Régis Debray (Paris, 1940)
é um filósofo, jornalista, escritor e professor francês que foi amigo de Fidel
Castro e Che Guevara, pertenceu ao Partido Socialista Francês, do qual se
distanciou por diferenças ideológicas com o ex-presidente François Mitterrand. Actualmente,
Debray lecciona na Universidade de Lyon.
Acontece que, em Junho
do ano passado, ele deu uma longa entrevista ao semanário Marianne na qual,
numa curta passagem, se refere à educação como “tendo que ir ao fundo, para
além das questões dos programas, dos horários, da interdisciplinaridade… E o
fundo é que a escola não pode ficar fiel ao seu próprio fim, afirmando-se como
uma contra-sociedade.” Debray diz, ainda, que ela “decalca a sociedade do
mercado, da urgência, do utilitarismo, da rentabilidade da imagem”, colocando,
por fim, a questão de “como é que uma sociedade pode produzir no seu seio uma
contra-sociedade?”
O texto atrás transcrito suscita múltiplas
questões e dúvidas sobre a finalidade da escola. Assim, “ir ao fundo” das
questões escolares significa desprezar os programas? Não serão estes as
directivas, melhores ou piores, que encaminham o conhecimento aos alunos? Quanto
aos horários, é certo que eles poderiam ser sempre elaborados de maneiras
diferentes, mais ou menos flexíveis. Mas eles constituem as balizas dentro das
quais a aprendizagem escolar se faz. Relativamente à interdisciplinaridade ela
é hoje considerada, mesmo ao nível do ensino superior, um instrumento que
permite ao aluno ter uma visão mais global, segundo várias perspectivas, do
conhecimento.
Quanto à escola decalcar
“a sociedade do mercado, da urgência, do utilitarismo, da rentabilidade da
imagem”, significa isso que ela deve alhear-se do que à sua volta se passa,
preparando os jovens para um mundo irreal? Claro que a escola não deve
limitar-se a copiar as características do mundo de hoje. Mas é através de uma
disciplina participada, no oferecimento de condições para que o aluno seja um
sujeito interventivo e não um mero agente receptivo, no ensinamento e prática
de valores como a verdade, a liberdade, a responsabilidade, a tolerância, a
solidariedade, a gratidão…que se consegue uma escola contra a sociedade dos
nossos dias.
Mário Freire