Com
data de 4 de Novembro de 1974 surge uma circular, oriunda da Direcção-Geral do
Ensino Básico, que anuncia uma Campanha de sensibilização aos novos Programas
do Ensino Primário, os quais tinham entrado em vigor no início do ano lectivo. Extraio
um excerto da referida circular que, parece-me, resume a ideologia pedagógica
subjacente à Campanha:
- “O
ensino deverá ser sempre uma resposta
aos interesses do aluno, devendo, por isso, ser motivado para que nele nasça o
desejo de uma realização”.
Verifica-se que os interesses da
criança eram os elementos primordiais que iriam determinar a actuação do
professor e a função da escola. Esta centralidade nos interesses constitui uma
referência nos ideários da Escola Nova, de que a I República foi paladina. Assim
sucedeu, também, nos anos de 1974 e 1975.
Distanciadas essas duas épocas de
cerca de 50 anos, elas limitam um período da História da Educação em Portugal
que se caracterizou por um dogmatismo pedagógico acentuado, conduzido pelo
professor, tendo o aluno um papel de diminuta participação. Caiu-se, depois, no
lado oposto em que ao aluno tudo se consentia, abdicando o professor da sua
autoridade ou sendo dela obrigado a abdicar.
Ora, o professor, como mediador de
conhecimentos, tem que fazer uso do seu saber e do seu bom senso para não cair
num facilitismo que dificulte o desenvolvimento da criança. Além disso, ter
como principal preocupação a satisfação dos interesses do aluno, é privá-lo das
aprendizagens que as frustrações, quando não são traumatizantes, lhe podem
ensinar. Elas são uma constante na nossa vida. Saber aceitar aquilo de que não
gostamos ou não conseguimos atingir é prevenir a agressividade e contribuir
para que uma pessoa, quando adulta, seja mais feliz. E isso aprende-se na
família mas, também, na escola.
Mário Freire