quinta-feira, 24 de abril de 2014

25 DE ABRIL: O QUE SE DESEJAVA QUE FOSSE UM PROFESSOR DO PRIMÁRIO



            Nada na escola é neutro. Os alunos aprendem coisas que ultrapassam aquilo que lhes é ensinado pela via institucional. E essas aprendizagens têm a ver com múltiplos factores: modos como os alunos se relacionam; modos como os professores se relacionam com os alunos dentro e fora da sala de aula; hierarquias explícitas e implícitas dentro da escola; expectativas em relação aos alunos; formas de participação dentro da escola; interacções da escola com o meio envolvente e com a comunidade em geral…
São todos estes relacionamentos, expectativas, interacções e vivências, não explicitados nos manuais ou programas, que ajudam a construir conhecimentos, valores e motivações e que adquirem uma importância, por vezes maior do que expressamente está estatuído através dos programas. É o currículo oculto que, fundamentalmente, define uma cultura organizacional e que, numa escola de formação de professores, como a Escola do Magistério Primário, iria assumir uma importância maior.   
            Seria, pois, a partir deste tipo de currículo mas, também, de um novo plano de estudos, com a criação de novas disciplinas, extinção de outras e na reformulação de algumas que já existiam, que se pretendia construir uma concepção diferente de professor do ensino primário; a ele iria pedir-se o desempenho de um conjunto de papéis, na sua prática profissional, que ultrapassasse o simples dar aulas, intervindo nas condições exteriores de modo a proporcionar à criança o ambiente mais adequado ao seu desenvolvimento.
            Desejava-se que ele não se limitasse a ser um mero observador de situações desfavoráveis, mas que tentasse, também, encontrar soluções. Queria-se um professor do ensino primário que fosse, também, um obreiro social não só junto dos pais mas, igualmente, junto das populações, principalmente aquelas situadas mais no interior ou que mais isoladas se encontrassem. Uma utopia ou uma realidade alcançável?


                                                                                                 Mário Freire