quinta-feira, 27 de março de 2014

NA PRÉ-HISTÓRIA DA ASTRONOMIA (I)

                                     
                                                        Almendres

A descoberta do recinto megalítico dos Almendres, por Henrique Leonor Pina em 1964, é uma boa referência para o início da arqueoastronomia em Portugal.
Num mundo em constante evolução o entendimento do presente nunca será completo sem uma sólida perspectiva do passado. O mundo físico que nos rodeia tem raízes distantes de muitos milhares de milhões de anos, quando se formaram as primeiras formas de energia e matéria, e só muito mais tarde as primeiras formas de vida. Tudo isto sabemos através de vestígios de matéria e de radiações primordiais e pelo que, muito posteriormente, ficou registado ou embebido nas rochas que se formaram.
A escrita, na sua forma alfabética (fenícia) só aparece cerca de 1000 anos antes da era cristã, muito embora encontremos formas percursoras cerca de 500 anos antes disso. Os hieroglífos dos egípcios e os caracteres cuneiformes dos sumérios já aparecem no terceiro milénio AC. De facto, até há bem pouco tempo não havia ninguém para escrever, e a própria escrita só seria inventada quando as sociedades primitivas já se encontravam razoavelmente estruturadas.
O registo sistemático da actividade humana e da forma como os humanos viam e interpretavam o mundo é portanto uma actividade muito recente na cadeia evolutiva. Cerca de 6 milhões de anos atrás dá-se a separação dos hominídios e dos chimpanzés, que irá originar há cerca de 200.000 anos os Neandertais e o Homo Sapiens. Os primeiros artefactos simbólicos aparecem só há cerca de 70.000 anos, e a sedentarização, associada ao início das actividades de cultivo, provavelmente só ocorre há cerca de 10.000 a 15.000 anos. É a partir destas datas que se julga terem sido construídas as primeiras grandes estruturas duradoiras que chegaram até nós como testemunhos da actividade humana, e por isso é nelas que reside a possibilidade de se entender o que pode ter sido o comportamento e a evolução da mente humana que viria a promover comportamentos inteligentes cada vez mais próximos dos que hoje praticamos.
Estas construções são estruturas de pedra, frequentemente de grandes pedras, pesando cada uma algumas toneladas, e correspondem ao período designado por Megalítico que ocorre grosso-modo entre 7.000 AC e 3.000 AC. Se o cultivo e a sedentarização já representam um comportamento inteligente que substitui a caça como forma de subsistência e sobrevivência, certamente mais eficiente porque permitia prever a produção de alimentos e o seu armazenamento para consumo posterior, estas não são necessariamente as primeiras grandes manifestações intelectuais. A inteligente capacidade de organização, planeamento e cooperação necessárias para a caça em grupo terá ocorrido ainda durante o predomínio da actividade nómada que antecedeu esta fase agro-pastoril.

                      C. Marciano da Silva