domingo, 10 de novembro de 2013

MEDITAR É ÚTIL?


Hoje em dia, a nossa sociedade ensina-nos cada vez mais a fazermos escolhas baseadas na utilidade, pelo que vale a pena perguntar: meditar é útil? Na verdade, a meditação não deve servir para nada, não deve ser praticada tendo em vista um objetivo específico.
A prática da meditação comporta uma parte de não estar à espera de nada. Meditar implica ignorar pretensões e não prefigurar ou imaginar nada no sentido de desejar que algo aconteça. O movimento que dá vida a quem medita é, curiosamente, um não movimento: uma intenção de não intenção. Os taoistas chamam-lhe agir sem agir. Trata-se portanto de uma atitude mental, subtil e, de certa forma, paradoxal.
Se tentar sentar-se por dez minutos num sítio calmo, de forma a concentrar-se unicamente na sua respiração, dar-se-á conta do turbulento e involuntário fluxo de pensamentos e de emoções. Meditar é precisamente tomar consciência deste fluxo: as faculdades da atenção que permitem este olhar interior desenvolvem-se gradualmente, tal como a capacidade de regular as emoções.
Nas suas diversas formas, a meditação é uma exploração da natureza da mente. Uma das práticas mais faladas hoje é a mindfullness, ou seja, de plena consciência. Nesta, o praticante torna-se menos reativo às próprias emoções, adquire uma consciência mais clara dos seus processos mentais e descobre assim um meio para os transformar.
Quem medita abre-se à experiência em sentido lato, isto é, a tudo o que acontece dentro de si e à sua volta. As manifestações podem ou não ser agradáveis, pois o objetivo é aproximar-se a elas observando-as com desapego e sem se esforçar por controlar as emoções ou os pensamentos.
            Treinar esta capacidade de distanciação, observação, desapego do que nos acontece enquanto meditamos, tentando sempre chamar a nossa mente para as sensações do aqui e agora, permite aplicarmos os mesmos princípios nas situações do dia-a-dia. Permite-nos desfrutar mais do presente de uma forma mais recetiva e simultaneamente mais ativa.

                                                       Rossana Appolloni