sábado, 31 de março de 2012

PODE A EDUCAÇÃO MODIFICAR O NOSSO COMPORTAMENTO AMBIENTAL?


Uma grande parte das ideias e dos conhecimentos que constituem a base do nosso comportamento em adulto, é adquirida durante o nosso percurso na Escola.
O sistema educativo tem a capacidade de modificar as atitudes do indivíduo, expondo-o a novas ideias e conceitos e fornecendo ao estudante perfis sociais e analíticos, que lhe permitem uma avaliação racional das escolhas a fazer durante a vida.
O comportamento é um dos parâmetros sociais a que se pode atribuir uma relação directa, com a preservação do ambiente em geral e ainda, em particular, com o consumo individual de energia. O comportamento individual em termos de uso da energia é, por sua vez, determinado por factores externos globais, dos quais são de salientar a política energética e a tecnologia de produção de energia; estes vão afectar directamente os respectivos preços e disponibilidade.
Tradicionalmente, os governos têm procurado a mudança de comportamentos através da imposição de preços elevados, de taxas ou ainda da utilização de novas tecnologias aplicadas não só à produção como também ao consumo. Contudo, mudanças de comportamento consistentes apenas poderão ser obtidas quando os indivíduos acreditam nas vantagens anunciadas e não apenas em simples factores externos.
Um exemplo, é o que se passa com a diminuição do consumo, quando os preços sobem em consequência da crise energética a que se segue, no entanto, novo aumento do consumo a partir do momento em que os preços baixem. Só o preço influenciou, neste caso, o comportamento individual. Uma mudança de comportamento requer a introdução de novos valores, transversais a toda a sociedade.
É, pois, facto adquirido que a educação pode, de facto, informar os indivíduos no que se refere  à  política energética e à tecnologia de produção, influenciando desse modo a atitude individual e contribuindo para uma efectiva mudança comportamental.

                                                              FNeves

quinta-feira, 29 de março de 2012

A ESCOLHA DE UM CURSO E A REALIZAÇÃO PROFISSIONAL - 1


                                   Algumas variáveis da escolha

            A escolha de um curso ou profissão é algo que não pode ser feito de ânimo leve. É certo que nos dias de hoje ter-se um curso numa dada área não significa vir a exercê-lo e, muito menos, para o resto da vida. A volatilidade das circunstâncias, a evolução dos conhecimentos, as características do mercado de trabalho…obrigam a que, para além de uma formação em dado campo do saber, se seja possuidor de um conjunto de competências que proporcionem uma adaptabilidade às ocorrências que se vão deparando. Estas variáveis, porém, não implicam que o acaso oriente aquela escolha. Pelo contrário: a decisão de se ir para este ou para aquele curso deve ser um processo contínuo de pesquisa, tendo em conta variados aspectos, entre os quais salientaria:
            - O conhecimento de si mesmo;
            - O conhecimento do mundo dos cursos e das profissões;
            - O conhecimento do mercado de emprego;
            - As experiências adquiridas dentro e fora da sala de aula e da escola.
            Por outro lado, há certas realidades que, sendo aparentemente marginais, podem ter uma influência capital no processo da escolha. Uma delas, já referida em crónica anterior, é o da competência do aluno em Matemática, muito especialmente quando se atinge o primeiro patamar da escolha, no 9º ano. Esta disciplina, sendo suporte de um amplo leque de cursos, pode ser um factor limitativo das opções que se colocam ao aluno. 
            Um aspecto marginal mas que, por vezes, se salienta no processo da escolha é o da moda. Um curso ser escolhido por alguns leva a que outros o façam. E o ser escolhido é, às vezes, uma questão, apenas, da palavra ou da expressão que o identifica. Há cursos cujo nome remete para um certo imaginário não necessariamente condizente com a realidade a que conduz.
            O prestígio atribuído a um curso ou profissão pode ser, igualmente, uma outra variável de natureza subjectiva que pode condicionar uma escolha.
            Enfim, a escolha de um curso é um acto complexo que, assentando nos conhecimentos e capacidades adquiridas ou, pelo menos, percepcionadas pelo próprio, com uma quota mais ou menos acentuada de subjectividade, vai mobilizar aspectos racionais e emocionais para a sua concretização. É na ponderação de todas estas componentes que pode resultar no dar do primeiro passo, mais ou menos próximo, mais ou menos longínquo, para a realização profissional e pessoal.

                                                 Mário Freire

terça-feira, 27 de março de 2012

AVENTURA


É virtude ou tentação
este gosto da aventura?
Insistente é a questão:
É apelo ou é loucura?

Será jogo do Destino?
Condição da Liberdade?
Teste feito à Vontade?
Busca em mim do Ser divino?

Tudo junto? -  No caminho,
eu surpreso, sinto Alguém
segredando mui baixinho:

 ‘Aventura... Porque não?
Teu destino é Meu também.
Põe tua mão na minha Mão.’

João d’Alcor

domingo, 25 de março de 2012

AS DESIGUALDADES DE GÉNERO E O MERCADO DE TRABALHO



O Dia Internacional da Mulher é uma ocasião para lembrar que, apesar de se terem registado já grandes conquistas, há ainda um longo caminho a percorrer até que as mulheres deixem de ser discriminadas na sociedade actual.
                     Sabendo-se que na escola as raparigas têm um aproveitamento tão bom senão melhor que os rapazes, será de esperar que na idade adulta possam ter iguais expectativas em termos de carreira?
Na maioria dos países ocidentais, as raparigas são mais ambiciosas que os rapazes: são elas, mais que os rapazes, que esperam vir a seguir carreiras de elevado status. Isso já acontece em países tais como a França, a Alemanha e a Suíça onde as presenças masculinas e femininas se equilibram. Existem, no entanto, outros países tais como Portugal, a Grécia e a Polónia em que a proporção de raparigas que aspira àquele tipo de carreiras é significativamente menor.
Os rapazes e as raparigas, independentemente do sucesso obtido na escola, têm ainda não só diferentes aspirações, como também diferentes expectativas no que se refere à carreira a seguir. Por exemplo, engenharia e computação apenas atraem uma pequena parte das raparigas, quando comparado com os rapazes.
O contrário, agora, sucede com os cursos na área da saúde e da educação básica: o número de raparigas que espera seguir uma carreira nestas áreas é muito maior que o dos rapazes. Isto sugere que embora as raparigas possam ser excelentes em diferentes áreas da ciência, não esperam, em geral, vir a ser engenheiras nem especialistas em Informática, pois dirigem a sua atenção para outro tipo de profissões.
Para terminar, poderemos dizer que diferenças de género nas expectativas de carreira podem contribuir para a segregação das raparigas, traduzidas em diferenças de remuneração e outras condições vigentes no mercado de trabalho.
                        
                                                FNeves

sexta-feira, 23 de março de 2012

DESENVOLVIMENTO E SOLIDARIEDADE - X


                                        Turismo ético e solidário

            Termino esta série de artigos sobre “Desenvolvimento e solidariedade”, abordando um tema que poderia constituir-se num importante factor de crescimento económico e, simultaneamente, implicar um apreciável desenvolvimento humano de uma região. Trata-se do chamado turismo ético e solidário.
            Ora, verifica-se que, em regra, os operadores turísticos têm como principal preocupação proporcionar o paraíso aos clientes, o exotismo, as praias de sonho, os países longínquos, as estruturas de acolhimento requintadas, com paisagens de encantar…
            Mas, perguntar-se-á, haverá alguma intenção, na maior parte desses operadores, em proporcionarem alguma informação sobre aspectos sociais, políticos e culturais dos países e locais que se oferecem para visita?
            Por outro lado, este tipo de negócio é dominado por grandes empresas que competem entre si, utilizando mão-de-obra local de baixos salários e em que os maiores beneficiários, principalmente nos países subdesenvolvidos, são elas, pouco restando para as populações locais.
            Há, pois, ainda um longo percurso a percorrer neste campo,
quer fornecendo ao turista, ou ele próprio procurar, uma maior consciencialização para os problemas sociais, políticos, económicos e ambientais em relação às populações que o recebe e, ao invés, impedir a perda das identidades culturais locais dessas mesmas populações,
quer proporcionando mais benefícios às empresas e comunidades locais, reduzindo a remessa dos lucros para os países de origem, muito especialmente quando aquelas pertencem a países ainda pouco desenvolvidos.
De acordo com a “Mó de Vida”, a primeira cooperativa de consumidores em Portugal que desenvolve a actividade do Comércio Justo e Solidário, o turismo, ao mesmo tempo que pode constituir uma maneira de enriquecimento social e cultural, “deve promover uma forma de viajar que respeite as comunidades locais, que tenha fraco impacto ambiental e que garanta uma justa distribuição de lucros.”
Podemos, pois, fazer turismo, contactando com outras pessoas e culturas, maravilhando-nos com paisagens, monumentos e fenómenos naturais, aprendendo, recreando-nos, mas, em simultâneo, podemos proporcionar com a nossa presença o desenvolvimento daqueles que visitamos, admirando e dando valor àquilo que são e àquilo que têm.

                                                                           Mário Freire

quarta-feira, 21 de março de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 2


                                        Qualidades a cultivar

Não raramente, no objectivo de identificação e cultivo das qualidades somos confrontados com a presença e resistência de defeitos. Face a estes, um outro objectivo se afigura preliminar: o dever de os eliminar. Assagioli chama a atenção para algo mais fundamental: Descobrir “as qualidades dos nossos defeitos e os defeitos das nossas qualidades.”  Quanto aos defeitos, há que ver um potencial carecido de boa utilização e adequada integração. Quanto às qualidades, importa estar atento aos excessos em termos de avaliação e de aplicação. Em psicossíntese, não existem fundamentalmente exclusões nem antinomias.
 As polaridades e os opostos fazem apelo à síntese, sendo que os últimos são passíveis de coincidência que elimina o dualismo radical. Posto o potencial humano em conceitos de energia e aliando a esta um conceito de neutralidade, a educação focaliza-se no bom cultivo e utilização da energia patente. Nesta perspectiva, se passa ao seguinte rol de qualidades que se afiguram particularmente características de uma abordagem psicossintética:
Amabilidade – Esta qualidade evoca o amor e o humor artisticamente expressos. Virá daí a consideração de Assagioli ao dizer que “ a utilização prática da psicossíntese é uma arte delicada.” Há na amabilidade a síntese de uma polida combinação do saber-ser aliado ao saber-agir e ao saber-viver. Sinónimo condizente com a amabilidade é a gentileza.
Autoridade – A verdadeira autoridade provém da demonstração da competência e não da intoxicação do poder. Erich Fromm faz a distinção “entre ter autoridade e ser autoridade.” No caso do ser, há a irradiação de um poder que nada tem a ver imposição, porquanto aliada à flexibilidade e ao bom humor. O ensino tem o fulcro na vivência e a disciplina se caracteriza pela convicção.
Benevolência – É característico desta qualidade considerar  hoje é demasiado cedo para julgar e condenar enquanto que o amanhã pode ser demasiado tardio para a motivação e o elogio que têm no agora a sua oportunidade. A benevolência substitui o julgamento pela compreensão indulgente, a pressão pelo encorajamento e o criticismo pelo estímulo.
Bondade - O Budismo alia aos Quatro Estados Sublimes outra tantas Virtudes Maiores: Bondade afectuosa, vera compaixão, alegria amistosa e sentido da equanimidade. Assagioli observa: “A bondade é oposta ao separatismo e constitui o percurso para a paz. Sem a bondade não pode haver nem paz, nem alegria nem amor.” A título de exemplo, acrescenta: “É a bondade de um São Francisco de Assis que domestica o lobo de Gúbio e numerosos ‘lobos’ humanos.”

Nota bene – Qualidades : Este elenco terá seguimento


                                          João d’Alcor

segunda-feira, 19 de março de 2012

PERSONALIZAÇÃO NO ENSINO



                “A terceira grande revolução da escola moderna”

            Luc Chatel, actual ministro da Educação de França, numa conferência que pronunciou em Agosto passado, em Versailles, enunciou as duas grandes revoluções por que passou a escola e anunciou aquela que, no seu entender, deve ser a terceira grande transformação. Quanto à primeira identifica-a como a instituição da escola laica, gratuita e obrigatória; a segunda é a democratização e a massificação do sistema educativo. Quanto à terceira, aquela que urge fazer e que constitui um grande desafio para os agentes educativos, consiste na personalização. Diz ele que “é preciso passar da escola para todos para a escola do êxito de cada aluno”.
A preocupação pela personalização do ensino, que remonta aos anos 30 do século passado sob a designação de ensino individualizado, está a assumir-se, nos dias de hoje, como um dos temas dominantes do pensamento pedagógico.
A aprendizagem é um acto pessoal; cada aluno apresenta características peculiares e tem um ritmo próprio para aprender e, por isso, ao ensino exige-se uma adaptação a essas mesmas características e ritmo.
O tipo de ensino que ainda hoje predomina nas nossas escolas é o de se constituir a turma como um todo homogéneo em que o professor, formulando os mesmos objectivos, utilizando os mesmos métodos, explicando as matérias que se encontram programadas, se dirige a todos os que, sentados na sua frente, tentam acompanhá-lo, esforçando-se por adquirir as mesmas noções, procurando trabalhar a um mesmo ritmo, efectuando as mesmas tarefas no mesmo tempo.
Ora a personalização do ensino, como estratégia metodológica, vai contra aquela maneira de ensinar e constitui uma das respostas para fazer face ao insucesso escolar. Ela, propondo metas e processos de aprendizagem que se adaptem aos diferentes tipos de alunos da turma, contribui para a atenuação das desigualdades sociais que se repercutem dentro da escola, beneficiando, sobretudo, os que mais dificuldades manifestam, sem que os outros sejam prejudicados.
Falar das estratégias utilizadas na personalização do ensino não cabe no teor destas crónicas. No entanto, no âmbito das formações inicial e contínua dos professores, abre-se um vasto campo de intervenção que deveria ser explorado para bem dos alunos e da sociedade.

                                                                          Mário Freire

sábado, 17 de março de 2012

ASAS


O ideal tem vários níveis;
rumo ao alto, há mais visão.
As descidas são possíveis,
mas dão azo à frustração.

Atingido um patamar,
na espiral da própria vida,
jamais nele convém ficar:
O sentido é a subida.

 Vivo apelo houvera em mim:
Às alturas! - Mas, por mal,
limitei-me a gatinhar.

Descobri, até que enfim,
que, ao dar Deus um ideal,
nos dá asas p’ra voar.

João d’Alcor

quinta-feira, 15 de março de 2012

EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA


          O tema da sexualidade se tem a ver, essencialmente, com as relações entre pessoas naquilo que elas têm de mais íntimo, ele, por sua vez, tem reflexos a vários níveis na sociedade. E essas relações entre pessoas e as consequências que delas decorrem são de tal modo significativas que as principais instituições de uma sociedade como sejam a família e a escola mas também as religiosas e as políticas, delas não possam alhear-se.
            Quando a abordagem desse tema salta para o espaço público da escola, é natural que ela suscite reacções diversas, pois estas reflectem princípios e valores subjacentes ao modo por que cada um vê a sexualidade.
Tratando-se da educação de algo a alguém, há que, em primeiro lugar, definir o que se pretende ensinar e, depois, gizar a metodologia, tendo em vista as características do público-alvo.
Ficar-me-ia, apenas, pela enunciação de três princípios que, em meu entender, deveriam presidir à definição dos objectivos da educação desta matéria.
Um deles é o de que a sexualidade é um dos fenómenos talvez dos mais complexos, mas também dos mais fascinantes de estudar, e de que a Natureza se serve para que os seres vivos possam continuar a existir. Enquadrar a sexualidade humana no mundo dos seres vivos, dando-lhe uma maior abrangência, é conferir-lhe maior dignidade e revelar ao aluno um certo sentido de irmandade com tudo aquilo que é a vida.
Um segundo princípio é o de não cingir o ensino da sexualidade humana a aspectos meramente orgânicos e descritivos dos sistemas reprodutores masculino e feminino e da relação sexual e a puras medidas higienistas, tendo em vista a informação sobre métodos contraceptivos, o de prevenir a sida, outras doenças sexualmente transmissíveis, evitar as gravidezes indesejadas e o aborto. Sem omitir tal informação, reduzir a educação sexual a este tipo de matérias é retirar-lhe a grandeza e a especificidade que ela assume na humanidade. Nem toda a sexualidade é sexo.
Um terceiro princípio é o de sublinhar que homem e mulher, apesar da igualdade de direitos e deveres perante a lei, as instituições e o mercado de trabalho de que ambos devem gozar, são física, psicológica e ontologicamente complementares. A sexualidade de ambos não é um mero dado biológico mas ela distingue-os nas suas maneiras mais profundas de ser e de estar; homem e mulher comunicam, exprimem e vivem o amor humano de modos diferentes. Por isso, falar de sexualidade sem abordar a afectividade é amputar a parte talvez mais significativa da relação entre os sexos.
Não será por a sexualidade ter sido, nos tempos que vão correndo, mais orientada para o prazer do que para o amor que a sociedade, em geral, e as famílias, em particular, estão sofrendo disfunções de que os filhos são os primeiros a sentir as consequências?  

                                                        Mário Freire

terça-feira, 13 de março de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 1



                                                   Introdução

Precisando o alcance do processo educativo, Roberto Assagioli, o fundador da psicossíntese, esclarece: “A educação tem sido frequentemente considerada como sinónimo de ‘instrução’, ou seja a transmissão de conhecimentos e de informação. Mas a educação, no verdadeiro sentido da palavra, constitui algo diferente, inclusivo e, de certo modo, oposto. A instrução significa ‘introduzir’ alguma coisa que falta, colmatar um vazio. Em contraste, o significado etimológico do termo ‘educação’ é pôr fora, fazer sair o que está dentro; ou seja trazer à luz o que está escondido, tornar actual, desenvolver, o que é apenas potencial.” Propondo a “educação psicossintética” e referindo-se à “psicossíntese educativa”, entende que esta “deve ser feita primeiramente em família” e considera a necessidade de a “introduzir em todos os graus da escola, desde o nível elementar até à universidade.”
A psicossíntese, uma vez entendida como disciplina ou método de educação, engloba uma síntese que provém de uma abrangência interdisciplinar para a qual é adequado introduzir o termo ‘educologia’. Este neologismo é particularmente pertinente na abordagem psicossintética, traduzindo um modelo de educação alargado a uma constelação interdisciplinar conjugada em teor de complementaridade. Não basta integrar, entre outros, os conceitos já referidos de pedagogia, psicagogia, andragogia e o relacionamento da psicanálise com a psicossíntese. A interdisciplinaridade é fundamental em educologia, tendo em conta diversas disciplinas afins, designadamente a Antropologia, a Etnologia, a História, a Sociologia, a Literatura, as Belas-Artes, a Espiritualidade, a Medicina, a Ecologia, a Higiene, a Ética e o Civismo. O princípio a ter em conta é o seguinte: Quem apenas sabe apenas de uma disciplina, nem dessa mesma disciplina sabe. É indispensável, em psicossíntese, o contexto interdisciplinar alargado que caracteriza a educologia.
O educólogo procura viver e fomentar uma visão ao mesmo tempo global e sintética, confiante e optimista, consciente do potencial latente em si mesmo e em todos, individualmente cultivado, socialmente compartilhado e universalmente integrado. Para melhor precisar a especificidade e originalidade da psicossíntese educativa, segue o tríptico de um código de conduta constituído por qualidades a cultivar, obstáculos a transformar e princípios a honrar. Sob estes três tópicos será apresentada, resumidamente, uma série de dados característicos da educologia.

                                                          João d’Alcor

domingo, 11 de março de 2012

DESENVOLVIMENTO E SOLIDARIEDADE - IX


                                 Solidariedade e sustentabilidade

            A que tipo de desenvolvimento se assiste, nos dias de hoje? Muitas das pequenas e médias empresas, que até há pouco tempo tinham viabilidade, estão agora a falir, enviando para o desemprego, todos os dias, dezenas de pessoas.
Começamo-nos a perguntar: será que todos aqueles que são obrigados a fechar as portas das suas empresas, aqueles que têm que ir para casa por falta de trabalho, se estão a tornar prescindíveis, ficando a mais nesta sociedade que está a sofrer transformações rápidas e profundas?
O desenvolvimento médio, per capita, da humanidade, aumentou imenso. Mas isso contribuiu para diminuir o fosso entre os poucos que têm muito e os muitos que nada têm?
Por outro lado, as paisagens naturais estão em franca degradação, assistindo-se a uma redução drástica da biodiversidade; as alterações climáticas são já uma inquietante realidade, com consequências ainda não completamente inventariadas, em múltiplos sectores da actividade humana.
Decorre destas questões e problemas que há que fazer algo por parte daqueles que detêm os poderes, sejam eles o político, o económico e o financeiro, para que as sociedades e as pessoas de agora possam beneficiar dos saberes que hoje estão disponíveis para que o trabalho e o emprego sejam um instrumento de valorização pessoal e de autonomia financeira; para que se possam extirpar a fome e as condições degradantes em que uma parte da humanidade ainda vive.
Mas esses poderes têm que olhar, igualmente, para o futuro, para as gerações vindouras a fim de que elas não venham a encontrar um mundo ainda mais desigual, sob o ponto de vista social, e mais desregulado, sob o ponto de vista ambiental. Para isso, o desenvolvimento tem que incorporar medidas e preocupações em que o lucro não seja medido apenas por factores financeiros; tem que contemplar vertentes ambientais que dêem sustentabilidade a uma exploração correcta dos recursos naturais e tem, finalmente, que eleger a solidariedade como meio que proporcione um maior equilíbrio entre os países e entre as pessoas de um mesmo país, proporcionando-lhes mais educação, mais saúde, mais emprego, enfim, mais dignidade.   

                                                                             Mário Freire

sexta-feira, 9 de março de 2012

AURA



Aura há em todo o ser,
variando em seu fulgor,
que nem todos sabem ver,
quer na forma, quer na cor.

Se, de facto, tal não vemos,
nada obsta tenha efeito.
Fulgor dela já nós temos,
na beleza de um conceito.

O ter olhos e não ver
pode e bem acontecer,
dada a falta de atenção.

Se presente em quanto existe,
detectá-la em que consiste?
Segredo é do coração.

João d’Alcor

quarta-feira, 7 de março de 2012

O COMPARATIVISMO


              Mais um neologismo trazido pela globalização e que alude ao facto de os resultados de um país estarem constantemente a serem confrontados com os dos outros. Assim acontece com os testes PISA, em matéria de educação; o mesmo ocorre em múltiplos outros domínios, como saúde, ambiente, desemprego, economia... Já não estamos sozinhos no mundo e essa presença obriga-nos a compararmo-nos com outros naquilo que temos e naquilo que somos.
            Ora, este comparativismo, se é feito em temas de relevância na sociedade, como o da educação, deve produzir consequências políticas. Assim, quem se preocupava com a Finlândia há uma dúzia de anos? E, no entanto, ela encontra-se, hoje, no cerne dos debates sobre a educação! O que torna este país um caso de estudo que pode inspirar-nos a melhorar o nosso sistema de ensino? Uma questão que, certamente, deveria merecer a melhor das atenções e de cuja resposta poderiam sair algumas linhas de actuação que inspirassem os nossos decisores políticos!
            É certo que cada sistema educativo reflecte uma certa identidade nacional e mostra um conjunto de particularismos ancorados nas mentalidades de cada país. A corroborar esta afirmação está o estudo efectuado pela OCDE em que os resultados escolares imputáveis ao PIB são, apenas, em 6%, enquanto que 94% desses resultados têm a ver com as políticas educativas que se conduzem. Ora, podem fazer-se evoluir os sistemas educativos, preservando a identidade. Tentar copiar o sistema educativo japonês ou sul-coreano, cujos países têm culturas bastante diferentes da nossa, só pelo facto de terem obtido bons resultados nos testes PISA, seria pouco sensato. Mas, dentro da matriz europeia, com uma base cultural comum de índole cristã, como é a finlandesa, talvez tenha pertinência fazer-se uma análise ao que ali se passa.
Por outro lado, nenhum sistema educativo europeu pode ser olhado como uma realidade única. O observador que tenha em consideração esse comparativismo tem que aceitar, por vezes, factos que nos deixam perplexos. Assim, como explicar que os professores finlandeses não sejam nem inspeccionados nem avaliados?! Seria possível, na nossa cultura de desconfiança recíproca entre o Estado e o cidadão, tal acontecer? O que seria necessário mudar para que essa confiança mútua (não, apenas, no domínio da educação) pudesse ser uma realidade entre nós? E que resultados poderiam decorrer para a sociedade dessa consciência de ser cidadão, com a inerência dos direitos e deveres que isso acarreta? Trata-se, sem dúvida, de uma questão cultural mas, também… de uma questão de ética!

                                                                                 Mário Freire

segunda-feira, 5 de março de 2012

ATMOSFERA



Atmosfera... Eis o nome
dado ao Ar que respiramos.
Ninguém há que não o tome;
mas quão pouco dele cuidamos.

Habitando nossa Esfera
deste Bem toda envolvida,
pouca gente considera
quanto dele depende a Vida.

Face a tanto esquecimento,
tem o Dom que respiramos
o ar triste de um lamento.

Sem perder um só momento,
urgente é que todos vamos
dar alento ao nosso Alento.

João d’Alcor

sábado, 3 de março de 2012

APOSENTADOS EDUCADORES


Não! As palavras não estão trocadas. O que se trata é de pessoas de várias formações académicas e profissões e que, uma vez aposentadas, resolveram colocar os seus conhecimentos e experiências, benevolamente, a ensinar os outros. Foi com este espírito que nasceu em 1990 uma associação, em França, denominada de “Agrupamento de Aposentados Educadores sem Fronteiras”.
É o espírito de voluntariado que dá corpo a esta organização. Os seus associados entendem que ainda têm muito para dar, ensinando, apesar de terem chegado ao fim da sua carreira profissional.
Esta Associação, o GREF, conta com mais de 500 associados activos, oriundos dos sectores da educação, da formação de adultos, do trabalho social, da economia…. As suas actividades situam-se em França mas, também, no estrangeiro, principalmente em países em desenvolvimento.
A Educação para o Desenvolvimento é uma das vertentes a que esta Associação dá maior ênfase. Assim, em território francês, desenvolveu acções em vários domínios como o da animação pedagógica, educação para a cidadania, colaboração com instituições locais…, visando públicos variados, especialmente, os juvenis.
Mas estes aposentados educadores também intervêm fora da Europa. A título exemplificativo, em África, eles formam alfabetizadores, dão formação a responsáveis por casas de acolhimento de crianças, ensinam higiene e saúde a mães, proporcionam a reinserção de jovens descolarizados…
O voluntariado é um agente de transformação social. Ao assentar na doação de tempo e de conhecimentos, o trabalho voluntário faz apelo a um novo paradigma de relação entre as pessoas. Numa época de liberalização económica, em que os interesses individuais parecem sobrepor-se aos valores, o voluntariado apresenta à sociedade uma outra maneira de relacionamento inter-pessoal que não passa, necessariamente, pelas actividades lucrativas e interesseiras.
            O trabalho voluntário não deve substituir as acções do Estado ou aliviar as instituições governamentais das suas obrigações. Muito menos, ainda, ele não deverá ser entendido como estratégia para reduzir custos. Mais do que suavizar as situações de carência, o voluntariado servirá, fundamentalmente, para aprofundar as mudanças positivas no sentido de uma maior igualdade de oportunidades e, assim, constituir-se numa das maneiras de combater as grandes desigualdades sociais.

                                                                         Mário Freire

quinta-feira, 1 de março de 2012

OS PAÍSES OCIDENTAIS, O INSUCESO E O ABANDONO ESCOLARES



A redução do insucesso escolar é desejável tanto no plano social como no plano individual. Também pode contribuir para o crescimento económico.
Os sistemas de ensino com melhor desempenho entre os países ocidentais são aqueles que combinam qualidade e equidade.
Equidade na área da educação significa que circunstâncias pessoais ou sociais como o género, a origem étnica ou o meio familiar não representam nenhum obstáculo para a realização do potencial educacional e que todos os indivíduos atingem, pelo menos, um nível mínimo básico de formação. Nesses sistemas educativos os alunos têm a possibilidade de atingir altos níveis de formação, independentemente das respectivas condições pessoais e socioeconómicas. Todavia, entre os países ocidentais, quase um entre cinco alunos não atinge o nível básico de formação que lhe permita integrar-se nas sociedades de hoje (o que denota falta de inclusão).
Os alunos oriundos de meios desfavorecidos no plano sócio económico têm duas vezes mais probabilidades de ter fraco aproveitamento escolar, o que significa que as circunstâncias pessoais ou sociais representam obstáculos para a realização do potencial educacional (o que denota falta de equidade).
A falta de inclusão e de equidade agrava o insucesso escolar, cuja manifestação mais visível é o abandono escolar.
Os custos (numa perspectiva económica e social) do fracasso e do abandono escolares são altos, ao passo que a realização com êxito da formação secundária proporciona aos indivíduos melhores empregos e perspectivas de vida mais sadias, o que resulta em maior contribuição para o orçamento público.
As pessoas com nível de formação mais elevado contribuem para um aperfeiçoamento democrático das sociedades e para uma maior sustentabilidade da economia, tornando-as menos dependentes de subsídios públicos e menos vulneráveis aos revezes económicos.
As sociedades que dispõem de indivíduos com bom nível de formação têm mais capacidade de reagir às crises presentes e futuras. Por isso, o investimento na educação pré-escolar, primária e secundária para todos, e em particular para as crianças oriundas de meios desfavorecidos, é equitativo e também eficiente no plano económico.
Os governos podem reverter o fracasso escolar e reduzir o abandono escolar, eliminando as práticas do sistema que dificultem a equidade, em particular nas escolas desfavorecidas cujos alunos apresentam fraco aproveitamento. Mas as políticas educacionais têm, necessariamente, de ser alinhadas com outras políticas governamentais.

                                                          FNeves