aprendizagem que, manifestando-se logo nos primeiros anos de escolaridade, se vão acentuando nos anos subsequentes. Mas muitas destas dificuldades têm origem na família.
A família dos nossos dias mudou muito, quando comparada com a que existia há 15 ou 20 anos. Em muitas das famílias de hoje os filhos ou vivem só com o pai, ou só com a mãe, ou com os avós ou em coabitação com outros, filhos de pessoas com quem cada um dos pais, posteriormente, se ligou, após separação. Em muitas destas situações as crianças e os jovens foram testemunhas activas e, por vezes, peças centrais nas disputas entre os pais.
A situação económica desfavorável e o desemprego são factores, igualmente, geradores de carências de vária ordem e de conflito no seio familiar.
A violência, física e psicológica, dentro de casa; a falta de tempo dos pais; a falta de diálogo entre pais e filhos, a ausência de regras e do estabelecimento de limites em relação aos filhos, enfim, um sem número de circunstâncias podem, de igual modo, contribuir para que a criança ou o adolescente encontrem fora de casa aquilo que o lar lhes está a negar: a amizade, o diálogo e a aceitação. Outras vezes é o isolamento, a ansiedade e a depressão que vão tomando conta deles.
Múltiplas podem ser as circunstâncias e as instituições que contribuem para que o aluno não se empenhe no estudo e não crie expectativas positivas a respeito de si próprio. A família é, sem dúvida, uma das mais importantes.
Combater o desinteresse pelo estudo, o insucesso escolar e o abandono da escola é contribuir para a valorização do País. Assumir esses desígnios pertence ao Estado mas, também, a toda a comunidade.

                                                                              Mário Freire

sábado, 12 de maio de 2012

BOAS-VINDAS


Boas-vindas ao nascer
dadas são onde haja amor.
Almejado vir a ser
é direito; não favor.

Boas –vindas ao morrer
vão ser beijo do Universo.
Cunho e cara a condizer;
rima posta em cada verso.

Ser bem-vindo e ser bem-vinda,
boas-vindas receber
traz à vida tal alento.

Algo conta mais ainda:
É o dá-las com prazer,
redobrando o acolhimento.

                                           João d’Alcor

quinta-feira, 10 de maio de 2012

TRABALHOS PARA CASA - 4


                                                Os alunos

Como é que os alunos vêem os TPC? Eles acharão naquelas actividades algum significado? Com que dificuldades se confrontam? E como é que elas são superadas?
            É claro que muitas das respostas dadas a estas questões dependerão quer da maturidade dos alunos, quer do contexto familiar, quer da qualidade dos trabalhos propostos.
            Os TPC têm que ser vistos pelos alunos como algo que lhes suscite o interesse pelo estudo, que consolide as aprendizagens e que promova uma maior autonomia no seu trabalho.
Cabe ao professor, em primeira instância, organizar esses trabalhos de modo que os alunos possam responder afirmativamente a tais desideratos.
            Múltiplas podem ser as dificuldades com que os alunos se confrontam na execução de tais trabalhos e, de um modo geral, no estudo. Umas, de natureza extrínseca, têm a ver com o ambiente familiar e condições de ambiente físico que os rodeiam durante o estudo. Outras, de natureza intrínseca, estarão mais relacionadas com o próprio aluno, com a sua motivação e capacidade para se empenhar em tarefas de natureza escolar. Muitas destas dificuldades, no entanto, são decorrentes das primeiras.
Não tendo o aluno condições minimamente adequadas que lhe permita fazer os trabalhos, mais do que ser um agente facilitador da sua aprendizagem, os TPC podem tornar-se num factor de mal-estar, de conflito com a família, de roubo de tempo para actividades de natureza lúdica que ele preferiria e, enfim, contribuir para um desinteresse e, até, aversão às matérias escolares.
Por outro lado, mais do que pais que fossem possuidores de conhecimentos que, eventualmente, pudessem ajudar os filhos nesse tipo de tarefas, exigir-se-ia que eles incentivassem os filhos nesses trabalhos e que propiciassem um ambiente de estudo tranquilo e não distractivo.
Que resta, então, ao aluno na assunção da responsabilidade que ele estabelece com os TPC? Não muita mas a suficiente para que ele possa aprender que o trabalho é um valor que começa em casa, se continua na escola e se prolonga (ou deveria prolongar) pela vida fora, enquanto pudessem existir forças e capacidades para isso. 

                                                           Mário Freire 


terça-feira, 8 de maio de 2012

A EDUCAÇÃO PARA O EMPREENDEDORISMO



A União Europeia promove o desenvolvimento das capacidades empreendedoras e inovadoras dos seus cidadãos como um factor chave para a competitividade. A maior parte dos países europeus está envolvida num processo de reformas educativas onde se prevê a implementação da Educação para o Empreendedorismo. Nalguns, foram criadas estratégias educativas específicas, enquanto noutros elas decorrem ao longo de toda a vida.
A Educação para o Empreendedorismo é um mecanismo impulsionador do crescimento futuro: se a Europa quer ser competitiva, deve investir nos seus cidadãos, nas suas capacidades e nas suas possibilidades para se adaptar e para inovar. Isso significa que é necessário encorajar uma verdadeira mudança de atitudes e logo a partir do início do percurso educativo.
A Educação para o Empreendedorismo é explicitamente reconhecida nos curricula da educação primária e secundária de muitos países europeus. Noutros, são definidos objectivos de aprendizagem (teórica e prática) relacionados com atitudes empreendedoras e perfis educativos, tais como o poder de iniciativa, a assumpção do risco e a criatividade.
Em conclusão, é de registar ainda que se desenvolvem nalguns países europeus actividades que mostram uma estreita cooperação entre a educação e o tecido empresarial. Aquelas manifestam-se, muitas vezes, pela iniciativa empreendedora dos estudantes, na criação e desenvolvimento de pequenas e médias empresas.

                                                       FNeves


domingo, 6 de maio de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 6


                                    Obstáculos a transformar

Volvendo ao princípio já referido de que podemos identificar e lidar com defeitos nas nossas qualidades e com qualidades nos nossos defeitos, há que considerar nestes um potencial não a eliminar, mas sim a transformar. Para tal se requer o seu reconhecimento, na linha da sinceridade. É neste espírito que a psicossíntese, atenta à síntese dos opostos, intende fazer uma utilização diferente de um potencial previamente mal identificado e aplicado. Sirva de exemplo um novo elenco, de forma a salvaguardar esse potencial.
Auto-suficiência – Esta se expressa num falso sentido de plenitude que nos impede de receber algo de que efectivamente carecemos. Há na auto-suficiência o paradoxo de um vazio disfarçado em plenitude. Serve de ilustração a história de um mestre Zen que insiste em verter mais chá na taça de um discípulo já totalmente cheia. Isto no intento de lhe demonstrar quanto, face a tal estado de rejeição, era um desperdício todo e qualquer ensino. Só do reconhecimento dos próprios limites poderá nascer a capacidade para os ultrapassar.
Competição – Uma vez concebida a vida como uma luta sobre nós próprios ou em rivalidade face a outrem, a tentação é destruir os obstáculos em vez de os usar como trampolim apto a facilitar o alcance determinado objectivo de auto-realização. Na própria disputa, o fundamental é o estímulo provindo quer do interior quer do exterior, sem antagonismo nem inveja. Da auto-identificação aliada à co-identificação provém o prazer da vida como um jogo, prevalecendo a máxima budista do tonglen em que se compartilham os méritos próprios e alheios.
Criticismo   Caracteriza-se este obstáculo pela carência de objectividade por exagero e demasiada atenção prestada às deficiências e erros alheios, esquecendo as virtudes e virtualidades. Presta-se ele à condenação dos demais, na ilusão de se catalogar a si mesmo no rol dos justos, ou ainda ao masoquismo, mediante uma auto-avaliação rígida e desmotivadora. Este tropeço se encontra não raramente aliado ao perfeccionismo e zelo incontido da verdade e da justiça que uma vez reconhecidos podem ser encaminhados para a compreensão e benevolência.
Discriminação – O erro deste obstáculo provém de um elitismo na identificação e classificação de pessoas e valores em que a subjectividade prevalece sobre a objectividade, fruto de preconceitos e causa de injustiça na graduação de qualidades e competências. Face à discriminação é imperioso o processo de  desidentificação conducente à auto-identificação e co-identificação.
            Dogmatismo – Esta tendência provém da estreiteza de espírito que anda aliada ao fixismo, ao misoneismo e ao exclusivismo, no sentido de absolutizar e impor ideologias e crenças. Face a uma tal tendência e comportamento, há que valorizar a energia da vontade, procurando relativizar as posições assumidas e fomentar a benevolência em favor de opiniões e convicções diferentes.

NB – Terá prosseguimento este elenco

                                João d’Alcor


sexta-feira, 4 de maio de 2012

A ESCOLHA DE UM CURSO E A REALIZAÇÃO PROFISSIONAL - 4


                       A vida para além do estudo e da sala de aula

            As experiências de vida que um jovem estudante venha a ter fora do âmbito estritamente escolar podem constituir-se num factor de grande relevo na sua escolha vocacional.
 São essas experiências, traduzidas em actividades dentro ou fora da escola, que lhe proporcionam o desenvolvimento de atitudes de responsabilidade, de cooperação e de trabalho; elas propiciam-lhe uma maior tomada de consciência dos seus interesses, capacidades e traços de personalidade; elas, ainda, são susceptíveis de conduzi-lo a uma maior integração dos vários conhecimentos já adquiridos e despertá-lo para o estudo de outros. Estas experiências, aproveitando os seus tempos livres, constituem, ainda, um meio de fomentar nos jovens comportamentos saudáveis.
Perguntar-se-á, então: que tipo de actividades levar à prática, como concretizá-las e quem responde por elas?
Ora, as escolas poderiam ser, em primeira instância, os promotores e os motores de muitas destas actividades. Assim, a título exemplificativo, que impede uma escola, com a colaboração activa dos alunos e, se possível, liderante, de organizar um clube de ciência, um jornal, uma campanha anti-fumo, um clube de literatura, um horto ou um jardim…
Por outro lado, o Instituto Português de Desporto e Juventude, entre as várias atribuições, tem a de incentivar e apoiar o associativismo juvenil, possuindo, para isso, meios técnicos, humanos e financeiros. Clubes de fotografia, cinema, teatro, filatelia…, com estrutura organizativa própria, poderiam funcionar, nos quais os jovens assumiriam papeis de relevo.
Outras organizações, porém, existem já, como o escutismo, grupos ligados à Igreja…, onde os jovens, desempenhando cargos, assumindo compromissos e exercendo lideranças, podem aprender a melhor conhecer-se, a desenvolver e a testar as suas capacidades e aptidões e, assim, estarem em melhores condições para fazerem uma escolha vocacional mais acertada. 

                                                          Mário Freire


quarta-feira, 2 de maio de 2012

BENQUERENÇA


Bem-fazer traz mal haver?
Há quem tenha essa impressão.
O contrário é de crer,
não obstante a provação.

Gera fruto o bem-fazer
que provém do coração.
Quem o faz o vai colher,
face mesmo à ingratidão.

Noutros termos: Fazer bem,
sem jamais olhar a quem,
só redunda em mais o haver.

Há no mote benquerença
garantias de uma avença
onde nada há que perder.

                                               João d’Alcor