sábado, 2 de abril de 2016

O ENCANTAMENTO E O MISTÉRIO DA VIDA




No ensino da vida e nas suas diferentes formas, normalmente, estudam-se nos seres vivos, os órgãos, as funções dos mesmos, o seu modo de funcionamento, as relações entre eles. Mas para além disso, há que extrair do ensino da vida a coordenação precisa existente entre os diversos órgãos, assim como a inter-relação entre os diferentes seres vivos, sejam eles animais ou plantas.
Repare-se no seguinte exemplo: a concentração de açúcar no sangue mantém-se constante ainda que não haja ingestão de açúcares. A concentração mantém-se também constante, apesar de uma ingestão excessiva de açúcar.
 Ora, o que leva, em última análise, um organismo saudável a manter o seu funcionamento regular? A resposta a esta questão está num princípio que rege os seres vivos e que é chamado de regulação e homeostasia. Este princípio baseia-se no conceito de flexibilidade dos órgãos de modo a manter-se um equilíbrio entre as mudanças que ocorrem em partes do organismo, em resposta às mudanças das condições externas. O equilíbrio leva à estabilidade do organismo como um todo. Ora, esta estabilidade, resultante da flexibilidade dos órgãos, conduz a que, por exemplo, quando se destrói parte do cérebro, as regiões adjacentes podem assumir algumas ou todas as funções da região destruída.
Este princípio da regulação e da homeostasia que regula os seres vivos é, de facto, assombroso e, a par dele, muitas perguntas poderiam ser feitas sobre o aparecimento e funcionamento da vida. Muitas delas ainda ficam sem resposta.
Mas se nos voltarmos para uma unidade da vida que se chama célula, aí as questões que se levantam continuam a ser complexas. Ela que, normalmente, só pode ser observada ao microscópio, encerra uma multiplicidade de estruturas onde se armazena energia, onde têm lugar inúmeras reacções químicas e muita informação. O seu núcleo tem abundante informação sob a forma de ácidos nucleicos (por ex. o ADN), os quais vão orientar sínteses proteicas e a explicitação dos vários caracteres de um organismo.
É este mistério que envolve a vida que merecia ser reflectido na escola e não se ficar pela mera descrição morfológica ou funcional dos órgãos. Aulas interdisciplinares com professores de biologia, filosofia e religião e moral bem poderiam discutir sobre o sentido da vida e que tipos de lições se poderiam retirar para a conduta humana.


                                                                   Mário Freire