Depender
de alguém é uma forma de anular a própria vida na medida em que o amor-próprio
é sacrificado e oferecido ao outro de uma forma irracional. Quando a
dependência está estabelecida, a entrega não é um ato de amor mas sim uma
rendição guiada pelo medo com o objetivo de preservar o que o outro oferece de bom.
Desta forma, a pessoa dependente começa a sofrer uma espécie de
despersonalização até se tornar num apêndice da pessoa amada.
Quando
a dependência é mútua, então instala-se um cenário autodestrutivo em que cada
um perde a autonomia e a individualidade. Perante uma relação nociva deste
tipo, normalmente é muito difícil as pessoas conseguirem pôr-lhe um termo, pois
ultrapassar o sentimento de abandono ou de perda afetiva é muito doloroso.
Todos
nós precisamos de afeto e estar sem o outro é sentido como estar sem uma parte
de nós, é como se não existíssemos ou, pior ainda, existimos mas com um vazio
interior imenso. Ao sentirmos falta do que nos proporciona segurança e prazer,
sentimo-nos incompletos.
A solução a este vazio
passa por o preenchermos com amor por nós próprios. Não se trata de nos
desapaixonarmos pela outra pessoa, mas sim apaixonarmo-nos por nós. Há que
ultrapassar os medos que se escondem por detrás do apego e ao mesmo tempo
reforçar a autoestima.
A segurança em nós próprios é o que nos
permite relacionarmo-nos de uma forma saudável na medida em que nos torna
capazes de gerir os medos do abandono sem termos de destruir a própria
identidade em nome do que chamamos amor.
Só
quando perdermos o medo de perder a outra pessoa é que revelamos
verdadeiramente o nosso ser e nos sentimos plenos. O que define o amor não é o
apego, o desejo, a dependência, mas a liberdade de se ser quem se é, no prazer
de estar com o outro sem medo de o perder.
Rossana Appolloni