sexta-feira, 31 de maio de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 4



Como se pode calcular e sabemos de experiência, não faltavam ideias e desejos, quase sempre incumpríveis por falta de meios.
Toda esta acção legislativa produziu os seus efeitos no sentido de se incrementar a instrução primária e popular, dotando algumas localidades de edifícios escolares construídos com esta finalidade. Os poucos existentes na época eram residências familiares adaptadas a escolas, quando não servia de escola a própria casa do professor.
Terminarei esta evocação do Conde Ferreira, citando D. António da Costa: “Como homem, o Conde de Ferreira não podia ser isento de imperfeições. Se as teve, desconte-lhas a caridade, de que ele na hora extrema foi tão magnânimo para a instrução popular. E quando de dentro de todos aqueles edifícios escolares se elevarem, de geração em geração, os cantos infantis de tantas crianças, exulte o espírito do benfeitor, por ter concorrido para iluminar os entendimentos que jaziam nas trevas” .
Os efeitos deste nobre gesto, espalhando os benefícios da cultura aos mais carenciados, estenderam-se por todo o País.
O projecto fornecido com a planta do edifício escolar era mais ou menos uniforme, com ligeiras adaptações às características topológicas de cada localidade. Mas a doação do benemérito destinava-se a 120 localidades que, uma vez aderentes, tinham também de dar o seu contributo, quer no terreno destinado à construção, quer em mão de obra, quer nos materiais e restantes despesas.
A doação feita em 1866 era de 144.000$000 de réis, pelo que caberiam a cada localidade 1200$000 réis, pois que se destinava a 120 edifícios. De todo o País, conforme se deduz da leitura do mapa que ilustra este artigo. 

                                                  Francisco Goulão

quarta-feira, 29 de maio de 2013

OS PROFESSORES E OS RECREIOS ESCOLARES



      Os recreios escolares, de uma maneira geral, vão merecendo menor atenção por parte dos professores à medida que os anos de escolaridade dos seus alunos vão aumentando.
Na educação infantil, algumas das actividades que os educadores desenvolvem com as crianças têm lugar nos recreios. Estes são considerados espaços pedagógicos onde a criança aprende a resolver problemas, a interagir com os pares, a gerir conflitos e em que os educadores assumem, em todas estas situações, um papel de relevo.
Nos outros níveis de ensino a presença dos professores nos recreios é esporádica.
Ora, os recreios desempenham um papel muito importante na educação geral. Eles constituem um espaço lúdico, de inter-relação com os pares do mesmo sexo e com os do sexo oposto, de conflito mas também onde as regras estabelecidas, o que é permitido e o que é proibido, devem mostrar a sua eficácia. É também nos recreios que uma percentagem significativa do bullying tem lugar.
Será que toda esta carga educacional que o recreio escolar transporta é suficiente para exigir nele a presença dos professores?
Algumas razões têm sido expendidas para que esta presença seja dispensável: ser um tempo de repouso e de convivialidade com os colegas; ser um tempo de preparação de material para as aulas seguintes; ser um tempo em que os alunos sentem necessidade de estar libertos de pressões, sendo livres para si e para o que desejam fazer.
Por outro lado, os auxiliares de acção educativa, com a devida formação, estariam em condições de, na maior parte das situações, intervir como mediadores, ajudando, em caso de conflito, a fazer o encontro entre as partes. Mas o mediador não poderia, também, sugerir propostas e intervir no sentido de rentabilizar esses espaços e esses tempos?
Uma coisa é certa: para além do currículo expresso, corporizado pelas disciplinas, métodos e processos, os alunos aprendem coisas que ultrapassam aquilo que lhes é ensinado pela via institucional. É o chamado currículo oculto. Ora, estas aprendizagens não formais têm a ver com múltiplos factores: coerência entre o que os professores dizem e o que fazem, modos como os professores se relacionam com os alunos dentro e fora da sala de aula, interacções da escola com o meio envolvente…e funcionamento dos recreios. Nos recreios há aprendizagens e comportamentos que se adquirem que se repercutem na sala de aula.
É desejável, pois, que os professores, não tendo que participar nos recreios, não esqueçam as aprendizagens não institucionais que eles proporcionam.

                                                    Mário Freire

segunda-feira, 27 de maio de 2013

DESPEDIMENTO



Se esta vida é sem futuro,
morte é beco sem saída.
Face a ela, não perduro;
folha sou no chão caída.

Se tal fado se afigura
e o acolho, mesmo em sonho,
eiva isso de amargura
toda a rima que componho.

Ir embora já é triste.
Quanto mais o pesadelo
do o adeus à própria vida...

Permanente é quanto existe.
Sou eterno. Que bom sê-lo,
despedindo a Despedida.

João d’Alcor

sábado, 25 de maio de 2013

A AVALIAÇÃO E SEUS ACTORES



A avaliação num contexto educativo, além de provocar os receios   de  estudantes e pais,  exige tempo, dinheiro e esforço. Será que tal valerá a pena ou trata-se apenas de uma forma de controlar o que se passa na sala de aula?
            A avaliação deverá fazer parte do programa de aprendizagem. Costumam considerar-se como actores da avaliação, entre outros, os estudantes, os professores, os responsáveis das escolas, os pais e os decisores políticos.
            Os estudantes devem não só compreender o que lhes pretendem ensinar mas também a forma como os professores avaliam o seu progresso educativo. Envolver os estudantes como participantes activos na avaliação poderá ajudá-los a desenvolver a capacidade de analisar a sua própria aprendizagem e a tornarem-se mais confiantes. Os estudantes não querem ter uma atitude passiva na avaliação: pelo contrário, desejam ser envolvidos activamente não só na sua própria avaliação como também na dos professores e das escolas.
            Os professores também precisam duma avaliação fiável e consistente de modo a compreender eventuais desvios em relação ao previsto e a melhorar o ensino e as condições de trabalho na sala de aula. Eles precisam de feedback do seu próprio desempenho, de modo a melhorá-lo e a contribuir ainda para a avaliação das suas escolas.
            Os responsáveis das escolas podem usar a avaliação nas informações que prestam às comunidades, aos empregadores e à administração escolar.
            Os pais, naturalmente, querem saber o que os seus filhos fazem na escola e a forma como a escola contribui para o seu sucesso. Fornecer informação aos pais contribui para uma maior participação daqueles no funcionamento das escolas. Também facilita a escolha das escolas para os seus filhos.
            Os decisores políticos têm necessidade de informação para monitorizar o desempenho das escolas e dos sistemas educativos e assegurar que os objectivos educacionais são atingidos. Também a sociedade, precisa assegurar-se que os sistemas educativos promovem uma educação de qualidade.
            Mas com tantos actores envolvidos, não haverá o risco de não serem atingidos os objectivos desejados? Para minimizar esses riscos, devemos assegurar-nos que todos os componentes da avaliação formam um conjunto coerente que possibilite a criação de sinergias em todo o sistema educativo e concilie a avaliação com os objectivos pretendidos.

                                             FNeves

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 3



O comentário que antecede este artigo de D. António da Costa, in HISTÓRIA DA INSTRUÇAO POPULAR EM PORTUGAL, Editora Educação Nacional, PORTO, 1935 (2ª edição), p. 198, enaltecendo a generosidade do doador, destaca sobretudo o objectivo pretendido, inédito no País: nos seguintes termos “mas o que mais honra o testador é no ensinamento que assim abriu e deixou ao povo portuguez”.
“ O legado do Conde Ferreira produziu o seu efeito. Neste ponto acudiu ao Governo uma ideia acertada, convidando as câmaras municipais que desejassem ser contempladas, a concorrerem com uma verba não inferior a 400$000 réis. Concorreram diversas câmaras e os edifícios escolares puderam construir-se com receita mais avultada. De acordo com estas ideias, o Governo pela iniciativa do Sr. Martens Ferrão, ministro do reino, obteve do corpo legislativo uma lei para facilitar as construções e introduzir no orçamento uma verba para auxiliar os municípios que edificassem as escolas” .
As verbas municipais eram muito escassas e os edifícios escolares existentes eram normalmente casas de habitação com algum espaço, e que se adaptavam, na medida do possível, à nova função.
E D. António da Costa, sobrinho neto do Marquês de Pombal, concluía o seu esclarecido pensamento nos seguintes termos:
“ Esta é a grande lição que se deve tirar do legado do Conde Ferreira, e muito de propósito não o aplicou para ordenado dos professores, vestuário das crianças, muitas andrajosamente vestidas, ou compra de livros, mas cifrou-o na construção da casas escolares....”
A concepção do edifício incluía simultaneamente a residência do respectivo professor no próprio local de trabalho.

                              Francisco Goulão

terça-feira, 21 de maio de 2013

SEMEAR DESEJOS



Desejar é o motor do nosso agir. A emoção é a grande detentora da nossa capacidade de acreditarmos que somos capazes de conquistar os nossos sonhos.
Vimos anteriormente que é importante ter um desejo e é importante que esse desejo seja nosso, pessoal, individual. Outra grande questão relacionada com os desejos de cada um é que estes não devem ser canalizados num objeto, não devem ser vividos com a atenção focada em algo concreto, mas sim no sentimento que lhe corresponde. Por exemplo, se desejarmos viver um grande amor, não devemos ter a atenção exclusiva numa determinada pessoa. Se assim for, não é o sentimento que desejamos, mas sim a pessoa, a qual pode, posteriormente, revelar-se um desilusão e o amor, que tanto desejávamos viver, acaba por ser uma deceção. Quantas pessoas não fecharam o seu coração na sequência de uma experiência traumática do género? 
Outro exemplo: se sonhamos em sermos reconhecidos no trabalho, não devemos viver em função de atingir determinado cargo, pois ao consegui-lo, esse pode não vir com o reconhecimento de que se estava à espera. Assim sendo, a solução passa por começarmos a dar e a ser aquilo que nós queremos conquistar: se quiser ser reconhecido no trabalho, comece por reconhecer os outros; se quiser que sejam tolerantes consigo, comece por sê-lo com os outros; se quiser que o aceitem como é, comece por aceitar os outros tal como são; se quiser ter amor na sua vida, comece por dar amor aos outros.
Primeiro temos de nos abrir a dar, temos de plantar as sementes. Antes de mais, foque a sua atenção no que deseja para si e, depois, semeie o que deseja colher.

                                     Rossana Appolloni

domingo, 19 de maio de 2013

ONDE COMEÇA A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA?



            A família de hoje é qualitativa e quantitativamente diferente daquela que existia há algumas décadas. De uma família patriarcal e numerosa onde cabiam pais, filhos, irmãos, tios…, transitou-se para uma família cada vez mais reduzida. Ela, nos tempos que correm, reduz-se, frequentemente, a pai, mãe e filhos (quando existem). As famílias monoparentais serão abordadas noutras crónicas.
            Ora, é na família que a criança começa a construir a sua personalidade. Se a família funcionar adequadamente, com pai e mãe a diferenciarem-se mas, igualmente, a complementarem-se nos seus papéis, é natural que o crescimento da criança seja ajustado. Ela encontrará neles os modelos que irá imitar e seguir. De igual modo, o contrário será verdadeiro: num ambiente familiar conflituoso e desorganizado, a criança aprenderá esses comportamentos de conflito e de desordem. 
            É também no ambiente familiar que a criança deve começar a experimentar o não. Ela tem que aprender ali que nem tudo o que deseja pode alcançar. A satisfação de todos os seus caprichos, desejos extravagantes e teimosias, se satisfeitos, não a irão beneficiar e serão fonte de conflito na sociedade. No lar, como em qualquer sistema social, tem que haver normas. A inexistência dessas normas ou a quebra sistemática das mesmas, por cedência, induz na criança o sentimento de que, fazendo força para tal, tudo lhe pode ser concedido.
Ora, a criança irá transportar para a escola e para a comunidade aquilo que constantemente viu repetido na família, seja nos comportamentos adequados, seja nos inadequados.
A família é, pois, em primeira e principal instância, a grande modeladora dos comportamentos que uma pessoa, quando adolescente ou adulto, irá manifestar na escola e na sociedade.

                                                   Mário Freire

sexta-feira, 17 de maio de 2013

DESPEDIDA



Teve o agora sempre um antes
e houve o aquém do onde passo.
Despedidas são constantes,
quer no tempo quer no espaço:

Cada qual já tem contida,
no adeus da saudade,
nova etapa a ser vivida,
pois que a Vida é Novidade.

Leva-me isto a meditar
nas surpresas e mistério
em que a Morte é Despedida.

Mas não só: É o Encontrar
descobrindo, então, a sério,
quanto há VIDA após a Vida.

João d’Alcor

quarta-feira, 15 de maio de 2013

PEDAGOGIA E ENSINO SUPERIOR EM PORTUGAL



O desenvolvimento social e económico de um país depende fundamentalmente do conhecimento e do nível educativo dos seus cidadãos. No momento de crise económica profunda que se verifica em Portugal, em que a sustentabilidade do ensino superior se encontra ameaçada, e a sua organização com rumo incerto, importa mais do que nunca criar um espaço de reflexão pedagógica em que os especialistas em ciências da educação se possam pronunciar.
           Pode parecer um paradoxo centrar este texto na componente pedagógica do ensino superior, quando toda a pressão de avaliação interna e externa das instituições e dos docentes incide particularmente sobre a produção científica. Mas, talvez não.
 Assumimos que a reflexão de natureza pedagógica continua a não ser uma prática corrente nos ensinos politécnico e universitário em Portugal que, durante gerações, nos habituou a um ensino tradicional destinado apenas a uma pequena elite e se alheou dos desafios da massificação de que foi alvo. A ideia de que pedagogia apenas diz respeito à relação do professor com crianças ou jovens até ao ensino secundário permaneceu latente, tornando estéril qualquer discussão que, na perspectiva de alguns, seria desnecessária e até contraproducente no ensino superior.
Um novo paradigma terá de ser assumido por um ensino superior que busca o ideal da excelência, colocando no centro do debate o equilíbrio entre as dimensões pedagógica e investigativa e uma redobrada atenção à sociedade e às mudanças se, verdadeiramente, o que pretendemos é ganhar o desafio da qualidade.

                                                   FNeves

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 2



O governo daquele longínquo ano de 1866 fez publicar imediatamente legislação adaptada ao aproveitamento do legado do benemérito através da carta de lei de 27 de Junho de 1866, havendo a realçar nela as seguintes disposições:
-declaração do regime de utilidade pública e expropriação dos terrenos e casas destinados à fundação de novas escolas;
-oferta de um plano geral de traça arquitectónica uniforme;
-facilidades concedidas às Juntas de Paróquia ou Câmaras Municipais na libertação de embaraços do foro (baldios, enfiteuses, prazo ou foro, qualquer forma de contrato) de locais próprios para a nova edificação, ficando assim rapidamente disponíveis para a construção imediata das escolas.
A argumentação do legislador não deixa dúvidas sobre os desígnios e objectivos imediatos: “A instrução do povo, bem dirigida, exige que se facilite não só o ensino primário com os elementos que o compõem no seu grau mais aperfeiçoado; mas o ensino económico e industrial, e a par com este o conhecimento dos direitos que os cidadãos de um país livre têm de exercer, e dos deveres que a sociedade lhes impõe”.
Enumerava em seguida as características que os locais propostos para edificação do imóvel escolar deveriam ter, desde superfície, situação e exposição, acessos e condições não só da parte destinada à escola, como dos anexos da residência do professor, actividades escolares e pátio destinado ao recreio. Cada edifício deveria ter capacidade para 50 alunos, na base de 1 a 1,90 metros quadrados por cada aluno. O material didáctico exigido era, além das carteiras e quadro, também constituído por quadros alfabéticos para aplicação do método de leitura, denominado método português, da autoria de António Feliciano Castilho, sistema métrico, colecção de pesos e medidas, réguas, compasso, contador mecânico, transferidor, tira-linhas, esquadro, globos, colecção de mapas, amostras de rochas e de plantas e uma pequena biblioteca: Nas escolas femininas haveria ainda os utensílios próprios dos lavores femininos e, se possível, máquina de costura e rodas de fiar.
Como se verifica houve a preocupação de uniformizar a construção, com planta prévia adaptada à localização.

                                             Francisco Goulão

sábado, 11 de maio de 2013

O DESEJO DE VIVER



A vida é feita de meta e de desafios. O prazer de viver está na conquista dos nossos sonhos e, assim que concretizamos um, partimos naturalmente à conquista de outro. Esta é a dança da vida, uma sucessão de objetivos e metas, com o prazer de gozar e saborear a caminhada que nos leva até lá.
A vida é sentir o que se quer, seja a que nível for, é ter um desejo pessoal para pôr em prática. No entanto, à volta dos desejos que temos, por vezes cria-se uma energia de ansiedade e de sofrimento que vem contradizer a alegria e a serenidade que era supor sentirmos na conquista de algo que nós próprios estabelecemos.
Ora, a primeira questão é mesmo esta: essa meta que queremos alcançar, esse sonho que desejamos conquistar, é mesmo nosso ou, pelo contrário, é de outra pessoa? Muitas vezes nem isso sabemos. Andamos à deriva, sentados num barco que não é o nosso. Uma das formas de descobrimos se estamos ao leme do nosso próprio barco é através do que sentimos. Ao imaginarmos esse sonho concretizado, o que é que sentimos? Ao percorrermos o caminho que nos leva até lá, que sensações e emoções nos preenchem?
Não há sonhos certos ou errados, há apenas os nossos sonhos e os dos outros. Enquanto vivermos apenas em função dos sonhos dos outros, a felicidade nunca fará parte do nosso ser, simplesmente porque não estamos a viver a nossa vida, mas sim a vida de outra pessoa. Partirmos à conquista do nosso desejo implica definir primeiro qual é que ele é. Assim, pergunte-se, diariamente: o que é que eu quero da vida? Quais são os meus desejos?

                                      Rossana Appolloni

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A CRISE E A MATEMÁTICA



      Em 2008, imediatamente antes da bancarrota da Lehman Brothers que, segundo muitos, foi responsável pela crise económica que estamos a viver, o presidente da câmara de Cleveland, Estados Unidos, registou 21 queixas contra grandes bancos. Estes, através de agentes pouco escrupulosos, venderam créditos e ilusões a muitas famílias que desejavam ter casa própria e que, depois de a habitarem, foram obrigadas a perdê-la. Muitas outras famílias, em outros países, Portugal incluído, percorreram idêntico caminho.
Ora, mercê do poder dos bancos de Cleveland, nenhuma daquelas queixas conseguiu chegar a tribunal. Este facto inspirou o cineasta Jean-Stephane Bron a encenar um julgamento fictício, apoiado pela administração municipal, com advogados, juíz e testemunhas verdadeiros. Assim, o cinema permitiu que o caso tivesse um julgamento justo, quando a justiça falhou.
Perguntar-se-á: que tem isto a ver com a Matemática? Acontece que o realizador Jean-Stephane Bron mostrou que o inumerismo, o analfabetismo matemático, o iletrismo dos números precipitou a falência de milhares de famílias americanas. Estas, seduzidas pelos argumentos dos vendedores de sonhos e incapazes de fazerem contas, endividaram-se até ao pescoço.
Por outro lado, ainda há pouco mais de um ano, o CREDOC, o centro francês de pesquisa para o estudo e observação das condições de vida, mostrava que metade da população adulta francesa ignorava que, se colocasse 100 euros num banco, a uma taxa de 2%, iria ter, no fim de um ano, 102 euros. Se este inquérito tivesse sido realizado em Portugal, teríamos resultados melhores?
O analfabetismo matemático é uma doença que grassa numa parte significativa da sociedade tecnológica. Como explicar a aversão à Matemática por tantas pessoas… por tantos alunos? E qual o custo social deste analfabetismo?

                                     Mário Freire

terça-feira, 7 de maio de 2013

DESLUMBRAMENTO




Grande ele é e conta tanto
o prazer de respirar.
Pára o folgo, no entanto,
quando há algo a fascinar.

Mas sentir deslumbramento,
é bem mais do que parar,
pois que implica envolvimento
tudo quanto seja amar.

Suspensa a respiração,
o bater do coração
de mor vida dá sinal.

Ao amar e ser amado,
quem não fica deslumbrado?
É o efeito mais normal.

João d’Alcor

domingo, 5 de maio de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 1



           O CONDE FERREIRA E O SEU INTERESSE PELAS CAUSAS SOCIAIS 
      
Sendo incontornável a figura deste ilustre duriense, nascido em Vila Meã, Porto, em 1782 e falecido na cidade do Porto em 24 de Março de 1866, importa que se faça uma referência ajustada à grandeza do seu carácter e da sua obra. E porquê a importância e a justificação desta abordagem? Eis o tema que nos guiará durante as próximas intervenções.
Joaquim Ferreira dos Santos nasceu no lugar de Vila Meã, actual lugar de Azevedo, na freguesia de Campanhã, arredores do Porto. Foi o quinto e último filho de João Ferreira dos Santos e de Ana Martins da Luz, um casal de lavradores proprietários pouco abastados com terras em Campanhã, então ainda uma típica freguesia rural do noroeste português.
Como era norma ao tempo, o casal destinava ao filho mais velho a gestão do património agrícola, pelo que os restantes irmãos teriam que encontrar outros meios de vida.
O segundo irmão seguiu o sacerdócio, destino que também pretendiam para o filho mais novo. Com esse objectivo o jovem Joaquim Ferreira dos Santos estudou latim, lógica e retórica, mas concluindo que não tinha vocação para o sacerdócio, abandonou os estudos aos 14 anos de idade, empregando-se como caixeiro e manifestando vontade de ir para o Brasil e seguir a carreira comercial. Os conhecimentos que adquirira viriam a ser úteis, mais tarde, na sua carreira comercial.
Depois de um curto período como caixeiro no Porto, contrariando os pais, emigrou para o Brasil em 1800, levando consigo carta de recomendação dirigida a um parente que se encontrava estabelecido como comerciante no Rio de Janeiro. No Brasil, ajudado e protegido pelo seu parente, foi prosperando no negócio, dedicando-se ao comércio por consignação de produtos enviados do Porto.
Emigrou, posteriormente, para África, tornando-se um próspero e abastado comerciante. Não tendo parentes próximos de herança imediata e legal, resolveu doar toda a sua fortuna, aplicando-a em melhoramentos culturais de benefício social a reverter para os mais desfavorecidos de todo o País, uma vez que o seu testamento não fez reservas à localização das instituições a criar com o impulso da doação.
Eis os termos exactos em que fez redigir a sua última vontade:
Convencido de que a Instrução Pública é um elemento essencial para o bem da sociedade, quero que meus testamenteiros mandem construir e mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras que forem cabeças de concelho, sendo todas por uma mesma planta e com acomodação para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa 1:200$000 réis, e, pronta que esteja cada casa será a mesma entregue à Junta de Paróquia em que for construída, mas não mandarão construir mais de duas casas em cada cabeça de concelho e preferirão aquelas terras que bem entenderem.
Com esta deliberação dava-se início a uma interessante iniciativa favorável à incipiente causa do ensino popular, destinada a favorecer os mais carenciados.


                              Francisco Goulão

sexta-feira, 3 de maio de 2013

PODEMOS SER "BOAS PESSOAS" E AMBICIOSAS?



Um dos fatores de maior importância para uma “boa pessoa” é estabelecer relações positivas com os outros. Manter relações harmoniosas e acalmar conflitos onde quer que eles existam é a grande prioridade, pelo que, com muita facilidade, as outras questões passam para segundo plano, nomeadamente aquelas relativas aos próprios interesses, quer pessoais, quer profissionais. Isto significa que ser boa pessoa é incompatível com a progressão na carreira ou a dedicação a atividades de seu interesse?
A teoria de que as boas pessoas têm um caráter fraco é infundada. A vontade de querer agradar sempre os outros não choca necessariamente com um caráter assertivo ou competitivo, características essenciais para se conquistar um cargo de chefia, por exemplo. Tudo passa pela atitude. Ser assertivo não implica ser agressivo. Trata-se apenas de ter segurança no que se quer e não ter receio de enfrentar incompatibilidades, pois elas existem sempre. Da mesma forma, ser competitivo ou ambicioso não implica passar por cima dos outros, apenas ultrapassar barreiras para alcançar a própria meta.
Costuma haver uma associação imediata entre os que detêm o poder e a falta de preocupação pelos outros, mas é perfeitamente possível manter os valores fulcrais de uma “boa pessoa” e simultaneamente conquistar sonhos ambiciosos. Pode-se conjugar a atenção pela necessidade dos outros com a atenção pela própria necessidade. Há momentos em que é preciso fazer uma escolha, mas tal não implica prejudicar alguém. Há momentos em que também nos devemos ouvir para sentirmos o que verdadeiramente nos traz bem-estar, alegria e satisfação, pois o termos a nossa atenção demasiado focada nos outros também pode significar uma incapacidade de olharmos para nós próprios. Não nos esqueçamos que só quando estivermos em harmonia connosco conseguimos ajudar verdadeiramente o próximo.

                                                Rossana Appolloni

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A ESTABILIDADE NA VIDA FAMILIAR



      A família tem sido o último reduto onde as pessoas podem acolher-se para terem paz e ganharem energia para os combates do dia-a-dia. Mas, para isso, a vida familiar tem que ter estabilidade.
Esta estabilidade, porém, está constantemente a ser ameaçada pelos múltiplos factores adversos que a sociedade de hoje criou e que, muito particularmente, a sociedade portuguesa está a viver.
Que condições seriam, então, necessárias existirem para que uma família pudesse funcionar adequadamente, de modo a preservar tal estabilidade?
            Ora, para que uma família funcione torna-se necessário que cada um dos seus membros consiga satisfazer, no seu seio, as suas necessidades básicas. E estas passam, no que se refere ao casal, por aspectos de natureza afectiva, de compreensão sobre os factos e as circunstâncias e sobre aquilo que de essencial os une, no que se refere aos valores.
            A insatisfação, o bloqueio ou o desencontro de alguns desses aspectos conduzem ao sofrimento, à infelicidade e irão provocar tensões no seio familiar. E quando nada se tenta fazer para diminuir essas tensões, está a abrir-se o caminho ao distanciamento dos cônjuges, à discussão permanente, à violência conjugal, que terão como desfecho a separação e o divórcio.
Ora, sabe-se quanto de traumático o divórcio, mesmo quando ele se faz de modo civilizado, é para cada um dos pais mas, principalmente, para os filhos. Não raramente a separação dos pais, por maiores que sejam os seus esforços para evitarem sequelas nos filhos, deixa marcas nestes para toda a vida!
Preservar a estabilidade familiar torna-se, pois, uma obrigação de toda a sociedade, pais incluídos.

                                 Mário Freire