Num dos muitos PPS que
circulam na internet, houve um, que recebi, que tratava de um elefante adulto,
corpulento, daqueles que consegue derrubar uma árvore, que trabalhava num
circo. Acontece que o elefante, antes e depois da sua actuação, permanecia
acorrentado a uma débil estaca de madeira. Perguntaram, então, ao amestrador
por que razão o animal não fugia, ao que respondeu que ele nunca faria tal
porque, desde pequeno, estava habituado a estar amarrado a uma estaca.
Imagino, então, o
elefante, enquanto bebé, a puxar pela corrente e a não conseguir soltar-se. Ele
bem tentaria, esforçar-se-ia para se soltar da amarra que tinha no seu pé, mas
não conseguiria. Perante a impossibilidade de se libertar, resolveria, então,
aceitar a situação. Foi crescendo mas já tinha acreditado que não era capaz de
partir a amarra que o segurava a uma débil estaca de madeira.
O mesmo se passa com
muitos de nós e, especialmente, com as crianças e adolescentes. De vez em
quando sentimos as correntes do elefante a tolher as nossas aspirações, aqueles
desejos mais profundos. Acreditamos que “não podemos”, que “não vamos
conseguir.” Ora, este comportamento pode ter as suas raízes no facto de a
família não ter sido suficientemente estimulante para tentar levar a criança ou
o adolescente a realizar novas tarefas, a incentivá-los a percorrer caminhos um
pouco mais difíceis, mais sujeitos a quedas mas, talvez, mais estimulantes.
O mesmo se passa na
escola. Ela deve incentivar iniciativas feitas pelos alunos, sejam elas de
ordem cultural, de apoio social, de natureza desportiva…, em que sejam eles os
próprios organizadores, responsabilizando-se pelas tarefas a desempenhar, não
deixando, se assim for entendido, de prestar contas a quem de direito. De igual
modo, nas aulas, deveria ser deixada mais margem de liberdade aos alunos na
exploração curricular, incentivando-os a realizarem exercícios menos comuns,
experiências mais arrojadas, sem o medo de falharem ou o espantalho das
classificações, tendo oportunidade, assim, de testar as suas capacidades.
Só partindo amarras que nos tolhem na
realização dos nossos projectos científicos, culturais, de apoio social…,
poderemos construir uma sociedade mais justa, mais solidária e menos agressiva.
Mário Freire