Os recreios escolares,
de uma maneira geral, vão merecendo menor atenção por parte dos professores à
medida que os anos de escolaridade dos seus alunos vão aumentando.
Na educação
infantil, algumas das actividades que os educadores desenvolvem com as crianças
têm lugar nos recreios. Estes são considerados espaços pedagógicos onde a
criança aprende a resolver problemas, a interagir com os pares, a gerir
conflitos e em que os educadores assumem, em todas estas situações, um papel de
relevo.
Nos
outros níveis de ensino a presença dos professores nos recreios é esporádica.
Ora,
os recreios desempenham um papel muito importante na educação geral. Eles
constituem um espaço lúdico, de inter-relação com os pares do mesmo sexo e com
os do sexo oposto, de conflito mas também onde as regras estabelecidas, o que é
permitido e o que é proibido, devem mostrar a sua eficácia. É também nos
recreios que uma percentagem significativa do bullying tem lugar.
Será
que toda esta carga educacional que o recreio escolar transporta é suficiente
para exigir nele a presença dos professores?
Algumas
razões têm sido expendidas para que esta presença seja dispensável: ser um
tempo de repouso e de convivialidade com os colegas; ser um tempo de preparação
de material para as aulas seguintes; ser um tempo em que os alunos sentem
necessidade de estar libertos de pressões, sendo livres para si e para o que
desejam fazer.
Por
outro lado, os auxiliares de acção educativa, com a devida formação, estariam
em condições de, na maior parte das situações, intervir como mediadores,
ajudando, em caso de conflito, a fazer o encontro entre as partes. Mas o
mediador não poderia, também, sugerir propostas e intervir no sentido de rentabilizar
esses espaços e esses tempos?
Uma
coisa é certa: para além do currículo expresso, corporizado pelas disciplinas,
métodos e processos, os alunos aprendem coisas que ultrapassam aquilo que lhes
é ensinado pela via institucional. É o chamado currículo oculto. Ora, estas
aprendizagens não formais têm a ver com múltiplos factores: coerência entre o
que os professores dizem e o que fazem, modos como os professores se relacionam
com os alunos dentro e fora da sala de aula, interacções da escola com o meio
envolvente…e funcionamento dos recreios. Nos recreios há aprendizagens e
comportamentos que se adquirem que se repercutem na sala de aula.
É
desejável, pois, que os professores, não tendo que participar nos recreios, não
esqueçam as aprendizagens não institucionais que eles proporcionam.
Mário Freire