- Meu Alentejo, aqui me tens!...
Como uma vaga no mar alto da planície
Que, na lonjura cresce e, por detrás
de uma colina, desaparece. Como uma ave que se lança de um penedo
para, num ápice, se esconder por
entre o arvoredo.
Trago brisa, trago vento, semeio afetos e
rosas
e, também, pinto a doçura nas asas das
borboletas.
Venero a saia rodada, o avental de folhos que
nos bolsos tem bordados raminhos de violetas.
Trago seiva, trago pão, trago a força
da semente.
Canto a verdade da terra, o vigor da
sua gente.
Às papoilas dou a mão, beijo o trigo e vou
contente.
Eu que sonhava ser nuvem, ser seara, ser
ribeira
Dou comigo, a escrever versos;
versos que cheiram a feno, a piorno, a esteva,
à giesteira
e aos sargaços que rebentam à sombra
da pedreneira.
Venho do nascer do sol, venho dos
lados da aurora
onde mora o girassol.
Bebo as estrofes nas fontes, resguardo-as da
ventania.
Que, por graça ou zombaria, racha as
esquinas dos montes.
Trago sonhos e poetas!...
Trago versos cheios de “Muito” numa
Poesia de “Nada”
em quintilhas, em sonetos, oitavas,
sextilhas, quadras.
Trago rimas coloridas em palavras
desbotadas;
mais os anseios do meu Povo, a rasgar
as madrugadas.
Às vezes, apanho do chão um
”punhadinho” de Terra.
Aperto-o na minha mão, delicia-me o
seu cheiro.
Tão genuíno e lavado como a água do
ribeiro.
… Não sei o que habita em mim, p´ra
lá de mim.
Não sei o que me esconde o meu olhar.
Sei que em manhãs de maresia, se
m´invade a nostalgia
caminho p´lo Alentejo Adentro e dou
comigo a chorar.
SEI que sou, como diz Florbela Espanca:
“Sou filha da charneca erma e selvagem
Os giestais por entre os romaninhos
Abrindo os meus olhos d´oiro p´los caminhos
Da
minh´alma ardente são a imagem.”
Sei tão pouco ou quase “NADA”. Acreditem!... Quanto mais os
anos vão passando, mais me dou conta desse meu saber tão escasso no respeitante
à Cultura, ao Mundo e à Vida. Sei que a minha Terra é “pobre” mas, simultaneamente,
”muito rica”. Sei que nos consideram “simples e pequenos” mas, a verdade, é que
aspiramos a ser grandiosos. Como diz F.
Pessoa – Alberto Caeiro: “Não somos
do tamanho da altura que temos mas, sim, do tamanho daquilo que vemos”.
Apesar de estar consciente da dificuldade de tão arrojada
caminhada, tenho para mim que o Futuro
se constrói hoje e, a Estória, essa,
se escreve ou reescreve todos os dias.
Sei que o meu Alentejo é um jardim – um imenso jardim - repleto de Estória e de
tradição; uma amálgama de cores, de verdes e de flores, prados multicores, sonhos
e convição. Lembro Vergílio Ferreira
que tanto amou o Alentejo e bastante o exaltou, especialmente, no livro “APARIÇÃO”. Atrevo-me a pegar nas suas palavras,
tentando adaptá-las:
…“O Alentejo, também, é
um dos lugares onde a história se fez jardim. No Alentejo, não se morre,
passa-se vivo para o outro lado, porque a morte se torna impossível no vigor da
beleza. “
É minha intenção não esquecer José Régio, Grande Poeta e alentejano convicto. Cito :
Alentejo,
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutos
d´oiro
Vê se vês terras d´Espanha,
areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro.
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Aqui me tens, meu Alentejo!... Com a
minha Poesia. Não para aplausos ou honrarias pois, neste âmbito, julgo
enquadrar-me no pensamento prodigioso de F.
Pessoa, cito: “- Ser Poeta não é uma
ambição, minha. É, apenas, a minha forma de estar sozinho.”
Aqui, estou. De olhos postos no Futuro mas,
nunca alheada do passado - do meu passado igual ou parecido a tantos outros -
do teu passado, Alentejo, o qual,
nunca deixaremos que se apague e, cujo eco, faremos perpetuar p´los séculos
fora. Hoje, sabemos que é preciso viver
o tempo de “AGORA” embora, em nós, esteja sempre guardado um tempo de “OUTRORA”. Aprendi com os
Homens e Mulheres da minha Terra que só as raízes nos permitem a construção de uma identidade forte, de um percurso intenso que nos convida a transbordar
de emoções e de afetos. Quando as raízes se perdem ou não se alicerçam fica,
apenas, o rasto, o traço, a linha. Uma
mera soma de circunstâncias que o virar do tempo poderá, ou não, contabilizar
para os registos da história. No arame da vida, da vida singular de cada um,
permanecemos, por vezes, perdidos e agastados, sem rumo e sem norte - como os “malteses”
- até nos reencontrarmos e acharmos “palheiro enxuto”. Pelo caminho do imediato é que se atinge o futuro. É
preciso é saber que a legitimidade do
sonho só tem por fronteiras os limites do
Homem. Importa, é acreditar que o
porvir passará pelas estradas que soubermos desbravar e construir. Importa, ainda,
não esquecer que a inércia ou lentidão na ação poderá ameaçar ou travar o
avanço dos tempos vindouros. Por isso, temos pressa: Monforte, Santo aleixo,
Portalegre, Évora, o Guadiana são, apenas, marcas na soma dos caminhos já
percorridos. Mas, iremos mais longe!..
Até onde o sonho, o empenho e a coragem nos levar. Por mim, irei até onde a
vida, a saúde e a Poesia me deixar
ir e Deus quiser. Se o que escrevo
soará ou vingará, pouco me interessa. Digo como Edson Athayde:
“Se não houver fruto valeu a tentativa da flor;
Se não houver flor valeu
a existência da árvore;
Se não houver árvore
valeu a intenção da semente.”
É contigo e,
só contigo, que quero ficar meu Alentejo. Para te louvar, para te bendizer.
Contigo e com “as gentes” da minha
Terra tentarei abrir as portas do Futuro. Onde estiverem os nossos antepassados
que se orgulhem de nós e da forma como nos direcionamos rumo ao TRABALHO, à PAZ e à dignificação da VIDA.
Aldina Cortes Gaspar
Lançamento do livro ALENTEJO ADENTRO
Edição: Câmara Municipal de Monforte (31/Maio/2015)