quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ENSINAR A FAZER PERGUNTAS

                                  

Numa escola do ensino básico, no 8ºano, a professora de Ciências, num dia que estava determinado para a realização de um teste, apresentou aos alunos a tarefa de serem eles próprios a fazerem as perguntas a que iriam responder. As surpresas foram evidentes, começando logo pelo facto de que para se fazerem perguntas com significado sobre um conteúdo, é preciso ter conhecimentos sobre aquilo que se vai perguntar.
O interessante desta ocorrência é que a professora valorizou, com este teste, o acto de fazer perguntas. Ora, o nosso ensino baseia-se mais em ensinar os alunos a dar boas respostas do que ensinar os alunos a fazer perguntas significativas. Perguntar significa indagar, inquirir, interpelar, pesquisar, procurar. Ora, estes são alguns dos mais importantes comportamentos que se visam quando se procura desenvolver capacidades de natureza cognitiva. Imagine-se que, numa breve visita de estudo, um passeio no campo, por exemplo, se propõe aos alunos que escrevam perguntas suscitadas por aquilo que vêem, ouvem, tacteiam ou cheiram. E que, depois, na aula, se discutam as diferentes questões formuladas. Destas duas actividades, estar em plena natureza, interrogando-a naquilo que ela oculta e procurar dar respostas às perguntas que tenham significado, eis uma boa maneira de ensinar a formar um espírito inquiridor, que se interpela por aquilo que à sua volta se passa. Claro que este espírito pode desenvolver-se de múltiplas maneiras. Uma delas, por exemplo, seria partir de um texto e propor que o aluno fizesse perguntas sobre ele e não o professor a fazê-las, para que o aluno respondesse.
À escola compete um lugar privilegiado na formação geral do aluno. E um dos aspectos dessa formação passa por proporcionar situações em que os alunos não sejam, apenas, receptores de um ensino que lhes é ministrado, meros espectadores das realidades que os envolvem. Há que fazer deles sujeitos na construção dos seus conhecimentos, pessoas interessadas por aquilo que os rodeia, que questionem a realidade envolvente, nos seus múltiplos aspectos e que se questionem, também, a si próprios sobre os seus comportamentos e atitudes.


                                                      Mário Freire

domingo, 27 de setembro de 2015

FORÇA






Forças, quanto mais armadas,
menos podem proteger.
De fraquezas disfarçadas
é seu deve, mor que o haver.

Força apta pra servir
não se serve de ninguém.
Longe da pecha de iludir,
há valor no que contém.

Boas causas só bons meios
utilizam, sem forçar
nem esbanjo de energia.

Protecção de bens alheios,
quanto a próprios vai de par,
timbre que vem da sinergia.

João d’Alcor


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

FALANDO DOS SOLOS - IMPORTÂNCIA DOS SOLOS





Inspirados na frase que ficou célebre do grande mestre da Renascença, Leonardo da Vinci (1452-1519), são muitos os que, de quando em vez, nos lembram que “não se pode amar aquilo que não se conhece”. Afirmação, tornada lugar comum, tem plena e justa aplicação face a tudo, material ou imaterial, o que nos rodeia.
E os solos são parte importante desse tudo.
É neste contexto e no propósito de promover, a nível mundial, um melhor conhecimento acerca do solo, como base para o desenvolvimento agrícola e subsequente segurança alimentar, que a Assembleia Geral das Nações Unidas, reunida a 20 de Dezembro de 2013, aprovou a Resolução n.º 68/232 que estabeleceu o dia 5 de Dezembro como Dia Mundial do Solo e o ano de 2015 como Ano Internacional dos Solos.

No que nos diz respeito, professores, investigadores e divulgadores de ciência, cabe-nos providenciar para que esta mensagem entre e permaneça nas nossas escolas e seja pretexto para incluir nos programas curriculares  conceitos fundamentais da ciência dos solos. Indispensáveis à formação dos alunos, os professores que ensinam Geografia, Biologia e/ou Geologia, devem transmitir estes conceitos, no conteúdo e na forma adequados aos diferentes patamares de escolaridade, sem esquecer outros, não menos importantes, de cariz económico e social relacionados com a utilização do solo.

Para além do seu significado como fenómeno geológico do presente e do passado, o solo tem capital importância no desenvolvimento e manutenção da vida subaérea, com reflexo evidente na sociedade humana. Suporte fundamental da biosfera acima das terras emersas, está na base da cadeia alimentar dos animais e do homem.
O solo fornece às plantas o indispensável complemento alimentar do que lhes é facultado pelo CO2 atmosférico. Esse complemento consiste nas substâncias químicas provenientes quer da manta morta, quer da alteração das rochas do subsolo.
Sendo certo que dispomos hoje, como nunca, de valiosa informação científica sobre o solo, torna-se urgente aumentar, a nível das populações, a consciencialização e a promoção da sustentabilidade deste recurso que sabemos ser degradável, frágil e irremediavelmente finto.
Desde sempre alvo da erosão natural, o solo está hoje, mais do que nunca, sujeito a agressões físicas, químicas e biológicas (resultantes de práticas de exploração intensivas e incorrectas) e à destruição decorrente do alastramento da urbanização e de um vasto conjunto de realizações próprias da sociedade moderna, com destaque para rodovias, barragens e aeroportos.
As alterações climáticas, a desertificação e a seca (que já ameaçam o Alentejo) são uma realidade, constituindo desafios de dimensão mundial que a todos devem preocupar e que sabemos serem objectivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, assinada no Rio de Janeiro, em 2010, por 192 países.
Assim, têm sido desenvolvidos esforços no sentido de condicionar a gestão do solo, quer quanto à satisfação das necessidades do presente, quer à das futuras gerações, tendo em vista não apenas a sua utilidade na agricultura, silvicultura e pecuária, mas também nos aspectos do terreno em termos de beleza paisagística.
Nestes termos e no que se refere a Portugal, a Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo, consciente deste grave problema, procedeu, em 1975 (já lá vão quatro décadas), à adaptação para o nosso país da European Soil Charter, divulgada em 1972, pelo Comité dos Ministros do Conselho da Europa, cujos artigos se transcrevem:
1º - O solo é um dos bens mais preciosos do património natural.
2º - O solo é um recurso natural limitado, facilmente degradável e perecível.
3º - A política de ocupação do solo deve ser gizada em função das propriedades do solo, da ecologia e das necessidades permanentes do país.
4º - A qualidade do solo deve ser preservada e, sempre que possível, restaurada ou melhorada.
5º - O solo deve ser protegido contra a erosão e contra as inundações. Cabe à conservação do solo lugar de relevo no planeamento das actividades nacionais.
6º - O solo deve ser protegido contra a poluição.
7º - Os solos mais férteis e produtivos devem ser reservados para a agricultura, mediante promulgação de leis que impeçam a usurpação dos mesmos por outras actividades.
8º - Nos projectos de engenharia civil devem-se prever as repercussões desfavoráveis das grandes obras no solo e as verbas necessárias para a sua protecção e restauração.
9º - Deve ser incrementada a inventariação do solo e assegurada a vigilância contínua deste recurso.
10º - A investigação científica, a colaboração interdisciplinar e a extensão agrária devem ser estimuladas e fortalecidas com o fim de racionalizar a utilização do solo e, sem o degradar, aumentar o produto agrícola.
11º - A conservação do património-solo deve ser incluída nos programas de ensino primário, secundário e superior e constituir preocupação constante dos cidadãos.
12º - O Estado e as autarquias locais devem planear e gerir racionalmente os recursos do solo, a bem do povo português.

       Galopim de Carvalho

           

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O MUNDO NÃO É PEQUENO, NÓS CRUZAMO-NOS É COM AS PESSOAS CERTAS!




Em encontros onde sentimos que a proximidade com determinada pessoa é grande, descobrimos que os nossos caminhos de vida não são assim tão distantes. Chegamos mesmo a ter a sensação de que antes ou depois a iríamos conhecer, como se estivesse predestinado a acontecer, talvez porque se torna quase difícil relembrar como era a nossa vida no passado, ou como seria no futuro, sem essa pessoa. Esse ‘outro’ passa a fazer parte de nós e começamos a descobrir muitas coisas em comum, por vezes até amizades, dando voz à exclamação ‘O mundo é mesmo pequeno!’. Somos 7 milhões, será que o mundo é assim tão pequeno? O que nos leva a estar em determinado sítio, num momento específico – quando se calhar até nem era suposto –, a cruzar-nos com uma pessoa, a estabelecer contacto para que ela fique na nossa vida, é apenas fruto de uma coincidência de que o mundo é pequeno? Num desses encontros recheados de magia, esse outro usou uma expressão que achei deliciosa: ‘O mundo não é pequeno, nós cruzamo-nos é com as pessoas certas!’.
Agostinho da Silva dizia: ‘Não faças demasiados planos para a vida para não estragares os planos que a vida tem para ti!’. Experienciar aquilo a que o psicólogo Carl Jung chamou de ‘sincronicidades’, dá sabor à nossa existência, sobretudo pelo subjacente fator surpresa. Diz-se que duas pessoas estão em sincronia quando pensam e/ou sentem numa harmonia intensa a ponto de se sentirem vinculadas por um forte elo de ligação. Uma sincronicidade tem lugar quando se materializa um encontro no qual sentimos uma naturalidade e espontaneidade únicas, não tendo havido nenhum planeamento da nossa parte para o provocar. Simplesmente acontece. Acontece após abrirmos mão da nossa necessidade de controlar e de concretizar apenas o que idealizamos. Nas sincronicidades não existe espaço para planos, manipulações, ou calculismos; nas sincronicidades existe naturalidade, espontaneidade, autenticidade, fluidez, conforto e uma sensação de plenitude por ter encontrado a chave certa para uma determinada porta. Mas não é coincidência, não é um mero acaso ou sorte. É algo que acontece na sequência dos movimentos que vamos fazendo no nosso percurso de vida e que à medida que vamos confiando, que nos vamos entregando à beleza do inesperado, vamos simultaneamente desobstruindo o terreno para que a vida nos proporcione os tais planos que tem para nós. Planos carregados de significado, planos que fazem sentido e que mudam a trajetória que eventualmente tínhamos previsto, planos que nos fazem sentir a serenidade e a confiança de que estamos novamente num caminho que é o nosso, em sincronicidade com o mundo.

Rossana Appolloni



sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A GOTA D´ÁGUA






Uma gota d’água fresca, luzidia
Caiu sobre a vastidão da natureza.
Uma lágrima de fada, ela parecia.
Nem aos deuses coube, assim, tanta beleza.

Caem gotas, muitas gotas, podes vê-las
P’la vidraça da janela sem abrires.
Brilham como diamantes, como estrelas.
Todas juntas vão lavar o arco - íris.

Caem bruscas, as catraias das gotinhas!...
Cai a chuva picadinha lá do céu.
Ansiosas, as esperam, as meninas
P’ra com elas salpicar o seu chapéu.

As gotas diluídas na corrente
Vão encher todo o rio até à foz.
Põe-se o sol com mais cor, lá no poente
E a vida vibra mais dentro de nós!...

No cair de uma chuvada há melodia.
Após, cada tempestade, surge a bonança.
Fica a Terra inundada de poesia
De baladas, fantasias e esperança!...

Aldina Cortes Gaspar


terça-feira, 15 de setembro de 2015

UMA ENCÍCLICA PREOCUPADA COM O AMBIENTE





O Papa Francisco publicou a sua nova encíclica 'Laudato si'. Não é a primeira vez que um Papa se debruça sobre os temas ambientais mas, uma encíclica inteiramente dedicada ao ambiente, é uma novidade.
A longa espera que precedeu a publicação da “Laudato si', gerou uma grande expectativa. Ao lê-la, pode encontrar-se uma continuidade com pontificados anteriores, especialmente com os escritos de São João Paulo II e do Papa Bento XVI. O termo "ecologia humana", que se refere à centralidade da pessoa humana na questão ecológica, numa perspectiva distinta da dos ecologistas e dos tecnocratas, foi já usado por João Paulo II. Se é verdade que os seres humanos são a causa do desequilíbrio actual, cujas consequências caem sobre os mesmos homens e sobre toda a natureza são, ao mesmo tempo, protagonistas da mudança. Dessa forma, a questão ecológica não pode ser separada de outras questões com ela relacionadas, que dizem respeito à economia, à pobreza e à religião que, juntas, contribuem para o bem comum.
O progresso moderno, trouxe-nos muita comodidade e sanou muitas dificuldades. No entanto, enquanto a tecnologia tem, sem dúvida, melhorado a qualidade de vida, estamos apenas a começar a reconhecer os muitos problemas ambientais que daí resultaram. Clima, biodiversidade, poluição da água, poluição do ar, energia, resíduos, são aspectos da crise ambiental mundial, numa abordagem nova e prática, na encíclica do Papa Francisco, inteiramente dedicada à protecção do planeta.
O Papa afirma: “A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudar o seu estilo de vida, de produção e de consumo, para combater as alterações climáticas ou, pelo menos, as causas humanas que o provocam ou agravam”. E, acrescenta a encíclica, na mesma linha do que cientistas e políticos têm vindo a seguir nas últimas duas décadas: “As alterações climáticas são um problema global, com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas e constituem um grande desafio para a humanidade”.
 O clima não é senão um dos tópicos abordados pela encíclica. O texto preocupa-se com tudo o que diga respeito à crise ambiental – ou seja, à forma como a humanidade está a desestabilizar o planeta. Francisco cita os efeitos da poluição atmosférica, que “provocam milhões de mortes prematuras”, e fala do problema dos resíduos. “A Terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo”, afirma.
É também referido o risco de extinção de espécies, com o alerta de que os animais e as plantas não são apenas “recursos exploráveis” mas têm “um valor intrínseco”. O papa reflecte ainda sobre os problemas de acesso à água, criticando a tendência de privatização deste recurso fundamental para a vida humana, levada a cabo já em diversos municípios portugueses, que se torna assim “uma mercadoria sujeita às leis do mercado”.

                                        FNeves






sábado, 12 de setembro de 2015

ENSINAR ESTRATÉGIAS PARA RESOLVER PROBLEMAS

                      



Todos nós, diariamente, nos confrontamos com problemas, uns de fácil resolução, outros, por vezes, que nos impedem de dormir. Há problemas que nós próprios criámos, fruto da nossa insensatez, inexperiência ou falta de estudo das situações e a sua resolução pode depender de nós mesmos. Outras vezes, são os problemas que vêm ter connosco, sem que nós tenhamos contribuído para a sua existência e a sua resolução pode não depender exclusivamente de nós.
Em qualquer das circunstâncias, temos que saber como enfrentar esses problemas, sejam eles de saúde, conjugais, financeiros, educacionais… e, depois, tentar resolvê-los. Se os seus conteúdos são diferentes, algumas das maneiras como eles são abordados poderão ser idênticas.
Ora, a escola talvez pudesse preparar melhor para a vida se proporcionasse, nas diferentes disciplinas, situações problemáticas em que os alunos as tentassem resolver, individualmente ou em grupo. O trabalho de grupo permite uma maior confrontação de ideias, uma melhor explicitação dos argumentos, uma análise da situação segundo vários enfoques. É preciso envolver o aluno na construção do seu saber, na identificação de problemas e depois na sua resolução. Claro que esta metodologia não é compatível com os alunos estarem sentados de costas voltadas uns para os outros a ouvir o que o professor lhes diz mas, antes, uma outra que implique a organização do espaço-aula de maneira diferente e que suscite uma nova maneira de apresentar os conteúdos das matérias a estudar. Além de que muitos dos problemas disciplinares deixariam de existir!

Como resolver, então, um problema? Muito sumariamente diria que há que caracterizá-lo o mais objectivamente possível, analisá-lo nas partes em que é susceptível de ser dividido, propor questões que contribuam para o clarificar, encontrar propostas, ainda que provisórias, para a sua resolução e, depois, estabelecer um plano que possa ir ao encontro de uma solução. Uma vez executado o plano, há que interpretar os dados recolhidos, sintetizá-los para, depois, chegar a uma solução. Claro que nem sempre aquilo que foi planeado, devido a circunstâncias inesperadas, pode ser executado. Mas é no confronto com as dificuldades e na procura de soluções para um problema que o aluno se avalia, avalia o caminho percorrido e se fortalece nas suas capacidades. E estando sempre presente o professor para ajudar, clarificar, questionar... 

                                   Mário Freire

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

FORASTEIRO





‘Quem tem boca vai a Roma’
é ditado a divulgar.
Não se fique na redoma
quem tal fim quer alcançar.

Ter um mapa muito bem;
mas a rota pode mudar.
Bom que então é ter alguém
que nos possa orientar.

Cabe-me, enquanto forasteiro,
bem que em ar de aventureiro,
ignorando, perguntar.

Cada vida seu roteiro.
Conhecê-lo, por inteiro,
Jamais antes de chegar.


João d’Alcor

domingo, 6 de setembro de 2015

A COR DOS MINERAIS





                                    Esmeralda (variedade gema de berilo)



A impressão de cor que nos é dada por um qualquer corpo, no caso vertente, um mineral, é consequência da absorção das radiações de determinados comprimentos de onda do espectro da luz branca que incide sobre ele. Por exemplo, o realgar (sulfureto de arsénio) e o rubi (óxido de alumínio) são vermelhos vivos porque absorvem as radiações com comprimentos de onda 625 a 740 nm (nanómetros). A autunite e o enxofre são amarelos porque absorvem a gama compreendida .




                           Rubi (variedade gema de corindo)




                                           Safira (variedade gema de corindo)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

ESPIRITUALIDADE




Apesar das palavras religião e espiritualidade aparecerem com frequência associadas, elas não aludem à mesma realidade. Pode definir-se a espiritualidade como sendo a busca de um sentido superior que ultrapassa a existência e a dimensão do individual. Enquanto a religião se refere à fé, à comunhão com Deus e à busca de uma verdade absoluta, a espiritualidade refere-se à prática de algo que supera os confins da personalidade individual. Podemos alimentar a nossa espiritualidade através de atividades que reduzem a experiência do Eu (constituído por exigências, medos, apegos, etc.). Tudo o que ajude a reduzir a presença do Eu, incrementa a possibilidade de desenvolver a espiritualidade em cada um de nós, e cada um encontrará a melhor forma de a estimular.

O espiritual tem a ver com valores que criam uma comunhão com a Humanidade e que nos obrigam a abandonar o que é individual para entrarmos num âmbito mais vasto. A espiritualidade em nós manifesta-se quando encontramos no mundo uma beleza indizível, uma verdadeira inspiração, um gesto de sublime altruísmo, um momento de profunda gratidão, ou o simples despertar de forças da natureza que estão para além do que é o domínio humano. A sensação de que existe algo maior do que nós próprios, algo que possui um sentido que nos ultrapassa, assinala a emergência do espiritual. Ultrapassa a dimensão do pessoal, mas é condição fundamental da dimensão humana e, como tal, da felicidade. A própria comunidade científica já admite a importância de darmos espaço nas nossas vidas a esta dimensão, a qual se manifesta não apenas quando estamos isolados em meditação, por exemplo, mas sim no dia-a-dia, na nossa relação com os colegas, os amigos, ou a família. No entanto, a espiritualidade não deve ser alimentada como uma fuga à realidade, pois não nos podemos esquecer que vivemos através de uma personalidade e uma realidade bem concretas. Tal como diz o filósofo Teilhard de Chardin, não somos seres humanos num caminho espiritual, mas sim seres espirituais num caminho humano. Devemos, portanto, usar as ferramentas humanas de que dispomos para ascender ao espiritual que há em nós. 

                                                   Rossana Appolloni