As Escolas do
Magistério Primário, até à Revolução de Abril, davam corpo a um sistema de
formação de professores onde a ideologia do Estado Novo, com todos os seus
valores e contra-valores, estava bem patenteada. Por isso, os novos detentores
do poder, naqueles primeiros tempos de Abril, as elegeram como um dos alvos
prioritários.
Pretendia-se,
então, alterar profundamente não só o funcionamento dessas escolas como,
também, a estrutura curricular do curso nelas ministrado. Desejava-se que elas
fossem as formadoras daqueles que seriam modelos importantes das futuras
gerações. Os professores delas saídos, espalhando-se por todo o País, indo até ao
local mais recôndito, contactando com os pais e as populações, deveriam ter o
encargo de ser o gérmen de um novo País, com uma nova mentalidade.
Não
foi por acaso que a substituição de todos os seus antigos directores decorreu
de um mero acto administrativo. Por isso, as Escolas do Magistério Primário foram
as únicas instituições de ensino em que vigorou a nomeação governamental da
figura do director, logo após a Revolução, ao contrário do que estava a ser
levado a cabo nos ensinos preparatório, secundário e superior, para que os
novos directores, tendo a confiança política do poder, pudessem levar a cabo as
reformas que se julgavam necessárias, tendo em vista a formação de um novo
professor.
Houve,
pois, uma certa incoerência formal entre a urgência da democratização do
sistema de ensino e a ausência de uma qualquer eleição que tivesse sufragado a
direcção destas escolas.
Passados
que foram 40 anos, o que resta das acções que tentaram dar corpo a esses ideais,
alguns rondando a utopia, de fazer da escola e do professor do ensino primário
um elemento de vanguarda para a transformação da sociedade?
Mário Freire