No “Livro das Pedras”,
de Aristóteles (384-322 a. C.), que se julga não ser da autoria deste filósofo,
mas sim uma compilação das suas ideias, feita por um anónimo, provavelmente um
árabe posterior ao século IX, distinguem-se “gemas”, “pedras comuns”, “metais”
e “sais” e disserta-se sobre a influência dos astros, em geral, e do Sol, em
particular, no nascimento de alguns destes objectos naturais. Na sua visão
sobre as ”influências celestiais”, o fundador do Liceu de Atenas defendia que,
sob o efeito dos raios solares, certas “exalações” se escapavam para a
atmosfera. Destas, as “exalações húmidas”, davam origem às nuvens, e as
“exalações secas”, associadas às trovoadas, condensavam e caíam sobre a Terra,
quer, frequentemente, sob a forma de granizo, quer, esporadicamente, como
pedras que sabemos corresponderem a meteoritos.
Os meteoritos são
antigos, vêm de longe e trazem consigo uma parcela da história dos começos do
Sistema Solar. Com eles se inicia a nossa própria história como parte que somos
deste mesmo conjunto. A palavra foi criada com base no termo grego metéóros que
refere o que está ou vem do alto. Os antigos designavam-nos por bólides, uma
vez que cruzavam os céus velozes como dardos.
Estima-se em cerca de
cinco centenas o número deste tipo de
meteoritos que, por ano, atingem a superfície do nosso planeta. Destes,
como é natural, dois terços perdem-se no mar. Dos restantes, caídos em terra,
só cerca de uma dezena chega ao nosso conhecimento. As estrelas cadentes são
micrometeoritos, com a dimensão de grãos de areia fina. Em queda livre sobre a
Terra, a velocidades na ordem das dezenas de quilómetros por segundo, aquecem
por atrito com a atmosfera, tornando-se incandescentes, acabando por se
volatilizar sem deixar quaisquer vestígios. Os mais volumosos resistem ao
aquecimento durante esta travessia vertiginosa, deles restando porções maiores
ou menores, que, ao colidirem com a superfície, abrem crateras de impacte de
dimensões proporcionais às respectivas massas e velocidades.
A importância dos
meteoritos é essencialmente científica. À semelhança das amostras de rochas
trazidas da superfície lunar, constituem documentos importantes para o estudo
da história da Terra e do Sistema Solar. Muitos deles mostram semelhanças com
certas rochas da Terra, nomeadamente as de natureza peridotítica do manto
superior. Para além de elementos químicos comuns na crosta terrestre (oxigénio,
silício, alumínio, ferro, magnésio, cálcio, sódio, potássio, titânio), os
meteoritos caracterizam-se pela presença de outros particularmente raros à
superfície da Terra, como irídio, platina, ósmio, paládio, ruténio, níquel,
arsénio, etc. Caracterizam-se, ainda, pela presença de ferro nativo (não
combinado), formando ligas com níquel, e combinado com enxofre, sob a forma de
troilite, um sulfureto de ferro afim da pirite, mas magnético, desconhecido na
crosta terrestre. Contêm ainda outros minerais desconhecidos na Terra. Além
destas espécies minerais são muitas as que estão identificadas na crosta
terrestre, entre as quais cobre, ouro, diamante, grafite, quartzo, feldspatos,
piroxenas, olivina e alguns sulfuretos.
O estudo destes corpos
extraterrestres levou à definição de três tipos fundamentais: os meteoritos
líticos, essencialmente rochosos; os meteoritos férreos, formados, sobretudo,
por ligas de ferro e níquel, a que se deu o nome de sideritos; e os meteoritos
simultaneamente líticos e férreos, conhecidos por siderólitos.
os meteoritos líticos, uns são
formados por pequenas esférulas milimétricas, ou côndrulos, com olivina e
piroxenas, ligados entre si por uma pasta predominantemente vítrea (amorfa);
são os condritos. Outros têm uma textura granular e ausência dos citados
côndrulos e, por isso, referidos como acondritos. As proporções entre os
elementos químicos presentes nos condritos são as mesmas que se encontram no
Sol, o que aponta para o seu carácter primitivo como amostras solidificadas da
nébula solar em arrefecimento, sendo os côndrulos interpretados como
condensados de gotículas dessa matéria primordial remanescente e em rotação em
torno do Sol recém-nascido. Tendo passado por uma fase de fusão e vaporização,
essas gotículas arrefeceram e solidificaram, como pequenas esferas, a
temperaturas próximas dos 1200 oC. Os condritos são, assim, considerados corpos
indiferenciados. São testemunhos inalterados dos primeiros corpos sólidos
gerados em torno do Sol.
A esta fase seguiu-se
a acreção dos planetas e dos asteróides que nos acompanham no Sistema Solar.
Destes, os suficientemente massivos, com mais de 500 km de diâmetro,
diferenciaram-se, à semelhança da Terra, com a formação de uma zona central,
ferro-niquélica, uma zona externa, na qual foram geradas as rochas a que
pertencem os acondritos, e uma zona intermédia propícia à coexistência de
ferro-níquel e material rochoso. Nesta concepção, largamente aceite pela
comunidade científica, acondritos, siderólitos e sideritos são considerados
meteoritos diferenciados, oriundos, respectivamente, das zonas central, externa
e intermédia desses corpos e, portanto, mais recentes do que os condritos. Após
fragmentação desses asteróides mais volumosos, na sequência de eventuais
megacolisões, os seus restos vagueiam no espaço e, sempre que se aproximam da
Terra o suficiente para ficarem submetidos ao seu campo gravítico, caem,
passando a chamar-se meteoritos.
Não chega a uma dezena o número de
meteoritos caídos em Portugal e dos quais ficou registo. São eles:
o meteorito da Tasquinha (Évora
Monte, Alentejo), em 1796, com 4,8 kg;
o meteorito de S. Julião (Ponte de
Lima), um siderito achado em 1877, com 162 kg;
o meteorito de Olivença (na
fronteira com o Alentejo), um condrito caído em 1924;
o meteorito de Vila verde da Raia
(Chaves), um acondrito caído em 1925, com 2,9 kg;
o meteorito do Monte das Fortes
(Ferreira do Alentejo), um condrito caído em 1950, com 2,1 kg;
o meteorito do Alandroal (Alentejo),
um siderito caído em 1968, com 25,5 kg;
o meteorito de Ourique (Palheiros,
Alentejo), vários fragmentos de um condrito caído em 1998.
São conhecidos dois
meteoritos interpretados como provenientes da superfície de Marte (o Shergotty,
caído na Índia em 1865, e o Queen Alexandria, descoberto na Antártida em 1994)
de onde terão sido arrancados por uma grande colisão com outro corpo sólido.
Galopim de Carvalho