quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

ÁRVORES





Árvores, esfinges do tempo
Sombras de cinza e carvão.
Bulícios em movimento
Painéis de nuvens e vento
Com peias de solidão.

Vultos mansos, flores bravias
Seivas mornas da planície.
Cinturas leves, esguias
Transbordando melodias
Cravando ferros na velhice.

Princesas d´alva escondidas
Em castelos de lonjura.
Algumas seculares e ressequidas
Parecem encarnar restos de vidas
Arrobas de paixão e amargura.

………………………………………………

Árvores!... Silhuetas majestosas.
Como antas, ostentando um véu antigo.
Pelo vento desgrenhadas, sequiosas
Inchadas de beleza como as rosas
Tendo o céu como seu único abrigo.

Árvores!... Presenças ancestrais
Pilares da natureza em movimento.
Rumores de cânticos celestiais
Ecos de misteriosas catedrais
Que ligam o Alentejo ao firmamento!...


Aldina Cortes Gaspar


“ IN ALENTEJO ADENTRO”


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

PROGRAMAS E MANUAIS ESCOLARES, PROFESSORES, EXAMES E CIDADANIA





Uma pequena troca de opiniões que  teve lugar há dias, no Facebook, envolvendo programas escolares, exames e professores, levou-me, uma vez mais, a partilhar com todos os amigos o que penso sobre este complexo e delicado assunto.

Referindo-me unicamente à área do conhecimento na qual me movimentei, ao longo de décadas como professor, estou em crer que todos os males de que enferma o nosso ensino básico e secundário na disciplina de Geologia começam nos programas oficiais, da responsabilidade do Ministério da tutela e das equipas que, oficialmente, os elaboram. Continuam na formulação dos questionários propostos nos pontos de exame, ao que parece, especialmente concebidos para conduzirem a respostas curtas de fácil e rápida correcção. Igualmente da responsabilidade deste Ministério e das equipas indigitadas para o efeito, estes questionários estão, assim, muito longe de permitirem a avaliação dos examinandos em termos da sua maturidade e capacidade expositiva, bem como da sua real preparação no que respeita as matérias do respectivo programa. Um tal condicionalismo leva os autores dos livros escolares e as editoras a produzirem manuais onde os conceitos, tantas vezes estereotipados, acríticos e, uma vez por outra, imprecisos, se sucedem.
Seguidores quase à letra de uma pedagogia segundo a qual, mais do ensinar através da exposição discursiva, o professor deve estimular os alunos a descobrirem o conhecimento, estes manuais copiam-se e recopiam-se a partir de outros que enfermam da mesma filosofia. Pouco ou nada munidos da componente cultural essencial a quem tem por missão ensinar, alguns destes autores revelam-se, ainda, deficientemente habilitados na componente científica das matérias versadas.
A principal missão do professor, a mais nobre e para a qual foi (ou deveria ter sido) preparado, é facultar aos seus alunos não só o conhecimento, mas os meios e os caminhos que lhes permitam atingi-lo, pois só esse conhecimento convenientemente assimilado o valorizará como profissional e como cidadão. Porém, as amarras do programa oficial, o obediente e acrítico manual escolar e o espectro do exame final contrariam qualquer acção dos bons professores, no que toca o ensino vivo da disciplina. Não custa a admitir que entre as preocupações do professor, tem particular relevo a de habilitar os seus alunos para a avaliação a que, necessariamente, têm de ser submetidos no final do ano lectivo. E, aí, os manuais de ensino, com perguntas e respostas estereotipadas, acabam por se sobrepor ao adequado e necessário tratamento das matérias. Convenientemente adquirido e interiorizado, o conhecimento destas matérias confere dimensão cultural à geologia, forma cidadãos mais conscientes da sua posição na sociedade e defensores activos do ambiente e do nosso património natural. Conduzir os alunos tendo por objectivo principal, muitas vezes o único, prepará-los para transporem a barreira chamada exame, leva-os a ver nas respectivas matérias algo de desinteressante e enfadonho, a cumprir para efeitos de avaliação escolar e, de seguida, lançá-las no caixote do esquecimento. De imensa e inesgotável que parecia, ao tempo de Colombo, Gama e Cabral, a Terra tornou-se pequena e frágil aos nossos olhos. Constante e progressivamente agredida pelo imenso, anónimo, insaciável e incontrolado mundo dos cifrões, este nosso condomínio está a dar sinais preocupantes de esgotamento de recursos e de degradação ambiental. Há, pois, que defendê-lo e, para tal, é imperioso conhecê-lo, cabendo à escola e aos professores um papel fundamental.
Muitos dos professores incumbidos de ensinar Geologia nas nossas escolas são licenciados em Biologia, sem qualquer preparação académica na área das ciências da Terra. Devo, no entanto, salientar que nas muitas escolas que visitei e continuo a visitar por todo o país, como convidado, fazendo palestras para professores e/ou alunos, participando em debates ou em outras actividades, conheci licenciados em Biologia que, mercê de intenso estudo autodidático, se revelaram tanto ou mais interessados e competentes no ensino da Geologia, do que muitos dos seus pares licenciados nesta disciplina.
Já o disse e volto a dizer que é preciso elevar a cultura geológica dos portugueses e isso começa na escola. De há muito que venho alertando, em textos escritos e em conversas públicas, para a pouca importância dada ao ensino desta disciplina nas nossas escolas dos ensinos básico e secundário. Quem, a nível político, decide sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares referentes a esta disciplina, desconhece a real importância deste domínio do conhecimento como motor de desenvolvimento e bem-estar, mas também como componente da formação integral do cidadão.
Salvo uma ou outra excepção, a falta de cultura geológica dos portugueses é uma realidade transversal, das elites intelectuais sobejamente eruditas ao mais iletrado dos cidadãos. Os nossos concidadãos sabem dizer granito, basalto, mármore, calcário, xisto, barro, petróleo, gás natural, quartzo, feldspato e mica, mina, vulcão, montanha, planície, mas ignoram a origem, a natureza e o significado destas entidades como documentos da longa história que nos antecedeu nesta “bola colorida”. O conjunto de conhecimentos inerentes a esta história tem todas as condições para despertar a curiosidade dos alunos, abrindo-lhes as portas aos múltiplos domínios de um programa convenientemente elaborado por quem tenha competência científica e cultural para o fazer.
A Geologia, insisto em repetir, não pode deixar de ter uma dimensão cultural ao dispor do cidadão comum. Os professores devem ter consciência desta realidade quando se dirigem aos seus alunos, uma vez que não estão só a fornecer bases para eventuais candidatos às licenciaturas na área da Geologia (sempre raros ou inexistentes numa qualquer turma escolar), estão, sobretudo e na maioria dos casos, a formar cidadãos para quem essas bases são fundamentais em termos de preparação global.
E porque não ligar estes conhecimentos às nossas origens, onde e em especial o sílex e o barro foram alvo de procura e utilização, e à sucessiva ocupação do território por outros povos e civilizações (fenícios, gregos, cartagineses, romanos e árabes), em busca do ouro, do cobre e do estanho? E porque não associar a nossa História à realidade física (leia-se geológica, geomorfológica, mineira, sismológica) do país?
Quarenta anos de ensino teórico e/ou prático de diversas disciplinas (da Mineralogia e Cristalografia à Geologia, passando pela Paleontologia e pela Geomorfologia) na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, dos quais, dezasseis também na Faculdade de Letras (em Geografia) e, ainda centenas de aulas ou lições nas escolas (dos jardins de infância às secundárias) de norte a sul do território continental, das Ilhas e de Macau, mostraram-me, à saciedade, que aprender a gostar de saber, qualquer que seja o nível no sistema educacional, é uma das chaves que abre o caminho ao sucesso escolar. O professor tem de ter saber (por vocação própria ou porque para tal foi preparado) levar os educandos a gostarem das matérias que têm, por dever, transmitir-lhes. Tem de os incentivar a terem prazer no convívio com ele e, assim, sentirem a escola como algo importante nas suas vidas. A experiência também me ensinou que, em especial, face aos alunos mais crescidos, há outras ferramentas ao alcance do professor para os conduzir no referido sucesso. Uma, é conseguir inculcar neles a consciência do dever cívico de estudar, levando-os a tomarem consciência do privilégio que têm de usufruir da condição de estudante numa sociedade onde milhares de jovens permanecem privados dela. A outra chave não menos importante é estimular-lhes a autoestima. Por outras palavras, o professor tem de ter artes para fazer dos seus alunos jovens que têm gosto em aprender, que frequentam a escola com prazer, que encaram o estudo como um dever de cidadania e têm brio na sua condição de estudantes. Para tal, tem de conseguir estabelecer com eles uma aproximação de confiança e afectividade mútuas que lhe permita actuar, com êxito, nestas vertentes. Foi assim, durante quarenta anos, a minha relação com os muitos milhares de alunos com quem troquei saberes e afectos.
Essa tripla condição, que está ausente num número infelizmente muito grande dos rapazes e raparigas das nossas escolas, podemos imaginá-la, por exemplo, nos alunos ucranianos que, na viragem do século, aqui chegaram com os pais, aquando das primeiras vagas de imigrantes vindos de um país de Leste, onde esses valores, devo concluir, são uma realidade.
”O poder do feiticeiro reside na ignorância dos seus irmãos tribais”. Trata-se aqui de um dito que, na nossa sociedade e no nosso tempo, nos adverte para o facto de que só o conhecimento nos defende dos opressores.
É esta realidade que os professores devem fazer sentir aos seus alunos, em especial aos mais desprotegidos e atingidos pela exclusão social que grassa em tantas escolas marcadas pela suburbanidade crescente que caracteriza as sociedades desenvolvimentistas. O Sistema promove e alarga o fosso entre os que estudam, e assim aspiram e conquistam o direito à cidadania, e os outros. E nestes outros estão os do trabalho precário e a grande maioria dos que caem na marginalidade.

É uma obrigação do professor transmitir esta mensagem aos seus alunos, na batalha contra o insucesso escolar. Cegos e alienados por “valores” vazios, sabiamente alimentados pelo mesmo Sistema, muitos dos alunos das nossas escolas básicas não se apercebem que estão a consentir serem vítimas de uma segregação a prazo, sendo necessário que alguém lhes abra os olhos. E esse alguém, à falta da acção dos pais, tem de ser o professor. Para tal, repito, há que saber ganhar a confiança dos alunos e, também, o seu afecto. Feliz do estudante que gosta da convivência com o seu professor e duplamente feliz se esse professor estiver à altura do seu papel que, para além de educacional, é, também e sobretudo, social.
           

                                      Galopim de Carvalho

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

FRATERNIDADE




Passei horas a pensar
no que é Fraternidade.
Mas o termo, na verdade,
bem tardou em me inspirar.

Veio a noite e nela um sonho.
- Que momentos tão vividos... -
Ei-lo, em dados resumidos,
no terceto que componho:

 ‘Sirvo os pobres, trato enfermos,
sempre nesta convicção:
Sou um deles também eu.’

- Jaz nos actos, não nos termos,
o que é ser, de facto, irmão:
Foi lição que o Céu me deu.

João d’Alcor


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A ESCOLA E O NATAL

                                                



O Natal surge como a comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Apesar de ser uma festa cristã, o Natal, com o passar dos tempos, foi sofrendo algumas alterações no seu significado. Hoje, pelo menos para os não-cristãos, ele transformou-se na festa da família.
A escola que temos é laica. Isso significa que há uma neutralidade confessional do Estado mas, também, o respeito pelas convicções religiosas de cada um. Julgo, no entanto, que para além do aspecto especificamente religioso e que se prende com a origem do Natal, a escola teria o dever, para além das aulas de Moral e Religião, de instruir sobre o aparecimento desta celebração. Tal não lhe retiraria a laicidade mas contribuiria, certamente, para proporcionar um melhor conhecimento aos alunos daquele que se constituiu como um marco histórico da humanidade e cuja doutrina serviu de cimento à civilização ocidental: Jesus Cristo e o Cristianismo.
O Natal, pela riqueza cultural de que é portador, presta-se a um seu tratamento quer interdisciplinar, quer transdisciplinar. De um modo interdisciplinar, na medida em que várias disciplinas poderiam tratar, cada uma a seu modo, o tema. Transdisciplinarmente, colaborando as diferentes disciplinas entre si em torno de um tema organizador. Claro que esta última maneira implicaria uma discussão mais profunda do que se pretenderia alcançar. De acordo com as idades dos alunos, encontrar-se-iam, depois, formas de apresentação pública que poderiam, até, incluir a participação das próprias famílias.
Este modo transdisciplinar de tratar um tema exige formação docente, planeamento, execução e avaliação e fazia parte da Área de Projecto, tendo esta sido extinta pelo actual Governo. Talvez valesse a pena repensá-la, tendo em consideração a remediação das causas que levaram à sua extinção.

Enfim, Natal implica nascimento, uma nova vida. Que ele seja, então, um motivo de esperança para todos os que na educação e fora dela labutam para um mundo melhor! 

                               Mário Freire

sábado, 19 de dezembro de 2015

PESSOAS QUE SE CRUZAM SEM SE VEREM PARA MAIS TARDE SE ENCONTRAREM





O encontro entre as pessoas tem um fundo de magia que me fascina. Quando conhecemos alguém com quem descobrimos ter muitos amigos em comum, perguntamo-nos como é que ainda não nos tínhamos antes. Ou então o contrário: como é que as nossas vidas se cruzaram sem haver nenhum elo de ligação com outras pessoas. Porquê agora? Porquê aquela pessoa? E porque é que com alguns se trata de meros encontros que não têm continuação, e com outros a sua presença fica na nossa vida? Mais curioso ainda são aquelas pessoas que se cruzam sem se verem, sem darem por isso, para mais tarde se encontrarem e decidirem finalmente permanecer na vida uma da outra.
Pessoas que se cruzam numa cidade, numa festa, num concerto e não se veem. Pessoas que se cruzam numa escola, num cinema, numa praia e não se veem. São tantas quantas aquelas com quem nos cruzamos diariamente, sem sequer olhar. Tantas pessoas que podiam mudar o rumo da nossa vida… na verdade cada encontro altera algo no nosso percurso. Formas de sentir, de pensar, de agir. Não há nada mais terrível do que a rigidez que nos impede de receber o impacto que o outro pode ter em nós. O que ficamos a pensar na sequência de um encontro, o que sentimos nesse momento e como daí alteramos coisas da nossa vida, ainda que pequenas. A insistência em continuar a se ser como se é, sem se deixar permeabilizar no encontro com o outro, faz com que estes cruzares sejam superficiais, fugazes, insignificantes. Quando deixamos que o outro entre em nós, esse encontro adquire significado. A nossa vida deixa de ser o que era, respeita a lei da impermanência. Tudo muda, sempre. Há um fator novo, uma pessoa nova na nossa existência. Ainda assim, muitas são as vezes que erguemos muros que nos protegem do outro, como se o outro pudesse roubar algo de nós se nos mostrarmos demasiado. O medo de perdermos a nossa identidade no encontro com o outro faz-nos, paradoxalmente, perder a oportunidade de enriquecer essa mesma identidade. É o outro que nos revela quem somos, através do que pensamentos e sentimos na sua presença. É o outro que toca nas nossas feridas e nos relembra que elas existem e que necessitam de ser olhadas, vistas e cuidadas.
E porquê uma pessoa fica e outra vai? Apenas por essa capacidade que uns têm de nos tocar e outros não, bem como pela nossa vontade e disponibilidade em sermos tocados. Algo que não se explica, que não é racional, apenas tem a ver com a nossa história de vida. Ou simplesmente não vemos os outros porque não nos vemos a nós. Deixar fugir a existência de outra pessoa é virar costas ao que poderíamos aprender e crescer através do encontro com ela. Os encontros são sincronismos que nos permitem enriquecer a nossa experiência de vida. Cabe a cada um de nós dar o passo para agarrar essa oportunidade, pois a dança da relação precisa de dois indivíduos que se olham, se veem e se reconhecem para sentirem que vale a pena um caminho partilhado.


                                     Rossana Appolloni

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

TEMPO DE NATAL








                       Cai um manto gelado sobre a terra
Nunca se viu, assim, nevão igual.
Não é maga ilusão, pura quimera
Cai neve porque é tempo de Natal.

É tempo de esquecer ódio ou rancor
De varrer crispações da nossa mente.
É tempo de chamarmos o amor
Sempre, tão esquecido, tão ausente.

Por amor, também, gela a natureza
Hiberna, fica cheia de beleza.
Tudo obedece às leis do universo.

Sobe uma tal frieza rua fora
Que minh´alma arrefece e até chora.
“Bate o dente” com frio este meu verso.

In “PÂNTANO”

Aldina Cortes Gaspar


domingo, 13 de dezembro de 2015

ÁRVORE DE NATAL, PECADO AMBIENTAL

               



O Natal comemora o nascimento de Jesus Cristo. No entanto, é com tristeza que se constata que uma época de paz e amor se tem tornado numa época de consumismo.
O título de maior árvore de Natal da Europa foi arrecadado, há alguns anos, pela árvore que esteve então instalada na capital portuguesa, presumo. Os seus 76 metros de altura concederam-lhe essa distinção. A estrutura de metal utilizada suportava mais de 1 milhão e 600 mil lâmpadas e quase 13 mil metros de tubo luminoso, para além das estrelas em néon. O seu tamanho e luminosidade permitiam que a árvore fosse vista de quase todos os pontos da cidade.
Criar a sua árvore de natal com objectos reciclados é uma óptima forma de poupar recursos e também uma forma de demonstrar que o valor do Natal não é apenas o material mas também o espiritual. Também a utilização de pinheiros como árvores de Natal poderá ser amiga do ambiente. As matas têm de ser ordenadas e as árvores desbastadas poderão ser, então, aproveitadas para as festividades do Natal.
Sabemos que o clima da Terra tem variado profundamente ao longo da sua história, com início há mais de 4000 milhões de anos. Recentemente o homem passou também a contribuir para a modificação do clima da Terra por meio das emissões de gases com efeito de estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2) que resulta da queima de combustíveis fósseis  e, ainda, de profundas alterações no uso dos solos, em especial a desflorestação indiscriminada.
Haverá alterações na precipitação com variações espaciais significativas; maior precipitação nas latitudes elevadas e nas regiões equatoriais e menor precipitação nas latitudes médias, em particular na região mediterrânica e do Sul da Europa, onde Portugal se situa.
O problema não se resolve apenas com leis. Em última análise, a sua resolução irá depender do nosso comportamento individual, da nossa informação, conhecimento e sensibilidade para as questões ambientais.
Não será altura de fazer árvores de Natal não tão altas, com menos lâmpadas, com menos tubo de iluminação, com menos estrelas de néon e com mais materiais reciclados? Daríamos uma forte contribuição para a preservação do ambiente. Os nossos filhos e netos poderiam ter uma vida mais saudável e um futuro mais risonho.

             FNeves


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A ESCOLA NA FAMÍLIA

                          



Muitos dos problemas escolares (de aprendizagem, disciplinares e outros) têm origem, mais ou menos próxima na família. Costuma dizer-se, nos dias que correm, que os pais têm pouca disponibilidade para acompanhar os filhos, seja nos assuntos de natureza escolar, seja nos outros. E, para isso, encontram-se várias justificações: falta de tempo, preocupações de natureza financeira, funcionamento familiar perturbado...
Acontece que o acompanhamento escolar da parte dos pais não implica, necessariamente, que eles saibam as matérias que os filhos andam a estudar. Diria, até, que são as tarefas que não exigem esse conhecimento as que maior importância têm. Assim, o que impede os pais de solicitarem dos filhos que digam o que de significativo se passou dentro e fora da sala de aula? Fazer perguntas sobre colegas e professores e sobre aquilo que andam a estudar nas diferentes disciplinas é um modo de os pais acompanharem a vida escolar dos filhos. Questioná-los sobre os amigos que têm é tentar compreendê-los, para melhor os ajudar. O que se torna necessário é haver uma autoridade na família suficientemente madura que permita ouvir as respostas, mesmo as mais surpreendentes ou inadequadas, sem que as emoções saltem de imediato, inibindo, assim, à partida, qualquer abertura ao diálogo com os filhos.
Claro que, muitas vezes, os filhos, para justificarem os seus reveses escolares, culpam a escola e os professores. A atitude dos pais, neste aspecto, deve ser muito firme: não culpabilizar a escola nem os professores. Se os filhos vêem os pais do seu lado neste aspecto, significa que eles estão a desvalorizar o papel da escola e esta desvalorização acarretará uma atitude de desinteresse e até de aversão por ela, com consequências na disciplina e no aproveitamento escolares dos filhos. Se há algo que necessita de ser esclarecido, há sempre um director de turma, uma direcção da escola e, até, um professor disponíveis para esclarecer o que for devido.
Enfim, as conversas despreocupadas mas com objectivos claros no dia-a-dia de uma família minimamente funcional podem proporcionar maior tranquilidade à família e contribuir para formar cidadãos mais responsáveis.             
   

                                                        Mário Freire

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

FRANQUEZA




Para quem é educado
muito custa dizer não,
face ao sim solicitado.
Agradar é tentação.

No entanto, é evidente:
- Vem da vida tal lição -
Agradar a toda gente
traz consigo a decepção.

Entre um ‘Não’ que é gracioso
e um sim, mas mentiroso,
são inúteis os palpites.

Dado a outrem ou a mim,
‘Não’ ele há que vale o Sim.
Ter franqueza é pôr limites.

João d'Alcor



sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

CLIMAS E PAISAGENS

                      



As diferentes paisagens da Terra, em qualquer momento da sua história, foram e são, em grande parte, reflexo das características meteorológicas aí prevalecentes. Esta afirmação é evidente para a generalidade dos cidadãos que, embora nunca tenham formulado esta conjectura, têm-na por adquirida. Sem saírem deste nosso rectângulo, no ocidente da Europa, todos relacionam os campos verdejantes do Minho com a maior pluviosidade anual ali verificada (2000 a 2400 mm) e as terras de sequeiro do sudeste alentejano com os menores valores dessa mesma precipitação atmosférica (<600 mm). À escala mundial, a televisão mostra-nos constantemente imagens dos múltiplos visuais do nosso planeta marcados pelo clima, sejam, por exemplo, a floresta equatorial da Amazónia, os glaciares do sul da Argentina, a pradaria norte-americana ou a estepe siberiana, a tundra boreal ou as areias escaldantes do Saara.
Embora na explicação da paisagem, haja que ter em conta o enquadramento geológico regional, com destaque para a natureza das rochas (granito, xisto, calcário, etc.) que lhes servem de substrato e da respectiva estrutura. (modo de ocorrência dos corpos rochosos: homogéneos, estratificados, dobrados falhados, etc.), a influência do clima é muito superior. Face a esta realidade desenvolveu-se um capítulo, comum à geologia e à geografia, conhecido por “geomorfologia climática”, com o estabelecimento de domínios ou regiões morfoclimáticas.
“Faça sol ou faça chuva” é uma expressão vulgar de alusão ao estado do tempo, informação que diariamente nos chega através dos boletins meteorológicos, transmitidos pela televisão, pela rádio e pelos jornais. O estado do tempo, num dado lugar, é uma manifestação de uma realidade mais vasta, própria e à escala do nosso planeta, a que chamamos clima. Em termos muito simples, entende-se por clima um conjunto de fenómenos próprios da atmosfera, na interactividade que estabelece com os oceanos (e os lagos de maiores extensões) e com as terras emersas, nas quais a latitude, a altitude, a interioridade e a cobertura vegetal têm papel mais visível. Temperatura, humidade do ar e pressão atmosférica são factores de clima assegurados pela energia radiante do Sol. Relacionados entre si, são os responsáveis pelas situações de tempo quente ou frio, de tempo chuvoso ou de neve ou, pelo contrário, de tempo seco. São ainda responsáveis pela existência de vento, não raras vezes catastrófico, tal a intensidade que chega a atingir.
O clima condiciona a alteração superficial (meteorização) das rochas, a génese e evolução dos solos, a erosão e transporte (evacuação) dos materiais erodidos (os sedimentos que estão na génese de muitas rochas sedimentares), bem como a ocupação vegetal e animal, incluindo a humana. São as manifestações de clima que, conjugadas com a natureza geológica dos terrenos, determinam o tipo da paisagem que nos rodeia e todas as outras de todos os lugares da Terra.
Ao longo da sua história de milhares de milhões de anos, a mudança das paisagens foi uma constante. Praticamente imperceptível à dimensão temporal de uma vida humana, esta mudança tem pouca expressão no tempo histórico, sendo notável e bem testemunhada à escala do tempo geológico. A paisagem é um sistema dinâmico, só aparentemente estático. É como um simples fotograma de um filme, escreveu Don L. Eicher, em 1970.
Processos geodinâmicos internos à escala global, com destaque para as translacções continentais e os enrugamentos orogénicos, ocasionaram mudanças de latitude e de altitude e subsequentes modificações climáticas que, por sua vez, determinaram mudanças
na paisagem.
Na Terra só há alteração das rochas, formação de solos e erosão, três aspectos modificadores do relevo e, portanto, da paisagem, porque há energia solar e porque temos uma atmosfera e uma hidrosfera, duas entidades susceptíveis de captar essa energia e de a transformar no dinamismo necessário aos processos geológicos ocorrentes à superfície e, também, aos biológicos. O nosso satélite, embora receba o mesmo tipo de energia, não dispõe destas duas entidades, pelo que não exibe qualquer actividade erosiva para além da resultante dos antiquíssimos impactes meteoríticos. Cessado o vulcanismo que aí existiu e diminuída a intensidade da quedas meteoríticas, as suas paisagens são praticamente as mesmas desde há mais de 3000 milhões de anos.
As massas de ar diferentemente aquecidas pelo calor solar dão origem à circulação atmosférica, processo que se traduz na existência do vento. Nas baixas latitudes, nomeadamente nas regiões intertropicais, a incidência dos raios solares aproxima-se e atinge a perpendicular (o Sol está a pique, como vulgarmente se diz), aquecendo o ar mais do que nas latitudes das regiões polares. Nestas, a incidência desses raios é muito oblíqua e, até, rasante, pelo que a temperatura do ar é aí muito mais baixa. Esta diferença de aquecimento faz com que o ar quente suba e o ar frio desça, sendo essa uma das causas da circulação atmosférica (outra causa é da própria rotação do planeta). Por outro lado, a evaporação da água à superfície dos mares, rios e lagos e a resultante da transpiração da cobertura vegetal (uma realidade bem visível nas grandes florestas equatoriais, quentes e húmidas) fornece humidade suficiente para formar nuvens que o vento transporta e descarrega como chuva ou neve, consoante as temperaturas locais.
É, sobretudo, a esfericidade do globo terrestre e a consequente variação da latitude que determinam a zonalidade climática de que toda a gente tem noção, ainda que sumária e empírica. Mas há outros factores que interferem nessa zonalidade, entre os quais a altitude, a proximidade ou afastamento (interioridade) face ao litoral, a existência ou não de barreiras montanhosas que impeçam a passagem de ventos húmidos e, ainda, a orientação dominante do vento nas fronteiras terra/mar.
Existe, pois, uma dialéctica constante entre o clima e a paisagem, dois aspectos que também ditam a génese e a natureza das rochas sedimentares formadas na sua dependência. As areias das praias portuguesas, à semelhança de outras das regiões de clima temperado a frio, são essencialmente constituídas por grãos de quartzo, mineral oriundo, sobretudo, da desagregação dos granitos e de outras rochas afins, características e abundantes na crosta continental. Parte significativa das areias das praias das latitudes intertropicais é essencialmente calcária, dado que resultam da trituração e acumulação de restos de conchas de moluscos e de outras partes esqueléticas de múltiplos organismos construtores de carbonato de cálcio (algas, corais, etc.) que pululam nessas regiões. São estas areias, excepcionalmente brancas, que fazem a alvura das praias das Caraíbas ou das Bahamas, entre outras, e os característicos tons de azul dos mares de coral. Foram areias deste tipo e vasas finas da mesma natureza que, uma vez litificadas, deram origem a muitos calcários, entre eles os do Jurássico das nossas Serras do Sicó, d’Aire e Candeeiros, bem como do barrocal algarvio, e testemunham o posicionamento tropical destas regiões nesses recuados tempos.
Relativamente aos climas e às respectivas zonas e correspondentes paisagens, são do domínio comum nomes como temperado, frio, quente, húmido, seco, etc., mas há outros qualificativos adoptados pelos profissionais da Geografia, da Geologia e da Meteorologia.


                                    Galopim de Carvalho


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

HOJE HÁ PALHAÇOS!





Estar doente e internado num hospital, ou numa clínica, é sempre uma situação geradora de ansiedade, por melhores que sejam as condições e as perspetivas de diagnóstico. No caso das crianças, o sofrimento e um eventual sentimento de despersonalização anulam a alegria que, em circunstâncias normais no seio da família, caracterizam o espírito da idade. A tristeza e o desânimo enfraquecem o sistema de defesas naturais, agravando assim as condições anímicas para debelar a doença. Pelo contrário, o riso proporciona um bem-estar físico e emocional imediato, criando condições para enfrentar as dificuldades com menos tensão. Vários estudos têm concluído que as pessoas alegres e com bom humor têm tendência para viver mais tempo e apresentam melhores níveis de satisfação com a vida.
Não é pois de estranhar que se possa falar de uma terapia do riso utilizada para recuperar o bem-estar emocional e ajudar as pessoas a encarar a vida com mais descontração e menos pessimismo. Se nos lembrarmos que, em circunstâncias normais, as crianças são capazes de rir espontaneamente cerca de 250 vezes por dia, por certo aceitaremos sem preconceitos que duas das funções mais relevantes do sentido de humor consistem em recuperar o espírito de criança que existe em cada um de nós e em aprender a rirmo-nos de nós próprios a fim de desdramatizar os imponderáveis de um quotidiano demasiado sobrecarregado de dificuldades.
A terapia do riso é mais eficaz quando é feita em grupo, não só porque o riso é contagiante como são reconhecidos os benefícios do riso na criação de laços de empatia entre as pessoas. Cria-se assim uma dinâmica em que todos os participantes se reconhecem no propósito de valorizar uma emoção positiva elementar fundada na alegria de viver. Desde os anos 80 que várias experiências clínicas nos Estados Unidos têm procurado avaliar o impacto psicossocial de diversas intervenções lúdicas junto de grupos de pacientes hospitalizados, nomeadamente no sector da pediatria. Os estudos mostram que depois das visitas dos palhaços, as crianças mostram sinais de maior atividade, colaboram com mais facilidade com o pessoal clínico, aceitam melhor os tratamentos, revelam menor stress em relação à doença e ficam mais comunicativas.
O extraordinário progresso tecnológico que a medicina conheceu nos últimos anos permite tratar e salvar pacientes que sofrem de patologias graves. O espírito científico de combate objetivo e impessoal à doença é certamente uma condição indispensável ao avanço do saber e ao desenvolvimento de medidas de implementação de saúde pública. Porém, o tratamento da doença não deve fazer esquecer o tratamento do doente e a sua condição humana. Ou seja, o tratamento do doente deve ser pessoal no sentido em que tratar de um doente significa tratar de uma pessoa. É este princípio elementar da medicina humanista que a presença dos Doutores Palhaços nas enfermarias pediátricas ajuda a consolidar com o apoio de médicos, enfermeiros e terapeutas. Cada criança entra em contacto individual com os Palhaços que o deslumbram e surpreendem com graças improvisadas, no estrito respeito pelo seu estado de espírito atual e pelo direito de se sentir de novo uma criança capaz de brincar, de participar, de sorrir e de se abrir ao mundo de forma positiva.

Obrigada caros Doutores! Obrigada queridos Palhaços!

            Rossana Appolloni

sábado, 28 de novembro de 2015

TUDO É DEMAIS







Cansada de querer tanto e nada ter
Esfrangalhei o limite e quis-me libertar.
Como uma gaivota enamorada
Que cansada de ser ave, se faz mar.
Ébria de sol-pôr, escolhi a madrugada
Cansada de ser verde deixei-me amadurecer.
Vermelho escarlate de papoila
Que a mão de uma criança há de colher!...
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Queixosa de mim mesma, de ser gente.
Exausta de ser vento e de soprar
Perdi-me na imensidão do tempo.
…Vontade de ser flor ou de chorar?!...



Aldina Cortes Gaspar

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

UM COMPUTADOR COM RODAS





            Em Setembro do ano corrente, a Agência Americana do Ambiente descobriu que muitos automóveis vendidos nos EUA dispunham de software que alterava o seu desempenho ambiental (em termos de emissão de gases poluentes) quando estavam a ser testados. Esse software, bastante sofisticado, conseguia monitorizar e controlar diversas variáveis que condicionam o funcionamento do motor. Como resultado, os motores emitiam gases poluentes com um teor, por exemplo, de óxidos de azoto muito inferiores aos valores reais. Porém, essa aparente qualidade desaparecia quando o automóvel deixava a bancada de testes e ia para a estrada.
            Os fabricantes sabem que os consumidores preferem os chamados produtos verdes e estão dispostos a pagar mais por eles. Sabem também que a legislação de muitos países é muito exigente em termos ambientais. Não existindo vontade de a respeitar, haverá então que contornar a lei de modo a chegar aos potenciais clientes que apreciam o verde, geralmente com maior sensibilidade ambiental e dispostos a pagar mais que o usual. Em tempos de crise, este poderá ser um factor decisivo na estratégia de marketing de uma empresa. Todavia, estas não podem apresentar os seus produtos unicamente publicitando as suas características que os poderão diferenciar como produto verde; terão também que convencer os clientes de que o processo produtivo, na sua globalidade, e também a própria empresa, são amigos do ambiente e contribuem para a sua preservação.
            As marcas, na sua estratégia comercial, perante a possibilidade de facturar mais uns milhões e conquistar mercado, parecem não hesitar em servir-se de todos os meios ao seu alcance para atingir os seus objectivos. Porquê, então, não equipar os automóveis com o software de ponta, que os transforme em computadores ao serviço das empresas?

                                                           FNeves



domingo, 22 de novembro de 2015

UMA TENTATIVA INTERNACIONAL DE INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO

                  



A WISE é a sigla, vertida para português, de Cimeira de Inovação Mundial para a Educação. Trata-se, fundamentalmente, de uma cimeira anual, de iniciativa da Fundação Qatar, sediada em Doha, que, desde 2009, tem procurado, através desses Encontros, congregar vultos grandes da educação de vários países. Por outro lado, tem ainda um canal de televisão que transmite vídeos sobre o ensino, focando práticas inovadoras no terreno, tentando, assim, segundo os responsáveis, “transformar as comunidades através de práticas sustentáveis que promovam a inclusão e a diversidade”.
Dizem os seus promotores que a WISE “é uma plataforma internacional, multi-sectorial para o pensamento criativo, debate e acção a nível internacional”. Por isso, ela tenta novas abordagens para a educação a fim de fazer face aos grandes desafios que hoje, um pouco por todo o mundo, as comunidades enfrentam e que são a pobreza, os conflitos, a desigualdade, o desemprego, a sustentabilidade ambiental e os desafios futuros. Ora, segundo a WISE, existe um fosso cada vez maior entre os sistemas de ensino em vigor e aqueles que são necessários para atender aos desafios presentes e futuros.
Ora, terá lugar nos inícios do próximo mês de Novembro, em Doha, a habitual Cimeira anual, agora sob o tema Investir no impacto: Educação de Qualidade para o crescimento sustentável e inclusivo” Os seus grandes temas são: 1) Os objectivos do desenvolvimento sustentável; 2) Educação e economia; 3) Promoção da inovação nos sistemas educativos.
Qualquer destes temas é aliciante e as discussões que eles irão proporcionar, se forem aplicadas, ajudarão a tornar este mundo um pouco melhor. A WISE formula, previamente, para esta Cimeira, algumas questões a todos aqueles que, directa e indirectamente, estão ligados à Educação. A título exemplificativo, eis algumas delas:
- Qual o papel dos professores e como é que eles poderão ser apoiados no desenvolvimento das suas competências, tendo em vista o ensino em diversos contextos?
- Como é que a educação pode contribuir, em todos os seus níveis, para a construção da cidadania?
- Como podem os vínculos entre a educação, o emprego e o empreendedorismo serem reforçados?
Eis umas boas perguntas para nós, portugueses, respondermos e, se possível, aplicarmos as respectivas respostas.                                   

                                                                              Mário Freire

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

FORTUNA






Ídolo d’ouro, com pés de barro,
vem a ser o milionário.
Não se livra do catarro:
Chega a Parca e adeus Ilário.

Nunca havendo mensageiro
que suborne a sobredita,
nem com montes de dinheiro
ele evita tal visita.

Ouro e barro igual valor
e não pense em os vender.
Boas obras são penhor.

Se a fortuna pôs no ser
e bom sendo administrador,
não é caso p’ra temer.

João d'Alcor


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A TERRA VISTA COMO UM SISTEMA





              Gaia, a Terra-mãe, deusa da mitologia grega.



Como introdução ao tema a desenvolver em próximos posts, é essencial apreender o conceito de sistema do contexto da termodinâmica. Neste capítulo da física, um sistema é, como o definiu o saudoso colega, Prof. Pinto Peixoto, em 1987, um espaço confinado ou limitado por um invólucro ou parede, real ou conceptual, dispondo de massa, de energia e de um conjunto organizado de elementos ou de atributos dinamicamente interactivos, inserido num determinado ambiente a que se dá também o nome de universo complementar do sistema.
As diferentes partes que eventualmente constituem um sistema constituem subsistemas e, neste caso, o sistema diz-se composto. Quando separados por paredes internas, os subsistemas dizem-se disjuntos. Relativamente à massa e à energia, os sistemas são classificados como:
- isolados, se as suas paredes impedirem trocas com o ambiente, dizendo-se adiabátios e impermeáveis;
- fechados, quando permitem transferência de energia, mas não de massa;
- abertos, quando permitem trocas de energia e de massa com o ambiente. Neste último caso, as respectivas paredes dizem-se permeáveis e diatérmicas.

Não é desejável nem fácil tratar separadamente as diversas entidades ditas esféricas constituintes do planeta que nos deu e assegura a vida. São muitas e complexas as relações entre elas como subsistemas abertos de um sistema dinâmico (neste caso, adjectivado de geodinâmico). São conhecidas as relações da litosfera com o manto, bem explicadas ao nível da tectónica de placas, e, até, com o núcleo, particularmente documentadas num determinado tipo de vulcanismo. É meu propósito explanar (a um nível de pormenor que não ultrapasse as generalidades) outras relações, nomeadamente as existentes entre as entidades mais periféricas, como são a litosfera, a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera. Como subsistemas do sistema Terra, abertos e contíguos que são, estas esferas promovem e permitem, entre si, um sem número de trocas de energia e de matéria (massa) ao longo das suas vastas e íntimas (interpenetradas) interfaces ou fronteiras. Tais transferências, mantidas ao longo de mais de 4000 milhões de milhões de anos da história do planeta, induziram as evoluções que sofreram. Tais evoluções, em muitos casos próprias do circuito externo do ciclo petrogenético (ou geoquímico), estão arquivadas, como veremos, nas rochas sedimentares.
De todos os planetas do Sistema Solar, incluindo os múltiplos satélites que os acompanham, a Terra é, tanto quanto sabemos, o único que possui uma atmosfera oxigenada, uma hidrosfera líquida e uma biosfera. A sua massa e a posição que ocupa relativamente ao Sol determinaram-lhe a composição e características ambientais que a tornam única no universo do nosso conhecimento.
Bem longe de nós, Ganimede, um dos satélites de Júpiter e a maior lua do Sistema Solar, possui uma crosta de água gelada, só possível nas baixíssimas temperaturas (-1500 a –1800 C) existentes à sua superfície. Neste contexto, o gelo é o mineral da única “rocha” ali existente à superfície, também ela gelo, de uma litosfera de gelo, ou seja, uma hidrosfera gelada, ou criosfera.
(continua)

                                   Galopim de Carvalho