domingo, 3 de janeiro de 2016

FICAR AMARRADO À CORRENTE

                                    



Num dos muitos PPS que circulam na internet, houve um, que recebi, que tratava de um elefante adulto, corpulento, daqueles que consegue derrubar uma árvore, que trabalhava num circo. Acontece que o elefante, antes e depois da sua actuação, permanecia acorrentado a uma débil estaca de madeira. Perguntaram, então, ao amestrador por que razão o animal não fugia, ao que respondeu que ele nunca faria tal porque, desde pequeno, estava habituado a estar amarrado a uma estaca. 
Imagino, então, o elefante, enquanto bebé, a puxar pela corrente e a não conseguir soltar-se. Ele bem tentaria, esforçar-se-ia para se soltar da amarra que tinha no seu pé, mas não conseguiria. Perante a impossibilidade de se libertar, resolveria, então, aceitar a situação. Foi crescendo mas já tinha acreditado que não era capaz de partir a amarra que o segurava a uma débil estaca de madeira.
O mesmo se passa com muitos de nós e, especialmente, com as crianças e adolescentes. De vez em quando sentimos as correntes do elefante a tolher as nossas aspirações, aqueles desejos mais profundos. Acreditamos que “não podemos”, que “não vamos conseguir.” Ora, este comportamento pode ter as suas raízes no facto de a família não ter sido suficientemente estimulante para tentar levar a criança ou o adolescente a realizar novas tarefas, a incentivá-los a percorrer caminhos um pouco mais difíceis, mais sujeitos a quedas mas, talvez, mais estimulantes.
O mesmo se passa na escola. Ela deve incentivar iniciativas feitas pelos alunos, sejam elas de ordem cultural, de apoio social, de natureza desportiva…, em que sejam eles os próprios organizadores, responsabilizando-se pelas tarefas a desempenhar, não deixando, se assim for entendido, de prestar contas a quem de direito. De igual modo, nas aulas, deveria ser deixada mais margem de liberdade aos alunos na exploração curricular, incentivando-os a realizarem exercícios menos comuns, experiências mais arrojadas, sem o medo de falharem ou o espantalho das classificações, tendo oportunidade, assim, de testar as suas capacidades.
 Só partindo amarras que nos tolhem na realização dos nossos projectos científicos, culturais, de apoio social…, poderemos construir uma sociedade mais justa, mais solidária e menos agressiva.

                                            Mário Freire