Assiste-se hoje a uma
tendência para transferir para a instituição escolar o cerne da educação. É aí
que as crianças e os jovens passam a maior parte do seu dia social. Já houve
uma instituição escolar que se propôs prolongar os seus horários até à
meia-noite para que os pais pudessem ir ao cinema!
Ora, os problemas
educacionais não se situam apenas na escola mas no tipo de vida que hoje se
leva. Não será um certo modo de viver que originará o prolongamento da
permanência dos alunos na escola? Não se terá que questionar o local de
trabalho dos pais e as distâncias que eles têm de percorrer até aos empregos, o
trânsito, o papel das empresas, o comodismo, a ignorância, para se estar a
assistir à transferência para a escola da responsabilidade da educação dos
filhos? Não estará a família a pactuar com este tipo de modelo?
A educação é o motor
do desenvolvimento da pessoa e de um país. E múltiplas são as variáveis que
concorrem na educação para que esta possa, efectivamente, ser exercida quer
pela família, quer pela comunidade. Às famílias têm que ser proporcionadas
condições de vária ordem para que elas exerçam essa grande tarefa. O Estado
terá nisso um papel importante. Mas não haverá outras entidades que tenham,
também, responsabilidades no proporcionar dessas condições? Muitas empresas,
com as tecnologias de que dispõem, não poderiam propiciar, através do teletrabalho,
meios para que os pais pudessem estar, em determinadas circunstâncias, mais
tempo com os filhos? As instituições da sociedade civil de natureza cultural e
de serviço social, muitas das quais pertencentes à Igreja, não poderiam
discutir com as famílias, de uma maneira mais próxima, o papel que lhes cabe na
educação?
E a escola, como
exerce ela o seu múnus? Estão os professores impedidos de interrogarem os
acontecimentos e suscitarem essa interrogação junto dos seus alunos? E de
criarem espaços de silêncio para reflectirem? Que constrangimentos dificultam o
fomentar de comportamentos disciplinados e de exigência? Que modificação é
preciso introduzir no funcionamento da escola para que ela possa congregar os
pais, se possível, indo até junto deles para os apoiar nas suas relações com os
filhos e os esclarecer sobre o papel destes dentro e fora da instituição
escolar?
Mário Freire