Uma das várias
experiências que vivi foi a de, como voluntário, prestar apoio educacional a
adolescentes institucionalizados. Tratava-se de pessoas oriundas de famílias desestruturadas
em que a maior parte delas tivera uma infância muito sofredora de violência,
abandono, negligência... O meu papel era o de apoiá-las no estudo; tal não
significava, porém, que esse papel não assumisse o de ouvinte atento das suas
revoltas, medos e aspirações. Essas ocasiões funcionavam como uma catarse em que
os adolescentes, estando com alguém em quem confiavam e que não pertencia nem à
escola nem à instituição, como que se libertavam das peias que os tolhiam.
Ora,
a minha maior frustração era ver aqueles ainda meninos e meninas dos 5º, 6º e
7º anos, que tinham sido privados das estimulações adequadas, cheios de
carências cognitivas e emocionais, com um historial escolar pleno de
repetências, não terem um sistema educacional que pudesse responder às suas
situações.
É,
pois, com esperança que vejo a multiplicação dos cursos vocacionais em que os
alunos com menos de 15 anos, ficando na escola, têm a possibilidade de
contactar com o mundo profissional. Estes casos de insucesso escolar que
conduzem ao abandono, porta aberta para a marginalidade e criminalidade, podem ser
reconciliados com a escola através do exercício de actividades
profissionais.
Só
quem nunca contactou de perto com situações deste tipo pode afirmar que estes
cursos constituem um aprofundamento das desigualdades. Pelo contrário, estes
jovens, através do trabalho, podem ganhar uma nova motivação para o estudo.
Este tipo de cursos constitui, pois, um passo em frente na inclusão social e irá
contribuir para transformar alguém que se confrontava constantemente com o
fracasso numa pessoa com autoestima e dignidade há muito perdidas.
Mário Freire