Numa altura em que a
discussão sobre a Ciência se deslocou para os areópagos políticos e em que os
cientistas bolseiros parecem não estar a ser tratados como deveriam, talvez
tenha interesse fazer algumas breves considerações sobre o ensinar a fazer
Ciência. Ora, esta não é um corpo de verdades inalteráveis mas algo que está
sujeito a uma contínua reestruturação, à medida que surgem novos dados. O
progresso da Ciência faz-se através da tentativa de dar respostas a problemas.
Ensinar um aluno a formular um
problema científico é, sem dúvida, uma das etapas mais motivadoras para o fazer
gostar da Ciência. E ele formula um problema quando é solicitado a identificar
um ou vários acontecimentos discordantes. Por exemplo, porque é que as cores
são tão variadas nos seres vivos? Basta olhar à nossa volta e qualquer espírito
interrogador formulará questões para as quais não encontrará respostas, pelo
menos imediatas. Ora, é a partir deste espírito inquiridor que se traduz em ver
problemas onde a maioria não vê e, depois, tentar dar-lhes respostas, que se vai
construindo a Ciência.
Há,
pois, que identificar os tais acontecimentos discordantes, observá-los com todo
o rigor, segundo vários ângulos, em várias circunstâncias. O papel do
professor, nesta fase, é pois, crucial, pois ele tenta que o aluno separe
aquilo que é essencial do que é acessório. Uma deficiente ou incompleta recolha
de factos não permitiria seleccionar aqueles que seriam os relevantes – os
dados. Ora, é com estes que se procura dar uma resposta, ainda que provisória,
para o problema que está a investigar-se. É a chamada formulação da hipótese.
Esta é uma das etapas que irá nortear as acções que irão seguir-se.
A
Ciência vive de hipóteses, de explicações que têm que ser testadas, sempre que
possível, e que assumem um carácter temporário, embora algumas se possam
considerar de longa duração, como a da Evolução, a da Relatividade. Este
carácter de efemeridade em Ciência mostra que um verdadeiro cientista é,
normalmente, uma pessoa intelectualmente modesta pois ele experimenta no seu
dia-a-dia quanto as explicações que dá para os fenómenos são, por vezes,
passageiras. Ora, o professor, ensinando a fazer Ciência aos seus alunos, está
também a ensinar-lhes que no estudo dos fenómenos (físicos, químicos,
biológicos, históricos, sociológicos…) se tem que usar de prudência, não
fazendo afirmações categóricas que, mais breve do que pensamos, poderão ser
desmentidas. Tal como na nossa vida!
Mário Freire