Pouco é o vento que passa
Pouca é a água do poço.
Certezas?!... Um quase
nada.
Falsas, as vozes que oiço.
Pouco é o pão minguado.
Até as nuvens merinas
Parecem cão enxotado.
Amas secas, concubinas.
Pouca palavra bem dita
Muito chão de maldizer.
Poucas, as sopas no caldo
Muitas bocas p´ràs comer.
Escasso sol, pouca estrela
Negra a noite, o dia
pardo.
- Ata o sonho à
caravela
Leva o trevo, deixa o
cardo!...
Muito “cerol” gafado
Muita aiveca, pouca relha.
Muita intrujice de enfado
Palestra “podre de velha”.
Pouca “prata”, vã riqueza
Negridões a cirandar.
Pouca abundância na mesa
Má fortuna a agourar.
Cada carreiro um barranco
Em cada esquina um ganir.
Noites passadas “em branco”
Sem medrar e sem dormir.
Tudo é “conversa
fiada”!...
MUITO é NADA quando há
fome.
- Até a hóstia é salgada!...
Morre o longe, em “calquer
home”.
Não vá o caldo entornar
Ou a água ficar turva
Mais vale ouvir e calar:
- Muita parra, pouca
uva!...
E sem conceitos galantes
Com dizeres de baixo custo
Mais Verdade havia dantes
Mais Honra, o Afeto mais
justo.
Este mundo está do avesso
Até mesmo, no olhar.
Só se olha de arremesso
Com óculos escuros a tapar.
Neste mundo aos
trambolhões
Justiça tem “fraca perna”.
Usam binóculo, os vilões
Quem é puro vê de
lanterna!...
Aldina Cortes Gaspar
In”PEDAÇOS”