terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

INOVAÇÃO NO ENSINO DA CIÊNCIA



       Estava-se, então, nos finais dos anos 60, início dos anos 70. O Maio de 68, em França, tinha trazido uma certa irreverência não só aos costumes, mas também a outras áreas da intervenção humana. Vivia-se, por isso, naquela época, um desejo muito grande de fazer coisas novas no ensino secundário, muito especialmente na área em que me situava, a das Ciências. Um conjunto alargado de professores tentou, então, dentro dos condicionalismos existentes na altura, alterar o satuto quo em que o ensino das Ciências dormitava.
Acabava de ser lançado nos Estados Unidos o Programa BSCS (Biological Sciences Curriculum Study) que pretendia transformar o ensino da Biologia numa actividade de pesquisa em que o aluno, usando os métodos da ciência, pudesse ser um construtor do seu próprio saber.
Desejava-se, ainda, que esta forma activa de aprender pudesse, também, contagiar outras disciplinas de índole científica e daí, se possível, passar para as ciências humanas, tendo em consideração, claro está, os condicionalismos de cada área disciplinar. Para isso, haveria que entrar no cerne da produção do conhecimento, nos questionamentos que a realidade nos suscita e no uso de metodologias activas que conduzissem o aluno a acrescentar algo ao que já estava estabelecido.
A Fundação Gulbenkian, muito especialmente através de alguns dos investigadores do seu Instituto de Ciência, empenhou-se em colaborar nesse querer ensinar a fazer ciência. Para se atingir tal finalidade, foram efectuados cursos de Verão no Instituto de Oeiras, sessões laboratoriais, discussões, paineis, conferências, enfim, um sem número de actividades, apoiados pelos novos materiais que estavam a vir dos Estados Unidos. Um novo professor de ciências estava a surgir no ensino secundário.
O que se pretendia, afinal? Que a ciência não fosse encarada como um mero repositório de verdades inalteráveis, já estando completa, mas algo que está sujeito a revisão, a contínua reestruturação, à medida que surgem novos dados e estes se relacionam com os antigos. E que o aluno fosse disso, mais do que uma testemunha, um actor. Será que este espírito de inquietação, de dúvida, de questionamento e teste da realidade,  de que vive a ciência, conseguiu permanecer no ensino que hoje se faz?

                                      Mário Freire