quinta-feira, 10 de abril de 2014

PARA UMA HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA (8)


                                          Alcide d'Orbigny


         Ainda em Inglaterra, o já referido William Daniel Conybeare (1787-1857) foi um dos mais distintos geólogos e paleontólogos do seu tempo. Tendo tomado ordens sacras em 1814, tornou-se pároco de Wardington, perto de Banbury, no condado de Oxfordshire, e leitor em Brislington, nos arredores de Bristol, sendo um dos fundadores, em 1822, do Instituto Filosófico Bristol.
Foi vigário de Axminster e, depois, deão de Llandaff, no País de Gales. Atraído para a geologia, ao seguir as palestras de John Kidd (1755-1851), Conybeare ficou na história da paleontologia pelos inovadores estudos que realizou, na década de 1820, sobre os fósseis de répteis marinhos, nomeadamente ictiossáurios e plesiossáurios, publicados pela Sociedade Geológica de Londres, de que foi um dos primeiros e mais activos membros.
Anos mais tarde, em França, o naturalista Alcide Charles Victor Marie Dessalines d'Orbigny (1802-1857), de projecção mundial na área da paleontologia e da estratigrafia, foi ainda zoólogo com obra reconhecida no domínio dos invertebrados.
Estudou no Museu de História Natural de Paris com Georges Cuvier e viajou durante sete anos pelo continente sul-americano em missão deste Museu, reunindo uma colecção de mais de uma dezena de milhares de exemplares zoológicos e paleontológicos, cujo estudo foi publicado em La Relation du Voyage dans l'Amérique Méridionale pendant les annés 1826 à 1833, em sete volumes e dois atlas. O naturalista inglês Charles Darwin, seu contemporâneo, classificou esta obra como um dos grandes monumentos da ciência. Regressado a Paris, d'Orbigny estudou pormenorizadamente a fauna fóssil do Jurássico e do Cretácico de França e a sua distribuição estratigráfica pelos andares Toarciano, Caloviano, Oxfordiano, Kimeridgiano, Aptiano, Albiano e Cenomaniano. Este volumoso trabalho, no qual descreveu cerca de 3000 espécies e figurou 1000 estampas, foi publicado entre 1840 e 1858, em oito volumes, sob o título La Paléontologie Française.
No seu Prodrome de Paléontologie Stratigraphique, em três volumes, editado em 1849, descreveu milhares de espécies, com anotações sobre as respectivas posições estratigráficas. Ao estudar a fauna marinha, d´Orbigny interessou-se especialmente por um grupo de organismos minúsculos a que deu o nome de foraminíferos. Seguidor de Cuvier, seu mestre, não aderiu às ideias evolucionistas de Lamarck. Permanecendo fiel ao catastrofismo, defendeu a ocorrência de múltiplas criações ao longo do tempo geológico, terminadas por cataclismos.
A “Colecção d’Orbigny”, com cerca de 100 000 exemplares, é um dos mais valiosos patrimónios do Museu de História Natural de Paris. Entre esta colecção merece destaque a representação dos briozoários actuais e fósseis, com milhares de exemplares, fruto de uma muito especial atenção que deu a este grupo de invertebrados.
Em 1853, o Museu onde sempre trabalhou, criou a primeira cadeira de Paleontologia, cuja regência lhe entregou, em reconhecimento da sua volumosa e valiosa obra. Quando D. Pedro V de Portugal visitou Paris, d’Orbigny ofereceu-lhe, entre outros materiais, uma magnífica colecção de fósseis que, depois, o monarca mandou entregar no Museu de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica de Lisboa.
Médico inglês, destacado na Índia, Hugh Falconer (1808-1865) é lembrado por ter descoberto o primeiro fóssil de um símio. Os seus conhecimentos de geologia e paleontologia levaram-no a interessar-se pelos Montes Siwalik, no Nepal, e a descobrir aí importantes jazidas fossilíferas de mamíferos do Neogénico.
Regressado a Inglaterra, continuou a fazer as suas investigações geológicas e paleontológicas e a preparar réplicas destinadas aos principais museus da Europa.
Falconer defendeu que, ao longo do tempo geológico, se verificou a existência de longos períodos de invariabilidade da evolução das espécies, alternando com curtos períodos de rápida mudança evolutiva. Esta visão antecipou de um século a Teoria do Equilíbrio Pontuado, proposta em 1972 pelos paleontólogos Niles Eldredge (1943-) e Stephen Jay Gould (1941-2002), que, no pensamento destes norte-americanos, se afirma que a maior parte das populações de organismos de reprodução sexuada experimentam pouca mudança ao longo do tempo geológico e que, quando ocorrem mudanças evolutivas, no fenótipo, elas se dão de forma rara e localizada, em eventos rápidos de especiação.

                                           Galopim de Carvalho