quarta-feira, 29 de maio de 2013

OS PROFESSORES E OS RECREIOS ESCOLARES



      Os recreios escolares, de uma maneira geral, vão merecendo menor atenção por parte dos professores à medida que os anos de escolaridade dos seus alunos vão aumentando.
Na educação infantil, algumas das actividades que os educadores desenvolvem com as crianças têm lugar nos recreios. Estes são considerados espaços pedagógicos onde a criança aprende a resolver problemas, a interagir com os pares, a gerir conflitos e em que os educadores assumem, em todas estas situações, um papel de relevo.
Nos outros níveis de ensino a presença dos professores nos recreios é esporádica.
Ora, os recreios desempenham um papel muito importante na educação geral. Eles constituem um espaço lúdico, de inter-relação com os pares do mesmo sexo e com os do sexo oposto, de conflito mas também onde as regras estabelecidas, o que é permitido e o que é proibido, devem mostrar a sua eficácia. É também nos recreios que uma percentagem significativa do bullying tem lugar.
Será que toda esta carga educacional que o recreio escolar transporta é suficiente para exigir nele a presença dos professores?
Algumas razões têm sido expendidas para que esta presença seja dispensável: ser um tempo de repouso e de convivialidade com os colegas; ser um tempo de preparação de material para as aulas seguintes; ser um tempo em que os alunos sentem necessidade de estar libertos de pressões, sendo livres para si e para o que desejam fazer.
Por outro lado, os auxiliares de acção educativa, com a devida formação, estariam em condições de, na maior parte das situações, intervir como mediadores, ajudando, em caso de conflito, a fazer o encontro entre as partes. Mas o mediador não poderia, também, sugerir propostas e intervir no sentido de rentabilizar esses espaços e esses tempos?
Uma coisa é certa: para além do currículo expresso, corporizado pelas disciplinas, métodos e processos, os alunos aprendem coisas que ultrapassam aquilo que lhes é ensinado pela via institucional. É o chamado currículo oculto. Ora, estas aprendizagens não formais têm a ver com múltiplos factores: coerência entre o que os professores dizem e o que fazem, modos como os professores se relacionam com os alunos dentro e fora da sala de aula, interacções da escola com o meio envolvente…e funcionamento dos recreios. Nos recreios há aprendizagens e comportamentos que se adquirem que se repercutem na sala de aula.
É desejável, pois, que os professores, não tendo que participar nos recreios, não esqueçam as aprendizagens não institucionais que eles proporcionam.

                                                    Mário Freire