Os Estóicos partem do princípio que por um lado está nas nossas mãos a forma como pensamos e como agimos no mundo, mas por outro lado não controlamos o que é provocado por causas exteriores e que pertence à esfera do destino. No entanto, isto não significa que sejamos destituídos de liberdade.
Se temos de aceitar aquilo que é alheio à nossa vontade, podemos, no entanto, procurar um sentido para a nossa existência. Quer o homem queira quer não, a maior parte das coisas acontece sem a sua intervenção.
Não podemos alterar a materialidade e a ordem do mundo mas podemos definir o nosso juízo de valor sobre os acontecimentos e atuar nos limites do nosso pensamento fundado na racionalidade e no controlo das emoções.
Perante uma contrariedade inevitável, de nada serve revoltarmo-nos e perder o controlo de nós próprios, que só contribui para agravar a situação. No meio de uma tempestade sabemos que corremos perigo mas, se em vez de entrar em pânico, conseguirmos dominar o medo, temos mais hipóteses de sobreviver.
Para os estóicos, a liberdade humana não consiste em lutar contra os acontecimentos mas sim em avaliar o que eles significam para nós em cada momento. Podemos ficar indiferentes àquilo que não depende de nós mas devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para fazer bem aquilo que depende de nós.
O código de conduta dos estóicos assenta numa teoria dos deveres que visa reconciliar o indivíduo com as contrariedades e o sofrimento inerentes à arbitrariedade da vida. O âmbito da moral reside exclusivamente naquilo que depende de nós. É da nossa apreciação moral e do sentido que damos aos acontecimentos anteriores que depende a nossa integridade existencial. O que conta não é tanto a eficácia do resultado das nossas ações quanto a intenção moral de fazer o bem que esteve na origem da nossa decisão.
O controlo da mente e a tranquilidade de espírito devem prevalecer sobre a instabilidade e a imprevisibilidade da vida. Assim, há que ponderar na célebre recomendação de Marco Aurélio: viver cada dia da nossa vida como se fosse o último.
Rossana Appolloni