A família de hoje é qualitativa e
quantitativamente diferente daquela que existia há algumas décadas. De uma família patriarcal e numerosa
onde cabiam pais, filhos, irmãos, tios…, transitou-se para uma família cada vez
mais reduzida. Ela, nos tempos que correm, reduz-se, frequentemente, a pai, mãe
e filhos (quando existem). As famílias monoparentais serão abordadas noutras
crónicas.
Ora,
é na família que a criança começa a construir a sua personalidade. Se a família
funcionar adequadamente, com pai e mãe a diferenciarem-se mas, igualmente, a
complementarem-se nos seus papéis, é natural que o crescimento da criança seja
ajustado. Ela encontrará neles os modelos que irá imitar e seguir. De igual
modo, o contrário será verdadeiro: num ambiente familiar conflituoso e
desorganizado, a criança aprenderá esses comportamentos de conflito e de
desordem.
É
também no ambiente familiar que a criança deve começar a experimentar o não. Ela tem que aprender ali que nem
tudo o que deseja pode alcançar. A satisfação de todos os seus caprichos,
desejos extravagantes e teimosias, se satisfeitos, não a irão beneficiar e
serão fonte de conflito na sociedade. No lar, como em qualquer sistema social,
tem que haver normas. A inexistência dessas normas ou a quebra sistemática das mesmas,
por cedência, induz na criança o sentimento de que, fazendo força para tal,
tudo lhe pode ser concedido.
Ora, a criança irá
transportar para a escola e para a comunidade aquilo que constantemente viu
repetido na família, seja nos comportamentos adequados, seja nos inadequados.
A família é, pois,
em primeira e principal instância, a grande modeladora dos comportamentos que
uma pessoa, quando adolescente ou adulto, irá manifestar na escola e na
sociedade.
Mário Freire