domingo, 31 de julho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 8


                             
                                (A propósito de uma exposição)

                                          O Ensino Primário

            Os revolucionários de 1910 sempre acreditaram na importância da educação como elemento de valorização humana e transformação social. Eles diziam que “o homem vale sobretudo pela educação que possui”. Por isso, menos de seis meses após a implantação da República, sai o Decreto de 29 de Março de 1911 que remodela o ensino infantil, primário e normal. Nele se pode ler que a escola deveria conduzir a criança à “conquista do pão e da virtude”.
            Mas, como se conquista o pão? Aprendendo, sabendo aplicar o que se aprendeu e trabalhando. E o que é a virtude? É a probidade, a rectidão, a austeridade no viver, a força moral e a coragem.
            Eram, pois, os conhecimentos, os valores cívicos e morais que se pretendia que presidissem ao ensino dos primeiros anos de escolaridade.
            O Decreto citado reporta-se a duas categorias de ensino: infantil e primário.
            O ensino infantil toma como base de actuação as doutrinas da Escola Nova de Froebel e Maria Montessori (de que Faria Vasconcelos foi o grande paladino, como se viu), em que a individualidade, a liberdade e a actividade da criança são princípios orientadores das tarefas de aprendizagem na faixa etária dos 4 aos 7 anos.
            Quanto ao ensino primário, ele estava organizado em três graus: elementar, complementar e superior.
            O ensino primário elementar tinha a duração de três anos, carácter obrigatório e aberto às crianças com o mínimo de 7 anos de idade. Nele se fazia a aprendizagem da leitura, da escrita, das operações fundamentais da aritmética, de noções preliminares de geografia de Portugal e geral, de desenho, canto coral, trabalhos manuais e agrícolas, conforme os sexos. Igualmente constava nos programas a aquisição de normas de moral prática, de educação da sensibilidade e noções sumárias de educação social, económica e cívica.
            O ensino primário complementar, com a duração de dois anos, era reservado àqueles que tivessem aprovação no grau elementar e com um mínimo de 10 anos. Este grau dava continuidade aos objectivos enunciados para o elementar. Continha noções de economia rural ou fabril, conforme as regiões, físico-químicas, ciências da natureza, assim como de jardinagem, horticultura, fotografia e economia doméstica, esta exclusivamente para raparigas.
            O ensino primário superior, com a duração de três anos, era facultado às crianças com o exame do grau complementar e com um mínimo de 12 anos. Este grau de ensino ministrava cursos de carácter profissionalizante.
            Estes dois últimos graus de ensino tinham um carácter facultativo.
            Os programas do ensino primário explicitavam, pois, uma orientação pedagógica que tinha em consideração a personalidade da criança, nos seus vários aspectos (físico, intelectual, estético e moral). Outras propostas legislativas se seguiram a este Decreto. Este, contudo, por ter sido o primeiro a dedicar-se exclusivamente à educação, após a implantação da República, revela bem quanto de empenhamento os revolucionários de 1910 tiveram por ela.

                                                                        Mário Freire

sexta-feira, 29 de julho de 2011

DECISÃO




Para os fracos os desejos
são apenas eu queria.
Para os fortes são ensejos:
A vontade é quem os guia.

Se há desejo inibido,
tudo é procrastinado.
Se há impulso decidido,
surge o acto consumado.

O poder de decisão
permanece em nossa mão:
não se pode alienar.

Fácil seja ele ou não,
decidir é condição
de na vida triunfar.

        João d’Alcor

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA NO SÉCULO XXI


A crise financeira atravessa o mundo inteiro. Vivem-se tempos de incerteza económica e política. Vários estados europeus lutam para evitar a bancarrota. A aprendizagem ao longo da vida (Lifelong Learning, LLL), pode ser algo mais que um instrumento através do qual as pessoas poderão assegurar um posto de trabalho remunerado.
De facto, a LLL também tem um grande impacto na prosperidade económica, aliada ao potencial que permite transformar indivíduos e sociedades. No seu melhor, faz sobressair os valores humanos tais como a tolerância e a cooperação mútua e pode impedir que os  Estados mergulhem na ignorância e na injustiça social.
As políticas educacionais da União Europeia tentam criar um mundo diferente, menos dirigido ao lucro e mais centrado nas relações humanas. Concretamente, procuram, entre outras, desenvolver estratégias de educação de adultos que promovam a saúde, a inclusão social, a unidade familiar, a participação política e a sustentabilidade ambiental.
São produzidas recomendações políticas, baseadas na prática dos Estados membros. Posteriormente, aquelas são divulgadas através de conferências, seminários, debates e actividades online (European Lifelong Learning Network). O objectivo é mudar atitudes e divulgar os benefícios do investimento na  LLL, devidamente enquadrado nas políticas educativas de cada um dos Estados membros. Tal exige uma conveniente sensibilização dos decision-makers. A Europa deve mudar: novas formas de viver e trabalhar permitirão que nos aproximemos de uma sociedade mais justa e menos desigual.
                                                                                                FNeves

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O QUE SE ESPERA DE UM EDUCANDO






              
            Quem viu o celebrado filme My fair lady, lembra-se daquele professor de fonética, acompanhado de um seu amigo que, numa das suas deambulações nocturnas, ouve falar Eliza, uma rapariga pobre, vendedeira de flores, com um vocabulário horrível e um sotaque característico dos bairros pobres de Londres. O professor aposta, então, com o companheiro de que seria capaz de transformar aquela rapariga numa dama de alta sociedade, num espaço de seis meses.
            Ganho o consentimento de Eliza para tal desafio, segue-se, depois, um árduo trabalho da parte de ambos que termina com a vitória do professor e... com o casamento deste com Eliza.
            Recordo, igualmente, um aspecto da minha vida de estudante em que o Prof. Reis Pereira (José Régio) quantas vezes escrevia, no final dos meus exercícios escritos, frases do tipo “esperava melhor”!
            Ambos os casos evidenciam um desejo elevado do professor em relação aos resultados que espera do aluno. Ora, a existência deste desejo e a manifestação ao aluno de que ele se materialize, induz naquele um empenho no trabalho, a assunção de uma responsabilidade, de modo que a expectativa formulada pelo professor possa vir a ser concretizada.
            Se um professor nada espera de um aluno ou de uma turma, é natural que os seus actos pedagógicos se traduzam em mínimos a realizar. E se o aluno percebe que nada se espera dele, então para quê estar atento e trabalhar, se o resultado, à partida, já está definido?    
            Mas a importância da formulação de expectativas elevadas também é aplicável aos pais. Estes, perante comportamentos desajustados dos seus filhos adolescentes, sejam eles escolares ou outros, poderiam fazer uma avaliação serena mas firme dos mesmos, retirando as consequências. Mas essa avaliação haveria de conter, depois, uma esperança convicta nas capacidades dos filhos para alterarem aqueles comportamentos. Talvez, então, eles respondessem a essas expectativas com resultados que pudessem surpreender os pais!
                                                                                                                    
                                                                                         Mário Freire

sábado, 23 de julho de 2011

RECONHECENDO O PASSADO


Ao reconhecermos as situações do passado permitimo-nos a nós mesmos encontrar a nossa sabedoria. Algo do nosso lado de crianças receia que uma experiência negativa se repita. Com a ajuda do terapeuta/ educador conseguimos relembrar as nossas dores e desesperos, que se transformaram num medo inconsciente reflectido em situações do presente. Ao tomarmos de modo consciente o papel de observadores, temos a oportunidade de perceber que o acontecimento anterior se distingue das emoções do presente, e que as emoções simuladas podem ser harmoniosamente substituidas por vivências actuais de plenitude e de verdade. No fundo é uma transmutação orientada através de uma meditação profunda. Esta movimentação permite substituir o velho pelo  inigualável presente.
Percebemos que o que é invisível pode ser presença. Reconhecendo as tristezas, os medos e as inseguranças, desidentificarmo-nos dos nossos papeis, substituindo as emoções por uma aceitação de tudo o que aconteceu. É o estar disponível para receber o novo através de uma consciencialização do momento exacto em que a emoção foi sentida, fazendo o desligamento das situações actuais, onde a mesma se reflecte fazendo perdurar uma permanente inquietude.
À medida que trazemos as nossas memórias trazemos simultaneamente uma necessidade e uma vontade de permitir a nós mesmos reconhecer aquilo que está escondido, a anterior negação, e que nos impede de ser livres. Aquilo que chamamos de liberdade acaba por estar condicionado pela inconsciência das emoções do passado. Aprendemos então a confiar numa intenção livre e criativa e numa nova compreensão da realidade.
É um momento de meditação que permite alhearmo-nos dos acontecimentos do exterior num encontro de paz e de tranquilidade interiores.

                                                                                                 Paula Faria









quinta-feira, 21 de julho de 2011

CONSCIENTIZAÇÃO





Sim ou não a gente queira,
é humana condição
ser ‘studante a vida inteira.
Quanto traz faz de lição.

Da teoria às mãos na massa,
nos convida a reflexão.
Entre autor e quanto faça,
pede um traço de união.

Importante é o estudo
e nele conta, sobretudo,
dar-lhe boa aplicação.

O aprender até morrer,
aliado ao bem-fazer,
eis a conscientização.

João d’Alcor

terça-feira, 19 de julho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 7

                              
                                 (A propósito de uma exposição)

                                 A Educação Cívica e Patriótica

            A educação cívica foi um dos aspectos mais salientados pelo ensino da 1ª República. Esta educação consistia, antes de mais, em formar o aluno para a liberdade, fazer dele uma pessoa autónoma, que pudesse pensar pela sua própria cabeça, que tomasse iniciativas. Viu-se, em textos anteriores, como é que, através da corrente pedagógica da Escola Nova, nas múltiplas actividades que esta sugeria, poderia ser proporcionada essa formação.
            Mas a liberdade, segundo os ideólogos desta época, só tem lugar em solidariedade. Para isso, o exemplo é elemento fundamental. Ora, este tem múltiplas oportunidades de ser posto à prova através da prática da generosidade e da entreajuda, dentro da sala de aula e fora dela. Um Decreto de 25 de Agosto de 1911, relativamente ao ensino infantil (comum aos dois sexos, entre os 4 e os 7 anos), identificava como um dos objectivos “o desenvolvimento dos sentimentos morais: o sentimento da solidariedade social, o sentimento da disciplina e da ordem, da justiça, da própria dignidade em geral – o sentimento do dever e a consciência do direito”.
            Vê-se, por este excerto da prosa oficial, quão longe ficaram os desejos manifestados da realidade que, depois, foi vivida, através das múltiplas convulsões por que passou a República desses primeiros anos!
            Tem-se falado, até aqui, de educação cívica. Mas o título deste texto contém, ainda, uma outra componente: a educação patriótica.
O projecto educativo da República passou pela laicização do ensino, retirando à Igreja Católica a importância que, até aí, detivera. Pretenderam, então, substituir muitos dos ícones e das práticas que tinham estado em uso pelo culto da Pátria e dos símbolos que a representavam: a bandeira, o hino e os heróis nacionais.
O patriotismo implicava que todos os cidadãos estivessem preparados para defender a Pátria com armas na mão e, se necessário, dar a vida por ela. E para melhor concretizar o seu conceito, o hino e a bandeira eram como que os símbolos sagrados, em relação aos quais todos deveriam respeitar, homenagear, quase venerar. Igualmente, a evocação de todos aqueles que se destacaram, ao longo da História, muito especialmente os que estavam ligados à expansão ultramarina, constituíam modelos com os quais as novas gerações se poderiam identificar.
Houve erros e exageros durante a 1ª República? Sem dúvida! Mas, revisitando a História dessa época, talvez melhorássemos um pouco se tentássemos trazer para dentro das escolas e da sociedade alguns dos valores cívicos que, então, se proclamavam. 

                                                                                       Mário Freire




domingo, 17 de julho de 2011

CONTRIBUTOS PARA A INSERÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO

                 


As actuais circunstâncias sócio económicas da União Europeia justificam a implementação de políticas e estratégias relacionadas com a aprendizagem ao longo da vida que levem ao aperfeiçoamento e expansão de competências em todas as áreas, não só ao nível técnico mas, especialmente, ao nível pessoal (competências sociais e emocionais).
É, pois, essencial desenvolver as competências relacionadas, nomeadamente a Inteligência Emocional; outras, no entanto, não podem ficar de fora tais como a auto-aprendizagem, a motivação e as sociais. Todas elas são importantes nos diferentes níveis de educação e de aprendizagem e, cada vez mais, elas têm a ver com o mercado de emprego.
A União Europeia refere em diversos documentos estratégicos a importância das competências cívicas e sociais como um dos principais pilares da educação e da aprendizagem. Elas deverão ser preocupação, igualmente, das diferentes aprendizagens ao longo da vida, nas suas vertentes formal e informal.
A integração contínua e horizontal de todas estas competências duma forma clara, permite que os formandos se adaptem com sucesso às necessidades do mercado de trabalho, cada vez mais exigente em termos de competências sociais.
A situação actual exige que se actue logo desde a educação primária; só assim poderão ser adquiridas as diferentes competências atrás referidas que poderão conduzir ao desejado sucesso num mundo em mudança e em constante evolução.

                                                                                                         FNeves

sexta-feira, 15 de julho de 2011

EM BUSCA DA FONTE DE SABEDORIA INTERIOR







A Psicologia Humanista baseia-se na fenomenologia e na autonomia de certos traços da personalidade. Refere-se a uma visão do ser humano como um ser criativo com capacidades de auto-reflexão, decisões, escolhas e valores.
Mas se aprofundarmos a vertente Transpessoal a mesma refere-se a uma experiência mística de respeito pelo Ser interior baseada na auto-realização, numa sinergia individual e de espécie, num encontro interpessoal, na sacralização da vida quotidiana. Estuda essencialmente estados de consciência.
Divide a personalidade humana em duas partes: a que se refere ao Ser, aos sentimentos de bondade, fraternidade, solidariedade, sinceridade, tolerância e auto-estima, e a que se refere ao ego, que é a dimensão onde ficam registadas as experiências negativas como a depressão, a angústia, o medo e outras. Este utiliza as máscaras como um instrumento de defesa.
A dimensão transpessoal facilita a transmutação das energias do ego, transformando os sentimentos de desamor em amor. Permite a Transformação das pessoas através do autoconhecimento e na busca do amor em si mesmas e nos outros. Tem como missão a busca de uma realidade mais profunda, para além do ego, desenvolvendo-se uma forma amadurecida de lidar com a vida, permitindo ultrapassar o sofrimento e a dor na busca de um Equilíbrio Emocional.

                                                                                            Paula Faria





 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

DIÁLOGO

       

Muito importa ter em mente,
quanto, em vez de confrontar,
há ensejo permanente
que é convite a dialogar.

Pede o bom procedimento
que antes mesmo de falar,
ouça bem, esteja atento,
passe tempo a ponderar.

Dialogar é ser cortês,
ver na paz um tal portento
que faz dela mesmo um fim.

Bem melhor não há, talvez,
 do que o bom entendimento.
Esse o alvo, quanto a mim.

         João d’Alcor

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A DISCIPLINA NA ESCOLA - 6

                        
                             Para além das matérias a leccionar                                      

            O currículo da escola, na sua acepção mais ampla, não é constituído, apenas, pelas matérias que são leccionadas, mas também pelos resultados que se pretendem alcançar, pelos métodos e processos que têm lugar e, ainda, pelas interacções existentes.
            Isto significa que os alunos aprendem atitudes, comportamentos, modos de pensar e de agir que decorrem das atitudes, comportamentos, modos de pensar e de agir daqueles com quem contactam, especialmente os que sobre eles exercem maior influência. Ora, são todos estes aspectos que fazem da escola, de um modo mais ou menos explícito, um emissor de mensagens cujo conteúdo ultrapassa o das matérias dos programas. Ele situa-se já na esfera dos valores. Coloca-se, então, a questão de saber que tipos de valores deve ela promover.
            Em crónica anterior tive ocasião de referir quanto de importante é o aluno participar no estabelecimento das regras que regem a sua própria conduta. Ensinando a participação, a escola está a formar cidadãos responsáveis e intervenientes na sociedade.
            Mas esta formação não passa, exclusivamente, pela participação. O aluno tem que sentir, através de uma cultura de exigência que impregne a escola, que o trabalho e a responsabilidade são valores presentes em toda a comunidade escolar. Ao adquirir hábitos que conduzam à valorização do seu esforço e ao ver referências relativas à assunção e cumprimento dos compromissos por parte daqueles que os influenciam, o aluno está a construir capacidades que o ajudarão a ser uma pessoa mais autónoma e responsável.
            Nas múltiplas reuniões que os professores fazem, talvez fosse útil em algumas delas, para além da análise do que se faz na sala de aula relativamente ao ensino das matérias, debater as mensagens que a escola emite e se elas têm a ver, verdadeiramente, com a participação construtiva do aluno, com a importância do trabalho e com o desenvolvimento do sentido da responsabilidade que cada um deve a si próprio e aos outros, dentro da comunidade escolar. Numa escola onde houvesse estas preocupações talvez os actos de indisciplina fossem menos frequentes.

                                                                                               Mário Silva Freire

sábado, 9 de julho de 2011

EXEMPLO


                                                                                          
Força ele há que tanto arrasta
nos exemplos recebidos.
Registá-los tal não basta:
Há que ver qual seu sentido.

Quer o bem e quer o mal
tendem ambos a arrastar.
O dilema é, afinal,
ou seguir ou evitar.

Maus exemplos são avisos
de caminhos perigosos.
Mal de quem os percorrer.

Bons exemplos, tão precisos,
são tesouros preciosos
que apraz dar e receber.
 
              João d’Alcor

quinta-feira, 7 de julho de 2011

UNIVERSO SAUDÁVEL


                               Ao Encontro da Sanidade Mental

        Vimos salientar a importância da realização de um trabalho psicoterapêutico com base na descoberta da causalidade de acontecimentos de vida traumáticos, ocultos nas relações familiares ou sociais, que têm repercussões num mal-estar físico, dor ou sofrimento.
        O modo de sentir os acontecimentos menos bons pode tomar a forma física da doença, através da invasão da sanidade mental do indivíduo e da sua problemática.
        Explicando a origem do corpo e das células e de todos os elementos químicos, e estabelecendo uma analogia com o universo cósmico, podemos compreender a relação tão directa entre a doença e o sintoma. O sintoma situado no corpo, e que tanto desconforto nos traz, não será mais do que o reflexo do desconforto da “alma” e da insatisfação da mente.
        As doenças biopsicológicas referem-se a uma causalidade com origem na família/sociedade. Deste modo procura-se, através de terapias fenomenológicas e dramáticas, encontrar o caminho da estabilidade, tendo em conta a compreensão esclarecedora do nosso interior e dos nossos conflitos, permitindo o mais possível o encontro com a saúde.
            Compreendemos que efectivamente os sintomas se relacionam com a componente biopsíquica, sendo o reflexo de situações não resolvidas ao longo da vida, sendo que a doença propriamente dita se situa a nível da personalidade e não do núcleo espiritual que nos anima, sendo este o fulcro da sanidade.
        A dinâmica da intervenção psicoterapêutica permite o encontro com uma vida mais saudável. É o autoconhecimento revivido e rejuvenescido.                                                                                                                                                                 
 A tranquilidade do espírito é o antídoto da doença.  
                                                                                                      
                                                                                  Paula Faria

terça-feira, 5 de julho de 2011

OPORTUNIDADE



Há um tempo já perdido
se o afazer é protelado.
Bom conselho, se esquecido,
é tesouro relegado.

Toda a oportunidade,
vem a ser, eu não duvido,
um apelo que em verdade,
traz à vida mais sentido.

Seu convite é ‘star atento
ao lugar e ao momento
que dão azo a algo bom.

Sem deixar para o futuro,
no presente o asseguro,
seja qual ele for o dom.


                               João d’Alcor

domingo, 3 de julho de 2011

histórias da HISTÓRIA

                                   

            Isilda Garraio é uma estudiosa da História Local de Portalegre. Assim, ela coordenou um grupo de trabalho que editou o livro Azulejaria de Portalegre – um olhar sobre a cidade. Publicou, ainda, vários estudos: o Foral Manuelino de Portalegre, o Palácio Achaioli – subsídios para a sua história e o Centro Histórico da Cidade.
            Mas não era sobre estes estudos que desejaria debruçar-me mas sobre um outro, dada à estampa no passado dia 4 de Junho, intitulado histórias da História…125 anos da Escola Secundária de S. Lourenço em Portalegre, numa edição conjunta da Escola em referência e das Edições Colibri.
            A Autora, num trabalho exaustivo de pesquisa de fontes (manuscritas, legislação desde 1884, publicações periódicas, escolares e não escolares, obras gerais, monografias e multimédia), identifica um acervo documental de tal modo rico que lhe permitiu organizar um estudo minucioso com cerca de 350 páginas de uma das instituições escolares de referência da cidade de Portalegre. Esse estudo, porém, não se limita a contar, como que monograficamente, as diferentes vicissitudes por que passou a Escola. Ele vai muito além, enquadrando os diferentes momentos da vida da antiga Escola Industrial e Comercial no contexto nacional e local.   
            Neste livro, que vem acompanhado de um DVD, pode recolher-se informação sobre a génese do Ensino Industrial em Portugal, métodos de ensino utilizados, organizações e reorganizações por que foi passando o Ensino Técnico e respectivos planos de estudo… Refere, ainda, actividades curriculares não disciplinares e extra curriculares que foram tendo lugar ao longo da já longa História da Escola, assim como um resumo biográfico de todos os directores, presidentes dos conselhos directivos e comissões executivas desde a sua fundação até 2009.
            Segundo um “Relatório sobre as Escolas Industriais e de Desenho Industrial” de 1885, citado pela Autora, “o número de discípulos não deve exceder aquele que o professor pode atender, e cada um deve ter o seu lugar onde possa desenhar comodamente, e ter à sua disposição o material necessário para aprender”. Aqui está um bom princípio, que ainda hoje é válido, e que denotava o papel activo atribuído à Escola de há mais de cem anos no assegurar das melhores condições pedagógicas dos seus alunos.
            Enfim, este livro histórias da História…125 anos da Escola Secundária de S. Lourenço em Portalegre é um ir buscar à memória de uma instituição as memórias de todos aqueles que, com as suas pequenas e grandes obras, foram ajudando a construir a História.
                                                                     Mário Silva Freire

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 6

                             
                              (A propósito de uma exposição)

                Pedagogos da República – Leonardo de Coimbra

            O criacionismo começa por ser a sua base doutrinária. Este criacionismo não tem uma conotação biológica ou teológica mas, antes, constitui uma filosofia em que coloca o pensamento como gerador de uma actividade criadora impregnada de liberdade e libertada de determinismos naturais e sociais. Ora, na base dessa actividade estaria a ciência.
            Duas vertentes poderiam, então, ser consideradas na ciência.
Por um lado, a razão seria a autoridade que, não se movendo ao sabor das modas e das imposições do exterior, iria gerar uma comunidade livre e solidária. Por outro lado, a ciência, mais do que da observação e da experimentação, construir-se-ia a partir das representações mentais que formamos a respeito das coisas e dos fenómenos, num caminho para uma realidade acrescida de sentido. Significa isto que a realidade estruturar-se-ia a partir de um conjunto de noções elaboradas provindas da acção criadora e ilimitada do pensamento.
O conhecimento, segundo Leonardo de Coimbra, projectar-se-ia, então, mediante novas sínteses, de modo a fazer surgir a arte, a filosofia e a religião. Se o pensamento científico se isenta de imposições dogmáticas e contribui para a aproximação do homem ao mundo, dotando-o de uma maior dignidade, então esta dignidade humana exigiria, “para a sua vida essencial de acção moral, a arte, a filosofia e a religião”.
Leonardo Coimbra, para além de filósofo, professor e interventor na sociedade, foi Ministro de Instrução Pública (1919 e 1923). Nesta função criou as Universidades Populares, reformou a Biblioteca Nacional e fundou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Defendeu a liberdade de ensino e, em consequência, apesar de toda a polémica gerada, a possibilidade de ser administrado o ensino religioso nas escolas particulares fiscalizadas pelo Estado.
 Mas, acima de tudo, defendeu a liberdade pelo ensino, isto é, o desenvolvimento do aluno, nas suas várias facetas, a fim de que ele adquirisse as capacidades e o conhecimento que o tornassem mais autónomo e capaz, como sujeito de liberdade, de tomar as melhores decisões.
Nasceu em 1883 e faleceu em 1936.
                                                                     Mário Silva Freire