quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ELITE


Elite

Destacar-se como elite
foros tem de pretensão.
Tal escol, se há quem o dite,
gera a discriminação.

Mas elite, quando fique
todo o mundo convencido
de partilha, sem despique,
essa então já faz sentido.

 ‘Quanto existe é bom e belo;
 sai de mim, tudo eu modelo’,
diz o Céu, a contemplar.

Com tais olhos, toda a gente
passa o mesmo a ter em mente,
sem ninguém discriminar.


João d’Alcor

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

INOVAÇÃO NO ENSINO DA CIÊNCIA



       Estava-se, então, nos finais dos anos 60, início dos anos 70. O Maio de 68, em França, tinha trazido uma certa irreverência não só aos costumes, mas também a outras áreas da intervenção humana. Vivia-se, por isso, naquela época, um desejo muito grande de fazer coisas novas no ensino secundário, muito especialmente na área em que me situava, a das Ciências. Um conjunto alargado de professores tentou, então, dentro dos condicionalismos existentes na altura, alterar o satuto quo em que o ensino das Ciências dormitava.
Acabava de ser lançado nos Estados Unidos o Programa BSCS (Biological Sciences Curriculum Study) que pretendia transformar o ensino da Biologia numa actividade de pesquisa em que o aluno, usando os métodos da ciência, pudesse ser um construtor do seu próprio saber.
Desejava-se, ainda, que esta forma activa de aprender pudesse, também, contagiar outras disciplinas de índole científica e daí, se possível, passar para as ciências humanas, tendo em consideração, claro está, os condicionalismos de cada área disciplinar. Para isso, haveria que entrar no cerne da produção do conhecimento, nos questionamentos que a realidade nos suscita e no uso de metodologias activas que conduzissem o aluno a acrescentar algo ao que já estava estabelecido.
A Fundação Gulbenkian, muito especialmente através de alguns dos investigadores do seu Instituto de Ciência, empenhou-se em colaborar nesse querer ensinar a fazer ciência. Para se atingir tal finalidade, foram efectuados cursos de Verão no Instituto de Oeiras, sessões laboratoriais, discussões, paineis, conferências, enfim, um sem número de actividades, apoiados pelos novos materiais que estavam a vir dos Estados Unidos. Um novo professor de ciências estava a surgir no ensino secundário.
O que se pretendia, afinal? Que a ciência não fosse encarada como um mero repositório de verdades inalteráveis, já estando completa, mas algo que está sujeito a revisão, a contínua reestruturação, à medida que surgem novos dados e estes se relacionam com os antigos. E que o aluno fosse disso, mais do que uma testemunha, um actor. Será que este espírito de inquietação, de dúvida, de questionamento e teste da realidade,  de que vive a ciência, conseguiu permanecer no ensino que hoje se faz?

                                      Mário Freire

domingo, 23 de fevereiro de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (3)


Nicolau Steno (1638-1696)

No século XVII, receosos de perseguição movida pela Igreja, ainda eram muitos os estudiosos que, convictos ou não, rejeitavam aceitar os fósseis como sendo restos de amimais ou plantas do passado. Um deles, o naturalista e químico inglês Robert Plot (1640-1696), no livro que publicou em 1677, Natural History of Oxford-Shire, descreveu um fémur de dinossáurio como sendo de um elefante deixado no terreno pelos invasores romanos.
Ao contrário desta visão, o dinamarquês Nicolau Steno (1638-1696) deu um grande passo no sentido do conhecimento científico, ao recuperar  as ideias de Da Vinci e de Palissy. Médico de profissão, com obra notável nos campos de geologia e da mineralogia, Steno já verificara que certos “petrificados” eram semelhantes entre si, quaisquer que fossem as rochas em que estivessem embutidos, e que, por outro lado, tinham o mesmo aspecto das partes dos animais a que se assemelhavam. Ao observar os dentes de um tubarão actual, Steno verificou que estes eram muito semelhantes a certos objectos encontrados em rochas sedimentares na Ilha de Malta, então chamados glossopetrae (línguas petrificadas), uma vez que faziam lembrar línguas de serpente transformadas em pedra.
 

       Cabeça do tubarão branco, numa xilogravura de Nicolau Steno, de 1667

            Depois de dissecar a cabeça de um gigantesco tubarão branco capturado em Itália em 1666, Steno mostrou que os glossopetrae eram dentes de antigos seláceos do mesmo tipo, caídos no fundo do mar, aí conservados no seio dos sedimentos e depois trazidos à superfície incluídos no seio da rocha em que esses sedimentos se haviam transformado. Esta explicação de Steno marca o começo da interpretação biológica dos fósseis, que vingou e teve pleno desenvolvimento, em especial, no século XVIII. Considerado um dos fundadores da paleontologia, é sua a frase “os corpos encontrados na terra que se assemelham a plantas e animais têm a mesma origem que as plantas e os animais a que se assemelham”. Esta afirmação, hoje evidente, representou, para a época, uma inovação e um romper com as ideias do passado. Com esta frase, inovou o conceito paleontológico de fóssil, no que foi apoiado pelo filósofo alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716) e pelo físico e naturalista inglês Robert Hook (1635-1703), lembrado como uma das figuras chave da revolução científica do século XVII.
      Steno postulava que, se as conchas e outros restos de antigos seres vivos encontrados nas rochas de uma dada região são despojos de animais marinhos, as camadas que os contêm são necessariamente marinhas, concluindo que o mar ocupara essa região. Com estas afirmações, e embora sendo respeitador do tempo bíblico e dos relatos das Sagradas Escrituras, inovou também o conceito de fácies, definida como o conjunto de características paleontológicas, mineralógicas ou outras que permitem conhecer o ambiente em que a rocha se formou. Para muitos dos seus contemporâneos, era intrigante o facto de um animal petrificado e, portanto, sólido, estar dentro de uma rocha também ela sólida. No livro que publicou em Florença, em 1669, “De solidus intra solidum naturaliter contento dissertationis prodromus”, Steno deu a necessária explicação a este problema e ao levantado por outros corpos sólidos (cristais, veios, filões, camadas, encraves) embutidos no interior das diversas rochas.
                                                 Galopim de Carvalho

 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O EXERCÍCIO DE AMAR



O Amor visto como uma experiência corporal que se tem na sequência de um momento de ligação partilhado com outros, o qual proporciona uma ressonância positiva em nós, apresenta-se como um conceito diferente que nos alarga perspectivas. Permite-nos viver momentos emocionalmente intensos até com desconhecidos ou com pessoas acabadas de conhecer: dá-se um ‘click’ que nos provoca bem-estar e vontade de nos expandirmos, de vermos para além de nós próprios, de partilhar o que de bom temos, em suma, de praticar e viver o que é o amor.       

Um ‘click’ que surge inexplicavelmente no encontro de dois olhares que mexem celularmente connosco, daí este amor ser visto como experiência corporal. Apesar das causas serem inexplicáveis, as consequências são notórias: encontros felizes proporcionam mais saúde e bem-estar. A sintonia entre a mente e o coração, a sintonia entre várias mentes e vários corações, criam uma sensação positiva em nós. Vários estudos já provaram que as pessoas com mais ligações interpessoais são de longe mais saudáveis.

Momentos em que se sente amor pelo próximo e com o próximo devem fazer parte do nosso dia a dia. Eles acontecem, mas temos um papel fundamental em os procurar, em os provocar, em os sentir quando se proporcionam.

Os benefícios da abertura a este tipo de experiências são inimagináveis, pelo que é fundamental procurar aquele fio condutor que nos liga uns aos outros e que nos faz entrar em sintonia com as pessoas à nossa volta. Dedicar-se exclusivamente ao amor vivido através de um romance ou através dos laços familiares é limitativo. Ouse encontrar e sentir elos de ligação com outras pessoas, permita-se experienciar o que é a ressonância positiva com os outros e conheça o que é o amor que o transcende. E dedique-se a este exercício sempre, todos os dias um pouco, e aí a perspectiva do que é o amor muda!

 

                                     Rossana Appolloni

 


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ELEIÇÃO



Há campanhas, tantas são,

com promessas sempre a eito,

em que alguém, após eleito,

vai gerando a decepção.

 

O bom senso irá chegar:

Quem, no mando, então, se via,

canta e dança de alegria,

ao ceder o seu lugar.

 

Chegue a era de eleição,

em que todo o cidadão

seja um vero servidor.

 

Não obstante haver defeitos,

todos somos já eleitos,

na visão do Criador.

 

João d’Alcor


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

ENSINAR A FAZER CIÊNCIA


           Numa altura em que a discussão sobre a Ciência se deslocou para os areópagos políticos e em que os cientistas bolseiros parecem não estar a ser tratados como deveriam, talvez tenha interesse fazer algumas breves considerações sobre o ensinar a fazer Ciência. Ora, esta não é um corpo de verdades inalteráveis mas algo que está sujeito a uma contínua reestruturação, à medida que surgem novos dados. O progresso da Ciência faz-se através da tentativa de dar respostas a problemas.
            Ensinar um aluno a formular um problema científico é, sem dúvida, uma das etapas mais motivadoras para o fazer gostar da Ciência. E ele formula um problema quando é solicitado a identificar um ou vários acontecimentos discordantes. Por exemplo, porque é que as cores são tão variadas nos seres vivos? Basta olhar à nossa volta e qualquer espírito interrogador formulará questões para as quais não encontrará respostas, pelo menos imediatas. Ora, é a partir deste espírito inquiridor que se traduz em ver problemas onde a maioria não vê e, depois, tentar dar-lhes respostas, que se vai construindo a Ciência.
Há, pois, que identificar os tais acontecimentos discordantes, observá-los com todo o rigor, segundo vários ângulos, em várias circunstâncias. O papel do professor, nesta fase, é pois, crucial, pois ele tenta que o aluno separe aquilo que é essencial do que é acessório. Uma deficiente ou incompleta recolha de factos não permitiria seleccionar aqueles que seriam os relevantes – os dados. Ora, é com estes que se procura dar uma resposta, ainda que provisória, para o problema que está a investigar-se. É a chamada formulação da hipótese. Esta é uma das etapas que irá nortear as acções que irão seguir-se.
A Ciência vive de hipóteses, de explicações que têm que ser testadas, sempre que possível, e que assumem um carácter temporário, embora algumas se possam considerar de longa duração, como a da Evolução, a da Relatividade. Este carácter de efemeridade em Ciência mostra que um verdadeiro cientista é, normalmente, uma pessoa intelectualmente modesta pois ele experimenta no seu dia-a-dia quanto as explicações que dá para os fenómenos são, por vezes, passageiras. Ora, o professor, ensinando a fazer Ciência aos seus alunos, está também a ensinar-lhes que no estudo dos fenómenos (físicos, químicos, biológicos, históricos, sociológicos…) se tem que usar de prudência, não fazendo afirmações categóricas que, mais breve do que pensamos, poderão ser desmentidas. Tal como na nossa vida!


                                                     Mário Freire

sábado, 15 de fevereiro de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (2)



C                                                     Coccodus insignis do Cretácico superior do Líbano

          Nos primeiros séculos do cristianismo, alguns dos seus teólogos com obra escrita, como Tertuliano de Cartago (circa 160-220) e Aurélio Agostinho, (345-430), mais conhecido por Santo Agostinho, eclesiástico romano e doutor da Igreja Católica, acreditavam que os fósseis eram restos de seres da Criação, mortos e enterrados durante o Dilúvio, tal como a Bíblia o descrevia, uma convicção também divulgada por João Crisóstomo (349-407), bispo de Constantinopla. O romano Eusébio Pamphili (265-339), bispo de Cesareia (Israel), usava, como evidências do Dilúvio e com idêntico raciocínio, os fósseis de peixes do Cretácico superior encontrados no alto do Monte Líbano, a cerca de 3000 metros de altitude.




Pedreira de calcário  do Monte Líbano, uma das jazidas de peixes fósseis do Cretácico superior mais ricas do mundo.


           A ocorrência de restos de animais marinhos, longe do mar, constituía, pois, uma clara demonstração de que esse acontecimento bíblico tinha invadido as terras, chegando a cobrir certas montanhas. Paulo Orósio (circa 383-420), natural da Hispânia e discípulo de Santo Agostinho, terá dado a mesma interpretação face aos fósseis de ostras existentes em serranias afastadas do mar.
         No século X, o médico árabe Abu ibn Sinna (980-1037), mais conhecido por Avicena, na sua obra “De Congelatione et Conglutinatione Lapidum”, retoma a ideia da escola aristotélica e explica a formação dos fósseis através de uma “virtude plástica”, que seria capaz de dar às pedras formas semelhantes a animais e plantas, sem, contudo, ter capacidade para lhes dar vida. Para ele, os fósseis testemunhavam tentativas infrutíferas da natureza para criar seres vivos, limitando-se a imitar-lhes as formas.
           Na Europa do Renascimento e na sequência do pensamento de Agostinho e de João Crisóstomo, ainda dominava a crença no Dilúvio e, assim, para alguns naturalistas, os achados de fósseis marinhos em terras emersas testemunhavam esta inundação universal. Entre os defensores desta ideia destacava-se, na Alemanha, o sacerdote católico agostiniano Martin Lutero (1483-1546), professor de teologia na Universidade de Wittenberg, de grande projecção na Europa e figura central da Reforma Protestante. Para outros, ainda desconhecedores da evolução biológica, tais achados, que designavam por lapides sui generis (pedras únicas no seu género), tinham origem no seio das rochas e eram interpretados como “caprichos da natureza”, por efeito de causas que não sabiam explicar, e não como restos de animais ou plantas. Foi neste contexto que Leonardo da Vinci (1452-1519), italiano de nascimento e uma das figuras mais importantes e conhecidas deste período, retomando as ideias pitagóricas, ignorou os textos sagrados, considerando os fósseis como restos de seres vivos anteriormente depositados no fundo do mar, fundo esse posteriormente soerguido. Da Vinci defendeu o interesse dos fósseis no conhecimento da história da Terra e descreveu, em pormenor, a fossilização. Tudo isto num tempo em que se queimava quem ousasse questionar a ordem da Criação e que pretendesse ver nos fósseis vestígios de criaturas anteriores à Divina Génese.
          Décadas mais tarde, o médico e alquimista alemão Georg Bauer (1494-1555), mais conhecido por Agricola, defendia que os fósseis resultavam de seres vivos e, recuando ao pensamento aristotélico, explicava que haviam petrificado por acção do então referido “suco lapidificante”.
        Na mesma época, o francês Bernard Palissy (circa 1510-1589)E, vendo que não tinham representação no presente, concluiu que os respectivos indivíduos haviam desaparecido, inovando, assim, o conceito de extinção das espécies. Ao observar os Cornus Ammonis (cornos de Ammon), nome que então se dava às amonites, verificou que estes fósseis eram aparentados com os actuais náutilos.



                                                  Amonite

       Esta designação, vinda da Antiguidade, fora inspirada na forma dos chifres enrolados do carneiro, visto como símbolo sagrado associado ao deus Ammon-Ra

       Precursor da paleontologia, Palissy ficou, porém, mais conhecido como ceramista e artesão, por ter procurado imitar a porcelana chinesa, e pelos seus conhecimentos, avançados para a época, sobre nascentes e aquíferos e sobre hidráulica, nomeadamente, no que respeita o abastecimento de água às cidades.
       Entretanto, na Suíça, o naturalista Konrad Gesner (1516-1565) coleccionou fósseis e, na obra escrita que nos deixou, "De Rerum Fossilium”, descreveu e figurou estes achados, apesar de não se ter manifestado de forma clara acerca da sua natureza.

                                         Galopim de Carvalho


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

UMA NOVA VISÃO DE AMOR


Temos a tendência para acreditar que o amor é um sentimento que se vive apenas com determinadas pessoas e muito frequentemente canalizamos aquilo a que chamamos amor para uma só pessoa, como se a inexistência de esse alguém nos roubasse o sentido à vida.
Estudos recentes sobre o amor vêm-nos mostrar outra perspectiva: antes de mais, o Amor é uma experiência corporal, celular. Não se trata de um romance nem de uma experiência sexual, nem de uma relação profunda entre seres, mas sim de uma ligação partilhada com outros, sejam eles vistos como a nossa ‘alma gémea’ ou alguém desconhecido. Podemos vivenciar micro-experiências emocionais de amor desde que sintamos uma ligação forte e racionalmente inexplicável.
Normalmente, associamos as emoções a eventos intimamente privados, limitados à ligação mental e corporal com outra pessoa. Alargar a visão do amor faz estremecer esta lógica. Quando se dá um ‘click’ entre duas pessoas surge uma sincronia intensa a vários níveis que se reflete na chamada ressonância positiva.
O Amor traduz-se, assim, numa onda de boas sensações corporais que tem lugar entre duas ou mais pessoas. O nosso corpo tem a capacidade para captar e vivenciar estes micro-momentos de ressonância positiva através do contacto ocular. Encontrar o olhar de outra pessoa é a chave que abre o portão para a sincronia celular.
A vivência deste tipo de amor, estendido a encontros diários com outros seres humanos, desperta em nós emoções e sentimentos positivos (alegria, gratidão, generosidade, amabilidade, etc.), o que se traduz inevitavelmente em bem-estar físico e psicológico.
Podemos dar espaço para estes encontros, independentemente de estarmos num período de maior sofrimento ou de vivermos uma relação amorosa a dois. O amor não tem limites, pelo que entregarmo-nos a cultivar momentos de ressonância positiva é curativo e parece mágico pela dificuldade de se explicar, mas é real!

                                      Rossana Appolloni

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

EFICIÊNCIA


Só de boas intenções,
sem mais nada de permeio,
faz o Demo provisões,
tendo o inferno mais que cheio.

Decide ele trazer as sobras
com que põe o mundo em guerra.
Vale o oposto, em boas obras
quais irmanam Céu e Terra.

Este agir traz união
de que surge o dom da Paz.
Tal o halo que contém...

Face ao mal, a solução,
o remédio eficaz
- Não há outro – é sempre o Bem.


João d’Alcor

domingo, 9 de fevereiro de 2014

GLOBALIZAÇÃO E AMBIENTE


O processo de integração económica, social, cultural e espacial a que se chamou globalização tornou mais baratos e mais acessíveis muitos produtos de consumo corrente. A situação não é nova. Para se ser mais preciso, as sociedades estão em processo de globalização há muito tempo. No entanto, no final do século passado, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, a globalização intensificou-se de modo nunca visto.
Poderemos dizer que há uma verdadeira revolução tecnológica nas comunicações, na informática e na electrónica, que o mundo está cada vez mais dividido em blocos comerciais que competem entre si e ainda que as culturas populares locais tendem a ser substituídas por uma cultura global.
Contudo, a globalização é um fenómeno muito complexo e continuam a discutir-se os seus resultados. Um dos aspectos negativos apontados nessas discussões é a grande instabilidade económica que se cria no mundo, pois qualquer fenómeno que acontece num determinado país atinge rápidamente outros países.
Por sua vez, um dos aspectos positivos, apontados pelos defensores da globalização, é o modo como são facilitadas as relações culturais e económicas duma forma rápida e eficiente.
Se é verdade que existem aspectos positivos e negativos, uma coisa não pode negar-se: ela está a causar problemas ambientais de natureza global.
A Terra depende de cada uma das suas partes. Essas partes dependem umas das outras. Elas interagem, constituindo-se numa rede complexa de relações.
Hoje sabemos que existem problemas ambientais que atingem os países, independentemente da existência de fronteiras. As conseqüências de um problema ambiental local podem passar, muitas vezes, além desses limites – e de forma imprevisível.
Existem vários problemas ambientais globais, tais como a contaminação das águas subterrâneas, o agravamento do chamado “efeito estufa”, a ocorrência de “chuva ácida”, a emissão descontrolada de radioactividade tal como aconteceu na central nuclear de Chernobyl, que tive a oportunidade de visitar ainda em funcionamento, e a redução da quantidade do ozono nas camadas mais altas da atmosfera, entre outros.
De referir que o ozono está presente em toda a atmosfera, tanto na parte mais alta em que tem acção protectora como na parte mais baixa. Nesta, ele é indesejado, pois é, em grande parte, resultado da poluição automóvel.
Não podemos separar o homem do ambiente que o rodeia. Formamos um único sistema. Proteger o meio ambiente é garantir a nossa sobrevivência e a do nosso planeta. Tal sobrevivência não será possível se se verificar nos países emergentes um aumento de consumo, embora justo, do mesmo tipo que se verifica nos países ditos desenvolvidos. A razão é simples: para que toda a população mundial pudesse consumir a mesma quantidade de bens agrícolas e industriais que os cidadãos do mundo desenvolvido, a quantidade de matérias-primas e de energia necessárias seria de seis a nove vezes as que existem no nosso planeta.


                                                   FNeves

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

"A MISSIONÁRIA DA EDUCAÇÃO"



Quem tiver consultado a revista brasileira Veja de 1 de Maio de 2013, encontrou uma entrevista com a americana Wendy Kopp. Ora esta mulher, considerada pela Revista como missionária da educação, fundou nos finais dos anos 80, ainda como universitária, um Programa educacional denominado Teach for America. Este Programa, que tem sido um sucesso, destina-se a alguns dos mais brilhantes universitários recém-formados, colocando-os a dar aulas de ensino básico nas escolas das zonas urbanas e rurais mais desfavorecidas dos Estados Unidos.
Ela inspirou-se no facto de “o pessoal de Wall Street” bater à porta dos melhores alunos e convidá-los a trabalhar, durante dois anos, no mercado financeiro. Porque não, então, fazer o mesmo para outros excelentes alunos, dando-lhes uma oportunidade de, com o seu trabalho e entusiasmo, poderem contribuir para um mundo com menos desigualdades?
Ela, tendo obtido o apoio de várias empresas, conseguiu pôr de pé a sua ideia, a qual se encontra hoje materializada numa grande instituição de educação e de promoção humana.
O Programa tem um processo de selecção exigente em que se procuram os recém-formados, quaisquer que sejam os seus cursos, “que acreditam no potencial de todas as crianças, que são incansáveis na busca de objectivos, que perseveram diante dos desafios, que são capazes de influenciar e motivar os alunos”, como diz a entrevistada. Para isso, há que ensinar-lhes a trabalhar com crianças e fazê-los adquirir capacidades e conhecimentos para poderem ser professores que tomem decisões, dentro dessas comunidades desfavorecidas, que sejam eficazes. Os contextos em que esses professores trabalham exigem deles capacidades de liderança. Por isso, o Programa adopta como lema ensinar é ser líder. Esses jovens professores assumem a responsabilidade integral pelo sucesso dos alunos e têm um salário. 
Além de se constituir para os recém-formados como uma experiência profissional desafiante, as empresas aproveitam esses jovens porque sabem que eles aliam o talento à capacidade de liderança a qual é constantemente exercitada quer dentro das aulas, quer na sua relação com as famílias.
O Programa está disseminado por 25 países (Reino Unido, Alemanha, Áustria, China, Nova Zelândia, Brasil, Israel, Índia…), por vezes, com ligeiras adaptações, de acordo com os contextos socioeducativos.
Em Portugal não há carência de professores. Mas não poderia um Programa deste tipo, com as modificações que as circunstâncias impusessem, ser um meio de valorizar alguns dos jovens que saem do Ensino Superior, ao mesmo tempo que prestariam um trabalho de promoção social junto de sectores populacionais desfavorecidos? 

                                                        Mário Freire


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (1)



Restos de seres vivos do passado ou vestígios da sua actividade conservados no seio de algumas rochas, os fósseis são o objecto de estudo de uma disciplina científica a que foi dado o nome de paleontologia [do grego palaios (antigo), ontos (ser) e logos (estudo)]. São, ainda, tema fulcral em: paleobiologia, interessada na actividade dos antigos seres enquanto vivos; paleoecologia, focada na reconstituição de ecossistemas antigos; paleobiogeografia, que estuda a distribuição espacial de animais e plantas do passado.
No sentido mais antigo do termo, fóssil (do latim fossile) era todo o material que se desenterrava ou extraía de dentro da terra, abrangendo, portanto, os minerais, as rochas, os achados pré-históricos e arqueológicos e os fósseis, no sentido que hoje damos à palavra. As expressões carvão-fóssil e combustível-fóssil, ainda em uso, são reminiscências deste conceito antigo. Só no século XVIII o termo passou a ser usado no sentido que hoje tem em paleontologia, ou seja, no de um resto de ser vivo do passado ou num vestígio da sua actividade conservados no seio de uma rocha. Entendidos como as “letras” que nos permitem “ler” nas rochas, os fósseis têm-nos permitido conhecer uma parte importante da história da Terra e da vida. Designados no passado por petrificados (termo usado como substantivo), dão suporte ao estabelecimento das sequências sedimentares estratificadas no âmbito da biostratigrafia e constituem um pilar fundamental no estudo da evolução das espécies, iniciado por Charles Darwin no século XIX.
O homem pré-histórico já conhecia os fósseis, embora não tenhamos elementos que nos permitam saber, com rigor, que significado lhes atribuía. Provavelmente terão alimentado superstições ou sido usados como objectos de adorno. São conhecidas sepulturas do Paleolítico, do Neolítico e da Idade do Bronze, onde os corpos se encontram rodeados por vários fósseis. Em Portugal, numa necrópole neolítica de Aljezur, foram encontrados dentes fósseis de seláceo do Miocénico.

                        Da Antiguidade ao século XVI

Na antiguidade pré-socrática, alguns filósofos da Escola Pitagórica interpretaram correctamente o significado dos fósseis encontrados no terreno, explicando o processo da sua formação segundo um modelo muito próximo do actualmente aceite. O filósofo grego Xenófanes de Colophon (circa 570-460 a. C.), na região da Lídia, na Ásia Menor (actual Turquia), reconheceu a verdadeira natureza de impressões vegetais fósseis e, um século mais tarde, o geógrafo e historiador, Heródoto (circa 485-420 a. C.), aceitava, como restos de animais marinhos, os fósseis encontrados no vale do Nilo.
Num retrocesso evidente, alguns seguidores de Aristóteles (384-322 a.C.) defendiam a intervenção de uma “virtude” que, através de uma semente, gerava e desenvolvia os fósseis na terra. Propuseram, ainda, a existência de um “suco lapidificante” (petrificante) ou de um “sopro oriundo do betume terrestre que, por acção dos raios solares, emergia da Terra e petrificava os organismos vivos”. Plínio, o Velho (23-79 d.C.) e outros autores latinos, sugeriam que estes achados caíam do céu ou da Lua.

Na Antiguidade oriental, o dragão, figuração sempre associada à civilização chinesa, estava intimamente ligado aos achados de ossos fósseis, que hoje sabemos serem de dinossáurios (ainda desconhecidos nesse tempo). Então aceites como vestígios petrificados de dragões, o seu uso em terapia era conhecido e está descrito em textos de medicina chinesa dos séculos XVI a XI antes de Cristo. Esta crença manteve-se e, no século III da nossa era, ainda se acreditava que tais restos correspondiam a restos ósseos das ditas figurações míticas. No livro Hua Yang Guo Zhi, atribuído a Chang Qu, tido como o primeiro registo escrito da ocorrência de fósseis de dinossáurios, editado durante a dinastia Jin Ocidental (265-317 d.C.), fala-se de “ossos de dragões” provenientes de Wucheng, na província de Sichuan, região hoje bem conhecida dos paleontólogos pela abundância de esqueletos destes vertebrados da era mesozóica.

                                          Galopim de Carvalho

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AS CORES INFLUENCIAM AS NOSSAS EMOÇÕES


A cromoterapia é uma disciplina da medicina alternativa que utiliza as cores para ajudar o corpo e a psique a encontrar o seu estado de equilíbrio. Tal como ouvir uma música nos pode fazer bem e alterar o estado de ânimo, também as cores influenciam o nosso sistema nervoso. Não é por acaso que as paredes dos hospitais são verdes, ou as roupinhas de bebé são azuis claras ou cor-de-rosa.
A cada cor corresponde um tipo de energia, a qual pode ser absorvida pelo organismo de várias formas: através da alimentação (é bom diversificar cores também nos alimentos), da luz solar, dos cheiros, etc. Todas estas fontes vão interferir no nosso sistema celular, restabelecendo o equilíbrio elétrico e químico necessário ao nosso corpo.
É interessante verificar que todos nós escolhemos as cores com que nos vestimos diariamente segundo os nossos estados de ânimo e, por vezes, até sentimos necessidade de colocar determinada cor. Se estamos em baixo, mais facilmente nos vestimos com cores escuras; se estamos alegres optamos por cores mais fortes e claras.
Uma forma terapêutica pode ser recorrer a cores que nos faltam precisamente para contrariar determinada energia mais presente: por exemplo, se formos para uma entrevista de trabalho e nos queremos sentir e demonstrar autoconfiança, pode ser boa ideia utilizar uma cor que nos dê força.
A publicidade joga muito nesse campo de forma a influenciar inconscientemente as pessoas a sentirem-se atraídas por determinado produto, como se pode ver pela imagem. Da mesma forma, nós também podemos influenciar o nosso estado emocional e influenciar o dos outros através das cores.
Seja audaz, quanto mais variar o espectro cromático à sua vista, mais rico e equilibrado será o seu organismo, em termos biológicos mas também emocionais.

                                                             Rossana Appolloni

sábado, 1 de fevereiro de 2014

EFICÁCIA


O indeciso cria enleios,
qual insecto em teia armada.
Onde há rotas, vê bloqueios.
Foge de agenda programada.

Quem notório em expediente
para tudo bem se adestra.
Decidido, eficiente,
não carece de tempo extra.

Ver o pobre sofredor
que não ata nem desata,
vem a ser confrangedor.

Quem sua obra leva avante,
com niquices não se empata.
Eficácia é ‘stimulante.

João d’Alcor