Almendres
A
descoberta do recinto megalítico dos Almendres, por Henrique Leonor Pina em
1964, é uma boa referência para o início da arqueoastronomia em Portugal.
Num
mundo em constante evolução o entendimento do presente nunca será completo sem
uma sólida perspectiva do passado. O mundo físico que nos rodeia tem raízes
distantes de muitos milhares de milhões de anos, quando se formaram as
primeiras formas de energia e matéria, e só muito mais tarde as primeiras
formas de vida. Tudo isto sabemos através de vestígios de matéria e de
radiações primordiais e pelo que, muito posteriormente, ficou registado ou
embebido nas rochas que se formaram.
A
escrita, na sua forma alfabética (fenícia) só aparece cerca de 1000 anos antes
da era cristã, muito embora encontremos formas percursoras cerca de 500 anos
antes disso. Os hieroglífos dos egípcios e os caracteres cuneiformes dos
sumérios já aparecem no terceiro milénio AC. De facto, até há bem pouco tempo
não havia ninguém para escrever, e a própria escrita só seria inventada quando
as sociedades primitivas já se encontravam razoavelmente estruturadas.
O
registo sistemático da actividade humana e da forma como os humanos viam e
interpretavam o mundo é portanto uma actividade muito recente na cadeia
evolutiva. Cerca de 6 milhões de anos atrás dá-se a separação dos hominídios e
dos chimpanzés, que irá originar há cerca de 200.000 anos os Neandertais e o
Homo Sapiens. Os primeiros artefactos simbólicos aparecem só há cerca de 70.000
anos, e a sedentarização, associada ao início das actividades de cultivo,
provavelmente só ocorre há cerca de 10.000 a 15.000 anos. É a partir destas
datas que se julga terem sido construídas as primeiras grandes estruturas
duradoiras que chegaram até nós como testemunhos da actividade humana, e por
isso é nelas que reside a possibilidade de se entender o que pode ter sido o
comportamento e a evolução da mente humana que viria a promover comportamentos
inteligentes cada vez mais próximos dos que hoje praticamos.
Estas
construções são estruturas de pedra, frequentemente de grandes pedras, pesando
cada uma algumas toneladas, e correspondem ao período designado por Megalítico
que ocorre grosso-modo entre 7.000 AC e 3.000 AC. Se o cultivo e a
sedentarização já representam um comportamento inteligente que substitui a caça
como forma de subsistência e sobrevivência, certamente mais eficiente porque
permitia prever a produção de alimentos e o seu armazenamento para consumo
posterior, estas não são necessariamente as primeiras grandes manifestações
intelectuais. A inteligente capacidade de organização, planeamento e cooperação
necessárias para a caça em grupo terá ocorrido ainda durante o predomínio da
actividade nómada que antecedeu esta fase agro-pastoril.
C. Marciano da Silva