segunda-feira, 30 de maio de 2011

A DISCIPLINA NA ESCOLA - 2


                              
                                  A DISCIPLINA NA ESCOLA - 2

                                               A Família

Referia em texto anterior que “a indisciplina dentro da sala de aula é um sintoma de doença grave de que o sistema de ensino, muito especialmente o do básico, enferma”. Ora, esta doença manifesta-se em múltiplos lugares mas onde ela pode assumir uma virulência contagiosa é na família. É aqui que a criança ou o adolescente, contactando com os modelos que tem diante de si, os pais, tenta imitá-los, para o melhor e para o pior.
Factores há, como o alcoolismo e a toxicodependência, que são altamente desorganizadores do ambiente familiar. Mas, sem entrar nesses mais agressivos, outros menos violentos não deixam de causar efeitos nocivos no comportamento, dentro e fora da escola.
Se pai ou mãe se ofendem um ao outro e aos filhos e aplicam em situações semelhantes normas diferentes; se não sabem distinguir o essencial do acessório, recriminando asperamente por algo sem importância mas mantendo-se calados perante desobediência grave; se não conseguem organizar os espaços dentro da casa, mantendo-os desarrumados ao longo do dia; se estão sistematicamente do lado oposto ao dos professores, criticando-os ou, então, mostrando-se alheios ao que se passa dentro da escola ou, até mesmo, fora dela; se não sabem dizer não aos filhos, preferindo mais ignorar as situações censuráveis que assumir uma posição firme mas serena, esclarecedora, sem violência, então não nos admiremos que os filhos tragam para a escola aquilo que vêem e fazem dentro de casa.
É certo que há factores disfuncionais na família que são atribuíveis a causas exteriores à própria instituição familiar. No entanto, a família, com todas as modalidades que ela hoje reveste, continua, ainda, a ser o principal elemento que condiciona o comportamento escolar.
As crianças e os adolescentes trazem atrás de si experiências de vida que serão cruciais para as suas capacidades de aprendizagem e desenvolvimento social.
Se essas experiências foram traumáticas, seja de abandono, físico ou psicológico, de negligência, de maus-tratos ou outras, a escola não poderia, até, constituir-se como um elemento fortemente compensador dessas desvantagens e ser um potenciador de integração social?

                                                             Mário Silva Freire

                                                                          

sábado, 28 de maio de 2011

SOB O SIGNO DA MUDANÇA

                                   
                                           Sob o signo da mudança

Pode afigurar-se redundante falar de mudança, face a ritmo vertiginoso que caracteriza a actualidade. Há que contar, no entanto, com duas atitudes opostas: Por um lado, a atracção e ânsia de mudar; por outro o receio e a resistência à novidade, dado o apreço e apego à tradição.  Ao sentido de uma exigência em criar e transitar para um novo paradigma, social, económico e holístico se opõe a insegurança de embarcar numa vertigem sem equilíbrio, sem conteúdo e de rumo incerto.
Um dos obstáculos à mudança é o medo de errar, afigurando-se um contra-senso correr um tal risco. De facto é muito razoável acertar, mas não menos razoável será o facto de aceitarmos que a razão pode errar. De acordo com o parecer de Goethe, “todo o relacionamento actualizado, todo o procedimento novo e até as próprias insuficiências e erros são utilizáveis ou estimulantes, a não perder para o futuro.”  No dizer de Davina Cox. "nós devemos morrer para  o conhecido, previamente a fazer a experiência do desconhecido." O misoneista agarra-se à tradição, perde a flexibilidade e  provoca a esclerose existencial que se opõe à evolução.  
A abertura ao inédito constitui o pórtico da inovação e cria o movimento de um equilíbrio dinâmico e inovador. O neofilismo que propõe a inovação valoriza a tradição no sentido original da palavra latina tradere ou trans dare, de molde a fazer da herança um valor que fomenta a experiência, ambas propícias a um legado. Facto é que nem todo o conhecimento provém da novidade, sendo que a herança pode constituir um tesouro. Sem o destruir, é de acrescentar a capacidade de ver o antigo com olhos novos. O velho e o novo não são alternativas, mas complemento num processo permanente de análise e de síntese. Há um processo psicossintético que evita a disjuntiva e cultiva a conjuntiva conducente à síntese que excede a soma das partes.
O quadro seguinte oferece uma comparação sintética de características de dois modelos.

     Modelo Formal                                                              Modelo existencial

Estaticismo – O saber é um produto acabado           Dinamismo – O saber é uma descoberta
a transmitir                                                                      permanente                          

Autoritarismo – O saber é monopólio de                   Democracia – O saber é um bem comum
e a controlar por quem ensina.                                  a compartilhar.

Legalismo – Predominância da letra sobre               Vivência – O saber é uma experiência
o espírito. A norma é a lei.                                        pessoal.

Utilitarismo – O saber é um produto de                  Criatividade – O saber é um despertar
consumo. A criatividade está em função                 interior. A criatividade está em função
da produtividade.                                                        da vida.

Misoneismo – A inovação é uma ameaça.              Abertura – A mudança é bem vinda.
A experiência é a garantia.                                      A segurança está na integração.


Importa estar atento ao fenómeno iconoclasta que, fazendo tábua rasa do passado e do presente, se lança insensatamente em pára-quedas num deserto caracterizado pelo desconhecimento de si mesmo e pela desconsideração relativa a direitos e valores alheios. Não menos importante é constatar que a crise faz apelo a uma oportunidade de abertura, de vivência e de mudança, quiçá radical, a não desperdiçar.
         
                                                                                  João d’Alcor

quinta-feira, 26 de maio de 2011

EDUCAR DE SI PARA O MUNDO

            
                                   EDUCAR DE SI PARA O MUNDO

Afectados por questões patológicas e procurando geralmente as chamadas defesas exteriores, observemos uma nova visão do indivíduo “são” como aquele que pode procurar as suas defesas interiores em busca da verdadeira fonte do ser. É uma perspectiva optimista em que vamos ao interior extrair, usar e aperfeiçoar o nosso potencial.
Neste sentido e aprofundando o verdadeiro sentido da origem da palavra “educação”, que em latim se refere ao tirar de dentro para fora, podemos salientar a importância de usar e de aperfeiçoar o potencial interior do ser humano, neste caso do aluno.
Completando esta interpretação ao aprofundarmos o verdadeiro sentido da palavra “terapia”, que em grego se referia ao culto prestado aos deuses, podemos salientar a necessidade de prestarmos uma atenção mais nobre e personalizada ao indivíduo que procura ser ajudado.
Fundindo estas duas visões encontramos o nosso objectivo que é, procurando ajudar os nossos alunos, prestar-lhes um serviço, retirando o que de mais positivo há em si, descobrindo o seu potencial interior e ajudando a dar um novo sentido à sua vida. Deste modo o lado sadio do indivíduo vem dos antigos conceitos de “bom” “belo” e “verdadeiro”. No fundo referimo-nos a uma “graça original” ao contrário do tão divulgado “pecado original”. E podemos imaginar a força da luz sobre as trevas que tão fácil e rapidamente as elimina. É importante ter consciência de que a existência da luz é mais real e, deste modo, agilizarmos o dualismo saúde/ doença. Acreditarmos na sanidade, ao exercermos a nossa profissão. Salientamos que a realidade dos nossos sentidos interiores é mais sublime que a versão tão frequentemente banalizado dos sentidos exteriores.
Finalmente, fazendo uma analogia entre criatividade e fecundidade, é importante desvalorizar a dependência no processo psicoterapêutico, aplicar ao aluno em contexto educativo, acreditar no verdadeiro sentido da origem grega da palavra “pedagogia” que significa “alguém que conduz”. É importante fazermos o estabelecimento da relação com o jovem numa vertente de incentivo da sua autonomia e do encontro consigo mesmo, pois o indivíduo por si próprio já é detentor da capacidade. O adulto estimula a criatividade, significa, cria a oportunidade. Surge então a fecundidade com um papel muito importante, vamos ajudar, salvar o que já existe em cada indivíduo, dar-lhe um sentido gratificante e de crescimento. A prioridade é o percurso da vivência pessoal a partir do qual podemos ajudar a dar um novo sentido e a compreender melhor cada etapa da vida, por vezes em desequilíbrio, procurando evitar as atitudes de violência.
                                         Paula Luísa Molarinho Faria

terça-feira, 24 de maio de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 2

                             O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 2
                             (A propósito de uma exposição)

                                     Antes da República

            Algumas fotografias, instrumentos e documentos de índole educacional podem ser vistos na exposição, neste período de tempo antes da implantação da República que tem por limite superior a data de 5 de Outubro de 1910.
O ano de 1836 constitui um marco na História do ensino em Portugal. Viviam-se, então, os anos pós-guerra civil entre absolutistas e liberais. Estes, embora tivessem vencido, achavam-se desavindos por múltiplas divisões internas. Ora, os setembristas constituíam a corrente mais à esquerda do movimento liberal e defendiam uma visão mais progressista da sociedade.
Após uma tentativa falhada contra-revolucionária, a rainha D. Maria II nomeia Sá da Bandeira como primeiro-ministro, juntamente com Passos Manuel que, neste seu primeiro governo, assumiu as pastas das Finanças e Interior.
             O primeiro ano do governo setembrista, cujo motor foi Passos Manuel, é o período de ouro do setembrismo. Passos Manuel iniciou um programa de reformas, em vários campos, tendo em vista o progresso do País, desde os Direitos Humanos (abolição da escravatura nas colónias portuguesas), passando pela cultura, até ao ensino.
            No que a este sector se refere, instituiu-se a obrigatoriedade do ensino primário. São criados os Conservatórios de Artes e Ofícios, aquilo que anos mais tarde seria designado por ensino técnico.
            O monopólio universitário de Coimbra sofre um duro golpe com a criação das escolas médico-cirúrgicas de Lisboa e do Porto, da Escola Politécnica de Lisboa, em substituição do Colégio dos Nobres, e da Academia Politécnica do Porto. Estas instituições viriam, depois, com a implantação da República, a originar as Universidades de Lisboa e do Porto.   
            Pois é neste quadro de grandes reformas que tem lugar o decreto de 17 de Novembro de 1836, pelo qual são criados os Liceus, isto é, as escolas secundárias que se propunham ministrar um ensino de maior conteúdo prático, sem ter por objectivo único a preparação para a Universidade.
            A partir desta altura assistir-se-á, no dizer de Joel Serrão, “à contradança das reformas e contra-reformas…enleadas quer por dificuldades financeiras e culturais, quer por condicionalismos ideológicos.” Nos 75 anos que se seguiram, até à implantação da República, há que destacar, com Costa Cabral, a instituição no ensino primário dos graus elementar e complementar e a simplificação do ensino liceal. Com Fontes Pereira de Melo criam-se, em 1852, as escolas industriais e dez anos depois, as escolas comerciais. Por iniciativa de D. Pedro V (1858) e pago pelo orçamento real, é criado o Curso Superior de Letras de Lisboa que, depois, iria originar a Faculdade de Letras.
          Veja-se a distância que vai das intenções à realidade quando Passos Manuel tinha decretado, em 1836, a obrigatoriedade do ensino primário e se assiste, em 1910 (três quartos de século depois!), a uma percentagem de analfabetismo que ronda os 80%! Será que temos uma incapacidade inata para assumirmos com dificuldad os compromissos que a nós próprios impusemos?

                                                             Mário Silva Freire

                                                                                                        

sábado, 21 de maio de 2011

EDUCOLOGIA


EDUCOLOGIA

Tem a educologia,
um alcance que é sem par.
Bem que inclua a terapia,
não se queda no sanar.

Vai direita ao coração,
onde há Luz a desvendar.
 Luz; não trevas. Tudo é são:
Nada a pode macular.

Longe de simples ideologia,
traz à vida tal magia
que anda gente a proclamar:

‘Acabou-se o meu lamento.
Hoje eu vivo a cem por cento:
Luz que sou a tenho p’ra dar.’
                         
                                                                  João d’Alcor

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A DISCIPLINA NA ESCOLA - 1


                                   A DISCIPLINA NA ESCOLA - 1
                                         
                                      O preço da indisciplina

            Sem disciplina dentro da sala de aula, não pode haver ensino por parte do professor e, consequentemente, aprendizagem por parte do aluno. Ora, nas nossas escolas, predominantemente as do ensino básico e, principalmente, naquelas que acolhem alunos na adolescência, a indisciplina é uma moeda corrente.
            As energias que deveriam ser gastas nas actividades específicas de ensino são, pelo professor, desperdiçadas no constante chamar da atenção dos alunos, na exasperação que ela gera, que pode chegar ao desespero, de não poder controlar as variáveis que não dependem exclusivamente de si e que o impedem de desempenhar com eficácia a sua função. A indisciplina gera, ainda, um desgaste físico e psicológico que lhe retira a motivação para ensinar e o ameaça no seu equilíbrio como pessoa. E um professor sem motivação abranda a exigência, torna-se mais absentista e espera que o tempo passe.
            As consequências para os alunos traduzem-se no desperdício do tempo, não adquirindo conhecimentos nem desenvolvendo as capacidades de atenção, memorização, observação, análise e síntese, nem hábitos de ordem e de trabalho, nem respeito pela autoridade, que a atenção e a participação numa aula proporcionam e exigem.
            Para o Estado, a ausência de disciplina na sala de aula tem tradução em gastos que se tornam quase inúteis e que pouco contribuem para a qualificação dos cidadãos.
            Mas há, ainda, uma outra consequência que tem reflexos directos nas famílias, principalmente as de menores recursos económicos e sociais. Devido ao facto de a escola, em certos casos, não proporcionar as qualificações de saber e de capacidades adequadas aos seus filhos e por essas mesmas famílias terem dificuldades em os compensar, fora da escola, nas carências escolares, eles saem da escolaridade básica com grandes deficits. Consequências disso são os obstáculos que lhes vão sendo levantados quer ao longo da escolaridade subsequente, quer na escolha profissional, quer no ingresso no mercado de emprego. Isto significa que a escola, nos casos em que a indisciplina é frequente, não propicia, independentemente das condições económicas e sociais de cada família, uma igualdade de oportunidades.
            Enfim, os casos frequentes de indisciplina dentro da sala de aula são um sintoma de doença grave de que o sistema de ensino, muito especialmente o básico, enferma. Ela, colocando-se a montante do ensino e da aprendizagem porque os vai condicionar, pode ter consequências gravosas a nível individual e social.
                                                                                          Mário Silva Freire

domingo, 15 de maio de 2011

A NOSSA FÁBULA


                                                    A Nossa Fábula

Ainda muito jovem, Roberto Assagioli famoso psiquiatra, educador e fundador da psicossíntese descreve este processo existencial mediante uma fábula em que o espírito humano é designado o ‘Rei interior’ simbolizado por um castelo luminoso, no topo de uma montanha sobranceira a uma aldeia sita nas faldas da mesma. A partir de um certo nível, essa montanha estava perenemente encoberta pelas nuvens. Lendas misteriosas de acessos impenetráveis e perigosos impediam a população de pensar na sua escalada. Porém surge na mente de um habitante jovem e aventureiro a ideia e ousadia de a escalar, afrontando o perigo e a intriga do mistério. Lança-se sozinho na aventura e acaba finalmente por atingir o cume, este muito acima das nuvens. Aí se lhe depara um castelo luminoso e deslumbrante ao qual tem acesso. A experiência fora muito além do imaginário.
Feliz com esta epopeia, desce ao povoado e proclama, alto e bom som, a sua descoberta, incitando o povo a escalar a montanha, para que todos tenham a dita de uma tal visão. Infelizmente ninguém acreditou e, pior do que isso, foi tido por um visionário falso e perigoso. Face à sua pertinácia, veio a criar um ambiente de rejeição. Declarado herege e impenitente, acabou por ser julgado e condenado à pena capital, de molde a não mais perturbar a aldeia pacata e supersticiosa.
Sereno, o jovem sobe ao patíbulo e eis que no momento em que ele expira, as nuvens, densas e altaneiras, pela primeira vez e instantaneamente se afastam. Corrido tal denso reposteiro, surge à vista de todos o espectáculo desse castelo luminoso, sobranceiro e fascinante. A surpresa e o assombro ultrapassam as palavras. O jovem aldeão pagara com a própria vida o preço desse benefício trazido à população, agora arrependida do seu cepticismo.
A fábula do Rei interior será a nossa também em que algo sombrio pode morrer em nós para dar lugar a uma descoberta luminosa.

                   João d’Alcor - Excerto de livro em vias de publicação.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 1



                                  O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 1
                                  (A propósito de uma exposição)

                                                Introdução

            Nesta primeira metade do ano de 2011, em que ainda ressoam as comemorações do centenário da implantação da República, talvez tenha interesse um olhar, ainda que furtivo, sobre alguns dos temas que preocuparam os pedagogos do novo regime político que se iniciou em 1910.
Para isso, nada melhor do que ver, sem pressas, a exposição sobre esta temática que se encontra patente ao público até Junho do corrente ano, no Palácio Valadares (antiga Escola Veiga Beirão), ao Chiado, em Lisboa.
            Ela pretende divulgar, segundo os promotores da exposição, “a dimensão educativa do regime republicano, recuperar a memória da escola e da educação republicanas, despertar o interesse pela defesa do património educativo e contribuir para o avanço da investigação em História da Educação.”
            A 1ª República decorreu entre 5 de Outubro de 1910 e 28 de Maio de 1926. O golpe militar do 28 de Maio teve origem na grande instabilidade política, económica e social, a par de uma grave crise financeira que, vindas dos tempos da Monarquia, não se apaziguaram, antes se intensificaram.
            Mas, apesar da inconstância em que se vivia durante aquele período, a 1ª República não deixou de manifestar, através de palavras e actos, alguns dos seus ideais. É certo que nem sempre as boas intenções se conseguiram concretizar e muitos foram os desatinos cometidos. Mas os legados que ela nos deixou ainda hoje são valores educativos que perseguimos, ao pugnar pela erradicação do analfabetismo e na atenção ao desenvolvimento de uma educação que contemplasse os aspectos cívicos, sociais, físicos e artísticos.
            Em 1910, 76,1% da população portuguesa não sabia ler nem escrever. O analfabetismo era considerado o grande inimigo do progresso. Ora, só uma população instruída poderia aderir ao programa da Revolução, segundo os republicanos. E esse programa teria que ser, prioritariamente, de ordem educacional. Para isso, apostou-se numa educação que formasse cidadãos, tentando que as condições sociais de cada um não fossem impeditivas da sua ascensão ao saber e à participação cívica. Nem sempre assim aconteceu pois as mulheres, entre outros, continuaram afastadas do regime eleitoral.    
Irei, então, abordar, em textos futuros, de maneira breve, os diferentes temas incluídos na Exposição e que incluem o ideário de alguns pedagogos da República, a educação cívica e patriótica, os ensinos primário, liceal, profissional e técnico, superior, a mulher e o ensino, terminando com a festa da árvore.

                                                                           Mário Silva Freire


segunda-feira, 9 de maio de 2011

SOLIDARIEDADE



Solidariedade

Mesmo quando solitário,
só serei igual a mim,
ao sentir-me eu, outrossim,
totalmente solidário.

Ser eu mesmo, na verdade,
vir a ser original,
em mais nada encontro aval.
Só na solidariedade.

Nota única é a minha,
na canção do universo,
a vibrar, mas não sozinha.

Isolar-me é negação.
No conjunto, todo imerso,
eu fomento a comunhão.

                                                                           João d'Alcor

sexta-feira, 6 de maio de 2011

EDUCAÇÃO: UM OPTIMISMO CONFIANTE

               
           
A educação tem sido o motor da evolução da humanidade. Ela visa o conhecimento mas este, só por si, não justifica o acto educativo. As relações que temos connosco, com os outros, com a transcendência, as experiências de vida, as emoções igualmente podem contribuir para fazer de uma pessoa um ser mais reflexivo, melhor capaz de entender o que se passa em si, no mundo e na natureza. A educação gera autonomia e contribui para que cada um possa participar no bem comum e no desenvolvimento da sociedade.
À palavra educação associam-se, normalmente, os conceitos de ensinar e de aprender. Dizia o educador brasileiro Lauro de Oliveira Lima que o professor não é aquele que ensina mas que ajuda o aluno a aprender. Ora, é no aluno, no educando, e a partir dele, com todas as suas características biopsicológicas, que se centra o acto educativo. Há que despertar nele a necessidade de conhecer, de ter o gosto pelo belo e pela verdade, quer esta passe pela ciência ou pela coerência entre o pensamento e a acção. É nesse despertar de necessidade junto do educando que a acção do professor e educador se deve, predominantemente, fazer sentir.
A educação não é uma actividade neutra. À educação, tendo como meta o desenvolvimento individual e colectivo das pessoas, não são indiferentes os fins que visa nem, tão pouco, os meios para alcançar esses fins. Mais: nestes tempos de crise profunda, a vários níveis, da sociedade portuguesa, os objectivos, os meios e os processos que conduzem à aprendizagem têm que reflectir uma consciência do que é essencial, seja nos valores, nas matérias a ensinar ou nos fins a que essas aprendizagens conduzem.
Enfim, vamos procurar ser optimistas, inspirando-me nas palavras do texto anterior do meu companheiro de blog, cientes de que poderemos confiar na educação, no sentido que lhe dá a educologia, para transformar este mundo num outro melhor e que contribua para devolver ao nosso País a dignidade que a História o exige.
                                                                                       Mário Silva Freire          

terça-feira, 3 de maio de 2011

EDUCOLOGIA

                       

                                           EDUCOLOGIA

1 – Designativo – Não será de estranhar que alguém se questione sobre o termo Educologia. Trata-se realmente de um neologismo ora e aqui introduzido no vocabulário português. Directamente relacionado com as ciências de educação, coloca esta numa perspectiva vivencial e em contexto global. Constitui efectivamente, a partir de uma concepção holística, um sistema que podemos denominar Educação integral. 
2 – Abrangência – Por educologia se concebe e propõe o conhecimento e aplicação do potencial humano no domínio e conjugação das várias ciências mais directamente conexas com o processo educativo, considerando este na sua essência e nas suas modalidades específicas. Implica isto um modelo de educação alargado a uma constelação interdisciplinar conjugada em teor de complementaridade. Que se pense, exemplificando, nos designativos pedagogia, psicagogia, andragogia e psicologia, considerada esta nas suas diversas abordagens, nomeadamente a psicanálise e a psicossíntese. Mas não só: Relaciona-se com outras disciplinas afins, particularmente com a Antropologia, a Etnologia, a História, a Sociologia, a Literatura, as Belas-Artes, a Espiritualidade, a Medicina, a Ecologia, a Higiene, a Ética e o Civismo. Nesta perspectiva se concebeu o Blog Educologia com o propósito de ser um serviço prestado à sociedade.
3 - Princípios – São apresentados como básicos e norteadores os seguintes princípios atinentes a este sistema educativo: Partir do conhecido para o desconhecido; do quem para o quê; da vivência para a divulgação; da prática para a teoria; do particular para o geral; da educação para a terapia; da reflexão para a acção (Conscientização).
4 – Características – São de destacar e conjugar a noção, a vivência e a função educadora nos termos do subtítulo do Blog: – Educação em Solidariedade e Sem Fronteiras. Sumariamente se pode mencionar, em teor de alusão, utilizando o acrónimo ESSEF.
5 – Noção - É próprio da educação, como indica a sua raiz latina educere, fazer emanar de nós mesmos o potencial latente, de forma a ser positivamente aproveitado em benefício próprio e alheio, ou seja a partir de cada indivíduo considerado este no relacionamento social e universal.
6 –Vivência – Sentido existencial em que o ser prevalece sobre o ter, a moderação substitui o consumismo, a ecologia se opõe ao utilitarismo e a partilha evita o parasitismo. O que se vive é essencial como ponto de partida e de comparticipação. Previamente à transmissão dos conhecimentos adquiridos (conceito bancário do ter) está a vivência com a irradiação do ser.
            7 – Função - No profissional que ministra o ensino é requerido que, no viver e na competência, se proponha dar provas de coerência entre o dizer e o agir que redunda em modelo inspirador. Antes do especialista está o amador, no sentido literal da palavra, aliado a uma devoção amorosa que se reflecte na profissão. Neste espírito, o mercenário dá lugar ao servidor dedicado a uma causa sagrada, e a hierarquia cede à democracia de uma partilha respeitosa em que algo se ensina e se aprende, na mútua dinâmica do dar e receber.
Em conclusão: O educólogo procura viver e fomentar uma visão ao mesmo tempo global e sintética, confiante e optimista. Alargando a sua visão a um leque interdisciplinar adequado, faz das humanidades o fulcro da tecnologia. Mais ainda e antes de tudo: Consciente do potencial latente em si mesmo e em todos, nele descobre a luz que dissipa as trevas, na certeza de que na Educação, emanação desse potencial luminoso, está o segredo de um mundo cada vez melhor, individualmente cultivado, socialmente compartilhado e universalmente integrado.
            
                                                                                     João d’Alcor