quarta-feira, 4 de abril de 2012

UMA PESSOA PLURAL

         
                
            Encontra-se patente ao público, até ao próximo dia 30 de Abril, uma exposição sobre Fernando Pessoa, intitulada plural como o Universo, na Fundação Gulbenkian.
Esta exposição permite-nos mergulhar no mundo complexo do poeta, mas também ensaísta e filósofo e perceber um pouco do que é a sua obra.
Ele deixou um espólio valiosíssimo numa arca, com milhares de textos inéditos, dactilografados e manuscritos, alguns dos quais em bocados de papel rasgados, sobrescritos, etc.
Ao longo da sua vida fez sair em jornais e revistas poemas seus. No entanto, só um ano antes da sua morte, que ocorreu em 1935, é que foi publicado o seu único livro de poesia, a Mensagem.
A pluralidade de Pessoa, seja na sua propensão heteronímica, seja nos diferentes papéis que assumiu ao longo da vida, fazem do poeta um ser com uma personalidade indefinível. As dezenas de heterónimos que criou, até em língua inglesa e francesa, são os afloramentos de uma multiplicidade de caminhos, de estilos, de perspectivas de vida em que às várias personagens se associam projectos e maneiras diferentes. Essas diversas personalidades eram traduzidas por algo que as identificavam - a assinatura. Na exposição apresentam-se várias assinaturas, correspondentes a diferentes heterónimos, cada um dos quais com uma caligrafia específica.  
A materialização que ele conferia aos seus heterónimos era tal, que escrevia deles a outras pessoas como se de seres humanos reais se tratassem.
Também ele, Fernando Pessoa, foi plural na sua vida real: editor, tradutor, espírita, astrólogo, negociante…
A “despersonalização instintiva” a que ele se refere não seria já uma manifestação premonitória da complexidade e das contradições do homem dos dias de hoje?
Afinal, qual teria sido a verdadeira personalidade de Fernando Pessoa?

                                                            Mário Freire