sexta-feira, 14 de outubro de 2011

VIAS DE REALIZAÇÃO - 3


                                                  Via humanitária

Esta via de realização é também designada “via ética”, e “via do serviço activo”, ou “via de acção social”, dado que especificamente orientada para causas humanitárias. Assagioli lhe dá a designação de “via de serviço humanitário e de heroísmo”, dada a estreia conexão com a via heróica. A diferença é que a via heróica coloca o acento na acção, enquanto que a via humanitária se focaliza no serviço prestado.
A via heróica privilegia o que; a via iluminativa aprofunda o porque; a via humanitária precisa o como, numa perspectiva de uma aplicação altruísta de carácter englobante, que Assagioli ilustra com o cenário de uma entrevista a três talhadores de pedra colocando a exemplificação do sentido humanitário no terceiro entrevistado. À pergunta “o que está fazendo?”, o primeiro contesta, mal humorado: “Não está vendo? Estou picando a pedra.” O segundo responde, entre resignação e lamento: “Trabalhando para sustento meu e da família. Não tenho outro remédio: Por sua vez o último exclama, jovialmente: “Estou a construir uma catedral!” Tirando a lição do caso, Assagioli comenta: “O serviço prestado à humanidade constitui uma das melhores fontes de alegria. O primeiro benefício é o de nos esquecermos de nós mesmos, saindo da cabine de aço da nossa personalidade.” Prova esta via quanto a realização de si mesmo inclui o sentido humanitário que revela uma co-identificação alheia a todo o ensimesmamento de teor autista.
A via humanitária apela para a perspectiva transpessoal que engloba e dinamiza a personalidade num contexto que a ultrapassa. Esta perspectiva é cultivada na filosofia da educação oriental designada “Karma-Yoga” que coloca o serviço prestado em pé de igualdade com a contemplação. Leva isto a concluir, em termos de auto-realização, que o próprio progresso espiritual é incompatível com a privatização. A abertura à dimensão transpessoal vai de par com a abertura aos outros.

                                                                           João d’Alcor