sábado, 29 de setembro de 2012

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI - 4


                                          Aprender os media

            O Conselho Nacional de Educação levou a cabo, em Maio passado, uma acção visando chamar a atenção para a importância que os media revestem hoje na vida das pessoas e, muito especialmente, nas crianças e jovens. Efectivamente, são eles que, crescendo no meio deles, mais os utilizam seja através da televisão, internet, telemóvel…
            Os agentes educativos, especialmente a escola, não podem, pois, alhear-se desta realidade. A instituição escolar tem que proporcionar, nesta matéria, a aquisição de conhecimentos e capacidades de modo a tornar o aluno num agente autónomo e construtivo na sociedade.
            Em crónicas anteriores sobre este tema tive ocasião de enunciar alguns dos comportamentos que, neste âmbito, os jovens manifestam e interrogações que aqueles suscitam. Mas, afinal, o que é que a escola poderia fazer para ajudar os alunos a melhor produzirem e consumirem as mensagens mediáticas?
Enunciaria três grandes metas:
- Uma delas seria a de que as crianças e jovens aprendessem a compreender, seleccionar e interpretar os conteúdos dos diferentes tipos de mensagens, tomando consciência de quanto eles nos influenciam.
- Uma outra seria a de incutir neles a responsabilidade e o recato pelas mensagens que produzem. Sabe-se bem quanto o espaço internético se presta à violência psicológica, à calúnia, à violação da privacidade e confidencialidade. E tudo isto sob a capa do anonimato! 
Finalmente, uma última meta, mas a não menos importante, consistiria em ensiná-los a gerir o tempo despendido na produção e recepção das mensagens, dentro do quadro das relações sociais em que estão inseridos.
Ensinar os media às crianças e jovens é ensiná-los a ser cidadãos mais conscientes, participativos e responsáveis.

                                                     Mário Freire

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

TRABALHO: SUPLÍCIO OU PRAZER?



O trabalho que fazemos contribui e muito para o nosso estado de felicidade. No entanto, assiste-se a uma insatisfação cada vez maior neste campo, provavelmente pela falta de correspondência entre aquilo que se gostaria de fazer e aquilo que realmente se faz.
Nesta área a que dedicamos grande parte do dia, há determinados fatores que condicionam o nosso bem-estar: ter a perceção de uma remuneração justa, ter um bom ambiente humano, ter capacidade de decisão nos trabalhos da nossa responsabilidade, ter tarefas que desenvolvam as nossas capacidades, poder controlar essas tarefas do princípio ao fim, poder interromper a rotina com projetos criativos, poder aceitar desafios de trabalho em equipa, e assim por diante.
A razão principal pela qual as pessoas se sentem insatisfeitas com o trabalho que fazem, mais do que a remuneração, prende-se com a ausência dos fatores enunciados. Quando limitam a nossa criatividade, reprimem as nossas iniciativas e não nos dão a autonomia de que precisamos para desempenhar determinada responsabilidade, dificilmente nos podemos declarar felizes no que fazemos.
A cultura ocidental sempre teve a tendência para relacionar o trabalho com o sofrimento, o que a priori nos faz ter resistência a sentir estados emotivos positivos no emprego e/ou na escola. No entanto, há que relembrar que a felicidade pressupõe desafios, superar obstáculos e também algum sofrimento. Assim sendo, excluir tudo isto e ficar sem nada para fazer não é ir ao encontro da felicidade, antes pelo contrário.
Portanto, se não se sente bem no que faz, tente avaliar os fatores que determinam esse mal-estar e identifique o que é que pode fazer para alterar a situação. Um estado emotivo positivo no trabalho é muito importante, pois ao criar um impacto positivo na nossa experiência de vida, esse estado repercute-se em outras áreas que não estão diretamente ligadas com essa atividade. Por vezes, bastam pequenas mudanças para alimentar emoções e sentimentos positivos e gratificantes; as suficientes para ir tendo cada vez mais prazer em ir trabalhar e entrar assim num processo de mudança gradual.

                                                            Rossana Appolloni

terça-feira, 25 de setembro de 2012

CREDO



Tem seu credo toda a gente.
Quem descrente então se diz,
face ao crer não ser um crente,
creio eu se contradiz.

Há no próprio agnosticismo
um teor religioso,
sendo o não seu catecismo,
mais ou menos duvidoso.

Pode o credo variar
e varia certamente.
Mais direi: Até convém.

A fé d’outrem respeitar
traz vantagem, obviamente,
dando alento à qual se tem.
                       
                         João d’Alcor

domingo, 23 de setembro de 2012

A POLÍTICA E A ESCOLA


Não, não vou tratar sobre o que é que a política pode fazer pela escola. Disso já muito se tem escrito e falado e o tema continua inesgotável. Pretendia, antes, colocar a questão de maneira inversa: o que é que a escola pode fazer pela política?
Se há actividade nobre, ela é (ou deveria ser) a política. Ela procura dar corpo aos ideais defendidos pelas diferentes ideologias as quais, divergindo no processo, pretendem, de uma maneira geral, alcançar uma sociedade mais desenvolvida, com maior equidade e mais justiça social.
            Para isso, em meu entender, a escola não deveria preocupar-se só com as questões intelectuais. É certo que é através do estudo aturado das matérias que se atinge a competência. E esta qualidade não consiste apenas em saber, mas, também, em analisar, prever e avaliar. Uma escola devia, pois, preparar para a vida pessoas competentes, ajudando-as a ser exigentes para com elas próprias para que, depois, pudessem ter a autoridade de exigir aos outros. Ao sair da escola, o cidadão teria que ter, pois, a consciência de que em tudo o que de relevante se implicasse, deveria procurar a competência.
            Uma outra qualidade a fomentar entre os alunos seria o diálogo. O diálogo consiste em saber ouvir os outros, mesmo quando deles discordamos, procurarmos as opiniões que não vêm ao encontro daquilo que pensamos, mas que nos podem ajudar. O trabalho de grupo, a realização de aulas-debate em que os alunos, face a face, na presença do professor, pudessem discutir temas dos programas ou outros, seriam, certamente, aprendizagens que muito ajudariam, nas suas relações, todos os que saíssem da escola.
            Finalmente, enunciaria a sabedoria como uma outra qualidade a desenvolver. Esta palavra tem um significado que ultrapassa o sentido meramente intelectual do saber para se situar num plano essencialmente ético e de bom senso. Os programas não falam do ensino da sabedoria. Ela aprende-se no exercitar das pequenas e grandes decisões que o aluno tem que fazer por iniciativa própria ou por sugestão do professor, do director de turma, do grupo em que está integrado…, nas actividades lectivas ou para-lectivas. Nas escolhas a fazer há que atender aos aspectos imediatos mas, também, ter em consideração as consequências que decorrem dessas decisões a médio e longo prazos. Os artigos que aqui escrevi sobre “A escolha de um curso e a realização profissional” podem exemplificar os cuidados a ter com uma decisão importante para a vida de um jovem.
Ensinar a sabedoria é, também, propor aos alunos situações cujas decisões tenham implicações nos outros mas, simultaneamente, solicitar-lhes que eles próprios se coloquem em vez daqueles (por ex. uma iniciativa da turma que tenha a ver com um trabalho junto de pessoas com deficiências).
            As capacidades enunciadas – competência, diálogo e sabedoria – se plenamente exercidas, talvez contribuíssem para menos conflitos na família e na sociedade e para uma governação mais eficaz e humanizada.

                                                                           Mário Freire

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

OS JOVENS E A GLOBALIZAÇÃO


Os jovens partilham valores e ambições mas também dificuldades; constituem um grupo em plena mutação, caracterizado pelo acesso ao emprego e pela constituição da família cada vez mais tardios. A autonomia adquire-se cada vez mais tarde. Isso traduz-se, muitas vezes, por um sentimento de fragilidade, por uma perda de confiança nos sistemas de decisão existentes e por um certo desinteresse pela participação não só na vida pública como também nas organizações de juventude.
Alguns dizem que nem sempre se identificam com as políticas públicas concebidas pelos seus predecessores. Uma parte dos jovens fecha-se na indiferença ou no individualismo, outra é tentada por formas de expressão, por vezes excessivas, e mesmo à margem dos canais democráticos. No entanto, a maioria desses jovens pretende influenciar a acção política, mas não encontra os meios para o fazer.
Os jovens europeus têm, contudo, algo a dizer, pois são eles os primeiros a sofrer os efeitos da globalização. Apesar de os contextos social e económico serem cada vez mais complexos, os jovens dão provas de uma grande capacidade de adaptação. Os responsáveis políticos nacionais e europeus têm a responsabilidade de facilitar essa adaptação, fazendo dos jovens intervenientes de pleno direito nas nossas sociedades.
É no terreno que se aprende a cidadania activa: participando na vida da escola, do bairro, da cidade ou de uma associação. É através do seu empenho em actividades sociais abertas a todos que os jovens contribuem para uma sociedade mais solidária e assumem plenamente a cidadania.
Investir na juventude contribuirá, certamente, para o sucesso do objectivo político definido pelo Conselho Europeu de Lisboa: fazer da Europa "a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo".

                                        FNeves

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

NOVAS IDENTIDADES DOCENTES


                                        
Façamos uma reflexão sobre a necessidade de transformar as práticas educativas do professor, face a um novo panorama de multiculturalidade, em que as diferenças abrangem questões culturais e sociais.
          É atual a necessidade dos alunos partilharem as suas culturas de modo criativo e interativo o que permite ao professor, por um lado, identificar o seu perfil e por outro, realizar adequações no modo de ensinar. Apesar dos programas estabelecidos e dos manuais esclarecedores, os professores deverão proporcionar ao jovem a oportunidade de uma procura de saberes de modo autónomo através das novas tecnologias, consulta bibliográfica, trabalhos de campo ou outras iniciativas. Esta será uma oportunidade de despoletar o interesse dos alunos pelas aprendizagens. A problemática da origem de uma nova identidade docente depende da implementação de novos projetos relacionados com as diferentes culturas.
          O sistema educativo, procurando assumir uma igualdade de oportunidades para todos, começou por oferecer aos alunos uma igualdade de acesso tratando todos de modo semelhante. Encontraram-se inúmeros casos de insucesso pela existência de diferenças nos contextos em que os alunos se enquadravam: sociais, culturais e psicológicos. As convicções de uma escola que avalia pelo mérito numa oferta igual para todos, foi posta em causa. Começou a surgir a necessidade de uma aceitação da diferença e de uma adequação na situação de ensino-aprendizagem através de mudanças significativas no modo de transmitir o conhecimento no sentido e de dar resposta aos alunos preparando-os para o papel de cidadãos. É necessário repensar novas formas de produzir o conhecimento, de valorizar os saberes e de reconhecer as competências que os alunos adquiriram ao longo da sua vida. O novo conceito de professor-investigador permite ao aluno movimentar-se tendo como base a diversidade cultural, valorizando a imagem do aluno no seu próprio campo e perante o grupo, numa perspetiva  construtiva de partilha mútua das diversas experiências. Em suma, adequar o conteúdo ao contexto.

                                               Paula Molarinho

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

SERÁ QUE O DINHEIRO CONTRIBUI PARA A FELICIDADE? - 2


Se a riqueza material não nos leva à felicidade, porque será que somos tão obcecados com ela? Porque será que somos sempre mais propensos a tomar decisões baseadas em critérios materialistas em detrimento de critérios emocionais?
Concentrarmo-nos na parte mais material das questões vem já da origem da espécie humana, quando ainda éramos caçadores e agricultores e éramos obrigados a acumular os bens para assegurar a nossa sobrevivência em épocas menos afortunadas. Acumular tornou-se uma característica da nossa constituição e o conceito inverteu-se: não acumulamos para viver mas vivemos para acumular. Assim, focamos os nossos objectivos no que é material, valorizando o que é mensurável (a riqueza e o prestígio) e prejudicando o não mensurável (as emoções e os valores).
Frequentemente, confundimos os meios com os fins e sacrificamos a felicidade (fim) para dar primazia ao dinheiro (meio). A riqueza material pode de facto ajudar as pessoas a atingir níveis mais altos de felicidade. Porém, não é o dinheiro em si que tem valor mas o facto de ele nos permitir mais facilmente ter acesso a experiências positivas.
Para além disso, procuramos cada vez mais o prazer imediato como um atalho para a felicidade através da televisão, drogas, compras, comida, etc. Mas o que seria da nossa vida se só houvesse prazeres fáceis e nunca houvesse desafios a enfrentar? As nossas forças enfraqueceriam e perderíamos a possibilidade de ter uma vida completa, pois são os obstáculos que ultrapassamos que nos enriquecem interiormente.
Obviamente que ter dinheiro suficiente para assegurar a sobrevivência e um certo conforto é importante, mas a partir daí a felicidade encontra-se em experiências gratificantes. E essas há para todos os bolsos! Dê valor ao que tem e procure o que não tem, ponha-se à prova e enfrente desafios novos: são esses que trarão significado à sua existência!
Rossana Appolloni

sábado, 15 de setembro de 2012

CORAÇÃO


No dizer de boa gente,
coração sem o amor
resta apenas um motor;
funciona mas não sente.

E ao deixar de palpitar,
acabado o movimento,
vai-se a vida num momento.
Fácil é de  constatar.

Colocarmos a questão
nestes termos, quanto a mim,
será causa já perdida.

Mais que ter um coração,
conta sê-lo. Isso sim:
                      Faz de nós um hino à vida.

João d’Alcor

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

UMA QUESTÃO DE CIDADANIA


Nestes últimos dias o País foi confrontado com o anúncio de um certo número de medidas que irão atingir o povo português, especialmente as classes médias e médias-baixas. E tudo isso em nome de uns certos números designados por défices orçamentais. Senti, como cidadão, a necessidade de não ficar calado.
            Não pretendo vir aqui denunciar aqueles que, desde longa data até aos nossos dias, nos atiraram para esta situação de indigência e de mão estendida. Nesta altura, mais do que atirar pedras aos culpados, urge encontrar soluções em que impere o realismo, a justiça e o bom senso.
Reconheço que algo há a fazer e que todos mas, fundamentalmente, os que mais podem, têm que contribuir para retirar o nosso País deste atoleiro em que os nossos políticos o meteram.
            Ora, segundo me vou apercebendo, estão a prescrever-se para a cura dos nossos males receitas que se inspiram em modelos teóricos, ainda não testados. Por outro lado, elege-se uma meta, de natureza puramente arbitrária, a do estabelecimento de um determinado défice orçamental. E, a partir daqui, tudo tem que ser feito para ser atingido esse número. Custe o que custar!
            E se tal receita conduzir à falência de muitas pequenas e médias empresas? E se o atingir desse número implicar uma avalanche de despedimentos? E se o alcançar dessa meta, que poderia ser outra, conduzir a maior pobreza e a maior desigualdade social? Não interessa, dizem os nossos governantes! O que é preciso é alcançar a meta estabelecida!
            Pergunto-me, então, a mim próprio:
            - As pessoas estão ao serviço dos números ou são estes que têm que estar ao serviço das pessoas? Dito de outra forma: estes números, que nos apontaram para atingir, implicam empobrecimento, desemprego, ruína da economia, angústia…Mas, por hipótese, se esse número fosse um outro, um poucochinho mais dilatado, então as consequências não se alterariam significativamente para melhor?
Continuo a perguntar-me da razão por que não se conseguiu essa pequena alteração. Em nome de quê ou de quem é isto feito ao povo português?
            Mas as minhas perguntas continuam: em que país foi testada a tese de que aquilo que às grandes empresas é oferecido, à custa do trabalho de todos, vai imediatamente ser canalizado para a criação de emprego? Será que Portugal é um país bom para, em tempo de grande crise económica e ruína financeira, se fazerem experiências que, no mínimo, parecem apontar para grandes iniquidades? Onde tal já foi feito e com bons resultados?
            Haja bom senso, respeito pelos que trabalham, humildade para ouvir opiniões sabedoras e de sabedoria e realismo para não confundir as pessoas com os números!

                                                       Mário Freire

terça-feira, 11 de setembro de 2012

SERÁ QUE O DINHEIRO CONTRIBUI PARA A FELICIDADE ? - 1


Vários estudos realizados relativos à relação entre o dinheiro e a felicidade chegaram à conclusão que a partir de um certo nível de rendimentos que satisfaça as nossas necessidades da vida, o dinheiro não é garantia de felicidade. Paradoxalmente, apesar de algumas pessoas terem um bom nível de prosperidade material, sentem-se mais infelizes do que outras que lutam para conseguir melhorar a sua vida.
Quem procura melhores condições de vida sente uma motivação interior que lhe dá a energia e o entusiasmo para lutar por um futuro melhor. O problema é que depois de se atingir um certo patamar de riqueza, uma pessoa facilmente se habitua e torna-se mais difícil procurar novas formas de se ser feliz. Acredita que não pode desejar mais, pois conquistou o que todos parecem ambicionar nesta sociedade capitalista: ter dinheiro.
É verdade que uma pessoa com dinheiro tem mais condições de obter o que deseja, seja em adquirir bens materiais, conforto individual e privilégios sociais, seja em proporcionar segurança para a família. Há quem acredite que a riqueza pode comprar a felicidade, o que não é de todo errado, pois ter dinheiro permite-nos fazer coisas que contribuem para o nosso bem-estar. No entanto, já se concluiu que o aumento de rendimentos não é proporcional a um aumento de felicidade. Antes pelo contrário! Uma pessoa materialmente rica mais facilmente entra em depressão por dois motivos: sente um vazio interior por não poder desejar mais do que o que já tem; sente-se em culpa porque tem tudo o que sempre quis e mesmo assim não se sente feliz.
O que nos faz sentir bem é ter sonhos e lutar por eles, é aceitar desafios que nos põem à prova e nos obrigam a ultrapassar obstáculos. Então, se a riqueza material não nos leva à felicidade, porque será que somos tão obcecados com ela?

Rossana Appolloni

domingo, 9 de setembro de 2012

CONSCIÊNCIA



Pôr a mão na consciência,
qual um monstro a domar,
visto em termos de vivência,
não é fácil de aceitar.

Consciência é, sim, ela
nossa voz interior
que de facto interpela
qual um bom despertador.

Moralismo é, com frequência,
uma estranha prepotência,
gládio em riste, a amedrontar.

Pôs-nos Deus, no coração,
suave e clara, a distinção
entre amar e não amar.

                                       João d’Alcor

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A CULTURA E A IGREJA - 2



                            Criação artística, liberdade e eternidade

            A afectividade e a cognição são aspectos da personalidade que, ocorrendo noutros animais, é no homem que elas atingem um grau elevado.
Mas há um conjunto de outras manifestações que só os humanos têm possibilidade de realizar: são as de natureza artística. Elas constituem um testemunho do espírito, da vida para além da biologia, de fazer do ser humano alguém capaz de criar.
            A arte, nas suas formas mais puras, consegue, ainda, promover o diálogo, proporcionar emoções profundas que a tornam, nalgumas das suas expressões, intemporais. Essas formas de arte conseguem passar através dos tempos, quase tocando a eternidade. Mas, tocar a eternidade não é ir ao encontro daquele desejo de perpetuidade que muitos sentem e que as religiões abordam?
            Pois foi desta actividade criadora que aponta para caminhos que, não desprezando as preocupações do quotidiano, as ultrapassam, sugerindo pistas de alegria, de reconciliação e de paz, de que se falou, também, na 8ª Jornada Nacional da Pastoral Cultural.
A arte, nas suas mais diversas formas, procura a liberdade. É por isso que um poder prepotente, seja ele de natureza política, económica ou religiosa, é factor inibidor de autenticidade e de criação. O dom que nos distingue dos diferentes seres vivos é, precisamente, o da liberdade. Por isso, a criação artística, ainda que de tal nem sempre se tenha consciência, seja a actividade que melhor concretiza a afirmação bíblica de que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é por acaso que são a arquitectura, a pintura, a música, a dança e a poesia que melhor conseguem traduzir o louvor a Deus.   
A Igreja, na medida em que pretende intensificar o diálogo com a cultura, está a criar espaços de transcendência e de liberdade que a tornam mais próxima de todos os homens.

                                                  Mário Freire

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CONFIANÇA


Bem disposto, decidido,
corajoso e paciente,
calmamente convencido,
não vacila e segue em frente.

Eis alguém que nos convence
que estimula e dá prazer.
O sucesso lhe pertence;
ele o cria, a bem dizer.

Tem derrota garantida
quem de facto não confia,
seja adulto ou criança.

Se há triunfo nesta vida,
é viver o dia a dia
pondo nela a confiança.

João d’Alcor

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A CULTURA E A IGREJA - I


                                  Alegria e esperança para todos?

Há uma alegria e uma esperança para nós – O diálogo com a Cultura no espírito do Concílio – este foi o tema da 8ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, a propósito do cinquentenário do início do Concílio Vaticano II. Esta Jornada serviu, ainda, para evocar a encíclica Gaudium et Spes. Esta é considerada como um texto profético, na medida em que, ao contrário do que muitos entendiam, considerou uma Igreja que está no mundo e é do mundo e se encontra profundamente solidária com a condição humana.
            Neste documento, logo no início, se diz que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo.” É certo que a palavra alegria nem sempre fez parte do léxico da Igreja. E, nos dias que vão correndo, em que o desemprego se alarga e a pobreza aumenta, haverá muitos para quem o conteúdo dessas palavras, alegria e esperança, sejam difíceis de viver.
            O cristão tem um horizonte alargado, mesmo para além da morte. Mas esse “alargamento ” e o alcançar da alegria e da esperança só serão possíveis em ambiente de solidariedade para com os que precisam ou, dito de outro modo, naquilo que todos, entidades públicas e privadas, e cada um pode fazer para ajudar aquele que está necessitado e que, por vezes, está ali a seu lado.
                        
                                                                Mário Freire


sábado, 1 de setembro de 2012

SISTEMAS EDUCATIVOS E INSUCESSO ESCOLAR



Muitos sistemas educativos enfrentam desafios relacionados com a selecção dos estudantes e a sua colocação nas diversas escolas, tendo como base as suas características pessoais. Na realidade, a referida selecção académica influencia a aprendizagem: dela dependem os curricula, os professores e os recursos que lhe são afectos.
Nos sistemas educativos ditos polarizados, os estudantes provenientes de meios sociais diferentes são também colocados em escolas diferentes. Isso pode resultar não só da selecção inerente ao próprio sistema educativo, como também da distribuição espacial das populações com grupos sociais diferentes, habitando áreas distintas.
De referir que, por exemplo, nos países nórdicos as escolas têm, no que diz respeito à população escolar, uma estratificação social semelhante; o mesmo não se poderá dizer dos países do centro e do sul da Europa em que as diferenças entre escolas são significativas.
            É usual nos diferentes sistemas educativos, colocar os estudantes em diferentes níveis, em diferentes instituições e até em diferentes turmas de acordo com o seu desempenho. Estes procedimentos irão ter um impacto directo não só em termos de equidade, mas também em termos de sucesso escolar. Estas políticas variam de país para país, continuando a ser os países nórdicos aqueles em que elas são menos utilizadas.
Este agrupamento de estudantes de acordo com as suas capacidades é, com frequência, visto como dificultando a equidade educativa. De facto, tal política poderá afectar o sucesso educativo e prejudicar claramente as crianças com menos capacidades, a partir do momento em que elas deixam de ter oportunidade de contar com a proximidade dos mais capazes e de poder aproveitar o seu efeito estimulador.
Também o facto de serem apontados como menos capazes, pode fazer com que esses estudantes percam a motivação e o interesse pela escola, especialmente em níveis etários mais baixos, quando internalizam expectativas menos exigentes. Esses estudantes têm um aproveitamento cada vez menos satisfatório, podendo mesmo acabar por abandonar o sistema educativo.
Crianças provenientes de estratos sociais desfavorecidos são, por vezes, colocadas em turmas de tão baixas expectativas que, especialmente quando são muito jovens, os impossibilitam de atingir níveis sociais, culturais e linguísticos satisfatórios. No entanto, defensores dessas medidas argumentam que dessa forma as turmas são mais homogéneas, facilitando a tarefa dos professores.
Para assegurar que todos os estudantes têm acesso a escolas de qualidade permite-se, por vezes que sejam os pais a escolher a escola para os seus filhos, independentemente da área de residência. Os defensores desta medida argumentam que, desse modo, aumenta a competição entre escolas, levando-as a melhorar a qualidade de ensino, sem aumento de custos. Pelo contrário, há quem discorde, argumentando que desse modo aumentará o fosso entre as classes mais e menos desfavorecidas pois que estudantes com status social mais elevado, continuarão a promover as melhores escolas, muitas vezes privadas embora, em certos países financiadas com fundos públicos (caso de certos colégios em Portugal).
Concluindo, poder-se-á dizer que serão desejáveis políticas que reduzam a segregação socioeconómica não só entre alunos como também entre escolas sem que, desse modo, sejam reduzidas as expectativas em termos de sucesso educativo.

                                               FNeves