sábado, 19 de dezembro de 2015

PESSOAS QUE SE CRUZAM SEM SE VEREM PARA MAIS TARDE SE ENCONTRAREM





O encontro entre as pessoas tem um fundo de magia que me fascina. Quando conhecemos alguém com quem descobrimos ter muitos amigos em comum, perguntamo-nos como é que ainda não nos tínhamos antes. Ou então o contrário: como é que as nossas vidas se cruzaram sem haver nenhum elo de ligação com outras pessoas. Porquê agora? Porquê aquela pessoa? E porque é que com alguns se trata de meros encontros que não têm continuação, e com outros a sua presença fica na nossa vida? Mais curioso ainda são aquelas pessoas que se cruzam sem se verem, sem darem por isso, para mais tarde se encontrarem e decidirem finalmente permanecer na vida uma da outra.
Pessoas que se cruzam numa cidade, numa festa, num concerto e não se veem. Pessoas que se cruzam numa escola, num cinema, numa praia e não se veem. São tantas quantas aquelas com quem nos cruzamos diariamente, sem sequer olhar. Tantas pessoas que podiam mudar o rumo da nossa vida… na verdade cada encontro altera algo no nosso percurso. Formas de sentir, de pensar, de agir. Não há nada mais terrível do que a rigidez que nos impede de receber o impacto que o outro pode ter em nós. O que ficamos a pensar na sequência de um encontro, o que sentimos nesse momento e como daí alteramos coisas da nossa vida, ainda que pequenas. A insistência em continuar a se ser como se é, sem se deixar permeabilizar no encontro com o outro, faz com que estes cruzares sejam superficiais, fugazes, insignificantes. Quando deixamos que o outro entre em nós, esse encontro adquire significado. A nossa vida deixa de ser o que era, respeita a lei da impermanência. Tudo muda, sempre. Há um fator novo, uma pessoa nova na nossa existência. Ainda assim, muitas são as vezes que erguemos muros que nos protegem do outro, como se o outro pudesse roubar algo de nós se nos mostrarmos demasiado. O medo de perdermos a nossa identidade no encontro com o outro faz-nos, paradoxalmente, perder a oportunidade de enriquecer essa mesma identidade. É o outro que nos revela quem somos, através do que pensamentos e sentimos na sua presença. É o outro que toca nas nossas feridas e nos relembra que elas existem e que necessitam de ser olhadas, vistas e cuidadas.
E porquê uma pessoa fica e outra vai? Apenas por essa capacidade que uns têm de nos tocar e outros não, bem como pela nossa vontade e disponibilidade em sermos tocados. Algo que não se explica, que não é racional, apenas tem a ver com a nossa história de vida. Ou simplesmente não vemos os outros porque não nos vemos a nós. Deixar fugir a existência de outra pessoa é virar costas ao que poderíamos aprender e crescer através do encontro com ela. Os encontros são sincronismos que nos permitem enriquecer a nossa experiência de vida. Cabe a cada um de nós dar o passo para agarrar essa oportunidade, pois a dança da relação precisa de dois indivíduos que se olham, se veem e se reconhecem para sentirem que vale a pena um caminho partilhado.


                                     Rossana Appolloni