sexta-feira, 16 de maio de 2014

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO PRIMÁRIO E A COMUNIDADE EM TEMPOS DE ABRIL


           Como já foi referido em posts anteriores, o poder que saiu do 25 de Abril trazia um desejo muito profundo de fazer do professor do ensino primário um agente de transformação social, muito especialmente junto das populações que se encontravam mais isoladas.
            Para testemunhar esta intenção, refiro o plano de uma intervenção junto de uma comunidade e em que foram protagonistas os alunos finalistas do Magistério Primário, numa aldeia do concelho de Portalegre (Mosteiros), na 2ª semana de Junho de 1975. Para isso, eles permaneceram na aldeia, em coabitação com as famílias. Durante o dia, tinha lugar o trabalho lectivo junto dos alunos. À noite, 21 horas, realizavam-se as sessões com a população. O interesse suscitado entre esta foi tal que, na 2ª sessão, compareceram cerca de 150 pessoas. Transcrevo alguns tópicos do plano de cada uma das sessões:
    2ª feiraEducação: Relação pais-escola; colaboração que os pais podem dar à Escola; educação da criança na família: alimentação, castigos corporais, trabalho da criança; educação permanente: instrução do trabalhador para defender os seus interesses (alfabetização, cursos de adultos…)…
3ª feira – Desporto: Desporto e saúde; desporto e convívio; criação de um núcleo desportivo (futebol, andebol…)…
         4ª feira – Agricultura e cooperativismo: Culturas da região; mecanização; cooperativa agrícola…    
5ª feira – Saúde e assistência social: Quisto hidático; tifo e cólera; águas estagnadas e inquinadas; cárie dentária; higiene pessoal; higiene na habitação; assistência social à criança, ao doente e à velhice…

6ª feira – Convívio com os habitantes da terra.

            A liberdade de expressão e a melhoria da qualidade de vida das populações foram, sem dúvida, as grandes dádivas do 25 de Abril. A igualdade de oportunidades para todos, a aplicação da lei, sem excepções, e a colocação das pessoas em primeiro lugar ainda têm caminho para fazer nesta nossa democracia. A esperança, contudo, não irá faltar! 


                                               Mário Freire