quarta-feira, 18 de setembro de 2013

UMA ESPERANÇA NO COMBATE AO INSUCESSO E ABANDONO ESCOLARES


        Uma das várias experiências que vivi foi a de, como voluntário, prestar apoio educacional a adolescentes institucionalizados. Tratava-se de pessoas oriundas de famílias desestruturadas em que a maior parte delas tivera uma infância muito sofredora de violência, abandono, negligência... O meu papel era o de apoiá-las no estudo; tal não significava, porém, que esse papel não assumisse o de ouvinte atento das suas revoltas, medos e aspirações. Essas ocasiões funcionavam como uma catarse em que os adolescentes, estando com alguém em quem confiavam e que não pertencia nem à escola nem à instituição, como que se libertavam das peias que os tolhiam.
Ora, a minha maior frustração era ver aqueles ainda meninos e meninas dos 5º, 6º e 7º anos, que tinham sido privados das estimulações adequadas, cheios de carências cognitivas e emocionais, com um historial escolar pleno de repetências, não terem um sistema educacional que pudesse responder às suas situações.
É, pois, com esperança que vejo a multiplicação dos cursos vocacionais em que os alunos com menos de 15 anos, ficando na escola, têm a possibilidade de contactar com o mundo profissional. Estes casos de insucesso escolar que conduzem ao abandono, porta aberta para a marginalidade e criminalidade, podem ser reconciliados com a escola através do exercício de actividades profissionais. 
Só quem nunca contactou de perto com situações deste tipo pode afirmar que estes cursos constituem um aprofundamento das desigualdades. Pelo contrário, estes jovens, através do trabalho, podem ganhar uma nova motivação para o estudo. Este tipo de cursos constitui, pois, um passo em frente na inclusão social e irá contribuir para transformar alguém que se confrontava constantemente com o fracasso numa pessoa com autoestima e dignidade há muito perdidas.


                                                           Mário Freire