domingo, 29 de setembro de 2013

QUEREMOS MONOLOGAR OU DIALOGAR?


Há que admitir que muitas vezes ficamos irritados quando as coisas não correm da maneira como nós queríamos. Por vezes temos pouca capacidade de superar a frustração que sentimos perante a ideia de que nem sempre podemos obter o que desejamos. Na base desta frustração está o egocentrismo, presente em todos nós com intensidades diferentes.  
O egocentrismo é uma qualidade da personalidade através da qual o sujeito se coloca a si próprio como centro de uma determinada situação, minimizando por completo a presença e o interesse dos outros. Uma pessoa egocêntrica tem dificuldade em criar empatia com as outras pessoas na medida em que não consegue pôr-se no papel do outro e ver outros pontos de vista.
Todas as crianças passam por uma fase onde reina o egocentrismo, pois acreditam que o mundo gira à volta delas. Se lhes negarmos uma vontade elas não compreendem, por muito que a justificação seja plausível. Exigirão a todo o custo que o seu desejo lhes seja concedido, pois o “eu quero” é mais importante do que o “não se pode”. Ora, quando este tipo de atitude se manifesta num adulto, evidencia-se uma grande imaturidade, precisamente pela semelhança com estes comportamentos infantis.
Aumentar a tolerância à frustração implica ver além do próprio ego (eu). A solução passa por aprender a perder e perceber o que é que podemos ganhar com essa aparente derrota. Ultrapassar uma desilusão não passa por resignar-se, que implica uma atitude passiva, mas sim encontrar outras formas de lidar com a situação. Se não conseguimos o que queremos, que proveito podemos tirar dessa dificuldade? Nenhuma situação é negativa em si, só é negativo o uso que fazemos dela.
Ao vivermos as situações sempre e exclusivamente do nosso ponto de vista, em função dos nossos desejos e vontades, é como monologar no meio de uma multidão… é isso que verdadeiramente queremos?

                                                 Rossana Appolloni


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM DO ALUNO


          Os grandes objectivos educacionais têm em vista proporcionar aos alunos não só a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades que lhes permitam compreender e mover-se, pelo menos satisfatoriamente, no mundo em que vivemos como dar-lhes um espírito crítico que os façam ser pessoas eticamente intervenientes na sociedade.
            Tais objectivos, no entanto, não são suficientes para uma autêntica acção educativa no nosso universo globalizado e interactivo em que nos movemos. Eles têm, também, que se preocupar com os métodos e instrumentos que cada um utiliza para o seu desenvolvimento.
            Nos dias que correm, em que o aluno, mediante as tecnologias que lhe estão disponíveis, tem acesso instantâneo à informação, ele adquire saberes e constrói ambientes que interferem com o sistema escolar.
            Ora, o ambiente de aprendizagem do aluno é constituído por objectos mas também por pessoas. E são, frequentemente, estes objectos, com usos múltiplos, que vão veicular a interacção com as pessoas, independentemente da distância a que elas se encontrem.
Se estudos, em que se pretendia integrar as informações obtidas através das diversas actividades do aluno dentro e fora da escola, existiam há já alguns anos, nos tempos que estamos a viver, com as múltiplas formas, fáceis, instantâneas e sem fronteiras a que a informação chega aos jovens, esses estudos ganham uma nova actualidade.
Um desafio que vale a pena, então, tentar por parte dos educadores e dos que pensam a educação: como fazer a articulação entre as aprendizagens de fora e desenvolvê-las e as de dentro da escola?

                                                   Mário Freire

              

terça-feira, 24 de setembro de 2013

DISCIPULADO


Correr mundo p’ra aprender
de bom senso tem indício.
Mas bem pode acontecer
vir a ser um desperdício.

Aprender até morrer
moto é a todos dado.
No entanto importa ver
qual seja o discipulado.

Ida em busca de um guru
não isenta do enredo
que é ficar no exterior.

Vê-lo em nós, qual eu com tu,
essa a chave do segredo
dado ao Mestre interior.


João d’Alcor

domingo, 22 de setembro de 2013

CONHECERMO-NOS ATRAVÉS DO OUTRO


Quando não estamos bem connosco, não estamos bem com os outros. Este tipo de frase não é novidade, mas talvez o possa ser o que ela verdadeiramente significa. Quando o comportamento de outra pessoa nos incomoda significa que alguma coisa desse comportamento nos diz respeito e não o queremos reconhecer e/ou aceitar em nós.
As outras pessoas são o nosso espelho na medida em que é através da nossa interação com elas que temos a oportunidade de nos conhecermos a nós próprios. O que admiramos nos outros é o que admiramos em nós, o que nos irrita nos outros, é o que nos irrita em nós. Não significa que somos iguais aos outros mas sim que temos características, talvez até ainda por exprimir, que nos identificam com aquela pessoa. Este emaranhado de semelhanças explica porque é que muitas vezes o comportamento de outra pessoa nos atrai tanto no início e depois nos repulsa, ou vice-versa. Tudo depende da nossa capacidade de aceitar essas qualidades em nós.
Não gostarmos da atitude de outra pessoa não implica que essa atitude nos pertence, podemos simplesmente não concordar com ela. No entanto, do simples não concordar ao ficar irritado e revoltado vai uma grande distância. Quando isso acontece, então devemos parar e tentar ganhar autoconsciência sobre o que se passa dentro de nós que nos faz ter essa reação. Por esse motivo é que os nossos inimigos (no sentido de quem mais nos inquieta) são os que mais contribuem para o nosso autoconhecimento. Nesse sentido, se quisermos crescer, não devemos evitá-los mas sim “aproveitá-los” até termos harmonizado em nós essa parte. E enquanto não o fizermos, deparar-nos-emos sempre com o mesmo tipo de pessoas e situações: são oportunidades de aprendizagem para podermos subir mais um degrau no nosso percurso de vida.


                                                        Rossana Appolloni

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

SER PROFESSOR NO SÉCULO XXI


Em Portugal, a seguir ao 25 de Abril, o estatuto dos professores tem vindo, continuamente, a degradar-se. A carreira docente e os professores estão a atravessar um período de profunda mudança. Porém, a situação poderá inverter-se desde que uma boa gestão dos recursos, cada vez mais escassos, seja acompanhada por uma melhoria de qualidade do ensino, que permita preencher a lacuna entre o que as sociedades modernas exigem e o que o sistema escolar pode fornecer .
Professores com muitos anos de trabalho, sobrecarregados por vezes  com tarefas administrativas, estão a dar lugar a professores mais jovens mas com necessidade de formação.
Tornar a carreira docente respeitada e atractiva, quer intelectual quer financeiramente, deverá constituir um objectivo. Haverá que atrair e seleccionar candidatos com formação profissional adequada e qualidades de liderança e capacidade para trabalhar em equipa, constituindo redes de profissionais do sector.
Como preparar os professores para que os seus alunos desenvolvam, entre outras, as aptidões, a destreza e a habilidade necessárias ao sucesso no mundo do século XXI? De grande importância, mas difícil de pôr em prática, são ensinar a pensar, a ser crítico mas também criativo,  a resolver problemas e a tomar decisões, a comunicar e a utilizar as TIC (tecnologias da informação e da comunicação). Em certas democracias, dá-se ainda especial importância ao desenvolvimento de capacidades, que promovam a cidadania e a responsabilidade social.
Os professores devem, pois, ter perfeito conhecimento das matérias que ensinam e das respectivas metodologias de ensino. Por sua vez, a formação dos professores deverá ter em conta os ambientes da aprendizagem que conduzirão ao desenvolvimento de tais capacidades. Tais ambientes devem ainda respeitar as diferenças culturais, cada vez mais presentes nas sociedades actuais, motivando os estudantes e envolvendo-os em actividades dentro e fora da escola.


                                           FNeves

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

UMA ESPERANÇA NO COMBATE AO INSUCESSO E ABANDONO ESCOLARES


        Uma das várias experiências que vivi foi a de, como voluntário, prestar apoio educacional a adolescentes institucionalizados. Tratava-se de pessoas oriundas de famílias desestruturadas em que a maior parte delas tivera uma infância muito sofredora de violência, abandono, negligência... O meu papel era o de apoiá-las no estudo; tal não significava, porém, que esse papel não assumisse o de ouvinte atento das suas revoltas, medos e aspirações. Essas ocasiões funcionavam como uma catarse em que os adolescentes, estando com alguém em quem confiavam e que não pertencia nem à escola nem à instituição, como que se libertavam das peias que os tolhiam.
Ora, a minha maior frustração era ver aqueles ainda meninos e meninas dos 5º, 6º e 7º anos, que tinham sido privados das estimulações adequadas, cheios de carências cognitivas e emocionais, com um historial escolar pleno de repetências, não terem um sistema educacional que pudesse responder às suas situações.
É, pois, com esperança que vejo a multiplicação dos cursos vocacionais em que os alunos com menos de 15 anos, ficando na escola, têm a possibilidade de contactar com o mundo profissional. Estes casos de insucesso escolar que conduzem ao abandono, porta aberta para a marginalidade e criminalidade, podem ser reconciliados com a escola através do exercício de actividades profissionais. 
Só quem nunca contactou de perto com situações deste tipo pode afirmar que estes cursos constituem um aprofundamento das desigualdades. Pelo contrário, estes jovens, através do trabalho, podem ganhar uma nova motivação para o estudo. Este tipo de cursos constitui, pois, um passo em frente na inclusão social e irá contribuir para transformar alguém que se confrontava constantemente com o fracasso numa pessoa com autoestima e dignidade há muito perdidas.


                                                           Mário Freire

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DISCERNIMENTO


Onde a moda gera império,
concurso há de escravatura.
Caprichosa em seu critério,
se é que o tem mui pouco dura.

Não se meça nunca a palmos
valor de homem ou mulher.
A que ponto sábios ou calmos,
já são meças com mister.

Há bom senso em discernir;
não fazer de cata-vento,
face à moda que há-de vir.

Bom critério é ponderar.
Prova ter discernimento
quem o faz sem delegar.


João d’Alcor

sábado, 14 de setembro de 2013

DO APEGO À LIBERDADE


Depender de alguém é uma forma de anular a própria vida na medida em que o amor-próprio é sacrificado e oferecido ao outro de uma forma irracional. Quando a dependência está estabelecida, a entrega não é um ato de amor mas sim uma rendição guiada pelo medo com o objetivo de preservar o que o outro oferece de bom. Desta forma, a pessoa dependente começa a sofrer uma espécie de despersonalização até se tornar num apêndice da pessoa amada.
Quando a dependência é mútua, então instala-se um cenário autodestrutivo em que cada um perde a autonomia e a individualidade. Perante uma relação nociva deste tipo, normalmente é muito difícil as pessoas conseguirem pôr-lhe um termo, pois ultrapassar o sentimento de abandono ou de perda afetiva é muito doloroso.
Todos nós precisamos de afeto e estar sem o outro é sentido como estar sem uma parte de nós, é como se não existíssemos ou, pior ainda, existimos mas com um vazio interior imenso. Ao sentirmos falta do que nos proporciona segurança e prazer, sentimo-nos incompletos.
A solução a este vazio passa por o preenchermos com amor por nós próprios. Não se trata de nos desapaixonarmos pela outra pessoa, mas sim apaixonarmo-nos por nós. Há que ultrapassar os medos que se escondem por detrás do apego e ao mesmo tempo reforçar a autoestima.
 A segurança em nós próprios é o que nos permite relacionarmo-nos de uma forma saudável na medida em que nos torna capazes de gerir os medos do abandono sem termos de destruir a própria identidade em nome do que chamamos amor.
Só quando perdermos o medo de perder a outra pessoa é que revelamos verdadeiramente o nosso ser e nos sentimos plenos. O que define o amor não é o apego, o desejo, a dependência, mas a liberdade de se ser quem se é, no prazer de estar com o outro sem medo de o perder.


                                                  Rossana Appolloni

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

BIODIVERSIDADE E GEODIVERSIDADE


            (No topo da capa de alteração da rocha, o solo
           estabelece a fronteira entre os mundos vivo e não
           vivo)              

Fala-se hoje muito de biodiversidade e ainda bem que assim é. Os biólogos têm sabido dar o devido relevo aos temas das suas investigações. O mesmo não acontece com a geodiversidade, palavra ausente no discurso oficial que, não é demais lembrar, constitui o suporte da biodiversidade, seja à superfície do planeta, seja nas profundezas oceânicas, onde ecossistemas muito particulares vieram revolucionar as nossas ideias sobre a origem da vida.
Numa primeira aproximação, geodiversidade pode ser entendida como o conjunto de todas as ocorrências de natureza geológica, com destaque para rochas, minerais e fósseis (testemunhos de uma biodiversidade passada), dobras e falhas, grutas naturais e galerias de minas, relevos e depressões terrestres e submarinas, vulcões, etc.
Em terra e em condições favoráveis, agentes físicos, químicos e biológicos alteram a capa externa das rochas, dando origem ao solo, definido como um corpo natural, complexo e dinâmico, constituído por elementos minerais e orgânicos, caracterizado por uma vida vegetal e animal própria, sujeito à circulação do ar e da água e que funciona como receptor e redistribuidor de energia solar.
         No topo da capa de alteração da rocha, o solo estabelece a fronteira
 entre os mundos vivo e não vivo.
Entidade presente na imensa maioria das terras emersas, na interface da litosfera com a atmosfera e a biosfera, o solo estabelece, assim, a fronteira entre a geodiversidade e a biodiversidade à superfície da Terra. Sem solos não haveria prados, charnecas, tundras ou florestas, nem hortas, searas, montados ou olivais, nem toda a biodiversidade animal que nos rodeia.
Parte da atmosfera que nos assegura a vida é o resultado de uma interacção constante e contínua que sempre existiu entre os seres vivos e a cobertura gasosa do planeta. Muito diferente da actual, a atmosfera primitiva não tinha oxigénio. Foram organismos muito simples, como cianobactérias e algas marinhas microscópicas, que produziram, por fotossíntese, todo o oxigénio que viria a ser necessário à respiração dos animais. Trata-se de um processo que continua a ser assegurado por todas as plantas que nos rodeiam. É por isso que dizemos que os parques arborizados, no interior das cidades, são os seus pulmões. E é por isso que lutamos pela defesa das estepes e pradarias, das turfeiras boreais e de todas as florestas, de todas as latitudes e altitudes, das quentes e húmidas, como a amazónica, à taiga canadiana e siberiana, pois são elas que fabricam a parte mais importante do ar que respiramos.
As rochas, a água, o ar e os seres vivos ou, por outras palavras, a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera e a biosfera conviveram entre si ao longo da história do “Planeta Azul”. Deste modo, a biodiversidade que hoje nos rodeia é uma consequência dessa interacção e, portanto, absolutamente dependente da geodiversidade.
Os recursos minerais, nomeadamente, os minérios de ferro, alumínio, cobre, zinco, chumbo, ouro e muitos outros, bem como as fontes energéticas, sejam elas os combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural), a geotermia ou o nuclear, foram e são determinantes na História da Humanidade. A prospecção e captação de águas subterrâneas e o conhecimento dos terrenos, com vista à construção de barragens, pontes, estradas e outras grandes obras de engenharia são outros suportes fundamentais da civilização. Todos estes domínios da geodiversidade e, ainda, a defesa do ambiente natural e a preservação do património geológico e paleontológico representam aspectos práticos ao serviço da sociedade em desenvolvimento sustentado, com profundas implicações económicas, sociais e políticas, à escala local, regional e global. Acresce ainda, e é bom não esquecer que, nos seus domínios fundamentais, a geodiversidade sempre teve papel de relevo no pensamento filosófico, desde a Antiguidade aos nossos dias.
Com tão grande importância na sociedade, não se compreende a mais do que evidente falta de cultura geológica dos portugueses, dos cidadãos mais humildes e iletrados às elites intelectuais mais iluminadas.
É claro que há excepções, o que só confirma esta realidade.

                                             Galopim de Carvalho

terça-feira, 10 de setembro de 2013

CONFLITOS NA ESCOLA E MEDIAÇÃO


         Os conflitos dentro da escola emergem do seu próprio funcionamento e tentar fazê-los desaparecer equivaleria a tentar extinguir a própria instituição. O que há a fazer é lidar com eles de modo que possam constituir-se não como um factor de bloqueio do funcionamento escolar mas como uma alavanca que seja um gerador de novas ideias e estratégias de actuação.
            Ora, como foi referido em crónica anterior, a mediação pode ser um modo de resolver um conflito de uma maneira criativa em que não haja perdedores. Elemento central na mediação é o mediador. Este é uma terceira pessoa que não tem poder para impor uma solução e que deve assumir uma postura de neutralidade.
Pretende-se, assim, que a mediação seja um processo pedagógico, em que os protagonistas do conflito mas, também, o mediador, de uma maneira activa, consigam alcançar um acordo.
O colocar no terreno a mediação escolar passa por criar uma equipa multidisciplinar de mediadores com formação em áreas como psicologia, sociologia e outras. Esta equipa poderia incluir professores e não professores, alunos e pais e, se possível, com representação equilibrada dos diferentes grupos, quer de género e idades, quer de nível cultural.
Implementar uma política de mediação na escola iria modificar significativamente o seu modelo educacional e proporcionar outras oportunidades de enriquecimento humano. Não seria fácil mudar hábitos, atitudes e procedimentos há muito estabelecidos mas talvez fosse um desafio que valesse a pena tentar!

                                        Mário Freire


domingo, 8 de setembro de 2013

DIREITO


Sumo jus e suma injúria
vão de par diz o rifão.
Desposado com a fúria
gera o vento um furacão.

Há porém o seu reverso
o da pura abdicação
e daí o lado adverso:
Não reagir face à traição.

Cada qual com seu direito.
A justiça com efeito
lhe dá foros de antemão.

Virtuoso é tê-lo a peito;
mas lisura a seu respeito
faz apelo ao coração.


João d’Alcor

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

CINCO PRINCIPAIS ARREPENDIMENTOS ANTES DE MORRER


Uma enfermeira escreveu um livro que relata testemunhos de doentes terminais acerca dos arrependimentos que sentiam sobre a própria vida. Desses relatos, a autora evidenciou cinco:
1) Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo e não a vida que os outros esperavam de mim. A pessoa que abdica de si própria para fazer algo pelos outros vai acabar exigir algo em troca, mesmo inconscientemente, para compensar o que perdeu para si. Se o outro não retribuir, surge um sentimento de desilusão e tristeza. Quando deixamos de fazer uma coisa que é importante para nós para fazer algo que é importante para outra pessoa, sentimos perder algo e procuramos recompensas.
2) Gostaria de não ter trabalhado tanto. Se tivermos um trabalho na nossa vida que nos enriquece, que nos transforma, que melhora a nossa vida, quer do ponto de vista material quer como de ser humano, essa cobrança raramente acontece. Se, pelo contrário, o trabalho for um peso, vamos sentir a falta do tempo que lhe dedicámos.
3) Gostaria de ter tido a coragem de expressar os meus sentimentos. No fim da vida perdemos a nossa capacidade de fingir e questionamo-nos acerca do que poderíamos ter dito e feito. Por mais terrível que a pessoa seja, à beira da morte tende a manifestar o que tem de bom por dentro, ou seja, começa a demonstrar os próprios sentimentos e afeto pelos outros.
4) Gostaria de ter mantido contacto com os meus amigos. Na maioria das vezes, as relações que temos com os amigos são mais honestas e verdadeiras do que as que temos com a nossa própria família. No entanto, as obrigações familiares e profissionais que se criam levam-nos a não ter tempo para os amigos e as amizades vão-se perdendo.
5) Gostaria de me ter deixado ser mais feliz. Este arrependimento acaba por ser um resumo de todos os outros. Trata-se da capacidade de sairmos da nossa zona de conforto e mudarmos velhos hábitos ou padrões que nos condicionam. Há acontecimentos na vida que nos fazem parar, olhar para trás e perguntarmo-nos se valeu a pena. Não deixe que a sua vida chegue a um ponto em que já não tem retorno e mude o que ainda pode com vista a uma vida mais feliz!


                                                Rossana Appolloni

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

TRANSFORMAR A CULPABILIDADE EM RESPONSABILIDADE


A escola, como espaço de trabalho de pessoas com estatutos profissionais diferentes mas, igualmente, em ligação com outras pessoas com diferentes estatutos sociais, atrai sobre si múltiplas situações de conflito. Encontramos, assim, conflitos entre alunos e alunos, entre pais e professores, entre professores e alunos, entre professores e direcção, entre pais e direcção, entre professores e professores…
Ora, ocorre um conflito quando se geram atitudes de hostilidade a partir de duas ou mais pessoas com objectivos diferentes e inconciliáveis.
Múltiplas podem ser as causas dos conflitos na comunidade e, igualmente, no ambiente escolar, que não vale a pena enumerar. Só dizer que eles, se não forem adequadamente resolvidos, são susceptíveis de gerar situações perturbadoras do ensino e da aprendizagem. Urge, pois, fazer-lhes face.
Há muito que os conflitos na comunidade, especialmente os que têm lugar no campo judicial, podem ser dirimidos recorrendo a mediadores. No âmbito da educação, experiências de mediação começaram, igualmente, a ser aplicadas um pouco por toda a parte a partir do início dos anos 80.
Em Portugal não são ainda abundantes os trabalhos e as experiências que os suportam que tratam da mediação em ambiente escolar.
A mediação escolar é uma construção cultural que deve envolver todos os que fazem parte da comunidade escolar. Mas ela é, também, uma prática pedagógica em que todos devem ter a possibilidade de dar respostas novas aos conflitos. Ora, uma das novidades introduzidas pelo processo de mediação é o de transformar a culpabilidade em responsabilidade. Esta maneira de ver os conflitos vai, necessariamente, originar uma maior necessidade de diálogo, ao mesmo tempo que incentiva a formação do trabalho em equipa.
Afinal, mais do que culpados, precisamos de ser e encontrar responsáveis pelo que fazemos e pelo que nos fazem!

                                                         Mário Freire





segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A COMPETÊNCIA EM MATEMÁTICA


Nos últimos anos, a questão da competência em matemática tem vindo a adquirir uma importância crescente. Tem sido identificada como uma das competências necessárias à realização pessoal, à cidadania activa, à inclusão social e à empregabilidade na sociedade do conhecimento do século XXI.
Entende-se que a competência no domínio da matemática não se limita à numeracia básica, envolvendo um conjunto de conhecimentos, de aptidões e também de atitudes. Refere-se à capacidade de raciocinar em termos matemáticos, de colocar e resolver problemas matemáticos, e de aplicar o pensamento matemático à resolução de desafios da vida real. Está ligada a aptidões como o pensamento lógico e espacial, à utilização de modelos, gráficos e diagramas, e à compreensão do papel da matemática na sociedade.
Os primeiros anos de escolaridade constituem a base para a posterior aprendizagem da matemática. Identificar as dificuldades nesta fase pode evitar que as crianças desenvolvam estratégias desadequadas e concepções erradas susceptíveis de se tornarem, a longo prazo, obstáculos à aprendizagem. Uma intervenção precoce pode, igualmente, combater a ansiedade, um factor potencialmente significativo entre os alunos mais velhos. Os jovens receiam frequentemente a matemática e alguns alteram mesmo as suas opções de formação, para evitar esta disciplina.
Considera-se como fraco o aproveitamento em que o desempenho do aluno é inferior ao nível de sucesso esperado; ocorre por variadas razões, algumas relacionadas com a escola, outras associadas a dificuldades de aprendizagem, tal como a discalculia (uma condição que afecta a capacidade de adquirir competências aritméticas).
O fraco aproveitamento na disciplina de matemática constitui uma preocupação comum a todos os países europeus. É uma questão associada não apenas à eficácia do ensino e da aprendizagem, mas também ao meio familiar dos alunos. Deste, são de referir o nível de escolaridade e a profissão dos pais, a forma como ajudam os filhos nos trabalhos de casa e a disponibilidade de recursos no domicílio, como um local sossegado para estudar ou uma ligação à Internet.
Têm-se ensaiado várias estratégias para apoiar os alunos com mais dificuldades. A adopção de métodos pedagógicos inovadores poderá ajudar a melhorar as atitudes, aumentar os níveis de desempenho e abrir novas possibilidades de aprendizagem.
Para terem êxito as estratégias para combater o fraco aproveitamento precisam de integrar os vários aspectos do ensino e da aprendizagem, nomeadamente o conteúdo e a organização do currículo, as práticas lectivas e a formação inicial e contínua dos professores.
Para concluir, diremos que a falta de especialistas em matemática e domínios afins pode afectar a competitividade das economias e os esforços para superar a crise económica e financeira actual.

                                                    FNeves