domingo, 23 de setembro de 2012

A POLÍTICA E A ESCOLA


Não, não vou tratar sobre o que é que a política pode fazer pela escola. Disso já muito se tem escrito e falado e o tema continua inesgotável. Pretendia, antes, colocar a questão de maneira inversa: o que é que a escola pode fazer pela política?
Se há actividade nobre, ela é (ou deveria ser) a política. Ela procura dar corpo aos ideais defendidos pelas diferentes ideologias as quais, divergindo no processo, pretendem, de uma maneira geral, alcançar uma sociedade mais desenvolvida, com maior equidade e mais justiça social.
            Para isso, em meu entender, a escola não deveria preocupar-se só com as questões intelectuais. É certo que é através do estudo aturado das matérias que se atinge a competência. E esta qualidade não consiste apenas em saber, mas, também, em analisar, prever e avaliar. Uma escola devia, pois, preparar para a vida pessoas competentes, ajudando-as a ser exigentes para com elas próprias para que, depois, pudessem ter a autoridade de exigir aos outros. Ao sair da escola, o cidadão teria que ter, pois, a consciência de que em tudo o que de relevante se implicasse, deveria procurar a competência.
            Uma outra qualidade a fomentar entre os alunos seria o diálogo. O diálogo consiste em saber ouvir os outros, mesmo quando deles discordamos, procurarmos as opiniões que não vêm ao encontro daquilo que pensamos, mas que nos podem ajudar. O trabalho de grupo, a realização de aulas-debate em que os alunos, face a face, na presença do professor, pudessem discutir temas dos programas ou outros, seriam, certamente, aprendizagens que muito ajudariam, nas suas relações, todos os que saíssem da escola.
            Finalmente, enunciaria a sabedoria como uma outra qualidade a desenvolver. Esta palavra tem um significado que ultrapassa o sentido meramente intelectual do saber para se situar num plano essencialmente ético e de bom senso. Os programas não falam do ensino da sabedoria. Ela aprende-se no exercitar das pequenas e grandes decisões que o aluno tem que fazer por iniciativa própria ou por sugestão do professor, do director de turma, do grupo em que está integrado…, nas actividades lectivas ou para-lectivas. Nas escolhas a fazer há que atender aos aspectos imediatos mas, também, ter em consideração as consequências que decorrem dessas decisões a médio e longo prazos. Os artigos que aqui escrevi sobre “A escolha de um curso e a realização profissional” podem exemplificar os cuidados a ter com uma decisão importante para a vida de um jovem.
Ensinar a sabedoria é, também, propor aos alunos situações cujas decisões tenham implicações nos outros mas, simultaneamente, solicitar-lhes que eles próprios se coloquem em vez daqueles (por ex. uma iniciativa da turma que tenha a ver com um trabalho junto de pessoas com deficiências).
            As capacidades enunciadas – competência, diálogo e sabedoria – se plenamente exercidas, talvez contribuíssem para menos conflitos na família e na sociedade e para uma governação mais eficaz e humanizada.

                                                                           Mário Freire