O encontro entre as
pessoas tem um fundo de magia que me fascina. Quando conhecemos alguém com quem
descobrimos ter muitos amigos em comum, perguntamo-nos como é que ainda não nos
tínhamos antes. Ou então o contrário: como é que as nossas vidas se cruzaram
sem haver nenhum elo de ligação com outras pessoas. Porquê agora? Porquê aquela
pessoa? E porque é que com alguns se trata de meros encontros que não têm
continuação, e com outros a sua presença fica na nossa vida? Mais curioso ainda
são aquelas pessoas que se cruzam sem se verem, sem darem por isso, para mais
tarde se encontrarem e decidirem finalmente permanecer na vida uma da outra.
Pessoas que se cruzam
numa cidade, numa festa, num concerto e não se veem. Pessoas que se cruzam numa
escola, num cinema, numa praia e não se veem. São tantas quantas aquelas com
quem nos cruzamos diariamente, sem sequer olhar. Tantas pessoas que podiam
mudar o rumo da nossa vida… na verdade cada encontro altera algo no nosso
percurso. Formas de sentir, de pensar, de agir. Não há nada mais terrível do
que a rigidez que nos impede de receber o impacto que o outro pode ter em nós.
O que ficamos a pensar na sequência de um encontro, o que sentimos nesse
momento e como daí alteramos coisas da nossa vida, ainda que pequenas. A insistência
em continuar a se ser como se é, sem se deixar permeabilizar no encontro com o
outro, faz com que estes cruzares sejam superficiais, fugazes, insignificantes.
Quando deixamos que o outro entre em nós, esse encontro adquire significado. A
nossa vida deixa de ser o que era, respeita a lei da impermanência. Tudo muda,
sempre. Há um fator novo, uma pessoa nova na nossa existência. Ainda assim,
muitas são as vezes que erguemos muros que nos protegem do outro, como se o
outro pudesse roubar algo de nós se nos mostrarmos demasiado. O medo de
perdermos a nossa identidade no encontro com o outro faz-nos, paradoxalmente,
perder a oportunidade de enriquecer essa mesma identidade. É o outro que nos
revela quem somos, através do que pensamentos e sentimos na sua presença. É o
outro que toca nas nossas feridas e nos relembra que elas existem e que
necessitam de ser olhadas, vistas e cuidadas.
E porquê uma pessoa
fica e outra vai? Apenas por essa capacidade que uns têm de nos tocar e outros
não, bem como pela nossa vontade e disponibilidade em sermos tocados. Algo que
não se explica, que não é racional, apenas tem a ver com a nossa história de
vida. Ou simplesmente não vemos os outros porque não nos vemos a nós. Deixar
fugir a existência de outra pessoa é virar costas ao que poderíamos aprender e
crescer através do encontro com ela. Os encontros são sincronismos que nos
permitem enriquecer a nossa experiência de vida. Cabe a cada um de nós dar o
passo para agarrar essa oportunidade, pois a dança da relação precisa de dois
indivíduos que se olham, se veem e se reconhecem para sentirem que vale a pena
um caminho partilhado.
Rossana
Appolloni