sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A CULTURA E A IGREJA - 2



                            Criação artística, liberdade e eternidade

            A afectividade e a cognição são aspectos da personalidade que, ocorrendo noutros animais, é no homem que elas atingem um grau elevado.
Mas há um conjunto de outras manifestações que só os humanos têm possibilidade de realizar: são as de natureza artística. Elas constituem um testemunho do espírito, da vida para além da biologia, de fazer do ser humano alguém capaz de criar.
            A arte, nas suas formas mais puras, consegue, ainda, promover o diálogo, proporcionar emoções profundas que a tornam, nalgumas das suas expressões, intemporais. Essas formas de arte conseguem passar através dos tempos, quase tocando a eternidade. Mas, tocar a eternidade não é ir ao encontro daquele desejo de perpetuidade que muitos sentem e que as religiões abordam?
            Pois foi desta actividade criadora que aponta para caminhos que, não desprezando as preocupações do quotidiano, as ultrapassam, sugerindo pistas de alegria, de reconciliação e de paz, de que se falou, também, na 8ª Jornada Nacional da Pastoral Cultural.
A arte, nas suas mais diversas formas, procura a liberdade. É por isso que um poder prepotente, seja ele de natureza política, económica ou religiosa, é factor inibidor de autenticidade e de criação. O dom que nos distingue dos diferentes seres vivos é, precisamente, o da liberdade. Por isso, a criação artística, ainda que de tal nem sempre se tenha consciência, seja a actividade que melhor concretiza a afirmação bíblica de que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é por acaso que são a arquitectura, a pintura, a música, a dança e a poesia que melhor conseguem traduzir o louvor a Deus.   
A Igreja, na medida em que pretende intensificar o diálogo com a cultura, está a criar espaços de transcendência e de liberdade que a tornam mais próxima de todos os homens.

                                                  Mário Freire