O CONDE FERREIRA E O SEU INTERESSE
PELAS CAUSAS SOCIAIS
Sendo
incontornável a figura deste ilustre duriense, nascido em Vila Meã, Porto, em
1782 e falecido na cidade do Porto em 24 de Março de 1866, importa que se faça
uma referência ajustada à grandeza do seu carácter e da sua obra. E porquê a
importância e a justificação desta abordagem? Eis o tema que nos guiará durante
as próximas intervenções.
Joaquim
Ferreira dos Santos nasceu no lugar de Vila Meã, actual lugar de Azevedo, na freguesia
de Campanhã, arredores do Porto. Foi o quinto e último filho de João Ferreira
dos Santos e de Ana Martins da Luz, um casal de lavradores proprietários pouco
abastados com terras em Campanhã, então ainda uma típica freguesia rural do
noroeste português.
Como
era norma ao tempo, o casal destinava ao filho mais velho a gestão do
património agrícola, pelo que os restantes irmãos teriam que encontrar outros
meios de vida.
O
segundo irmão seguiu o sacerdócio, destino que também pretendiam para o filho mais
novo. Com esse objectivo o jovem Joaquim Ferreira dos Santos estudou latim,
lógica e retórica, mas concluindo que não tinha vocação para o sacerdócio,
abandonou os estudos aos 14 anos de idade, empregando-se como caixeiro e
manifestando vontade de ir para o Brasil e seguir a carreira comercial. Os
conhecimentos que adquirira viriam a ser úteis, mais tarde, na sua carreira
comercial.
Depois
de um curto período como caixeiro no Porto, contrariando os pais, emigrou para
o Brasil em 1800, levando consigo carta de recomendação dirigida a um parente
que se encontrava estabelecido como comerciante no Rio de Janeiro. No Brasil,
ajudado e protegido pelo seu parente, foi prosperando no negócio, dedicando-se
ao comércio por consignação de produtos enviados do Porto.
Emigrou,
posteriormente, para África, tornando-se um próspero e abastado comerciante.
Não tendo parentes próximos de herança imediata e legal, resolveu doar toda a
sua fortuna, aplicando-a em melhoramentos culturais de benefício social a
reverter para os mais desfavorecidos de todo o País, uma vez que o seu
testamento não fez reservas à localização das instituições a criar com o
impulso da doação.
Eis
os termos exactos em que fez redigir a sua última vontade:
Convencido de que a Instrução Pública é um elemento essencial
para o bem da sociedade, quero que meus testamenteiros mandem construir e
mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras
que forem cabeças de concelho, sendo todas por uma mesma planta e com
acomodação para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa
1:200$000 réis, e, pronta que esteja cada casa será a mesma entregue à Junta de
Paróquia em que for construída, mas não mandarão construir mais de duas casas
em cada cabeça de concelho e preferirão aquelas terras que bem entenderem.
Com
esta deliberação dava-se início a uma interessante iniciativa favorável à incipiente
causa do ensino popular, destinada a favorecer os mais carenciados.
Francisco
Goulão