No ensino da vida e
nas suas diferentes formas, normalmente, estudam-se nos seres vivos, os órgãos,
as funções dos mesmos, o seu modo de funcionamento, as relações entre eles. Mas
para além disso, há que extrair do ensino da vida a coordenação precisa
existente entre os diversos órgãos, assim como a inter-relação entre os
diferentes seres vivos, sejam eles animais ou plantas.
Repare-se no seguinte
exemplo: a concentração de açúcar no sangue mantém-se constante ainda que não
haja ingestão de açúcares. A concentração mantém-se também constante, apesar de
uma ingestão excessiva de açúcar.
Ora, o que leva, em última análise, um
organismo saudável a manter o seu funcionamento regular? A resposta a esta
questão está num princípio que rege os seres vivos e que é chamado de regulação
e homeostasia. Este princípio baseia-se no conceito de flexibilidade dos órgãos
de modo a manter-se um equilíbrio entre as mudanças que ocorrem em partes do
organismo, em resposta às mudanças das condições externas. O equilíbrio leva à
estabilidade do organismo como um todo. Ora, esta estabilidade, resultante da
flexibilidade dos órgãos, conduz a que, por exemplo, quando se destrói parte do
cérebro, as regiões adjacentes podem assumir algumas ou todas as funções da
região destruída.
Este princípio da
regulação e da homeostasia que regula os seres vivos é, de facto, assombroso e,
a par dele, muitas perguntas poderiam ser feitas sobre o aparecimento e
funcionamento da vida. Muitas delas ainda ficam sem resposta.
Mas se nos voltarmos
para uma unidade da vida que se chama célula, aí as questões que se levantam
continuam a ser complexas. Ela que, normalmente, só pode ser observada ao
microscópio, encerra uma multiplicidade de estruturas onde se armazena energia,
onde têm lugar inúmeras reacções químicas e muita informação. O seu núcleo tem
abundante informação sob a forma de ácidos nucleicos (por ex. o ADN), os quais
vão orientar sínteses proteicas e a explicitação dos vários caracteres de um
organismo.
É este mistério que
envolve a vida que merecia ser reflectido na escola e não se ficar pela mera
descrição morfológica ou funcional dos órgãos. Aulas interdisciplinares com
professores de biologia, filosofia e religião e moral bem poderiam discutir sobre
o sentido da vida e que tipos de lições se poderiam retirar para a conduta
humana.
Mário Freire