A
vida é uma tentativa constante de nos tornarmos verdadeiros autores da nossa
história, sermos livres nas nossas escolhas, tal como quando um escritor
escreve um livro e decide, livremente, o que fazer com a narrativa.
No
entanto, ao tentarmos fazer isso, encontramos obstáculos e refugiamo-nos com
alguma facilidade no sentimento de que não somos nós quem criou as nossas
vidas. Sentimo-nos conduzidos pelas normas culturais, pelas expectativas da
família, pelas necessidades sociais, etc.
Por
outro lado, somos animais com consciência, não nos limitamos a existir. Temos
uma relação com o que acontece ao nosso redor e com os outros, através de uma
identidade que não nos é dada mas que somos nós que construímos, na sequência
do que pensamos e do que sentimos.
No
fundo, fazemos uma espécie de bricolage: somos artistas sem começarmos do zero,
pois não nascemos com uma folha em branco para escrevermos a nossa vida. As
matérias de base são-nos presenteadas, o que significa que grande parte da
nossa vida é-nos dada sem a termos escolhido: a nossa família, o país, a
condição social, o sexo, a beleza… o resto é construção. A nossa situação
existencial é a de construir as nossas vidas com base em materiais pelos quais
não houve opção, tal como um artista que é obrigado a trabalhar com
determinados materiais para a sua criação.
Onde
está então a nossa liberdade? Onde está a capacidade de nos tornamos pessoas
diferentes? Está na possibilidade de construirmos o que quisermos com esses
materiais. A nossa missão é transformarmos esta história numa obra na qual
experimentamos verdadeiramente o que somos, isto é, tornamo-nos autores das
nossas vidas, mesmo que não tenhamos sido nós a começar a história.
Não
vale a pena viver na frustração dos materiais que não temos, pois quanto a isso
não há nada a fazer. Mas dentro do que temos, há possibilidades infinitas de
criarmos histórias únicas e admiráveis: a de sermos nós próprios!