Paisagem no Planalto
do Loess, província de Shanxi, China.
Em começos dos anos 20 do século XIX, o alemão Karl Cäsar von Leonhard (1779-1862), professor de Mineralogia na Universidade de Heidelberga, foi o primeiro a descrever na proximidade desta cidade, no vale do Reno, um depósito sedimentar muito fino, friável, homogéneo, não estratificado, aproveitado como solo agrícola, a que deu o nome de Löss, termo radicado no germânico lösch (que significa solto, móvel) usado pelos camponeses locais.
Particularmente
abundante na China, no que é hoje conhecido por Planalto do Loess, é um
material facilmente erodível, de coloração habitualmente amarelo acastanhada
(devido à presença de hidróxidos de ferro), que tinge dessa cor as águas de
escorrência e fluviais, como são as do Rio Amarelo e as do mar, entre a costa
leste da China e a costa oeste das duas Coreias e, por isso, conhecido por Mar
Amarelo.
Loess transportado pelo vento, em Milles County (Iowa EUA)
Pode
ocasionalmente apresentar cor avermelhada (devido à presença de óxido de ferro)
e acinzentada (devido à presença de matéria carbonosa).
Interpretado
de início como de origem fluvial, sabemos hoje corresponder a um depósito
continental acumulado por via eólica, em regime periglaciário, comum no
hemisfério norte (América e Eurásia) durante os últimos períodos
interglaciários do Quaternário.
Com
a aparência de pó de pedra, o loess (na versão internacionalizada) é definido
como um sedimento da classe dos lutitos (do latim lutu, lama, lodo, vasa) de
granulometria inferior a 0,062 mm, com predominância de silte (ou limo) sobre a
argila e uma muito pequena percentagem
de carbonato de cálcio. Esta componente tende a desaparecer, por
descalcificação, ao nível do solo. Neste caso, corresponde ao aleurito (do
grego aleurós, farinha) proposto em 1957 pelo sedimentólogo russo Nikolai
Strakhov(1900-1978). Corresponde, ainda, ao limon (do latim limus, lama, lodo,
vasa), definido pelos autores franceses como um material silto-argiloso,
destituído de calcário, não coeso, de origem fluvial ou eólica.
Migrando
em profundidade, o carbonato vai gerar concreções muito características deste
depósito, conhecidas por löss Kindchen (bonecas do loess).
Boneca de loess
Bastante
poroso, o loess, naturalmente afectado por fendas verticais, permite a formação
de escarpados talhados a pique.
Maioritariamente
composto por grãos angulosos de quartzo, feldspato e mica , muito angulosos, o
loess denuncia a sua origem no seio dos tilitos (moreias), onde o esmagamento
ou trituração do substrato rochoso dos glaciares conduziu à formação da
conhecida por “farinha glaciária”, “farinha dos tilitos” ou “argila dos
tilitos”.
Exposto
ao gélido e seco vento do norte, forte e prolongado por milénios, este “pó de
pedra” voou para latitudes temperadas, nomeadamente, na Alemanha, Áustria,
Bulgária, Roménia e Hungria, nos Estados Unidos da América (Iowa e Nebraska) e
na China, onde deu nome ao “Planalto do Loess” e cobre cerca de 640 000
quilómetros quadrados com dezenas de metros de espessura.
O
carácter pouco coeso do depósito e a sua estrutura vertical permitiram escavar
habitações, como acontece na China, nas províncias de Shanxi, Shaanxi e Gansu.
No
seu «Principles of Geology», Charles Lyell (1797-1875) divulgou este termo,
tendo assemelhado a formação descrita por von Leonhard, no vale do Reno, com a
que observou, anos mais tarde, ao longo das margens do Mississippi, durante o
périplo que realizou no continente norte-americano. Por esta altura, o loess
era visto com um sedimento pelítico de fácies fluvial, interpretação negada,
pouco depois, em 1857, pelo engenheiro de minas francês, Virlet D'Aoust
(1800-1894), que defendeu a sua origem eólica. Duas décadas mais tarde, o
geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen (1833-1905) confirmou e divulgou esta
interpretação, na obra «China: Ergebnisse eigner Reisen und darauf gegründeter
Studien», em cinco volumes editados entre 1877 e 1912.
Para
que se tenham acumulado a grande extensão e a espessura dos depósitos de loess
foram necessários uma fonte de poeira siliciclástica, a energia eólica adequada
para a transportar, uma área suficientemente plana de acumulação e uma
quantidade tempo na ordem de muitos milhares de anos.
As
vastas planuras aluviais de canais entrançados (anastomosados) que, na
Primavera e no Verão transportavam grandes volumes de água do degelo dos
glaciares, carregada de sedimentos, ficavam a seco no Outono e no Inverno,
expondo os referidos sedimentos, dos quais o vento levantava a dita poeira (silte
e argila), transportando-a para Sul.
Reduzindo
o conceito de loess ao critério granulométrico, há autores que definem como tal
os depósitos de materiais muito finos oriundos de desertos (Nebraska, Kansas e
Colorado, nos EUA, África e Austrália) e outros de cinzas vulcânicas (Equador,
Argentina).
Galopim
de Carvalho