sábado, 28 de novembro de 2015

TUDO É DEMAIS







Cansada de querer tanto e nada ter
Esfrangalhei o limite e quis-me libertar.
Como uma gaivota enamorada
Que cansada de ser ave, se faz mar.
Ébria de sol-pôr, escolhi a madrugada
Cansada de ser verde deixei-me amadurecer.
Vermelho escarlate de papoila
Que a mão de uma criança há de colher!...
………………………………………………………………….
Queixosa de mim mesma, de ser gente.
Exausta de ser vento e de soprar
Perdi-me na imensidão do tempo.
…Vontade de ser flor ou de chorar?!...



Aldina Cortes Gaspar

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

UM COMPUTADOR COM RODAS





            Em Setembro do ano corrente, a Agência Americana do Ambiente descobriu que muitos automóveis vendidos nos EUA dispunham de software que alterava o seu desempenho ambiental (em termos de emissão de gases poluentes) quando estavam a ser testados. Esse software, bastante sofisticado, conseguia monitorizar e controlar diversas variáveis que condicionam o funcionamento do motor. Como resultado, os motores emitiam gases poluentes com um teor, por exemplo, de óxidos de azoto muito inferiores aos valores reais. Porém, essa aparente qualidade desaparecia quando o automóvel deixava a bancada de testes e ia para a estrada.
            Os fabricantes sabem que os consumidores preferem os chamados produtos verdes e estão dispostos a pagar mais por eles. Sabem também que a legislação de muitos países é muito exigente em termos ambientais. Não existindo vontade de a respeitar, haverá então que contornar a lei de modo a chegar aos potenciais clientes que apreciam o verde, geralmente com maior sensibilidade ambiental e dispostos a pagar mais que o usual. Em tempos de crise, este poderá ser um factor decisivo na estratégia de marketing de uma empresa. Todavia, estas não podem apresentar os seus produtos unicamente publicitando as suas características que os poderão diferenciar como produto verde; terão também que convencer os clientes de que o processo produtivo, na sua globalidade, e também a própria empresa, são amigos do ambiente e contribuem para a sua preservação.
            As marcas, na sua estratégia comercial, perante a possibilidade de facturar mais uns milhões e conquistar mercado, parecem não hesitar em servir-se de todos os meios ao seu alcance para atingir os seus objectivos. Porquê, então, não equipar os automóveis com o software de ponta, que os transforme em computadores ao serviço das empresas?

                                                           FNeves



domingo, 22 de novembro de 2015

UMA TENTATIVA INTERNACIONAL DE INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO

                  



A WISE é a sigla, vertida para português, de Cimeira de Inovação Mundial para a Educação. Trata-se, fundamentalmente, de uma cimeira anual, de iniciativa da Fundação Qatar, sediada em Doha, que, desde 2009, tem procurado, através desses Encontros, congregar vultos grandes da educação de vários países. Por outro lado, tem ainda um canal de televisão que transmite vídeos sobre o ensino, focando práticas inovadoras no terreno, tentando, assim, segundo os responsáveis, “transformar as comunidades através de práticas sustentáveis que promovam a inclusão e a diversidade”.
Dizem os seus promotores que a WISE “é uma plataforma internacional, multi-sectorial para o pensamento criativo, debate e acção a nível internacional”. Por isso, ela tenta novas abordagens para a educação a fim de fazer face aos grandes desafios que hoje, um pouco por todo o mundo, as comunidades enfrentam e que são a pobreza, os conflitos, a desigualdade, o desemprego, a sustentabilidade ambiental e os desafios futuros. Ora, segundo a WISE, existe um fosso cada vez maior entre os sistemas de ensino em vigor e aqueles que são necessários para atender aos desafios presentes e futuros.
Ora, terá lugar nos inícios do próximo mês de Novembro, em Doha, a habitual Cimeira anual, agora sob o tema Investir no impacto: Educação de Qualidade para o crescimento sustentável e inclusivo” Os seus grandes temas são: 1) Os objectivos do desenvolvimento sustentável; 2) Educação e economia; 3) Promoção da inovação nos sistemas educativos.
Qualquer destes temas é aliciante e as discussões que eles irão proporcionar, se forem aplicadas, ajudarão a tornar este mundo um pouco melhor. A WISE formula, previamente, para esta Cimeira, algumas questões a todos aqueles que, directa e indirectamente, estão ligados à Educação. A título exemplificativo, eis algumas delas:
- Qual o papel dos professores e como é que eles poderão ser apoiados no desenvolvimento das suas competências, tendo em vista o ensino em diversos contextos?
- Como é que a educação pode contribuir, em todos os seus níveis, para a construção da cidadania?
- Como podem os vínculos entre a educação, o emprego e o empreendedorismo serem reforçados?
Eis umas boas perguntas para nós, portugueses, respondermos e, se possível, aplicarmos as respectivas respostas.                                   

                                                                              Mário Freire

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

FORTUNA






Ídolo d’ouro, com pés de barro,
vem a ser o milionário.
Não se livra do catarro:
Chega a Parca e adeus Ilário.

Nunca havendo mensageiro
que suborne a sobredita,
nem com montes de dinheiro
ele evita tal visita.

Ouro e barro igual valor
e não pense em os vender.
Boas obras são penhor.

Se a fortuna pôs no ser
e bom sendo administrador,
não é caso p’ra temer.

João d'Alcor


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A TERRA VISTA COMO UM SISTEMA





              Gaia, a Terra-mãe, deusa da mitologia grega.



Como introdução ao tema a desenvolver em próximos posts, é essencial apreender o conceito de sistema do contexto da termodinâmica. Neste capítulo da física, um sistema é, como o definiu o saudoso colega, Prof. Pinto Peixoto, em 1987, um espaço confinado ou limitado por um invólucro ou parede, real ou conceptual, dispondo de massa, de energia e de um conjunto organizado de elementos ou de atributos dinamicamente interactivos, inserido num determinado ambiente a que se dá também o nome de universo complementar do sistema.
As diferentes partes que eventualmente constituem um sistema constituem subsistemas e, neste caso, o sistema diz-se composto. Quando separados por paredes internas, os subsistemas dizem-se disjuntos. Relativamente à massa e à energia, os sistemas são classificados como:
- isolados, se as suas paredes impedirem trocas com o ambiente, dizendo-se adiabátios e impermeáveis;
- fechados, quando permitem transferência de energia, mas não de massa;
- abertos, quando permitem trocas de energia e de massa com o ambiente. Neste último caso, as respectivas paredes dizem-se permeáveis e diatérmicas.

Não é desejável nem fácil tratar separadamente as diversas entidades ditas esféricas constituintes do planeta que nos deu e assegura a vida. São muitas e complexas as relações entre elas como subsistemas abertos de um sistema dinâmico (neste caso, adjectivado de geodinâmico). São conhecidas as relações da litosfera com o manto, bem explicadas ao nível da tectónica de placas, e, até, com o núcleo, particularmente documentadas num determinado tipo de vulcanismo. É meu propósito explanar (a um nível de pormenor que não ultrapasse as generalidades) outras relações, nomeadamente as existentes entre as entidades mais periféricas, como são a litosfera, a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera. Como subsistemas do sistema Terra, abertos e contíguos que são, estas esferas promovem e permitem, entre si, um sem número de trocas de energia e de matéria (massa) ao longo das suas vastas e íntimas (interpenetradas) interfaces ou fronteiras. Tais transferências, mantidas ao longo de mais de 4000 milhões de milhões de anos da história do planeta, induziram as evoluções que sofreram. Tais evoluções, em muitos casos próprias do circuito externo do ciclo petrogenético (ou geoquímico), estão arquivadas, como veremos, nas rochas sedimentares.
De todos os planetas do Sistema Solar, incluindo os múltiplos satélites que os acompanham, a Terra é, tanto quanto sabemos, o único que possui uma atmosfera oxigenada, uma hidrosfera líquida e uma biosfera. A sua massa e a posição que ocupa relativamente ao Sol determinaram-lhe a composição e características ambientais que a tornam única no universo do nosso conhecimento.
Bem longe de nós, Ganimede, um dos satélites de Júpiter e a maior lua do Sistema Solar, possui uma crosta de água gelada, só possível nas baixíssimas temperaturas (-1500 a –1800 C) existentes à sua superfície. Neste contexto, o gelo é o mineral da única “rocha” ali existente à superfície, também ela gelo, de uma litosfera de gelo, ou seja, uma hidrosfera gelada, ou criosfera.
(continua)

                                   Galopim de Carvalho

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

"DO SOFRIMENTO À FELICIDADE - DA PSICANÁLISE À PSICOLOGIA POSITIVA"



 


Do Sofrimento à Felicidade - da Psicanálise à Psicologia Positiva

de Rossana Appolloni (ed. Self, 2015)

O tema da felicidade parece estar na moda. Muitas são as obras que propõem receitas aparentemente óbvias para alcançar um sentimento que não é fácil de reduzir a uma definição consensual, nem a conselhos imediatos de aplicação universal.
Ao contrário dos livros de autoajuda, esta obra de Rossana Appolloni vem argumentar com ponderação e erudição que a felicidade é um projeto individual que se constrói com dedicação atendendo às circunstâncias existenciais em que vivemos.
Recorrendo a inúmeros exemplos e invocando os grandes mestres da história da psicologia e das psicoterapias, a autora expõe conceitos fundamentais, resume polémicas e dá sugestões que induzem o leitor a conhecer alguns dos mais importantes modelos e debates da psicologia, mas também a conhecer-se melhor a si próprio.
Neste seu novo livro Rossana Appolloni expõe a evolução do counselling e das psicoterapias desde a psicanálise freudiana até ao movimento atual da psicologia positiva, esclarecendo o modo como teorias tão marcantes como o comportamentalismo, o humanismo existencial e o cognitivismo contribuíram para abrir novas perspectivas à investigação e à prática da psicologia contemporânea.
Rossana Appolloni é diplomada em Counselling pela Società Italiana de Psicosintesi Terapeutica de Florença e Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Lusófona. Publicou anteriormente o livro "Ousar ser feliz - dá trabalho mas compensa!" (ed. Self, 2014).
"Do Sofrimento à Felicidade - da Psicanálise à Psicologia Positiva" tem prefácio do Dr. Luiz Gamito (Presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos).


terça-feira, 10 de novembro de 2015

TRAVAR O TEMPO






A fúria de correr
A ânsia de querer
O cisma de agarrar
Um gesto perfeito.
A sede de beber
Da seiva de vencer.
O erro de desistir
Do sonho, por defeito.

A força do combate
A coragem no debate
É braço de revolta
Que anda à solta.
O desafio desenfreado
O conflito desgarrado
A mentira que passeia
Sem escolta.

A embriaguez desta vida
O descontrole na corrida
A rajada de vento
Que corta o pensamento.
A sentença proibida
A emoção, mal contida
A fúria desmedida
Contra o tempo.


A força da palavra
A luta que se trava
Num contexto qualquer.
O tempo, sem Tempo
A afronta do momento
Na tragédia do “SER”.


Aldina Cortes Gaspar


sábado, 7 de novembro de 2015

ESMAGAMENTO DE PREÇOS E AMBIENTE






         Numa perspectiva sócio económica, tenho-me interessado pela evolução dos preços dos alimentos que servem de base à nossa alimentação. Entre outros, verifico com surpresa o preço cada vez mais baixo da carne, em especial de frango e o preço manifestamente baixo, da banana importada quando comparado com o de outras frutas.
         Comecemos pela carne de frango.
         O sector avícola nacional sofreu grande expansão com o consequente aumento dos resíduos provenientes das indústrias de processamento das aves. Esses resíduos caracterizam-se pelo elevado teor de matéria orgânica e carga patogénica, constituindo um material de alto poder poluente.
         Recentemente, tem havido uma maior preocupação com a preservação ambiental, através da publicação de legislação que pretende controlar a carga poluente presente no efluente, antes da sua deposição no meio ambiente.
         Os efluentes oriundos do abate de aves, quando não tratados, representam focos de proliferação de insectos, odores e ainda quando lançados em cursos de água, podem ocasionar a eutrofização dos mesmos. Este processo caracteriza-se pela diminuição do oxigénio dissolvido no meio e a proliferação exagerada de plantas aquáticas, resultando em maiores conteúdos de azoto e fósforo dissolvidos, pondo em risco a sobrevivência da fauna piscícola.
         Por sua vez, a banana não sobe de preço há longos anos; tem um preço consideravelmente mais baixo que o das restantes frutas importadas.
         Os grandes produtores de banana utilizam elevadas cargas de adubos e pesticidas de modo a aumentar a produção e, consequentemente, os lucros. Refira-se que os países produtores de bananas são países de economia emergente onde, tradicionalmente, a preservação ambiental não constitui uma prioridade.
         Será que a indústria da carne de aves, vendendo-se o frango a pouco mais de um euro por quilo ou a indústria de produção de bananas vendendo-se por vezes a banana a menos de um euro por quilo, terá interesse e capacidade financeira para internalizar os grandes custos ambientais referidos acima?

                                                  FNeves




quarta-feira, 4 de novembro de 2015

PENSAR O INABITUAL PARA SER COMPETITIVO





O título que encima esta crónica é o mote que o prof. Stéphane Garelli, professor na Universidade de Lausanne e especialista em competitividade, usa nas suas palestras e aulas para induzir os seus alunos e empresários a serem elementos fomentadores de competitividade.
Há que distinguir entre competição e competitividade. A competição tem a ver com a interacção entre pessoas que disputam algo. A competitividade centra-se nas organizações, nas empresas e tem em vista cumprir a sua missão com maior êxito do que as suas congéneres ou competidoras.
A raiz das duas palavras – competição e competitividade - é a mesma e ambas visam a supremacia de uma pessoa ou de uma empresa sobre as outras.
Quanto à escola, ela vive uma contradição, no que se refere aos conceitos de competição/competitividade. Como instituição educacional, ela deveria menorizar o espírito competitivo que possa existir entre os alunos e, ao mesmo tempo, reforçar laços de inter-ajuda, de cooperação entre eles. Isto não significa que ela não lhes ensine, através do desporto, o que é uma sã competição. Por outro lado, a escola tem que ensinar conteúdos, desenvolver capacidades e formar o carácter dos alunos de modo que eles possam, um dia mais tarde, na sua vida profissional, gerar instituições e empresas competitivas.
Albert Einstein dizia que “a lógica conduzir-vos-á de A a B mas a imaginação conduzir-vos-á para toda a parte”. Por isso, Stéphane Garelli diz aos seus estudantes que se tiverem uma ideia brilhante mas lógica, eles devem esquecê-la imediatamente: algum outro já a terá antes deles. Para Garelli, ser competitivo é pensar o inabitual, o que está fora do previsível.
E é neste ponto que entra a escola, na sua relação com a competitividade: ela tem que proporcionar ocasiões, dentro e fora da sala de aula, em que os alunos possam dar aso à sua imaginação, à sua criatividade, seja na explicação de um fenómeno, seja na solução de um problema, seja no dar resposta a uma situação de ordem social da comunidade…

Ensinar a competitividade na escola é, através da cooperação entre os alunos, proporcionar-lhes oportunidades de criarem, inventarem, imaginarem algo de novo e, se possível, a favor do bem comum. 

                                   Mário Freire

domingo, 1 de novembro de 2015

FORTALEZA




Quem só pensa em se armar
abdicou do seu poder.
Mesmo à custa de lutar,
de certeza vai perder.

Força armada... Que fraqueza,
que ironia.  A bem dizer,
o que prova é a certeza
de que o medo quer ‘sconder.

Fortalezas construídas,
entaipando tantas vidas,
geram lutas e terror.

Mas há outra Fortaleza,
aliada à singeleza:
A Virtude, qual chama em flor.

João d'Alcor